A História de Fátima Rosa escrita por Ayla Peres


Capítulo 17
Capítulo 17 - Uma primeira verdade


Notas iniciais do capítulo

Bem-vinda(o), espero que goste de conhecer esta história, que é contada a partir do ponto de vista dos dois protagonistas. Para quem conheceu antes a história original, fica a homenagem para que possamos passar mais tempo com esses personagens inesquecíveis...



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FATMAGÜL

No dia seguinte, Mukaddes logo se esqueceu das palavras ásperas que havia me dito  para se dedicar o seu passatempo favorito: bisbilhotar a vida alheia. Ela chegou me trazendo um álbum de fotos daquele homem, incluindo uma suposta foto de sua mãe ao lado de um homem de rosto recortado. Mukaddes tagarelava sobre como a mãe dela era bonita e da possível razão do pai dele tê-la abandonado indo para Austrália.

Eu não queria ser intrometida, mas não consegui resistir à curiosidade e acabei olhando a foto da mãe dele, me perguntando porque o pai dele havia ido embora e por qual motivo ela teria se matado.  Não pude deixar de pensar o quanto deveria ter sido difícil sofrer essas perdas ainda tão criança, mesmo que ele não merecesse minha compaixão. Infelizmente nesse momento, ele entrou, juntamente com Ebbe Nine e nos viu com suas fotos em nossas mãos. Fiquei muito envergonhada quando ele bruscamente retirou a fotografia de sua mãe de minhas mãos, assim como o álbum das mãos de Mukaddes, que mentiu dizendo-lhe que eu havia pedido para ver as fotos, já que não conhecia meus “sogros”. Preferi sair dali rapidamente para não me sentir ainda mais embaraçada pela irritação dele com nossa indiscrição.

KERIM

Meryem, minha querida mãe Ebbe Nine, decidiu voltar a Izmir para trazer mais alguns pertences seus, mas disse que voltaria logo. Não havia sido algo inesperado para mim o modo como ela já havia conseguido se aproximar de Fatmagül. Nem que o irmão, o pequeno sobrinho e mesmo a cunhada de Fatmagül já estivessem se sentindo apegados a ela, assim como ela se sentia em relação a eles. Ela sempre fora uma pessoa muito amorosa e por isso cativava as pessoas facilmente por onde fosse.  Mas seria um tanto estranho ela permanecer com eles quando eu fosse embora.

Aliás, eu precisava confessar a mim mesmo que quando chegasse a hora também seria difícil ir embora, apesar de tudo. Além de deixar Ebbe Nine, eu também já me sentia um tanto afeiçoado àquela família. E de modo muito especial à Fatmagül, claro. Se ao menos ela não me odiasse tanto.  Mas à medida que o restante das reformas na casa progrediam, rapidamente chegava o dia em que eu deveria partir. E não faltava muito para terminarmos tudo.

Rahmi, o irmão de Fatmagül, também se parecia com um irmão caçula para mim. Enquanto trabalhávamos juntos para consertar a casa ele me contava de como Fatmagül era quando criança, de como dependera apenas dele após perder os pais.  De como havia ela havia sido uma criança solitária, acompanhando-o onde fosse. Ele sempre se mostrava muito carinhoso com a irmã e mesmo um tanto fragilizado por suas limitações pessoais, a defendia com todas as suas forças sempre que isso era necessário. Mas quando ele disse que nos dávamos tão bem que deveríamos trabalhar juntos, pois agora ele precisava trabalhar em algo novo, eu fui obrigado a dizer que ele não contasse comigo, pois assim que tudo se acertasse eu iria embora logo.

Porém, eu não poderia dizer que me sentia muito apegado à sua cunhada.  Não era alguém com quem eu me sentisse bem por estar perto. Seus comentários indiscretos e especialmente agressivos quando se tratavam de Fatmagül me incomodavam bastante. Nessas horas, como aconteceu mais tarde quando jantávamos, eu me afastava para ficar sozinho.  Indo para o quarto dos fundos, que já estava quase pronto, decidi conferir as mensagens do chip antigo de meu celular, que eu havia trocado quando o número fora descoberto por Mustafá.

Havia três mesagens.  Na primeira, Mustafá tornava a me ameaçar, dizendo que me encontraria mesmo que eu trocasse o número do telefone.  Na segunda, Vural dizia que precisava falar comigo.  Eu considerei comigo mesmo que não tinha a intenção de ter contato com nenhum deles, nunca mais.  Porém, mudei de ideia quando na terceira mensagem, também de Vural, ele dizia que naquela noite eu não havia feito nada.  Como assim!? Eu liguei para ele imediatamente para confirmar o que ele dizia!

“Vural, o que você disse na mensagem era verdade?”

“Sim. Você não fez nada naquela noite. Estou contando isso a você porque não aguento mais carregar essa culpa. Não consigo mais dormir. Não consigo esquecer do que aconteceu!”

Perguntei onde estava e ele me respondeu que estava no barco de Erdogan.  Decidir ir conversar com ele para apurar todos os detalhes daquela revelação.  Enfim eu saberia da verdade da qual não conseguia me lembrar.

~*~

Chegando ao barco, Vural me contou que vira quando eu não conseguira esboçar nenhuma ação quando chegara minha “vez” naquela noite, limitando-me a permanecer ajoelhado a frente de Fatmagül. Não era nada tão animador assim, pois eu não apenas a chamara quando ela estava passando, atraindo-a para para aquela armadilha, como não os havia impedido quando isso estivera ao meu alcance.  A verdade era que eu assistira à tudo acontecer sem fazer nada.  Eu era obrigado a adminitir que poderia ser menos criminoso do que eles, mas era tão ou mais covarde.

Nesse momento, Erdogan e Selim chegaram ao barco, se mostrando surpresos ao me encontrarem ali.  E mais ainda quando Vural lhes disse que havia me contado a verdade. Percebi que todos eles deviam saber de tudo antes mesmo que eu decidisse me casar com Fatmagül.  Haviam armado aquela mentira para me induzir a assumir a culpa por eles!

Selim ainda protestou, dizendo que soubera do que realmente aconteceu em relação a mim há pouco tempo.  Mas porque não havia me dito a verdade então? Erdogan, ainda o mesmo mandão de sempre, cobrou de Vural a responsabilidade por eu agora saber do que acontecera, perguntado-lhe se a sua consciência agora estaria tranquilizada.

Foi quando Vural levantou-se bruscamente, pegou da chave do carro e saiu do barco dizendo que sua consciência não estava tranquila, mas que logo estaria. Era impressão minha ou ele estava sugerindo algo como suicídio? Ele realmente parecia um tanto alcoolizado e muito perturbardo e por isso meu impulso instintivo foi segui-lo, com Erdogan e Selim atrás de mim.

“Vamos pagar pelo que fizemos!” Vural ainda virou-se de longe para gritar antes de seguir em frente. “É isso que vai acontecer!”.

Ele se afastou pelo pier cada vez mais rapidamente, mas conseguimos alcançá-lo quando ele chegou ao carro. Fiquei à frente do carro, mas com o motor ligado, ele se recusou a sair, por isso, depois que Selim e Erdogan entraram no carro, decidi também entrar no carro com ele, sentando-me ao seu lado. Ele corria muito, dizendo que iria à delegacia confessar. Erdogan gritava que ele parasse enquanto eu tentava acalmá-lo dizendo que precisava reduzir a velocidade se queria chegar a algum lugar, mas ele parecia não estar ouvindo ninguém.

“Pare agora este carro!” Selim, mesmo estando no banco de trás, tentou agarrar Vural, dizendo que ia matá-lo, mas não teve sucesso, exceto por uma derrapada do carro quando ele fez isso.  

Erdogan, também desesperado com a perspectiva de que Vural fosse se entregar, também tentou segurá-lo para obrigá-lo a parar o carro, o que fez o carro patinar na pista escura e úmida. Eu os adverti para que não fizessem isso para não provocar um acidente, pedindo outra vez a Vural que estacionasse o carro para conversarmos, antes de qualquer coisa.

“Agora já chega! Vou confessar tudo.” Vural repetiu.

“Como você acha que um estuprador é tratado em uma cadeia?” Respondeu-lhe Erdogan.

“Nós vamos pagar por isso juntos.” Vural retrucou.

Foi quando surgiu uma blitz a nossa frente que parou o carro. Era tudo que Vural queria, aparentemente.  Um dos guardas nos parou.  Selim, o dono do carro, indicou a Vural onde estavam os documentos. Tudo em ordem. Mas estávamos sem cinto e o guarda desconfiou da embriaguez de Vural, exigindo-lhe que fizesse o teste do bafômetro. Para complicar, Vural começou a rir, desrespeitando o policial que ficou irritado e mandou que todos nós saíssemos.

Para piorar as coisas, a polícia ao nos revistar, encontrou um pacote pequeno de cocaína no bolso de Vural.

Realmente, quando eu estava junto com aqueles caras, parecia que nada estava destinado a dar certo, nem mesmo quando eu havia procurado um deles por uma razão aparentemente justa...

FATMAGÜL

“Aquele homem” havia saído sem dizer a ninguém onde ia quando já era tarde.  Ebbe Nine ficou preocupada porque achou que ele havia atrás de Mustafá.  Não houve como impedi-lo e eu também lamentei que aquilo pudesse acabar muito mal se eles de fato se encontrassem.  Apesar do tanto que Mustafá havia me decepcionado ao não me apoiar, eu não gostaria que ele se transformasse em um criminoso por conta de tudo que acontecera. Todos ficamos acordados e Mukaddes ligou várias vezes, sem sucesso, para o advogado dos Yasaran para tentar obter alguma informação sobre onde Mustafá estaria. 

Quando eu peguei o telefone decidindo ligar para Mustafá para alertá-lo, Mukaddes tentou me impedir, dizendo que ele mataria a mim também.  A princípio, eu não achava isso, imaginando que o alvo da ira dele era “aquele homem”, depois de saber que fora ele a me maltratar, estuprar e se casar comigo em seu lugar. Mas, confesso que hesitei um pouco em ligar quando Mukaddes mencionou essa possibilidade.

Foi quando o Munir, advogado dos Yasaran, ligou para ela, que lhe disse o que havia acontecido e ele respondeu que tentaria resolver. Eu esperava que houvesse tempo suficiente para ele impedir que algo de pior acontecesse. 

E assim ficamos esperando por longas horas, Mukaddes tagarelando que nada de bom nos acontecia e mãe dele  preocupada e orando por ele, embora ele não merecesse seus bons sentimentos. Ela percebeu meu olhar para ela quando orava e me disse que entendia que eu não desejasse nada de bom para seu filho.  Mas que ela o amava e que ele não havia deixado de ser seu filho, mesmo com tudo que acontecera. Contou-me, sem que eu pedisse, como ele fora morar com ela quando era bem pequeno ainda, uma criança entristecida por ter perdido a mãe. Disse-me que eu não conhecia o verdadeiro Kerim.

Eu lhe respondi que conhecia o Mustafá e que o havia amado e que isso sempre doeria em mim depois de tudo o que acontecera. Ela novamente disse que me entendia, mas ela estava enganada. Ninguém poderia compreender o que eu sentia exceto eu mesma.  Eu senti pena dela e de todos nós, exceto por ele, que ainda a fazia sofrer por sair sem sequer dizer onde havia ido. Eu lhe disse que o seu filho havia tirado tudo de mim e que se dependesse de mim, eu não permitiria que ele tirasse tudo de Mustafá também.  O filho dela era meu inimigo, eu lhe disse. E sempre seria.


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Notas finais do capítulo

Notas finais do capítulo

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Até o próximo capítulo!



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