Drowning in memories escrita por Keiko


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura~
qualquer erro, peço que me corrijam.
Talvez os parágrafos fiquem desalinhados, mas é aquele ditado: vamos fazer o quê?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/678403/chapter/1

      Akane deu uma lenta tragada no cigarro que já estava no fim, para depois apagá-lo e jogar as cinzas no cinzeiro cheio ao seu lado. Ela não gostava do cheiro, e ás vezes se engasgava com a fumaça, mas depois de algum tempo de prática estava ficando melhor nisso. Na verdade, fumar não era um vício; nunca foi, mas era a melhor forma que achou de sentir o familiar cheiro dele para amenizar sua ausência, para saciar a saudade que crescia no peito da garota.

          Ás vezes, ela também jogava em um videogame portátil que comprara recentemente, porque isso a fazia se lembrar de Kagari. Ás vezes, ela se via folheando fotos antigas, e se afogando em memórias para saciar sua saudade de Yuki e de sua avó, Aoi.

          Mas as lembranças não amenizavam o buraco em seu peito.

          Não era a tristeza que a consumia, que aumentava o buraco, - ela era uma Inspetora, estava preparada para as perdas - era a falta que as perdas faziam que a consumia. Ela podia estar preparada para as perdas, para a tristeza e toda maré de sentimentos que consequentemente acontecia, mas não estava nenhum pouco preparada para a saudade.

          Ela se pegava pensando em como as coisas estariam agora se ela tivesse feito diferente, se tivesse arranjado coragem o suficiente para atirar em Makishima, para parar de ser uma covarde, com suas ações moldadas pela droga do sistema. Se ela tivesse feito isso, talvez Yuki estivesse viva, talvez sua vó estivesse viva, talvez Kagari não teria desaparecido, talvez o pai de Ginoza ainda estivesse vivo, talvez o próprio Ginoza ainda seria seu parceiro, e não um criminoso latente que obedecia suas ordens.

          E talvez Kogami ainda estivesse aqui.

          Mas ela só pensava 'talvez' porque sabia que se pensasse 'com certeza' a culpa seria grande demais para aguentar.

          Mas a culpa já estava a consumindo há muito tempo, desde que ela viu Makishima matar sua melhor amiga na sua frente.

          Akane acendeu outro cigarro, enquanto se perdia em pensamentos e arrependimentos; não gostava de fumar, mas era uma boa distração.

          E a fazia se lembrar dele.

          Os dias dela tinham uma rotina mórbida desde que as coisas ficaram desse jeito. Desde que Kirihito e Togane morreram, não tinham mais casos realmente sérios para se trabalhar, não tinha algo para distraí-la. Então ela trabalhava, tirava pessoas perigosas da rua, com um pequeno sentimento de realização enchendo seu peito, mas que não durava muito tempo, e voltava para sua casa vazia. Então ela jogava, lia ou fazia qualquer outra coisa que a distraia, e então se afogava. Se afogava em suas memórias. Nas memórias soltas que restaram de seus momentos felizes, memórias agradáveis que, infelizmente, eram apenas memórias.

          Se afogava no riso de Yuki, ou no sorriso de sua vó, nas piadas de Kagari, ou nas palavras sábias de Masaoka. Se afogava no cheiro de Kogami - era o que ela mais fazia. Era para isso que fumava, aliás.

          Mas tinha uma memória em especial que ela gostava se afogar mais, que ela gostava de afundar e afundar, até se perder no fundo de sua mente.

          Ela sentiu as costas contra a parede de concreto, com sua respiração ficando ligeiramente mais pesada. Em outra ocasião, aquilo teria doido, mas naquele momento ela estava desorientada demais para perceber.

          Seu rosto estava quente e ela tinha certeza de que estava completamente enrubescida enquanto encarava o chão. Ela tinha uns sapatos bem legais, até. Então deu uma olhadela para cima, mas o olhar dele era muito intenso para aguentar, e ela quebrou o contato.

          — Ko-kogami-san... – o murmúrio foi a única coisa que saiu de sua boca. Ela devia dizer para ele se afastar, para parar de imprensá-la contra a parede, mas não conseguia. Talvez fosse o constrangimento do momento e sua timidez vindo à tona, mas as palavras não saiam.

          — Você está bem vermelha, Inspetora. Está se sentido bem? – Ele respondeu, com a voz rouca e divertida transbordando sarcasmo. Ela o olhou e viu o sorriso cínico e sedutor crescendo em seus lábios.

          — Por favor, se afaste, Kogami-san. As pessoas podem nos ver e... e entender errado...- Akane gaguejou enquanto se amaldiçoava mentalmente por aquilo, por tudo aquilo. Ela sentia que suas palavras eram mais uma indireta do que uma explicação. Ela não queria que ele a entendesse mal.

          Ela queria sair de lá, mas não tinha saída. O braço direito dele estava apoiado na parede acima de sua cabeça, e o corpo dele estava tão próximo quanto seu rosto. Ela conseguia sentir sua respiração e não sabia como se sentir em relação àquilo.

          O problema é que ela já estava sentindo. Já estava sentindo o coração acelerado e as borboletas dando cambalhotas em seu estômago. Ela já estava sentindo um nó de ansiedade e expectativa se formando em sua garganta, impedindo-a de dizer a Kogami para se afastar.

          — Eu não me importo. – Ele sussurrou, com um vestígio de um sorriso ainda restando em seus lábios. “Mas eu sim”, ela queria dizer. “Eu me importo, porque é errado. ” Por mais que ela gritasse aquelas palavras em sua mente - mais para si mesma do que qualquer coisa - não conseguia pronunciá-las. Sua voz a traía, assim como seu corpo. Assim como sua mente, assim como seus sentimentos. Mas era errado, era estranho, era proibido.

          Deus, aquilo era tão errado.

          Akane levantou seu olhar para encarar Kogami, para afastá-lo de si. Ele estava brincando com ela, tinha certeza, e aquilo não era nada simpático. Mas ela se perdeu em seu abismo negro assim que o encarou. O olhar dele esbanjava desejo, luxúria, mas também tinha um pouco de carinho ali, um sentimento mais real e sincero. Mas não foi isso que a chamou a atenção; seus orbes negros tinham uma pontada, uma pequena pontada de melancolia que ele tentava esconder. Tinha um misto de emoções que ela não conseguia entender e aquilo deu um aperto súbito em seu coração. Sentia que Kogami estava planejando algo, e não parecia ser algo bom.

          Mas antes que pudesse perguntá-lo algo, antes que pudesse ao menos raciocinar o que estava acontecendo ou juntar as peças daquele complexo quebra-cabeça, Kogami aproximou o rosto do seu, e beijou-a.

          Ele a beijou. Não tinha outra descrição para isso. Ela não ia dizer que ele pressionou os lábios contra os dela, porque, apesar de ser exatamente o que aconteceu, tinha algo mais ali. Muito mais.

          Tinha sentimentos, tinha emoções.

          Tinha também o nervosismo de Tsunemori, suas borboletas dançando loucamente em seu estômago, seu coração batendo de forma incontrolável e sua mente em choque.

          A única coisa que conseguia pensar era que aquilo era muito errado. Era proibido, não devia estar acontecendo.

          Mas aquilo só deixava o momento mais importante, mais valioso.

          Ela não teve tempo de ter uma reação, não teve tempo de aprofundar o beijo, ou de afastá-lo, porque ele fez isso por si só.

          Ela estava, mais que tudo, envergonhada. Não sabia como reagir àquilo, não conseguia encará-lo. Mas, de alguma forma, conseguiu falar. Conseguiu proferir as únicas palavras que faziam sentido em sua cabeça. Conseguiu perguntar a única coisa que mais queria saber.

          —P-por que... por que você...? – Por que você fez isso? Era o que queria dizer, era o que queria perguntar, mas a vontade não era maior que o constrangimento. Mas não foi preciso proferir a oração inteira para ter uma resposta.

          Ele já estava andando pelo corredor vazio quando Tsunemori se calou, e ela não sabia se ele tinha a escutado.

          — Eu nunca fui muito bom com palavras... – ele falou, sua voz se perdendo no corredor na medida que ele se afastava. – Então essa é minha forma de dizer adeus.

          Sentiu os olhos arderem, mas segurou as lágrimas. O que Kogami diria se a visse assim? Fumando para se lembrar dele, chorando por uma simples lembrança... Era um tanto patético. Mas ter consciência daquilo não diminuía a tristeza ou o vazio que sentia ao lembrar-se daquele dia, ao pensar que aquilo tudo era culpa dela.

          Se tivesse atirado em Makishima naquele dia, nada daquilo teria acontecido. Mas se tivesse atirado nele, talvez nunca tivesse essa lembrança, talvez nunca sentisse os lábios de Kogami contra os dela. Se tivesse atirado nele, ela teria se tornado tão má quanto ele, ela se rebaixaria ao nível dele, de Togami, de Kirihito, e do sistema.

          Aquele era seu pequeno consolo.

          E aquela era sua pequena lembrança, tão simples, mas tão valiosa quanto as lembranças de suas melhores amigas, ou de sua avó.

          Aquela era sua pequena vida, se afogando em lembranças, consolos e na tola expectativa de algum dia revê-lo, de algum dia sentir seus lábios contra os dela novamente.

          E, enquanto esse dia não chegasse, Akane se afundaria no mar de lembranças até o ar sair de seus pulmões e ela se sufocar em sua própria dor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Drowning in memories" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.