Genius Loci escrita por acid trip


Capítulo 3
Peônias escandinavas.


Notas iniciais do capítulo

Já estou trabalhando nos próximos capítulos! Espero que gostem.



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Matias e Paulo chegaram ao seu destino final, o prédio antigo de duas torres no centro antigo da cidade. O apartamento era particularmente escuro, pois a torre da frente recebia todo o sol e a torre de trás recebia apenas uma brisa e pouco calor o que fazia do apartamento frio. Tinha a personalidade de Matias, poucos e funcionais móveis ocupavam a sala. Uma mesinha de três pernas no meio do piso amadeirado escuro. Um sofá vinho de seis lugares tomava quase a sala toda, deixando pouco espaço para a locomoção. A cozinha era espetacularmente pequena e ajeitada, alguns armários de madeira antigos adornavam o pequeno espaço, um fogão de mesa e uma geladeira grande deixando também pouco espaço. Matias ligou a TV num canal de músicas flashbacks pegou duas cervejas na geladeira e sentou – se no sofá. Paulo o acompanhou e sentou retraído no sofá, ainda observando e absorvendo os detalhes dos quadros autorais de Matias espalhados na parede, junto de pequenos espelhos provençais de aspecto antigo que foram pintados e repintados novamente, deixando nítidas as marcas das várias mãos de tinta.
— esse lugar é a sua cara. A caverna do vampiro. – Paulo disse tomando um gole da cerveja amarga e fria. Matias soltou uma risadinha e trocou o canal, para um de notícias. Paulo prendeu a respiração esperando ver alguma noticia sobre o corpo na piscina. Mas era apenas a cotação das moedas pelo mundo.
— O gosto vai se refinando com o tempo, nada a ver com o recanto dos elfos de antigamente não é? – Paulo assentiu com a cabeça, num momento nostálgico se lembrou do sótão de Matias que se tornou o forte dos garotos, recanto dos elfos apelidaram o lugar. Guardavam pequenos tesouros e troféus das grandes e longas explorações, além de encontrar coisas antigas e extraordinárias de outros moradores da antiga casa.
— O que você acha que vai acontecer agora?
— primeiramente onde está o livro? Se tiver na casa o risco é grande de alguém ou os investigadores encontrarem. Além de perigoso demais de irmos apanha – lo na sua casa. – Matias disse num tom de urgência e de reflexão.
— Eu não faria a burrice de deixar ele lá. – instintivamente ele tocou o peito agasalhado e sentiu o volume invisível do livro. – Eu o trouxe porque precisamos resolver isso. Devemos que continuar o que paramos! – Matias gemeu, terminou a cerveja e colocou a garrafa na mesinha de três pernas. Sua mente vagueou e ele vislumbrou os lampejos das últimas aventuras envolvendo o livro. Os lampejos, os fenômenos estranhos que aconteceram naquele sótão, o desfecho que se deu e o término de uma amizade arrasada pelo medo.
— Eu não sei como poderíamos continuar. Você não pode ter se esquecido das consequências que tivemos ao mexer com algo tão profundo, complexo e perigoso. Eu não vou mais me meter nisso! – Matias exaspera e Paulo grunhiu olhando para seu amigo furtivamente.
— Eu não posso fazer isso sozinho e agora nessa situação temos que agir rápido. A qualquer momento eles virão atrás de mim, alguém sabe da existência do livro. Paulo me escute! Nos temos que terminar! As coisas só aconteceram, as consequências, porque paramos na metade!
— as coisas aconteceram porque mexemos em algo muito profundo Paulo! Magia forte demais, magia inimaginável pra qualquer ser humano vivente nessa terra! Não temos conhecimento, não sabemos o que isso é e o que faz! – Matias parecia descontrolado, o medo estampado em seu rosto sem cor.
— aquela bebida, aquela poção funcionou! Usamos o livro, fizemos aquilo e funcionou. Nos podemos usufruir dele se o temos. Vamos retomar as pesquisas, vamos continuar o que não terminamos! Muvilum cerca revelus. – sussurrou no fim da sua frase, um grande volume apareceu visível no peito de Paulo, coberto por um casaco de moletom. Ele puxou o volume por baixo do casaco e quando viu o grande livro de capa de couro preta e desgastada e folhas amareladas Matias soltou um grito contido de exasperação. Estava ali de novo e tudo começava de novo. Tocou a lombada desgastada do livro e logo seus dedos aquiesceram. Sentia o livro pulsar devagar como todas as vezes que ele o tocou no passado. Uma memória viva retornou na sua mente, coisas que ele desejou reprimir agora lhe voltava a tona. Seu nariz foi invadido por um cheiro de anis e cravo, grama cortada e mormaço.
16 anos antes:
Paulo brincava com dois filhotes de labrador, Trevo e Figo, a nova aquisição de seus pais adotivos. Estava absorto acariciando os dois filhotes quando ouviu um barulho anormal na rua, caminhões passavam como numa jangada. Foi ao portão investigar a barulheira, viu a rua fechada por três caminhões grandes de mudança e um carro suv parado na entrada da antiga casa dos Martins, um casal de velhos rabugentos que haviam morrido de velhice dentro da casa estranhamente juntos e aninhados na cama. Paulo observava a movimentação com curiosidade. Do carro saltaram uma mulher alta e esguia, loura e com um rosto repuxado de cirurgias e botox. Um garoto saiu do assento de trás, cabelos longos escuros e rosto encovado, magro e segurando duas mochilas nas mãos. Parecia ter a mesma idade de Paulo, foi o que ele deduziu pois tinham a mesma estatura. O garoto se postou na frente da grande porta observando a casa. A mulher esguia dava ordens aos encarregados que já abriam as portas dos caminhões.
— Paulo! O que está fazendo aí no portão? – sua mãe Marília apareceu na janela da sala, aos berros como sempre. Paulo acenou para ela e ela rapidamente já estava postada ao lado do filho observando a movimentação também.
— como essa casa dos velhos vendeu tão rápido? Não faz nem um mês que eles morreram! Que horror morar numa casa velha dessa... – sua mãe disse com a arrogância de sempre, Paulo riu pois achava a mesma coisa.
— eles devem ter alguma curiosidade sobre casas de velhos mortos, devem caçar fantasmas algo assim... eu nunca mais passo na frente dessa coisa horrorosa. Ainda me lembro daquela velha da pilar oferecer aqueles biscoitos de aveia nojentos. – Paulo disse com a mesma arrogância da mãe. Eles se pareciam muito no sentido comportamental, do aspecto bom ao ruim.
— você tem uma imaginação Paulo! Agora vá colocar ração para os cachorros enquanto eu preparado um lanche para gente antes que seu pai chegue. Não fique bisbilhotando a vida alheia ouviu? Depois vamos cumprimentar os novos vizinhos! – Marília disse deixando o filho para trás, enquanto ele observava o garoto estranho entrar na casa a passos lentos e cuidadosos. Talvez ele finalmente tivesse um amigo nos arredores, talvez ele fosse mais legal que estranho. Paulo entrou ainda curioso, não vendo o momento em que sua mãe sairia de casa para dar as boas vindas falsas aos novos vizinhos, oferecer uma ajuda educada com a mudança e poder dar uma olhadela na casa e claro, nas duas figuras. Almoçaram o almoço funcional clássico de sua mãe, peixe, salada e grãos. Marília tinha o complexo da alimentação saudável, somente balas sem açúcar entrava na casa. Paulo não aguentava de excitação pelo desconhecido, mas não comentou nada durante a mesa. Finalmente após o tempo exato da digestão, mãe e filho foram a casa dos velhos mortos. Paulo levava um vaso de flores exóticas na mão para as boas vindas o que fazia pensar que estava idiota demais. Tocaram a campainha e ouviram o barulho cessar na casa, de repente parecia vazia de novo. A porta se abriu depois de alguns poucos minutos e a mulher esguia olhou de esguelha antes de escancarar a porta com um sorriso afetado no rosto.
— seja bem vinda a vizinhança! Sou sua vizinha aqui da frente, a casa laranja? Me chamo Marília e esse é o meu filho Paulo! – Marília se adiantou quando viu que a mulher nada dizia. Seu sorriso afetado se espalhou mais no rosto disforme e ela acenou para os dois.
— oh! Que surpresa boa! Obrigada, só não os chamo para entrar porque ainda estamos arrumando as coisas. Me chamo Gisele, prazer, Marília, Paulo. – ela acenou de novo, Paulo permanecia imóvel tentando ver algum vislumbrar do garoto. Ele pareceu por trás de uma pilastra grossa e branca, se adiantou a porta.
— Oi? – disse timidamente se postando ao lado da mãe que o enlaçou assim como Marília estava enlaçada a Paulo.
— esse é o meu filho Matias! Filho esses são os vizinhos que vieram nos dar boas vindas, Marília e Paulo. – disse rapidamente como se tivesse urgência em acabar logo com as formalidades, Matias acenou brevemente com a cabeça, balançando os cabelos longos e ensebados como se não os lavasse já há dias.
— trouxe um pequeno presente, essas flores do meu quintal. As colhi hoje, são peônias escandinavas. – Marília disse se aprumando, jogando os longos cabelos louros e brilhantes para trás.
— são lindas! Não precisava se incomodar, Marília. – ela recebeu as flores com um sorriso amarelo, Matias controlou um riso que ficou preso na garganta. – Eu realmente preciso terminar de desempacotar as coisas... mas foi um prazer conhecer vocês dois!
— imagino como esteja ocupada. Foi um prazer conhecer vocês também, espero que tudo se ajeito logo. Se precisar de algo sabe onde moro, Paulo está sempre brincando na rua, se Matias quiser companhia. – Paulo cutucou a mãe levemente que limpou a garganta levemente.
— Ah sim, será ótimo para o Matias ter alguém para brincar! Qualquer coisa estamos aqui também. Obrigada pelas flores! – disse olhando para Paulo, Paulo fitou Matias que lhe deu um leve sorrisinho brincalhão. Parecia estar se divertindo com a situação toda. Após se despedirem Gisele fechou todas as trancas da porta e suspirou fitando o caso de flores arroxeadas.
— parece que as coisas funcionam diferente por aqui não?
— parece que sim... – Matias disse rindo, finalmente soltando a risada reprimida. Observou a mãe se adiantar para a cozinha e jogar as flores no lixo.


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Notas finais do capítulo

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