Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 18
Katerina




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Selene

Nos seis meses desde que Ashlee me libertou, nos tornamos boas amigas, mais próximas do que eu havia imaginado possível. Por isso, não me surpreendo quando mãos pequenas cobrem meus olhos, bloqueando a visão do corredor quase vazio da escola.

— Oi, Ash.

— Errou. — Uma voz feminina ri em meu ouvido. — Mais uma chance.

— Eva?

— Errada de novo. — A voz é terrivelmente familiar, mas diferente de alguma forma. — Que memória ruim, Selene.

As mãos libertam meus olhos, pousando em meus ombros para fazer com que eu me vire e subitamente estou cara a cara com ...

— Kat! — Exclamo. — Kat, é mesmo você?

— Sou eu, sim, amor. — Ela responde. — Estou de volta.

Por um momento, apenas um breve segundo, quase me lanço em seus braços de tanta alegria. Isso é, até olhar bem para ela. Katerina não se parece em nada com a garota que deixou a cidade meses atrás. Há algo diferente nela, uma aura de escuridão que me faz recuar.

— O que quer aqui? — Inquiro. — E por que voltou?

— Simples. — Ela sorri, mostrando um relance de suas presas afiadas. — Senti sua falta.

— Mentirosa. — Acuso. — Quero a verdade, Katerina!

— Talvez ... — Ela estende uma das mãos, acariciando meu rosto de leve. Seu toque me arrepia de prazer. — Talvez eu simplesmente tenha voltado por você.

Sua voz doce, baixa e íntima causa o mesmo efeito em mim que sempre causou, me fazendo querê-la mais do que eu jamais pensaria ser possível querer alguém. Sua expressão, porém, dispara sinos de alarme em meu cérebro. Não é a expressão da garota que conheci, mas de uma caçadora.

 Meus olhos a analisam, catalogando cada pequeno detalhe: os cabelos cuidadosamente desarrumados, os lábios pintados com batom vermelho, as roupas justas e reveladoras deixando à mostra seu corpo curvilíneo ... Essa não é a garota por quem me apaixonei, é uma desconhecida. Uma estranha perigosa.

— Sabe de uma coisa, Selene? — Sua mão estendida agora segura meu queixo, mantendo meu rosto erguido. — Você está ainda mais bonita do que eu me lembrava.

Seu rosto se aproxima do meu e fico paralisada pela familiaridade do gesto. Me pego curiosa para saber se seu beijo ainda tem o mesmo sabor, se a sensação será a mesma ... De repente, a aproximação de passos pesados me tira do estupor.

— Meninas, o que estão fazendo aqui? — É o professor Demetri, que nos dá aula de Literatura. — Já deviam estar na aula, o sinal tocou faz cinco minutos.

— Sim, professor. — Respondo, tentando esconder meu alívio. — Me desculpe. Eu já estou indo. Precisa de ajuda com esses livros? 

 O professor sorri e me entrega uma pequena parte da pilha de livros que tem nos braços, agradecendo enquanto andamos para a sala. Lá, deixo meu fardo sobre sua escrivaninha e sigo para minha classe.

Ashlee e eu temos essa aula juntas, e é claro que ela reivindicou o lugar ao meu lado. Katerina percebe isso, e seu rosto se contorce de afronta ao passar por nós.

Ashlee

No intervalo do almoço, seguimos até a árvore mais afastada do pátio, um grande carvalho plantado depois dos campos de futebol que se tornou nosso refúgio.

— Aquela era Katerina, não era? — Pergunto. — A garota que chegou com você na aula.

— Sim, aquela era a Kat.

— Pensei que ela tinha partido. — Eu digo. — Por que voltar agora? 

— Eu não faço ideia, Ashlee. Ela não me disse. 

A mão de Selene escorrega para a minha, apertando levemente num gesto de conforto. Ela parece ter sentido o quanto essa situação está me deixando desconfortável.

— Vocês duas ... — Não olho para ela ao falar. Não consigo. — Você ainda a ama, não é?

— Talvez. — Seu tom é pensativo, e ela larga minha mão para brincar com uma mecha de meu cabelo. — A Kat foi a primeira que realmente significou alguma coisa para mim, sabe? Não acho que conseguiria ser indiferente a ela, mesmo que quisesse. Mas ... Alguma coisa me diz que aquela não é a garota que conheci meses atrás. Ela está diferente, talvez até perigosa. Minha intuição me diz para ficar bem longe dela.

 — E ... Você vai?

 Imediatamente me arrependo de minha pergunta, desejando poder retirar minhas palavras egoístas. A escolha é de Selene, não posso impor isso a ela.

— É, eu vou. — Para minha surpresa, ela ri e me abraça pela cintura, descansando o queixo no alto de minha cabeça. — Eu diria que chega de me meter em encrencas por um tempo, não acha? Já tive o bastante para a vida toda.

Katerina

Escondida perto das arquibancadas, posso ouvir cada palavra trocada entre Selene e a garota chamada Ashlee. Garota não, vampira. O fato de outra pessoa ter tomado o meu lugar quando parti me faz rosnar baixinho, irritada. Selene é minha, e não medirei consequências para fazê-la ver isso.

Ashlee

Está amanhecendo e estou empoleirada em uma árvore próxima à janela de Selene. Desde que Katerina voltou, há algumas semanas, não posso evitar vigiá-la. Digo a mim mesma que é para a própria segurança dela, embora eu me sinta como se estivesse fazendo algo muito errado.

Ao vê-la se mexer sob as cobertas, me inclino para bater levemente no vidro com os nós dos dedos. Selene o abre um momento depois, seu sorriso tão luminoso quanto o sol ainda por nascer. Ela se afasta e entro para dentro de seu quarto, admirando seus cabelos despenteados e a expressão sonolenta.

— Já sentiu minha falta, é? — Ela provoca. — Não consegue passar nem um dia sem mim, vampirinha?

— Muito engraçado, Selene. — Reviro os olhos para ela. — Já pensou em ser comediante?

Selene ri e se inclina para me dar um abraço, puxando-me consigo até nós duas estarmos aninhadas em sua cama.

— É cedo e está frio. — Ela declara. — Fique aqui comigo um pouco e descanse, Ash.

— Eu ... Na verdade só vim lhe dar isto. — Tiro do bolso um frasco de vidro de tamanho médio, cheio de óleo. — É óleo de verbena, repele vampiros. Passe depois do banho ou coloque na água. Vai manter você segura.

— Obrigada, Ash.

— Eu trouxe isso, também. — Entrego-lhe um saquinho cheio de sementes. — São sementes de verbena. Plante-as, depois pode usar as flores para fazer mais óleo, ou carregar um ramo consigo.

— Ashlee, você se preocupa demais. — Ela me abraça com mais força, dando vários beijos em minha bochecha. — Eu vou ficar bem. Prometo.

— Tudo bem. — Eu cedo, embora de má vontade. — Preciso ir antes que me descubram aqui.

— Ninguém vai descobrir você aqui. — Selene declara, seus braços se fechando ao meu redor. — Você passou a noite toda naquela árvore. Pelo menos fique aqui agora e descanse um pouco. 

Não consigo discutir. Não por estar cansada, mas porque a sensação de segurança, de lar que sinto quando estou com ela é tão forte que não quero partir.

Selene

Ao entrar na banheira, posso sentir o cheiro do óleo de verbena que pinguei na água, pungente no cômodo pequeno. Penso em Ashlee, no quanto sua preocupação me pegara de surpresa. Perdida em pensamentos sobre ela, só saio da banheira quando a água já esfriou. Envolta em uma toalha, volto para meu quarto.

— Belas pernas. — Alguém diz jocosamente, fazendo-me pular de susto. — Adoro quando estão à mostra desse jeito.

— Katerina! Que susto, caramba!

Ela está empoleirada em minha cama, abraçando os joelhos, rindo para mim com uma expressão tão inocente que quase sorrio de volta.

— Sentiu minha falta, amor?

— O que você quer aqui? — Pergunto asperamente.

— Eu já disse, Selene. — Seu tom é íntimo enquanto ela se aproxima devagar. — É você que eu quero.

— Não vai acontecer, Kat.

Katerina

Seus olhos escurecem de desejo, e ouço sua pulsação acelerar. O cheiro doce de Selene me invade, deixando-me inebriada. Eu a quero, e sei que ela também me quer.

— Vai, sim. — Garanto. — Eu sei a verdade, Selene. Lá no fundo, você ainda me quer tanto quanto antes.

Me aproximo mais, sentindo a respiração ofegante de Selene em meu rosto, sabendo que agora vou conseguir o que quero.

Ela se afasta de repente, me fazendo recuar alguns passos em um reflexo de pura surpresa. Como?, eu me pergunto. Como Selene não foi influenciada por meus poderes?

Só então, tarde demais, eu percebo, reconhecendo o doce cheiro herbal que emana de sua pele. Verbena, é claro. Maldita Ashlee!

 — Kat, eu quero você. — Selene declara seriamente. — Mais do que jamais imaginei ser possível. Fisicamente. Mas o que tivemos ... Acabou quando você foi embora. Você fez sua escolha, Kat. Escolheu me deixar, agora não pode me culpar por ter seguido em frente.

— Tem outra pessoa, então? — Eu exijo, minha voz mais alta e irritada do que eu gostaria. — É a Ashlee? Anda, Selene, me fala!

— Isso não é mais da sua conta, Kat. — Ela rebate com frieza. — Saia daqui agora mesmo, e não volte. Me deixe em paz. Acabou.

— Ah, não. Não tão cedo, Selene. — Declaro em resposta. — Logo conversaremos de novo, muito mais cedo do que você imagina.

Mesmo depois de já ter pulado a janela e me afastado, ainda posso sentir aqueles olhos verdes em minhas costas, me fuzilando.


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