Mesmo se não der certo escrita por prr


Capítulo 9
9 – A ideia




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Mais alguns meses se passaram sem que Denis voltasse para a escola ou começasse a aceitar sua nova condição. A doença de Denis progrediu com maior rapidez nesses meses, um pouco em razão da saúde emocional de Denis, que também não andava nada bem.

Leonardo e Pedro estavam procurando alguma outra coisa que pudesse animar Denis, mas dessa vez algo que ele não pudesse pisar e cair, como aconteceu com a bola. Numa dessas conversas, Pedro comentou sobre o plano dele e de Denis de fazer uma viagem sozinhos pelas cidades vizinhas durante as férias de verão depois que completassem dezesseis anos. Para isso, iriam arrumar algum trabalho para fazer nas férias que antecediam e ganhar algum dinheiro. Só que justamente quando iam começar a juntar o dinheiro, descobriram a doença de Denis e além disso, agora também a mãe e o pai não o deixariam viajar sem que eles acompanhassem.

— Cara, essa ideia é perfeita! – Leonardo falou empolgado e fechou todas as páginas de pesquisa na internet. – Tenho quase certeza de que consigo convencer meus pais se eu for junto e o Denis prometer que não vai tentar nada.

— Ah sei não. Não acho que sua mãe, em especial vá concordar com a ideia. Desde aquele dia ela não desprega do Denis, de tanta preocupação.

— É eu sei. – Leonardo estava pensativo. Pedro estava confuso, parte dele estava empolgado com a ideia e a outra parte tinha certeza de que nunca ia dar certo.

— Não temos chance. Melhor desistir da ideia e procurar algo mais “fazível”.

— Vai ser difícil, mas de duas coisas eu sei: 1, meus pais confiam em mim, dizem que às vezes sou até mais responsável que eles; e 2, não se pode perder uma guerra sem lutar suas batalhas.

Os garotos riram e comentaram sobre o quanto a ideia era completamente insana.

— Vamos pra guerra então. Está comigo ou não Pedro?

Vamu lá.

 

Convencer os pais não seria tão simples, mas Leonardo sabia que era o certo e o melhor a se fazer. É claro que eles poderiam simplesmente entrar dentro de um ônibus e ir viajar, sem que os pais soubessem disso. Não tinham muito dinheiro, mas o pouco que ele tinha com o que Denis e Pedro provavelmente tinham daria para irem em duas ou três cidades vizinhas. Mas Leonardo não estava disposto a fazer isso escondido dos pais, sabe-se lá que seus pais passem mal de preocupação ou coisa pior. Além disso, não queria quebrar a confiança que os pais tinham nele.

Os garotos recrutaram Victor para a viagem, de modo a terem alguém a mais para ajudar a tomar conta de Denis. Juntos os três fizeram todos os planos da viagem sem contar para Denis ou qualquer outra pessoa. A ideia era visitar quatro das cidades vizinhas que ainda não conheciam e que tinham algum lugar interessante e possível de ser agradável à um garoto com problemas de visão. Certamente precisariam de algum dinheiro de seus pais, para garantir que não passassem fome ou coisa assim, mas Leonardo tinha uma boa quantia guardada, de prêmios que ele receberá em olimpíadas e concursos.

Em um dia particularmente bom, Denis aceitou ir almoçar na casa de Pedro. Assim, ficaram em casa apenas Leonardo e os pais. Estava na hora de iniciar a batalha, afinal de contas, as férias de fim de ano estavam quase.

— Outro dia estava conversando com o Pedro, ele me contou que ele e o Denis planejavam viajar nas férias de verão. Meio que pegar uma mochila e entrar no primeiro ônibus que encontrassem e sem contar pra ninguém. – Leonardo começou a falar, meio apreensivo, conhecendo o terreno antes de atacar. A mãe levantou de uma vez da cadeira. – Calma ai mãe, eles não foram a lugar nenhum. A senhora deixou o Denis aos cuidados da mãe do Pedro e ela sabe de todas as recomendações de ficar de olho nele e tal.

— Esses dois sempre gostaram de aprontar. – O pai falou e riu, acalmando a mulher.

Leonardo também riu e relembrou uma história engraçada sobre o dia que o irmão e Pedro se pintaram de verde e disseram que tinham sido abduzidos por alienígenas. No entanto, o mais engraçado de toda a travessura foi que a tinta não saiu do corpo dos meninos por quase duas semanas, o que incluiu o dia da foto anual da turma da escola.

— Então... estava lendo umas pesquisas esses dias, sabe, pra ajudar com a situação do Denis e tal... – Leonardo falava calmamente, introduzindo seu ponto de vista aos poucos, antes que os pais dissessem não logo de cara. – Talvez seja bom ele ir para outros lugares, ver... hã... quero dizer, estar perto de pessoas que ele não conhece e que por consequência não conhecem ele.

— Foi por isso mesmo a viagem de férias. Mas seu irmão ficou o tempo todo emburrado. – A mãe falava e o pai balançou a cabeça em concordância.

— Sim, é claro. Mas... tipo, uma viagem diferente talvez o animaria. – A mãe o olhou atentamente, tentando imaginar qual seria seu conceito de “viagem diferente”. – Pensei em talvez a gente ir na viagem que ele e o Pedro queriam fazer.

— Podemos pensar nisso para as próximas férias. Podemos convidar os pais do Pedro para irem conosco também. – A mãe levantou-se da mesa retirando seu prato, seguida pelo marido, que foi se servir de um pouco mais de comida. Leonardo respirou fundo e então se preparou para o momento crucial da sua assim chamada “guerra”.

— Com a gente eu quero dizer, eu, o Pedro, o Victor e o Denis. Sem adultos, além de mim, é claro, porque já sou maior de idade.

A mãe deixou o prato cair no chão e ficou parada olhando do prato quebrado para o filho. O pai passou o braço pelo ombro da esposa e disse em voz firme.

— NÃO. – O pai respondeu com a voz grave e firme.

— Mas não vamos longe, só em duas ou três cidades aqui pertinho.

— Não.

— Mas eu sou muito responsável, vocês sabem que eu sou responsável.

— Não.

— Mas eu prometo que vou cuidar de tudo direitinho.

— Não.

— Mas vai fazer bem pro Denis, ele poder se sentir livre de novo, sem todo mundo que ele conhece olhando com pena pra ele.

— Não.

— Mas...

— Chega de “mas”. – A mãe finalmente falou. – O Denis não vai a lugar nenhum sem que eu esteja por perto. Se querem ir, pois então vamos.

— Não olha pra gente com essa cara Leonardo. Você está bem grandinho para entender que não é não e pronto. Se querem ir, sua mãe vai junto.


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