A História de Fátima Rosa escrita por Ayla Peres


Capítulo 14
Capítulo 14 - A mudança


Notas iniciais do capítulo

Bem-vinda(o), espero que goste de conhecer esta história, que é contada a partir do ponto de vista dos dois protagonistas. Para quem conheceu antes a história original, fica a homenagem para que possamos passar mais tempo com esses personagens inesquecíveis..



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FATMAGÜL

Era difícil aguentar o repouso forçado por conta da perna imobilizada, mas eu não tinha muita escolha, ainda que houvesse muito o que fazer já que a mudança havia chegado. Para piorar meu estado de espírito, a mãe “dele” havia chegado e Mukaddes insistia para que eu me mostrasse simpática com ela, o que eu não pretendia fazer de jeito nenhum.

Sendo assim, me limitei a assistir meu irmão e “ele” descarregarem a pouca mobília que tinha sido possível trazer na camionete, enquanto Ebe Nine e Mukaddes tentavam ajeitar o que pudessem na casa. Foi quando vi meu baú de enxoval sendo descarregado por aquele homem. Eu não poderia tolerar que “ele” tocasse no baú que Mustafá havia preparado especialmente para mim e que continha todas as peças que eu havia preparado com tanto carinho para meu verdadeiro casamento. Mandei que “ele” largasse o baú imediatamente e tentei levá-lo eu mesma, sem conseguir, por causa de meu pé machucado, mas Mukaddes entendeu o que estava acontecendo e retirou o baú ela mesma.

Depois que o baú foi colocado por ela dentro da casa, eu me sentei sobre ele e derramei algumas lágrimas ao me lembrar dos meus sonhos despedaçados que aquela caixa de madeira cheia de peças de cama e mesa representava. Por mais que a realidade que eu vivesse agora fosse tão amarga e concreta, eu não conseguia deixar de pensar que as coisas teriam que ficar diferentes, tudo não poderia terminar daquele jeito.

Meu sobrinho interrompeu meus dolorosos pensamentos, convidando-me a explorar o rio que passava em frente ao terreno da casa. Quando estávamos nas margens vendo as águas que corriam mansas, a mãe “dele” veio falar comigo. Eu chamei Murat para que saíssemos dali e eu não precisasse responder, mas ela insistiu.

“Fatmagül, por que você não fala comigo?” Ela perguntou de forma insistente.

“Vá embora!” Eu disse. Ela continuou me encarando inquisitivamente. “Você mentiu pra mim!” Eu expliquei, como se ela realmente não soubesse a razão pela qual eu não lhe dirigia a palavra.

“Não, eu não menti. Eu juro pra você.” Ela teve a coragem de negar que havia mentido.

“Como você sabia que eu estava lá? Claro que foi ele quem disse a você. Ele deve ter dito: ‘Fiz uma coisa errada, me ajude...’”

“Eu estava colhendo ervas. Toda manhã eu saía para colher ervas e naquele dia a encontrei lá por acaso.”

“Mentirosa!!!” Eu não conseguia mais me conter diante da desfaçatez dela em insistir que fora coincidência ela me encontrar naquela praia, exatamente naquele dia e naquela hora. “Todos vocês são malditos!”

“Fatmagül, eu estive ao seu lado desde o início. Só depois eu soube de tudo e fiquei em choque ao ver você...”

Mukaddes aproximou-se de nós nessa hora, mas eu preferi ignorá-la.

“Veja bem, você não estava em choque. Eu estava! Era eu quem estava em choque e ficarei em choque até eu morrer! Vocês só estavam pensando em sis mesmos!” Respondi. “Você estava do lado dele”

“Eu não estava. E ele me disse que não fez nada com você.”


“Ele que vá para o inferno!!! Que todos vão para o inferno!!!” Gritei, com muita raiva.

A princípio, eu não compreendi a razão da expressão surpresa no rosto de Ebe Nine quando eu disse isso.

“Eu já sei...” Ela retrucou, como se houvesse descoberto que estava certa sobre algo que antes apenas imaginava. “Foram os Yasaran, não é mesmo, Fatmagül?”.

“Meryem! Não tente colocar a culpa de seu filho sobre os outros!” Mukaddes interrompeu-a, enquanto eu me dava conta da da revelação que havia deixado escapar.

“Eu compreendi tudo! Você não a deixa falar, Mukaddes. Quer que ela fique em silêncio.”

“Ela estava falando do Mustafá.” Foi o que minha cunhada disse a ela, tentando encobrir a trama que haviam armado para inocentar parte dos culpados. “Ele saiu da cadeia e está em busca de vingança.”

Mas pela expressão de Ebe Nine, percebi que ela não havia engolido a desculpa de Mukaddes. Eu me afastei rapidamente com meu sobrinho, porque não desejava ter que voltar a falar daquilo tudo de novo mais uma vez.

Sim, minha cunhada não havia perdido a chance de me contar que Mustafá estava na cidade agora e dissera que eu tomasse cuidado, pois ele viria atrás de mim. Aproveito para me “aconselhar” a aceitar aquele homem, pois ninguém mais concordaria em se casar com uma mulher que havia sido estuprada por quatro homens. Eu fiquei indignada diante das palavras duras de Mukaddes, mas precisava reconhecer que havia alguma verdade no que ela dizia. Mas ainda assim, eu nunca aceitaria ficar casada com um deles!

Mal sabia ela que eu ainda guardava a esperança de reencontrar Mustafá. No fundo de meu coração, eu não conseguia aceitar que ele houvesse deixado de me amar depois de tudo o que havíamos construído juntos. Talvez, só talvez, ainda pudéssemos ficar juntos outra vez um dia e esquecer todo aquele pesadelo.

KERIM

O número desconhecido que eu atendera ao celular inicialmente ficara silencioso para logo depois despejar ameaças.

“Você vai pagar muito caro pelo que fez comigo. Descobri seu número. Logo vou descobrir seu endereço. E vou matar você!”

Certamente era o ex-noive de Fatmagül. Ela e toda a família, nesse momento, me ouviram atender ao telefone e Ebbe Nine me perguntou quem era. Eu preferi desligar e dizer que era engano. Não seria bom que ninguém se assustasse sem necessidade, ao menos por enquanto.

Depois de descarregarmos os móveis, começamos a cuidar da pintura da casa, incluindo o quarto externo onde eu ficaria provisoriamente. Quanto estávamos a sós, Meryem me disse que Fatmagül deixara escapar que fora atacada por mais de um homem naquela noite, esperando que eu confirmasse ou negasse. Eu disse a ela que se acreditava nisso, fosse a uma delegacia denunciar a todos, juntamente com Fatmagül. Aproveitei para contar a ela que eu já era um alvo em potencial de seu ex-noivo, esclarecendo que havia sido Mustafá ao telefone. Eu não sabia como ele havia descoberto meu número, mas Istambul era uma cidade muito grande, então seria pouco provável ele encontrar nosso endereço. No entanto, embora o risco existisse, só me restava trocar o número do celular e ficar atento a qualquer sinal estranho.

As janelas da casa davam para o quarto externo que eu estava pintando. Pela janela da cozinha pude ver o olhar nada amistoso que Fatmagül lançava a mim e a Ebbe Nine. Mais tarde, quando eu estava sozinho no mesmo cômodo lixando as paredes, ela veio me procurar com aquele mesmo ar de poucos amigos.

“Por que você não vai embora?” Foi a sua saudação.
“Eu vou.” Respondi, com o mesmo tom seco que ela usara.
“Então por que não embora logo? Odeio vê-lo todo dia! Odeio respirar o mesmo ar que você!”
“Assim que vocês se ajeitarem por aqui, eu vou embora, não se preocupe.”
“Não precisa esperar. Vá agora!”

Ela havia deixado bem claro o que queria. Saí dali antes que eu disse algo do que pudesse me arrepender. Ficava claro que eu não conseguiria suportar aquilo por muito tempo.


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Notas finais do capítulo

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Até o próximo capítulo!



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