Domme escrita por Carmen


Capítulo 3
Capítulo 3 - Feel Me


Notas iniciais do capítulo

[and now you're telling me you miss me]



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Cômodo como para todos, realmente, o destino parece ser uma força maior cujos caminhos já foram traçados e você nunca poderá lutar contra. Pra mim, era só uma desculpa idiota para deixar as coisas acontecerem em vez de fazer com que elas aconteçam. 

As portas do elevador abriram-se no subsolo da Domme e o ar parecia rarefeito. Não sei quantas foram, no total, as vezes que fechei e abri os olhos na esperança de que toda aquela loucura nunca tivesse acontecido, e que, além disso, eu nunca me prestaria àquele papel.

Se houve alguém capaz de me fazer chorar, que não em estado de luto, este alguém era Alex. Ela foi a única a quem me entreguei de corpo e alma, e também quem me fez enxergar que não há ser humano no mundo capaz de amar. O amor é algo puro, ingênuo, confiante. E a humanidade é incapaz de lidar com algo tão doce e perfeito sem contaminá-lo com seu ódio, desprezo...

E eu aprendi isso.

Andávamos por corredores, por salas escuras enquanto tudo o que eu procurava era um vestígio de que Alex houvesse passado por ali. Meus passos, acompanhados de Nichols, pareciam tão certos de pra onde iriam, mas minha mente implorava para que eu tivesse o mínimo de discernimento possível e repensasse minha atitude. Entretanto, qual opção parecia correta a alguém que está dividida entre entrar em um elevador de paredes vazadas e subir até sua atual, que provavelmente acaba de transar com alguém que não é você e este fato pouco te importa OU arriscar a sentir-se viva novamente ao estar frente à frente a mulher que mais te machucou e quem fez você a mulher que hoje você é?

No fim, eu sentia necessidade em encarar Alex e esperava que ela chorasse aos meus pés, algo que nunca aconteceria, já que eu a perdi. Perdi completamente de vista.

É incrível como a vida nos dá milhões de sinais para que apenas sigamos nossos caminhos, todavia eu sempre achei que destino era algo estúpido, e que eu era dona da minha própria existência.

Eu parei de procurá-la. Nichols estava há poucos passos à minha frente, minhas mãos pousaram em seus ombros. Ela virou-se e percebi então que Nicky olhava-me, seus olhos grandes e expressivos, me fizeram abrir um breve sorriso.

— Nós temos alguns minutos até as luzes se apagarem, dois ou três... Meu passado está sempre comigo, apenas esperando para bagunçar o meu presente. E eu não posso permitir que isso aconteça agora! – era meu pedido de ajuda, e Nicky seria capaz de interpretá-lo. Afinal, eu nunca estaria pronta para encarar o grande amor da minha vida por mais complexo que ele fosse.

Nicky foi a única de todas as amigas que tinha em NY que ficou comigo em todos os piores momentos da minha vida. A primeira pessoa a quem recorri foi ela e esta me deu abrigo na manhã seguinte a minha expulsão do apartamento de Alex, e só saí de lá quando um maldito telefonema do Condado de Albany me fez viajar por três horas e organizar meu primeiro funeral. E foi quando voltei ao meu berço de ouro.

Alex nunca soube exatamente quem eu era. O “destino”se encarregou de separar-nos antes mesmo que eu tivesse a chance de me sentir segura para dividir todos os meus anseios e inseguranças como toda adolescente deseja. Eu tinha medo que ela me desprezasse por ser a típica garota rica entediada que busca aventuras, o que de fato eu era. Eu só preferia que ela se orgulhasse da pessoa que ela criou pra mim. Parecíamos tão felizes assim!

Foi quando percebi que o olhar de Nicky não era pra mim. Seus olhos focavam em algo perto o suficiente para que fugir não fosse uma opção.

Da mesma forma como Alexandra desaparece da minha história, ela surge. Como se nada nunca tivesse acontecido, como se ela não tivesse nunca que pensar para virar tudo de cabeça pra baixo. Ela simplesmente chega. Ela estava atrás de mim. E Stella a acompanhava.

Os olhos de Alex não pousavam sobre mim, estavam entretidos demais na boca de Stella, os corpos próximo e o sorriso aberto e divertido de Stella deixavam claro que podiam estar ainda mais perto um do outro. Eu gargalhei incrédula. O cenho franzido e os lábios sendo mordidos a ponto de sentir o gosto do sangue.

Nicky não conhecia Stella, mas a situação já era patética o suficiente para que eu a informasse desse pequeno detalhe. Minha ex-namorada e minha atual se amassando no divã carmim do subsolo da Domme, que final perfeito de noite!

E é aqui que percebo o quanto amadureci desde a noite em que Alex acusou-me de importa-me na realidade com seu império. Eu ganhei o mundo, abracei meu império, investi no meu futuro e me tornei o que Celeste sempre pediu.

— Você é uma rainha, lembre-se. E precisa-se frieza para ser rainha. Mantenha seu olho no jogo, Piper Elizabeth. Não pode fazer as pessoas te amarem, mas pode fazê-las temê-la. – Nicky repetiu parte da frase dita por Celeste a mim. E eu ergui a cabeça. – Eu espero você no lugar de sempre.

Se em algum momento anterior haviam resquícios de incerteza em meus passos, eles se dissolveram quando resolvi caminhar até elas. Os dedos de Stella acariciavam o queixo de Alex e minha voz foi ouvida.

— Much that well! – disse pausadamente, devo ressaltar que a surpresa de Stella foi claramente maior que a de Alex. Ela obviamente sabia que Stella estava comigo. – Só não se esqueça que detesto hematomas, baby, ok?  - sorri para McCarlin, - E, Alexandra, quanto tempo, meu anjo. Sempre achei que preferia loiras, mas esqueço-me sempre de como você facilmente muda de opinião... – eu disse, terminando minha aparição e dando as costas ao casal.

Eu sabia que voltar a Domme seria problema.  E sair sem dar chance a resposta parecia uma boa idéia. As luzes principais apagaram-se quando virei às costas. Eu sempre amei a precisão e a lealdade que os empregados da Domme tinham com horários. Stella tentou segurar meu braço, mas fui mais rápida e nos perdemos pelos corredores do subterrâneo do clube. Eu conhecia cada um dos ambientes como a palma da minha mão. Passei um ano vasculhando as salas todas.

O olhar que Alex me deu naquela noite foi o suficiente para eu entender que ela não me esquecera. Algo em mim fazia desse um detalhe mais do que importante. Alex e eu sabíamos nos comunicar com risadas, olhares... Eu sempre achei que nossa conexão fosse eterna. Mesmo depois dela jogar nosso futuro pela janela por medo.

Nicky estava nas escadas em frente ao saguão e fomos de táxi até minha casa. Dormi na mesma cama que Nichols enquanto ela me fazia cafuné e eu detalhava os meus últimos anos. Foram oito anos desde que estávamos juntas em frente a casa de Celeste e eu entrando num carro com o motorista para que me levassem a casa dos meus pais de novo, já que a notícia do acidente foi dada por um telefone e a idade avançada de minha avó não permitia que ela não tomasse a frente dessas situações mais.

Parece bizarro imaginar que aos 19 ano eu organizaria o enterro dos meus pais. E me tornaria sua única herdeira. A verdade é que às vezes o destino parece cruel. Ele me separou de todas as pessoas que eu pensava serem tudo na minha vida.

Mas apesar de cruel, duvidoso e infeliz, ás vezes, o destino não erra. Eu sempre estava onde deveria estar, com quem deveria estar, e os motivos nunca pareciam suficientes, mas mesmo assim, me faziam ficar.


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Notas finais do capítulo

[agora vai demorar um pouco, ok? tchauzinho!]



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