Two Souls escrita por Ahelin


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey, pudim!
Como vão as coisas na Terra?

Antes de mais nada, obrigada por ler. Espero do fundo do coração que goste!
E, à Laurinha, obrigada por me aguentar tanto tempo. Eu te amo! Minha irmãzinha :3

Até lá embaixo o/



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Muito tempo atrás, antes mesmo do próprio tempo, a vida se apaixonou pela morte.

Era um casal diferente, esse. Ela doce, e ele amargo. Ela a luz, e ele a escuridão. Ela o bem, ele o mal.

Mas, juntos, ambos compartilhavam de uma felicidade sem limites. Eram raros seus encontros, porém cada segundo que conseguiam passar juntos compensava uma eternidade de separação.

Um dia, entretanto, perceberam o quanto sua proximidade tornava tênue a existência dos humanos. Sempre que a vida e a morte não aguentavam ficar longe um do outro por um momento que fosse, seus mundos se misturavam e ocorria o caos.

Com muito pesar, os dois decidiram que nunca mais se encontrariam. Assim, não colocariam em perigo seus preciosos protegidos.

Mas isso não impediu que eles continuassem a se amar. A vida sempre conseguia enviar seus presentes para a morte, que os guardava com todo o carinho e os preservava para sempre.

Até que, um dia, por pura brincadeira do destino, aconteceu algo mágico. Foi como se a vida e a morte se encontrassem outra vez.

Mas não em sua forma imortal, pois eles cumpriam com rigor a sua promessa. Eram simples mortais, que cativaram os eternos amantes.

Ela quente, e ele frio. Ela "sim, e ele "não". Ela doce, e ele amargo. Ela a luz, e ele a escuridão.

Ela a vida. E ele, a morte.

Era improvável que esses dois se apaixonassem, porém o destino cuidou desse detalhe.

Em uma manhã ensolarada de primavera, Laura caminhava se equilibrando no meio-fio. Carregava consigo os pensamentos felizes do décimo quinto aniversário, e a maior prova isso era o grande sorriso estampado em seu rosto delicado.

Seus cachos louro-escuros balançavam com o vento suave conforme seus pés enfiados em All Star pretos de cano médio se colocavam um à frente do outro, os braços estendidos para manter o equilíbrio.

Um pequeno beija-flor, de asas violetas como ela nunca tinha visto, começou a rodear sua cabeça rapidamente, gorjeiando interessado nas duas flores grudadas às presilhas em sua franja. A insistência do pequeno bichinho a fez rir, um riso tão sonoro e melodioso que chamou a atenção do rapaz que acabava de sair da loja de discos do outro lado da rua.

Seu capuz negro estava bem puxado sobre a cabeça, escondendo parte dos fios negros e bagunçados que insistiam em cobrir seus olhos, disfarçando o azul elétrico que eles exibiam. Em seus braços, as várias pulseiras com palavras, grossas o suficiente pra esconder as marcas. Esse era Nico.

Carregando consigo um exemplar de vinil de uma antiga banda de rock, que lhe custou todo o seu dinheiro, ele ajeitou os fones de ouvido despreocupadamente e começou a trilhar seu caminho de volta pra casa.

Era praticamente impossível que os dois se encontrassem, porém o destino tem seus caprichos.

O beija-flor voou para o outro lado da rua, atraindo o olhar de Laura, e acabou batendo na têmpora de Nico. Este, que estava observando seus sapatos, ergueu a cabeça por um milésimo de segundo.

Viu, quase que por acidente, a moça que se equilibrava no meio-fio. Os enormes headphones coloridos poderiam ser vistos da lua, mas isso quase o fez rir. Seu gingado para se equilibrar, balançando levemente ao som da música, o envolveu de tal forma que ele soltou uma gargalhada quando ela quase caiu na rua, balançando os braços como se quisesse voar, na tentativa de se manter em pé. Conseguiu, e com um sorriso confiante, continuou sua jornada. Nico a seguia tão naturalmente que nem notou estar indo na direção contrária à sua casa, com um único objetivo de conseguir ver por mais alguns segundos aquela moça que fazia seu coração dar cambalhotas.

Porém, ele percebeu seu erro primeiro que ela mesma. Um passo em falso, pés cruzados, ela girou e tombou perigosamente para o lado. Apenas Nico viu o carro que vinha rápido demais para quem está no meio da cidade, no exato momento em que ela caiu.

— Cuidado! — Ele gritou, apavorado, porém era tarde demais.

Antes mesmo que seu corpo tocasse o chão, o carro se chocou com ele, jogando a menina cerca de um metro à frente, sua cabeça batendo ruidosamente no meio-fio onde antes seus pés encontravam caminho tão alegres.

O motorista, perturbado, apenas manobrou seu carro para longe e foi embora dali, mais veloz do que tinha vindo.

Nico não pensou em outra coisa senão largar tudo e correr até ela, se ajoelhar e clamar por ajuda, apoiando com gentileza seu rosto delicado no colo. Inclinando-se, encostou a bochecha na dela, numa fútil tentativa de sentir sua respiração. Nenhum ar escapava dos lábios entreabertos de Laura, nem ao menos seu peito se movia. Então, escorregando pra baixo e colando a orelha no coração da garota, constatou que nada havia ali além do silêncio.

Nico nunca tinha sentido um vazio tão grande.

Mas, caro leitor, não acabou por aqui. Pois assim como a Morte vem pra buscar a alma de vítimas do acaso como Laura, a Vida também está presente em todos os nascimentos, para dar o sopro de calor em cada bebê. E eis que, por puro capricho do destino, um bebê acabara de nascer numa casa ali em frente.

Mais uma vez, os olhares das divindades se encontraram. Não demorou para que percebessem o que havia ocorrido, e acabaram se identificando com o casal de jovens mesmo sem querer.

Vida, sem ser notada, abriu caminho entre a pequena multidão de curiosos que começava a se formar em volta dos dois. Morte fez o mesmo, e os dois se ajoelharam ao lado do corpo. Vida não parava de olhar Morte, implorando com os olhos.

— Por favor... — Pediu ela, baixinho. Morte viu naqueles dois o casal que um dia formara com Vida, e seu coração se partiu. Acredite, a Morte também tem sentimentos.

— Será meu presente pra você, querida — sorriu Morte. E, assim, ambos deram suas mãos e fecharam os olhos por um instante. Depois, Vida se inclinou e beijou a testa de Laura, cuja cabeça ainda descansava no colo do rapaz.

Tiveram que se afastar, pois não sabiam quanto tempo demoraria para que sua união afetasse seus mundos. Se levantaram ao mesmo tempo.

— Adeus — havia um pequeno sorriso esboçado no rosto de Vida. — E obrigada.

— Até breve, querida — Morte fez uma reverência exagerada. O momento tinha passado. Assim, cada qual seguiu seu caminho.

Tão rápido quanto tinha parado, o coração de Laura voltou a bater. Ela tossiu levemente e abriu os olhos, surpresa por acordar no colo de um estranho.

Então, seus olhares se encontraram. Cor de mel esverdeado com azul elétrico. Clique. Foi como se uma fechadura fosse destrancada na mente de ambos, abrindo uma porta pra outro universo.

Ela sorriu timidamente. Ele inclinou a cabeça, fazendo com que parte do cabelo escorregasse para o lado. Não havia dúvidas sobre o que aconteceria agora.

— Olá — disse ela, baixinho. Sua voz estava um pouco rouca.

— Oi... — ele parecia ter ganhado na loteria. Exibia um sorriso enorme e cativante, que acabou por fazê-la sorrir junto. — Como você se sente? Acabou de tomar uma pancada e tanto.

Ela conferiu rapidamente, e percebeu que conseguia se mexer. Apenas um pouco de dor no corpo, e talvez um joelho ralado, mas estava bem. Assentiu, ainda sem tirar os olhos dos dele.

As pessoas soltaram suspiros aliviados e seguiram seus caminhos. É engraçado como todos se interessam pela tragédia, mas não se emocionam com a alegria.

— Meu nome é Laura — sorriu ela. Seus olhos brilhavam de felicidade, mas ela não sabia ao certo por quê.

— Eu sou Nico — ele hesitou. Sentia seu coração se aquecer perto dela, e gostava disso. Levantou e estendeu a mão, puxando-a delicadamente, depois, buscou os headphones coloridos que tinham caído um pouco mais adiante, e lhe entregou. — Será que ainda funcionam?

— Logo vou descobrir — foi a resposta. Ela ainda estava sorrindo, e tinha ido buscar o disco que ele largou no chão ao correr para socorrê-la. — Isso é seu?

— É meu — seus dedos roçaram nos dela de leve quando foi pegá-lo, e um arrepio percorreu o corpo dos dois. — Eu posso te acompanhar até em casa?

— Por que não? — Ela trançou seu braço no dele, surpreendendo-o.

Eles não sabiam disso, mas esse era apenas o começo de uma longa e bonita história. Ou talvez, bem lá no fundo, os dois soubessem.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!
E aí, o que achou? Deixa seu review, me ajude a crescer como escritora (: prometo responder assim que puder!

Um beijo, e até a próxima.