Moonlight Lover escrita por Benihime


Capítulo 11
Choque de realidade




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Selene

Acordo com o sol já quente sobre meu corpo. Assim que abro os olhos, vejo duas íris cor de âmbar me fitando. Katerina sorri, estendendo uma das mãos para afastar meu cabelo dos olhos.

— Bom dia, Bela Adormecida.

— Bom dia. — Sorrio de volta, embora ainda sonolenta. — Que horas são?

— Tarde. — Katerina se espreguiça, permitindo que eu admire seu torso nu, coberto pelos cachos de seu longo cabelo cor de mel. — Bem tarde.

Reparo na sensação dos cobertores sobre meu corpo e só então me dou conta de que também estou nua. Coro por um momento, antes de Katerina me olhar novamente e nós duas cairmos na risada.

Não é um riso de diversão, tampouco de alívio. Está mais para aquele tipo de riso bobo à toa quando estamos perfeitamente à vontade e tudo parece certo no mundo.

Katerina

Assim, com cara de sono e os cabelos bagunçados, ela é ainda mais bonita. Mesmo assim, essa languidez nem se compara à selvageria que vi em seu rosto na noite passada. Foi, de todas as coisas, uma das mais memoráveis.

Balanço a cabeça para me livrar dessa linha de pensamento antes que faça algo idiota, como agarrá-la de novo. Minha namorada a essa altura já está de pé, parada na porta vestindo apenas um roupão de banho roxo.

— Vou fazer o café da manhã. — Ela diz. — Quer alguma coisa?

— Que tal O negativo?

— Engraçadinha. — Ela ri e faz uma careta para mim. — Que tal virar uma vampira vegana? Poderíamos chamar você de veganpira.

— Muito engraçado. — Me pego rindo de sua tolice. — Vou trabalhar nisso, ok?

A morena ri de novo e sai. Continuo ali deitada, ouvindo Selene se movimentar na cozinha enquanto penso na noite passada, sorrindo como uma idiota o tempo inteiro.

Selene

Enquanto cozinho, ligo a pequena televisão instalada em uma das bancadas, que minha mãe sempre usa para assistir seus programas de culinária. Eu, porém, coloco no canal de notícias. Logo vejo que Kat tinha razão sobre ser tarde, pois o telejornal das onze horas está quase no fim.

Nessa madrugada, foram encontrados os corpos de um jovem casal, ambos com aproximadamente dezessete anos. Os indícios levam a crer que estavam fazendo trilha ao norte da cidade de Winterfall. Não se sabe quem ou o que os atacou.

Paraliso ao ouvir essa notícia, encarando a tela da TV pelo que parece uma eternidade.

— Kat! — Chamo, orgulhosa de conseguir não gritar. Sei que, mesmo assim, Kat vai me ouvir. — Kat, desça aqui. Rápido!

Não parecem se passar nem dois segundos até ela aparecer ao meu lado, suas mãos apoiadas em meus ombros, olhando-me com preocupação.

— O que foi? — A loira pergunta. — Você se machucou?

— Kat ... — Faço que não com a cabeça em resposta à sua pergunta. — Escute o noticiário.

Ela se apoia na bancada, seu rosto se contraindo de preocupação conforme a reportagem segue, falando sobre as buscas ao jovem casal desaparecido e culminando na terrível descoberta dos dois cadáveres.

A guarda florestal suspeita ter sido obra de animais selvagens, muito provavelmente lobos, mas ainda não encontraram nenhuma prova conclusiva.

— Droga! — A mão pequena de Katerina, cerrada em um punho, atinge a bancada com um estrondo. — Que droga! Ataque de animal uma ova!

Meus olhos se arregalam e ar de repente parece denso, estalando com uma tensão que não compreendo completamente.

— Kat. — Chamo, estendendo uma das mãos para pegar a dela, massageando os nós de seus dedos até que o punho relaxa e se abre. — Está me dizendo que foi um vampiro que fez isso?

Ela assente, seus movimentos rígidos como os de um robô e seu olhar duro como pedras preciosas.

— Vampira. — A loira responde enfim. — Para ser mais exata.

Há um longo momento de silêncio entre nós até eu compreender o verdadeiro significado de suas palavras.

— Não. — Protesto, chocada. — Ela não faria ...

— Você não a conhece como eu. — Kat declara. — Nem sei por que pensei que ela podia mudar!

— E o que você vai fazer? — Pergunto. — Não vai atrás dela, vai?

O olhar duro em seus olhos se desfaz, dando lugar a uma expressão de decepção e sofrimento.

— Ah, Selene. — A loira suspira, inclinando-se para descansar a cabeça em meu ombro. Eu a enlaço, sentindo seu corpo miúdo relaxar em meus braços. — O que mais posso fazer? Evanora precisa parar.

— Kate, não. — Protesto, acariciando seus longos cabelos para acalmá-la. — Eva é sua irmã. Pode acreditar, você vai se arrepender para sempre se fizer alguma coisa contra ela.

— Se realmente foi Evanora quem fez isso, então ela não é mais minha irmã. — Katerina protesta ao se afastar. — É um monstro.

— Ah, Kat ...

— Selene, não. — Ela estende uma das mãos e acaricia de leve o meu rosto. — Eu vou fazer isso, e do meu jeito. Você fique aqui, onde é seguro, e aconteça o que acontecer não convide nenhum estranho para entrar, nem lhes dê permissão de forma alguma. Entendeu?

— Então é verdade? — Pergunto, minha curiosidade levando a melhor por um momento. — Sobre vampiros não poderem entrar em uma casa sem serem convidados?

— Sim, é verdade. — Minha namorada confirma. — Por isso eu lhe disse para ficar em casa. Se foi realmente Evanora quem matou aquelas pessoas, ela sabe que estou furiosa e não vou ficar parada. Pode tentar vir atrás de você para me atingir.

— Ela não virá. — Garanto, surpresa por estar tão certa. — Não foi ela, Kat.

— Selene ... — Katerina suspira e me dá um sorriso triste. — Você confia muito facilmente. Isso ainda vai acabar fazendo com que se machuque.

Menos de um segundo depois, estou sozinha. Sentindo as pernas bambas, desabo em uma cadeira, minha mente se esforçando para raciocinar. Será que Evanora realmente mataria a sangue-frio? Algo me diz que não. Me pergunto também se ela teria coragem de machucar Katerina, mesmo que para se defender. Com certeza não, concluo, mas Kat estava tão furiosa que não pararia para ouvir.

A solução para a confusão que se criara me ocorre num instante, tão óbvia que quase ri por não ter pensado nela logo de cara. Pego meu telefone de cima da bancada e disco o número que, apesar de familiar, nunca precisei discar.

Lennya atende logo no primeiro toque. Não me incomodo em perguntar como ela sabia que eu iria ligar. Há questões mais importantes no momento.

— Você viu o noticiário? — Pergunto simplesmente.

— Sim. — Seu tom normalmente calmo agora demonstra nervosismo. — Acabei de ver.

— A Kat está indo para casa agora. — Informo. — Ela ... Ela acha que foi Evanora quem fez aquilo. Precisamos fazer com que ela nos escute.

— Acredita mesmo que minha Evanora não é a culpada? — Lennya pergunta, parecendo surpresa.

— Acredito. — Ao responder, posso ouvi-la suspirar de alívio. — Sei que Eva não faria aquilo.

— Obrigada, Selene. Você nem sabe o quanto ouvir isso significa para mim. — Não tenho dúvidas de que o agradecimento é sincero. — Vou tentar fazer com que Kat veja a verdade. Duvido que ela escute alguém além de mim agora. Ligarei de novo assim que tiver novidades.

— Estarei esperando.

Ela desliga e eu me deixo tombar na bancada com a cabeça entre as mãos, pensando no quão facilmente as coisas podem sair do controle. Nesse momento, sinto que essa linha é tão tênue que quase não existe.


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