Can't help falling in love with you escrita por Aquarius


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei que BillDip pode parecer um shipp estranho pra caramba, mas deem uma chance, sim? As vezes você precisa dar um passo pra trás para apreciar uma obra de arte. Boa leitura! ~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/678521/chapter/1

A coisa toda com Bill Cipher começou com medo. Depois do que aconteceu ao selar meu contrato com ele, eu fiquei em um estado de Hipervigilância. Significa estar sobre a constante impressão de que algo horrível vai acontecer. Ter o corpo possuído por um demônio não faz muito bem para a saúde mental das pessoas, aparentemente. Pelo menos é o que o psicólogo que Mabel arrumou pra mim disse depois de uma consulta um tanto conturbada. É claro, ele não acreditou em uma palavra que eu disse, e, depois de me diagnosticar, começamos um tratamento(que eu achei um exagero).

Assim que contei a Mabel e Tio Stan sobre minha condição, eu pude ver claramente a preocupação em suas expressões. Desde então, eles organizaram-se em turnos para ter certeza de que eu nunca ficasse sozinho durante o verão. Aprecio a consideração, o carinho e tudo o mais, mas para ser honesto, eu estava perdendo a cabeça depois de duas semanas daquilo. Meus dias em Gravity Falls passaram a ser uma completa tortura e foi por isso que fiz o que fiz. Precisava ter um tempo pra mim, e a única forma de fazer isso era colocar os dois pra dormir. Sim, eu coloquei sonífero nas bebidas dos meus parentes queridos.

Naquela noite, enquanto Mabel e Stan roncavam, escalei a janela do sótão e me sentei à beira do telhado. Olhando para as estrelas, eu me perdi em pensamentos, não sei dizer por quanto tempo. Foi então que um calafrio me despertou e uma sensação esquisita tomou meu estômago. Algo ali parecia familiar.

Olhei para trás e me deparei com a forma geométrica que foi motivo de muitos pesadelos meus. Bill pairava no ar, uma expressão divertida dançando em seu único olho. Quis gritar, mas minha garganta se enrolou em um nó. Nada saía da minha boca. Achei que era de puro pavor, mas eu devia saber. Encarei Bill, exigindo silenciosamente que me deixasse falar. Quando se trata de Bill Cipher, não é preciso usar palavras para que ele entenda você.

— Ora, pinheiro, você sabe que não posso fazer isso. Você gritaria como uma garotinha. Vamos nos acalmar primeiro, sim? Eu só quero conversar.

Mal pude acreditar no quão cara de pau aquele demônio podia ser. Se não me falhava a memória, eram as mesmas palavras que ele usara quando selou o maldito contrato comigo. Mostrei-lhe o dedo e ele riu, um som metálico e estranhamente melódico que ecoou na minha cabeça.

— Que é isso, criança. Dou minha palavra de que tudo o que eu quero é bater um papo.

Ergui uma sobrancelha, mas incapacitado de falar como estava, fiquei quieto como quem dissesse "bom, o que está esperando então?"

Bill se aproximou e sentou-se ao meu lado. Ele me olhou de cima a baixo, e eu comecei a tremer. Temi que fosse molhar as calças.

— Se isso te fizer mais calmo, posso assumir minha forma humana.

Olhei-o de soslaio, desconfiado. Bill estava agindo... diferente. No instante seguinte, a forma de Bill tremulou e se alongou, achatou e esticou. E então eu não estava mais olhando para um doritos de um olho só, e sim para um menino.

Bill aparentava ter a minha idade, tinha cabelos loiros que tampavam um de seus olhos dourados, usava um suéter estranhamente casual, jeans e seus acessórios costumeiros: gravata borboleta, cartola e bengala. A combinação era tão esquisita que deixei escapar um sorriso. Foi tolice pensar que ele não perceberia.

— Do que está rindo, pinheiro?

Chame de imaginação, paranoia ou truque da luz, mas poderia jurar que Bill ruborizou. Ele estalou os dedos e senti o nó em minha garganta se desfazendo.

— Você está ridículo. - disse, aliviado por poder falar de novo.

Bill ergueu as sobrancelhas e abriu um sorriso de orelha à orelha, achando engraçado.

— Você está mesmo me dando conselhos de moda, pinheiro? Você?

Fechei a cara. Bill soltou outra de suas risadas estranhas.

— Ora, não precisa fazer essa cara azeda. Vamos fazer disso um jogo - Bill estalou os dedos e um monte de bolas de neve surgiram ao seu lado. Em pleno verão.

— Proponho uma guerra. O vencedor é o mais estiloso.

O olhei como se tivesse crescido uma segunda cabeça.

— Você é maluco.

— A descoberta do ano, pinheiro.

E o rosto sorridente de Bill foi a última coisa que vi antes de ser atingido no meio da cara por uma esfera de gelo.

Aquela foi a primeira de muitas noites que passei ao lado de Bill Cipher. Parece inacreditável, mas Bill revelou-se uma companhia muito prazerosa. Ele era completamente louco, é claro, e constantemente tagarelava sobre o universo e seus poderes, mas me peguei interessado em seus monólogos. Bill me fazia rir e me desafiava para duelos de inteligência que eu aceitava com muito gosto.

Não sou idiota, não confiava nem um pouco em Bill por mais que gostasse de sua companhia. Mas todas as noites daquele verão, e do verão seguinte, e do verão após esse, dei um jeito de driblar meus parentes para me encontrar com Bill no telhado (tirei muitos cochilos durante meu turno na Cabana do Mistério para compensar a falta de sono, o que não deixou Tio Stan muito feliz, mas valia a pena). Acho que você poderia dizer que nos tornamos amigos, se é que é possível manter amizade com alguém em quem você não confia.

Bill me ensinou constelações com as quais eu jamais poderia sonhar e por vezes até me ajudou com a matéria de história. Ele negava, é claro, mas no fundo era gentil.

Quando completei 17 anos, minha desconfiança em Bill começou a me incomodar. Não conseguia pensar em outra coisa. Finalmente, decidi confrontá-lo.

Bill havia mudado sua forma para se parecer mais velho, e naquela noite seu cabelo havia crescido um pouco e seu rosto havia adquirido um aspecto mais másculo, seus braços estavam torneados. Bill Cipher estava terrivelmente atraente, mas não dei muita atenção a isso. Estava preocupado com outras coisas.

Ele estava no meio de uma explicação sobre a formação dos primeiros demônios quando o interrompi.

— Bill... o que você quer?

Ele olhou em minha direção, sua íris dourada brilhando, mas não respondeu. Comecei a ficar nervoso e brinquei com uma mecha de cabelo.

— Quer dizer... você está sendo muito legal. Mas acho que esse é o problema. Por quê está sendo legal? E por quê comigo? Depois de tudo o que você fez no passado, você não pode esperar que eu acredite que você mudou e agora é uma boa pess... demônio. Sei lá.

Bill me encarou por alguns segundos, e então algo mudou em seu rosto. Ele desviou o olhar para a grama lá embaixo e respirou fundo.

— Eu não sei.

Encarei-o incrédulo, o que o fez sorrir.

— É verdade, pinheiro. Eu não sei o porquê. Naquela noite eu me senti entediado e você foi a primeira pessoa que me veio à cabeça. - disse, dando de ombros. Ele falava tão baixo que tive que me aproximar para ouvir direito.

Bill abraçou as pernas e apoiou o queixo nos joelhos, tomando uma aparência quase frágil.

— Se você quer saber, eu queria mexer um pouco com você. Confundir sua cabeça. Mas acabei mudando de ideia. 

Se antes eu estava desconfiado, agora tinha certeza de que tinha alguma coisa errada com Bill. Sendo um demônio capaz de ler mentes, ele percebeu minha inquietude e girou o corpo, ficando de frente para mim e segurando meus braços firmemente. Bill olhou fundo nos meus olhos.

— Dipper, eu estou falando sério.

Ainda não convencido, fitei-o, notando vagamente que ele havia me chamado pelo nome pela primeira vez. Ele suspirou e me apertou com mais força.

— Droga, Dipper. Eu estava me sentindo sozinho, ok? Os humanos parecem tão felizes, eu só quis... não sei, tentar ser normal por um tempo. E conversar com você me faz sentir assim. E eu gosto disso. Eu... gosto de você. Satisfeito? - Bufou ele, soltando-me e desaparecendo no ar.

E foi provavelmente naquele momento, quando tudo o que restou foi o vento e o eco das palavras de Bill. Meu coração disparou e pude ouvir meu sangue pulsando em minhas orelhas. Se fosse para arriscar um palpite, eu diria que foi ali que eu me apaixonei por Bill Cipher.

                            -//-

  A questão é que Bill não apareceu nas noites seguintes daquele verão, e aquilo estava me deixando louco. Eu queria muito vê-lo, mesmo que não admitisse para mim mesmo. Minha mente continuava voltando para a posição tímida de Bill ao confessar tudo. O lugar em que suas mãos estiveram em meus braços parecia queimar, mesmo muito depois de ele ter me tocado. A cor dourada de seu olho parou de ser estranha e começou a me parecer linda de um jeito exótico. Quando dei por mim mesmo, estava escrevendo seu nome nos cantos do caderno e esboçando triângulos. E o pior de tudo era que não sabia se estava frustrado por ele ter fugido de mim durante o resto do verão ou feliz que não tive que encará-lo, sabendo que ele provavelmente leria a minha mente e zombaria de mim pela eternidade por ter uma queda por ele. Eu simplesmente odiava o jeito que eu me sentia. Não fazia sentido gostar do mesmo ser que havia sido um dos meus piores medos.

Confuso com todos aqueles sentimentos, direcionei minha raiva a Bill por ser o culpado de tudo aquilo. E foi por isso que, quando Bill apareceu no meu telhado no verão seguinte, quis me atirar em cima dele, não sei se para matá-lo ou abraçá-lo. Mas ele previu minhas intenções, é claro, e me derrubou, segurando meus pulsos e prendendo-me sobre ele. Aquilo me deixou furioso, sem que eu saiba bem os motivos. Fiquei vermelho de raiva. A confusão era clara no rosto de Bill. Droga, ele havia ficado mais atraente?

— O que diabos você está fazendo, pinheiro? - questionou. As palavras vieram antes que eu pudesse raciocinar.

— O que diabos você estava pensando quando sumiu sem mais nem menos? - Cuspi.

Me arrependi assim que terminei de dizer a frase. Meu Deus, eu parecia uma namorada ciumenta.

— Namorada? - disse ele, um sorriso divertido e zombeteiro brincando em seus lábios.

Olhei para Bill e meu rosto se coloriu de três tons de vermelho. Ele podia ler mentes. Como eu pude me esquecer?

Meu cérebro claramente não estava funcionando direito, porque a próxima coisa que eu fiz foi me soltar das mãos de Bill e puxar seu rosto para o meu, beijando-o. Dois segundos depois, soltei-o, surpreso com minhas próprias ações. De todos os jeitos de calar a boca dele, eu havia escolhido beijá-lo. Plenamente racional, Dipper Pines. Tio Stan ficaria orgulhoso.

Foi então que reparei na expressão estupefacta no rosto de Bill, e não fossem pelas circunstâncias, eu teria rido. Seu único olho visível estava quase saltando de sua órbita, seu queixo pendia e seu olhar era de pura incredulidade. Aparentemente, nem mesmo Bill previra aquilo.

Quando me dei conta do que eu havia me metido ali, paralisei. Eu havia beijado um dos mais temidos demônios contra a sua vontade. Até então, não havia cogitado a possibilidade de Bill não reciprocar meus sentimentos. Como poderia parar pra pensar nisso, se nem tinha certeza se queria trucidá-lo ou arrancar suas roupas?

Esse último pensamento impuro me trouxe de volta à realidade e eu corei, sem coragem de olhar para Bill.

— E-eu...

Novamente, eu estava diante de Bill Cipher e não conseguia emitir um som, mas dessa vez não tinha nada a ver com magias e encantamentos.

Bill ainda não havia saído de cima de mim, o que estava me preocupando muito. Fixei meu olhar em sua gravata borboleta. Vi seu pomo de Adão subir e descer enquanto ele engolia em seco.

— Dipper.

Seu tom era sério e sua voz grossa retumbou em meu peito. Meu corpo se encheu de calafrios, em parte por saber que eu ia morrer e em parte porque ele usara meu nome.

— Dipper. Olha pra mim.

Não havia espaço para discussões naquela frase. Obedeci sem pensar duas vezes. A íris dourada de Bill agora estava escura e cintilava com surpresa e outro sentimento indistinguível.

— Você sabe que eu sou um demônio, certo? E do sexo masculino?

Concordei com a cabeça, incapaz de formular frases, sem quebrar contato visual.

— E ainda sim você está disposto a ter... esse tipo de  relacionamento comigo?

Franzi as sobrancelhas, sem ver muito sentido naquela pergunta sendo que eu havia acabado de atacar a boca dele, mas concordei novamente. Para minha surpresa, Bill abriu um sorriso que quase me cegou e se sentou, me puxando para o seu colo e me beijando. Com os olhos arregalados, demorei mais do que o necessário para processar o que estava acontecendo, mas finalmente deixei-me levar e abracei o pescoço de Bill, aprofundando o beijo. Acho que não é preciso dizer que, perdoem-me o clichê, eu vi fogos de artifício. Tudo naquele momento parecia certo; os dedos de Bill se enrolando no meu cabelo e percorrendo minhas costelas, a sensação da pele dele sob a minha, o gosto de menta em sua boca... eu poderia me perder naquele instante. O resto do mundo sumiu e tudo o que havia era Bill. Mas todo ser humano tem a necessidade estúpida de ar nos pulmões. Depois de um tempo, me afastei relutantemente, minha respiração pesada.

— Bill, eu gosto de você. Se você só está fazendo isso por pena ou coisa do tipo...

Bill me calou com outro beijo, e então sorriu.

— Por favor, pinheiro. Você realmente acha que eu teria adaptado minha aparência por outro motivo que não seduzir você?

Corei.

— Como você consegue dizer coisas tão embaraçosas?

Bill soltou uma risada.

— Eu sei que você gosta.

Bati em seu ombro, corando mais ainda, mas não pude esconder um meio sorriso.

— Eu te odeio.

— Seus pensamentos me dizem que você me am...

— Ah, cala a boca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado se chegou até aqui. Deixe um review e faça uma autora feliz! ~