Estúpida camuflagem escrita por Aeikin


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Confesso que não queria ter terminado essa fic tão cedo, e confesso também que ela não ficou do jeito esperado, mas me satisfez do mesmo jeito. Ia ficar um pouquinho maior porque eu queria colocar hentai, mas já tava grande demais.

Eu amei escrever esse Vlad, apesar de ele não ser exatamente o que eu queria dele. Mas mesmo assim foi uma delicia, eu volto a repetir que não queria ter terminado isso rápido. Tentei não colocar muito drama, mas as vezes foi um pouco impossível.

Perdões oficiais para a Cami (Mellanie) por usar o seu Vlad desse jeito grotesco, e ainda mais com a Ahri.

MAS A CABEÇA LOKA É MINHA E EU SHIPPO! (Mals pelo frenesi)

Escrevi o tempo todo ouvindo: https://www.youtube.com/watch?v=8ffFaJSDv9g o que deve dar uns três dias e meio, porque eu já sei essa música completa.

Agora voltando a história em si, eu fui lá na wikia da Ahri e li algo que ainda não tinha visto. (Acho que a riot tá mudando td mesmo) Enfim, esse enredo não tinha pé e nem cabeça pra mim inicialmente, mas depois de ler tudo fez um pouco de sentido. Lê lá qualquer coisa em inglês, mas se ficar com preguiça, eu te digo que a Ahri lutou contra alguns noxianos pra proteger um vilarejo.

E também tem as crianças lá do Vlad, mas isso tá no judgment dele.

Enfim, aproveitem essa história. (Mas aposto que você não vai se divertir tanto quando eu escrevendo isso)



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Estúpida camuflagem

Gotejava sobre a minha cabeça. Naquele momento, me encontrava de baixo de uma grande árvore, esperando a chuva diminuir. As gotas geladas escorriam pelas folhas e caíam no meu cabelo já molhado, não que isso me importasse tanto, mas conseguia me irritar mais. Em uma tentativa falha, eu queria controlar a mim mesmo. Mas sem dúvida aquela havia sido a ideia mais imbecil que passara por minha cabeça.

Para não admitir que foi a mais persuadida.

Eu geralmente não permitiria deixar-me levar desse jeito, mas vir até essa cidade-estado pareceu promissor. Não, eu volto a mentir. Mais especificamente a guerra me pareceu promissora. Não servia Noxus à toa, eu servia para presenteá-la. Obviamente com tudo aquilo que minhas habilidades poderiam oferecer.

Mas havia sido um erro. Percebi assim que desci do navio e pude pisar em terra firme, olhando com tédio a mistura que as árvores e montanhas me proporcionavam. Vi o saque dos vilarejos da ilha, e envergonhadamente, posso até dizer que aquilo me deixou com raiva. Raiva porque não havia beleza alguma em todo aquele sangue derramado. Eles deveriam ser meus, e eventualmente correrem em minhas veias. E não secar sob a terra.

Se foram semanas perturbadas para os soldados noxianos ou para o ionanos, isso não me importou nenhum pouco. Eu insisti em pensar que estava ali por vontade própria, mas com o passar lento dos dias o dever caiu sobre meus ombros, mostrando-me que eu tinha sido usado por aquela mulher. Aquilo não me orgulhava nenhum pouco, podia-se até concluir que eu voltava a sentir raiva. Mas o próximo navio sairia em uma semana e meia a partir daquele dia, quando a invasão de Galrin inteira estivesse concluída.

Eu deveria estar lá agora.

Ironicamente, aquilo que te fortalece é aquilo que também te enfraquece. Esses ditos populares estão na minha cabeça há semanas, enquanto eu ouço os soldados resmungando. Isso não se passa da verdade, eu sei, eu sei. Só não esperava que o cheiro de sangue me trouxesse até uma armadilha.

E eu sei também, perfeitamente, que essa armadilha não deveria ter esse nome, mas eu não sou alguém que acredita em coisas estúpidas como a inocência.

Persegui o cheiro mata a dentro e ele se camuflou com a chuva. Simples. Eu deveria apenas voltar para as tendas, e se desse sorte ninguém notaria a minha falta ou na mais fútil das hipóteses, eu contaria a verdade, não tendo razão alguma para disfarces desnecessários. Era simples, simples demais. Exceto pelo fato de eu não ter a mínima ideia de onde eu estava.

Percebi a movimentação das folhas da árvore que deveria estar uns quatro metros de mim. O vento me mostrou com perfeição o farfalhar e me trouxe também novamente o cheiro de sangue. Mas a árvore continuou se mexendo após o vento pausar. Com cautela para as garras metálicas não rasgarem o meu rosto, eu joguei para trás a franja que escorria pela minha testa e quase cobria meus olhos, achando que talvez estivesse vendo errado.

Eu não estava, como de costume. As folhas e os galhos se mexiam, me deixando ver uma pelagem branca, de aparência fina e macia, com altas probabilidades de ser a cauda de algum animal que estava por perto. Soube que o cheiro de sangue vinha de lá, mas dessa vez eu passaria, sangue de animal é uma ofensa demais para mim.

Mas continuei ali e acredito que aquilo virou uma bola de neve, do qual eu estranhamente não conseguia ter controle algum.

Uma mulher apareceu onde o animal estava, seu corpo estava coberto de sangue de uma espantadora forma... deliciosa, de uma forma da qual eu não conseguiria me controlar se ela chegasse mais perto. Percebi rapidamente a pelagem branca, mostrando-me que eram suas caudas.

Raposa.

Seus olhos dourados me olharam em dúvida, pude notar isso com perfeição. Não estava com medo, mas sabia que se ela desse um passo para trás, ele seria trêmulo e incerto. Como se eu roubasse a sua presa, a raposa me encarava em âmago, e foi assim que percebi que ela também me analisava. 

A forma como o seu olhar era invasivo me causou desgosto, pude até me considerar uma vítima. Todo aquele sangue também me irritava de uma forma inusitada até então, o cheiro metálico entrando pelo meu nariz e fazendo o meu próprio corpo inteiro pulsar sem eu querer na frente daquele projeto de mulher. E também havia como a pele humana e branca, aquele maldito disfarce, estava exposta como carne aos meus olhos, olhos que eu sentia brilhando em indecência. Persuadindo-me.

Então eu ouvi o seu riso, ele quase sendo abafado pela chuva. Foi nesse momento que a certeza me invadiu, era uma armadilha.

Diga-me teu nome, humano. – As palavras que ela proferiu poderiam ser abafadas pela chuva que caía, mas não havia sido. A raposa medira seu tom e com uma velocidade calculada, disse com a rapidez e a notoriedade exata que queria.

Vladimir.

Ela franziu suas negras sobrancelhas, talvez esperando que eu continuaria o diálogo. Coisa que eu certamente não o faria, apenas a deixaria tentar analisar-me. Não garantiria o seu êxito, mas a manteria ocupada, enquanto eu fazia o mesmo.

As pontas das nove caudas dançavam heroicamente ao redor do corpo ensanguentado, tendo a chuva visualmente diminuído o seu tamanho. A típica roupa ioniana tinha partes rasgadas, mas mostravam-me que o sangue não era dela. Parecia lidar bem com isso, apesar da expressão assustada inicial.

Ela já tinha matado e agora voltava seus olhos para mim. Eu podia sentir no ambiente o ar de predação que ela emanava, alertando-me que eu seria o próximo. Era divertido ter um olhar desse tipo sendo direcionado justo a mim – e não o oposto – , e eu gostaria de poder me sentir a presa daquela raposa apenas para saber o que ela faria comigo, mas infelizmente o meu orgulho de ferro não me permitiria.

A propósito, o meu nome é

Eu não o perguntei. — A interrompi sem um pingo de dó, adorando a visão de vê-la fechando a boca sem jeito.

A maneira como o pescoço se mexeu me fez ter certeza que ela engoliu sua própria saliva, digerindo palavras que eu não queria nem saber. Mas não inspirou fundo e nem soltou sua respiração pesada, sabendo que eu estava observando cada movimento.

Os meus olhos que a olhavam eram os mesmos olhos que a condenavam, eu sabia perfeitamente o jeito que a via. Mas ansiando em provar-me que não se importava, a raposa me mostrou um sorriso amargo.

Aquilo que te fortalece é aquilo que também te enfraquece voltou a aparecer em minha mente.

Ela era fácil de ler, fácil até demais. Então, eu me senti incomodado com essa mania, perguntando-me se eu estava acostumado demais com a personalidade indecifrável daquela mulher. Mas era questão para outra hora, e aquele sorriso também pode apenas concluir o que eu já tinha em minha mente: obviamente ela se importava, mas eu não tinha interesse algum no porquê.

Se ofendeu quando lhe chamei de humano, Vladimir? — O seu tom de voz tentou ser venenoso.

Mas dessa vez, fui eu que ri.

Os meus quinze anos apareceram em minha mente, lembrando-me do meu primeiro assassinato. Durante alguns anos, aquela cena se repetiu diversas vezes em minha cabeça, eu sabia exatamente o que ocorria em cada segundo. Eu matava dois colegas — ironicamente, eu sei – com uma faca de caça apenas por prazer.

Lembro-me com clareza de que eram os vizinhos da família ao lado da minha casa, dois meninos e uma menina, quase três crianças. Claro, quatro se contar comigo. Não me lembro se eram irmãos, apenas consigo lembrar da menina sussurrando “Injustiça! Queria apenas que eles desaparecessem, que eles sumissem!

Não os matei por ela. Eu os matei porque eu quis e quando eu vi uma oportunidade. Não vi nada de errado ali, a verdade foi exatamente ao contrário. Enquanto as pupilas da menina brilhavam em lágrimas e em desespero, eu apenas tinha um sorriso petrificado, extasiado demais em ver todo aquele sangue escorrendo pelo chão.

Era tão lindo...

Eu queria que eles sumissem, mas não queria isso! — Ainda consigo ouvir sua voz desesperada entrando pelos meus ouvidos, enquanto eu mesmo agora a observava descrente. Quando vi o arrependimento estraçalhando a sua face, eu me lembro de franzir o cenho e a perguntar:

Por que há lágrimas em seus olhos? Essa sua boca aberta deveria ser um sorriso.

Aquela foi a primeira vez que vi o medo me encarando, excitando-me cada vez mais pelos olhos de outros.

Como você pode dizer isso depois de os matar? — Seus olhos estavam tão pequenos que nem me lembro a cor. – Como pode sorrir?! — Foi nesse momento que eu comecei a rir da cara dela, indignado com a hipocrisia que via. – COMO PODE RIR DEPOIS DE OS MATAR, SEU ASSASSINO?! COMO PODE DESTRUIR TUDO E... RIR?!

Depois o sorriso morreu nos meus lábios, inconformado como ela não conseguia entender. Minhas intenções eram estupidamente simples, tão simples... Mas como ela não conseguia ficar feliz por mim?

Não há a necessidade de aprofundar o assassinato como um crime, visto que todos irão morrer. Eu o encaro até mesmo como um favor, ainda mais se forem pelas minhas mãos. Não vi as minhas necessidades sádicas como aberrações, como ironicamente sempre é visto e como reflete nos olhos dos quais eu mato. E não consegui demonstrar seriedade sobre isso como eu gostaria, pois é um assunto tão prazeroso que posso ser suspeito a falar.

A raposa não fez algum movimento durante a minha recordação, e mesmo se fizesse ele seria inútil. Ela parecia apenas me olhar com astúcia e com uma certa honestidade que não é visto muito em predadores. Aquela sinceridade me incomodou, porque eu subitamente notei que seu sadismo tentava ser controlado.

Não. — Eu a respondi, sabendo que apesar de não ser boa em se esconder, ela conseguia captar alguns sinais da minha personalidade no ar. – Mas aposto que você se sentiria lisonjeada comigo a chamando assim, não?

Ela me ignorou, e eu encarei isso como a permissão para continuar.

Você é bem engraçada nessa estúpida camuflagem, para não dizer patética.

Então eu posso dizer também o que acho de você? — Senti daqui o sangue quente correndo com mais velocidade por suas veias, mostrando-me com clareza a sua impetuosidade. O seu nariz também se arrebitou, fazendo-me ver melhor o rosto levantado. Eu conseguia ver nitidamente o desafio brilhando em vez do medo, mas aquilo estranhamente dava-me o mesmo prazer.

Você não me conhece para achar alguma coisa de mim. — Eu me notei sorrindo. – Não se confunda com os disfarces, eu os coloco justamente para enganar-te.

A raposa se aproximou e eu lembrei do sangue impregnado em suas roupas. Meu nariz automaticamente rosou, implorando para que o resto do meu corpo pudesse avançar sobre ela. Mas eu nada fiz além de cruzar os braços, deixando apenas uma mão com as garras metálicas a vista.

Você é um mercenário sem coração, ignorando os crescentes desejos sádicos dentro de si... Alimentando-os cegamente. – Eu a percebi perto, quase colando em mim. Passava uma mão sobre o sobretudo encharcado na altura dos ombros enquanto falava, sem quebrar o contato visual de nossos olhos. Sua voz começava a soar forçadamente doce, tentando fazer dela uma melodia.

Ela tentava me seduzir, querendo que eu concordasse com todas as palavras que saíram por sua boca.

— Assassino, apenas. – Falei rudemente, retirando em um tapa aquela mão asquerosa que andava sobre o meu corpo.

Você mente. — Ela falou como se me amaldiçoasse.

Quando eu disse que você era patética, não achei que também fosse ser péssima em adivinhações.

Eu não sentia nojo daquela tentativa fajuta de mulher, mas algo nela me irritava. Talvez a simples comparação entre a humanidade que nós claramente não tínhamos. Ou talvez fosse a forma como vê-la errar me divertia do mesmo jeito do assassinato. De qualquer jeito, eu era envolvido por uma estranha de uma forma que eu não esperava e nem queria.

Eu estava errada em relação ao seu sadismo. – O pescoço branco fez o movimento de engolir seco. – Você tem os olhos de um monstro.

A sua expressão de nojo me divertiu. Sua boca quase rosnava para mim, mostrando-me sua selvageria. Não me importei nenhum pouco com seus sussurros, eles não se passavam de pura verdade.

Posso lhe garantir que não são só os olhos. – Falei em um sussurro, tentando amedrontá-la.

Você não me dá medo, impostor.

Ah, então ela percebera? Confesso que demorou um pouco até, mas ainda pude notar vestígios de dúvidas em seus olhos, não tendo total certeza do que eu era.

E você achou que podia realmente me seduzir, raposa? — Eu ri em sua cara, ela ainda permanecia próxima. Talvez tentasse novamente outro ataque direito, mas agora desistiria visto a minha última frase.

Ahri. O meu nome é Ahri.

Criar um nome não vai te fazer humana, raposa. A humanidade está em pequenos atos, como ganhar um nome ao ser concebida. — Vi seus olhos murcharem, sua expressão perder o brilho. Acertei em cheio, de uma forma que até mesmo eu não esperava.

E me afastar não vai fazer o cheiro do sangue sumir. – Seus olhos voltavam a brilhar, com uma regeneração desconhecida para mim até então. A raposa pareceu ganhar confiança com o meu silêncio inicial, e eu confesso que gostei de vê-la se esforçar em tentar me ferir. – Hemomancer.

Eu me esforcei para não demonstrar reação alguma a palavra que acabei de escutar.

Não espere elogios por isso. — Quando eu terminei de falar, a raposa sorriu. Um sorriso estranhamente singelo, refletindo a espontaneidade que ela não gostaria de ter me mostrado. Eu vi a sinceridade naquela pequena boca entre aberta, e aquilo me incomodou muito.

Você veio correndo até mim, não veio? — Seu sorriso aumentou conforme eu fechava a minha cara. – Aposto que esperava jovens donzelas correndo dos brutos noxianos, mas então— Eu a interrompi, pegando o seu braço com minhas garras e a jogando contra o tronco da árvore. Ela não demonstrou dor alguma, e continuou falando no mesmo tom de voz. – aparece uma raposa, um estúpido animal selvagem que não vai matar sua sede. Ou até mesmo poderia ser o contrário, você virar a presa dela. – Ela me sorriu venenosamente. – Está perdido, Vladimir?

Eu devo dizer que aquilo me surpreendeu, mas acredito que não tanto o quanto ela esperava. Curioso, eu queria continuar com aquele jogo, querendo saber se antes ela se fazia de idiota ou se teria sido um tiro no escuro.

Estou perdido. — Falei, mostrando-lhe minha superioridade. – E curioso.

Eu imaginei. – Ela abaixou o rosto, intensificando o seu olhar.

Não comece. – Eu a alertei, prevendo seu próximo passo. – É desgastante ver esse seu olhar fajuto.

Ela franziu as sobrancelhas, indignada. Imaginei que estava confusa também.

O que quer dizer com isso, seu assexuado?! — A vi perder o controle. Isso realmente foi prazeroso, me fez rir.

Assexuado só porque não sou seduzido por você, raposa? — Seus olhos amarelos tremeram. A confiança de anteriormente parecia ter se dissipado. – Você é apenas um animal enquanto eu sou um homem.

Você diz isso pra tentar se convencer. — Ela subitamente me puxou pelo colarinho do sobretudo preto, trazendo meu rosto perto do dela. – Você mente.— Voltou a repetir. – Você finge ser um homem, isso sim. A estúpida camuflagem é toda sua, homenzinho artificial.

Não gosta de verdades, raposa? — Falei com um sorriso no rosto. – Fica irritada quando eu ainda nem comecei.

Para a minha surpresa – e infelicidade pois interrompeu meu jogo –, um soldado apareceu entre a mata rasteira e eu percebi que a chuva já tinha passado. As nuvens negras pareciam se dispersarem, enquanto um pouco de claridade iluminava o céu nublado. O soldado estava ferido, pude vê-lo coberto de sangue e segurando sua barriga.

Meu sorriso aumentou, eu sabia o que era aquilo.

Desfincando as garras metálicas da carne macia do braço da raposa, eu as levei até a minha boca, passando a língua ao redor do metal gélido e sentindo o sabor de ferrugem daquele líquido saboroso. Olhei-a de canto enquanto ia até o soldado noxiano, mas ainda conseguia ver o semblante de descrença em seu rosto.

 – V-você é o senhor Vla-vladimir, não? — O homem falou agarrando sua mão livre no meu braço, manchando um pouco o sobretudo preto. – Por favor, me ajude!

Eu vou te ajudar. – Controlei o meu olhar agressivo e segui o caminho da mão que segurava a barriga, pedindo passagem para examiná-la.

Nós a-atacamos o vilarejo, m-mas mas— Eu o interrompi enquanto tirei a sua mão e puxei com força para fora o intestino que já caía.

Com o terror em seus olhos, eu o vi tentar falar alguma coisa, mas sem desviar o nosso olhar, eu continuei a arrancar as suas tripas. A fraqueza em manter o seu corpo em pé me atingiu quando ele começou a vir para frente. Eu não queria que ele morresse no chão, então continuei segurando em seus órgãos.

O sangue começou a escorrer por sua boca aberta, mas seus olhos ainda eram amáveis ao me verem. Quis encerrar logo com isso, eu tinha alguém à minha espera ainda. Grudei as garras metálicas em seu rosto, rasgando sua pele um pouco. Rapidamente eu vi as gotículas de sangue ao seu redor, juntando-se em uma fina névoa vermelha.

O cheiro metálico englobou o ambiente, envolvendo a mim e a ele. O frenesi que me invade ao ter o sangue alheio começando a fluir em minhas veias é indescritível, eu inspiro o ar como um viciado, assim como o meu corpo inteiro queima.

Deixei seu corpo cair ao chão, jogando suas tripas por cima. A pele azulada sem sangue nem me chamava mais a atenção, mas lembrei que aquela poderia ser a primeira vez da minha plateia. Virei-me e a raposa continuava me olhando, obviamente ela não teria ido embora.

Você é um noxiano. — Sua voz soou defensiva, assim como seu rosto refletiu a ofensa. – Mas você o matou... Por quê?

Eu não quero ninguém estragando a minha diversão. — Falei sorrindo, me aproximando dela. Os olhos amarelos tremiam, excitando-me. Ah... Por favor raposa, apenas continue com ele, eu lhe imploro. Mas... Eu finalmente iria ver o medo refletido nos olhos amarelos? – Deveria me agradecer por ser misericordioso, eu não costumo ser.

Engolindo seco, eu a vi tentando recuperar a cara de choque. Também vi a forma como ela se controlava para não abaixar o olhar e ver o corpo desfalecido ao chão. Seus olhos continuavam tremendo, sabendo eu qual seria seu próximo passo.

Se eu quisesse te matar, raposa, saiba que você já estaria morta. — Estranhamente, eu disse aquelas palavras para mostrar-lhe que sabia seus atos, mas soara mais como um conforto.

Então... — Ela se encostou no tronco da árvore, colocando suas mãos em suas coxas. Olhei aquilo com desdém, como ela se atrevia a abaixar a guarda na minha presença? — Todos daquele vilarejo estão mortos mesmo...

Sua voz foi um sussurro, mas era óbvio que eu tinha ouvido. Pela primeira vez, sua face pareceu-me entristecida, confundindo-me. Não sabia se ela tentava me enganar ou se havia alguma verdade naquela feição.

É verdade, esse sangue é daquelas mulheres... — Pareceu falar consigo mesma, mas eu não tinha culpa de poder ouvi-la.

Pensei que fossem de homens que você seduziu. — Falei a fitando venenosamente, mas ela sequer olhou para cima.

Me ignorando, ela desencostou-se da árvore e começou a andar pela mata. Eu percebi que tinha deixado passar alguma coisa, alguma lacuna que a feriu mas que não havia sido causado por mim. Ah, claro, era o vilarejo. Mas como aquilo a abalava dessa forma? Ela era simples raposa, geralmente bem odiada pelos humanos.

O jogo não acabou. — Eu gritei quando ela já estava longe. A raposa se virou calmamente ao me ouvir, e abriu seus braços.

Venha me matar então, não oferecerei resistência alguma.

Óbvio que eu fui.

Pegando-a agora pelo pulso, a virei para mim, fazendo-a me encarar pelo menos por um segundo. Não consegui entender porque seus olhos estavam tão magoados, mas também não era como se eu me importasse tanto com isso. A única coisa que me importava era que não havia sido eu o causador.

Eu não te matarei. – A maneira como ela não conseguia me olhar me enfurecia, como se fosse um verme revirando o meu corpo. Estupidamente eu peguei seu outro pulso, levando-a rapidamente contra outro tronco de árvore, mas aquilo pareceu inútil. – Você já aceitou a morte? — Ri com desprezo em sua cara. – Você é tão fraca. Está triste por causa dos aldeões do vilarejo? Não seja hipócrita tentando ser humana, você não é. Você não merece essas sensações... – Inútil, ela continuava a me ignorar. — ... Ahri.

Chamei-lhe pelo nome, achando que ela me daria atenção, mas aquilo também era não aconteceu.

Suspirando fundo pela primeira vez em sua frente, me peguei passando a palma da mão por minha testa, coisa que eu só fazia quando me via mergulhado na frustração. Eu terminei de a soltar, mas ainda permaneci próximo. Não estava nenhum pouco afim de voltar para as tendas, lá era tédio puro.

Eu não te direi coisa alguma sobre o que você presenciou agora. – Ela me alertou. — Pode dizer o meu nome quantas vezes quiser, eu não vou te deixar ter o gosto da vitória.

Mas eu já o tive. — Sussurrei para ela nas orelhas da ponta de seus cabelos negros. – No exato momento em que você me olhou entristecida. Você não tem a mínima ideia do prazer que você me causou.

Você é doente. — A risada veio por minha garganta e eu não pude a controlar.

E você é o que? — Franzi meu cenho. – A mãe misericórdia? — Mordi meus próprios lábios com os caninos. – Me excita demais ver você fingindo sofrer desse jeito, achando que você mesma não é uma puta sádica. — Eu sorri de canto. – As palavras que você me falou foram uma chave, não é? Desde o primeiro momento você queria que eu usasse isso contra você.

Cale a boca pois você não sabe de nada.

Eu sei o suficiente para te provocar. — Voltei a sussurrar em suas orelhas, mas ela ergueu a cabeça, fitando-me. Ela se recuperava rápido, pude admirar. – Eu realmente não conseguirei matar um brinquedo tão gracioso. — Admiti.

Deveria me matar antes que eu corte a sua garganta. — Agora foi a vez de ela sussurrar, voltando para as tentativas de sedução. 

Sabia bem como desviar do olhar predatório, mas quando ela colocou a mão atrás de minha orelha, em uma tentativa de me trazer mais para perto, o cheiro do sangue impregnado na manga de sua roupa entrou pelo meu nariz.

Meu corpo inteiro pulsou em um frenesi absurdo, lembrando-me: Aquilo que te fortalece também te enfraquece.

Eu não poderia me afastar, não quando aquele sangue já estava tão perto que podia senti-lo correndo em minhas próprias veias. Mas eu deveria, aquela raposa era sagaz e não desistiria até me seduzir, imagino eu que feri o seu orgulho. E o cheiro continuava entrando em minhas narinas com aquela estranha aproximação, me fazendo esquecer de tudo ao meu redor.

Percebi nitidamente a teia em que eu me encontrava, mas se era para que eu fosse destruído, aquilo seria do meu jeito.

Estupidamente peguei uma das coxas brancas com as garras metálicas, levantando-a e me encaixando entre elas. Senti o líquido quente escorrer entre o metal, sabendo que tinha rasgado a pele macia. Eu olhei para baixo, tentando ver a sua expressão. Porém, ela não me olhou com dor e sim com provocação, percebendo que eu queria ver exatamente isso.

A mão que estava atrás minha nuca me puxou mais, colando meu corpo ao dela com perfeição. Nossos rostos permaneceram próximos sem algum contato, comigo conseguindo ver nitidamente a maneira predatória que ela me olhava.

Você não irá me seduzir. — Eu falei mostrando-lhe os caninos. – Vai ser o oposto... Ahri.

Mas quando a noite caiu, a raposa me devorou.


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