Domme escrita por Carmen


Capítulo 1
Capítulo 1 - Prisoner


Notas iniciais do capítulo

[um enorme olá hétero para você]



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Aos dezessete anos ninguém, e eu repito, ninguém, tem a mínima noção do fará com a sua vida. E eu não era diferente. Milhões de ideias e possibilidades giravam em minha cabeça e eu não tinha ideia de qual delas era a certa. Pensei em ser médica, advogada, psicóloga, cientista, mas nada se encaixava em minhas habilidades – que nunca foram muitas.

A única coisa em que eu era boa era em decepcionar e iludir. Se fingir e mentir fossem profissões, eu ganharia milhões. Só para deixar claro que não era boa em interpretar, só em não ser boa com as pessoas que me cercavam. Herança de família!

A única a qual achei que teria acesso… Até eu descobri que o casal Chapman havia morrido em um acidente. Carol nunca havia sido uma mãe pra mim, de qualquer forma. Ela enviou-me como um pacote para que Celeste cuidasse da minha educação, com direito a colégios do Upper West Side e brunches.

Eu era extremamente boa em fazer as pessoas confiarem em mim, sentir segurança com a minha presença, mesmo que eu fosse o verdadeiro significado da insegurança.

Eu ainda conseguia lembrar da primeira vez que coloquei meus pés no tapete vermelho do hall de entrada da Domme. Odiava Natasha por ter me convencido a ir aquele lugar. A confiança que nunca senti e tanto procurei durante toda a vida surgiu quando os primeiros olhares voltaram-se para mim.

O vestido justo preto que não revelava nada mais que minhas pernas chamava atenção. Aos olhos de uma garota curiosa e ansiosa que desfilava sobre o carpete vermelho, o ambiente de iluminação quente, que eu podia jurar, com meus devaneios adolescentes, ser muito semelhante ao amor em vermelho de Moulin Rouge de Paris em que Polly havia estado há dois anos, emanava luxúria como nenhum outro lugar.  Decidi então que, naquela noite, eu seria outra. Acho que, no segundo passo para dentro daquele lugar, eu já estava perdida em seu universo.

Foram repetidas as manhãs em acordei perdida nos lençóis de uma mulher morena que, provavelmente, tinha vivido, no mínimo, muito mais que experiência, mas não era nada que pareceu me importar na noite anterior. Seus olhos verdes me cegavam de forma que era impossível entender algo que não o quão sua eu era.

As experiências das quais participei naquele espaço fizeram de mim outra pessoa. Foi a típica noite que muda a sua vida. Muitos anos antes de conhecer Stella.

Insisti na ideia de ganhar a vida dentro do Domme, seja lá como eu conseguisse fazer isso, mas em algum momento retomei a consciência e afastei-me daquele lugar. Não permitiria que qualquer erro impedisse-me de ser quem era, mas prometi evitar o que vinha depois do saguão. Conheci Stella e, automaticamente, nos ligamos. Acho que as decepções e os mistérios nos uniram. Os cabelos curtos e os olhos claros da mulher alta com quem eu desfilava por NY faziam dela uma das pessoas mais bonitas com quem já estive, perdendo apenas para uma garota. Dois anos mais velha do que eu, ela trabalhava como empresária para Phoebe Philo e Riccardo Tisci. Enquanto eu, depois do que aconteceu entre mim e Alexandra e sua ida para Los Angeles, eu me dediquei a arte e a história e fui contratada pelo MoMA.

A aparência deslumbrante da mulher que dividia a cama comigo era indescritível. O ar de superioridade e arrogância que ela carregava dava-lhe um tom de sensualidade e controle que me rendia com apenas o arquear de suas sobrancelhas. A curiosidade e o desconhecimento dela sobre minhas aventuras na casa noturna traziam para nosso cotidiano milhões de perguntas. A mais frequente era o porquê de eu odiar a ideia de atravessar o saguão da Domme e esquecer, por uma noite, do bar, já que pra ela aquele era um lugar sagrado.

Era nossa vigésima discussão sobre o mesmo assunto. E eu tenho certeza dessa marcação, eu poderia lista data e lugar de cada uma delas, Os argumentos e o empenho eram tão grandes que eu me sentia frente à frente a uma advogada renomada.

A Domme, para Stella, era um templo. Os maiores empresários da cidade amavam a casa noturna, e dariam a vida para avançar o bar e conhecer a fama do local que se tornou privativo e exclusivo para mulheres. Eu não podia negar que a curiosidade me matava, mas seria ousar demais invadir o território inimigo, ainda mais quando não se tem segurança o suficiente.

Contudo, se eu nunca mais tive notícias de Alexandra e seu paradeiro, se ela não quis me procurar e realmente se mudou para LA sem olhar pra trás, por que eu deveria evitar a Domme? Como se uma luz tivesse acendido em minha mente, eu ergui o olhar, e assim se desfez o coque que fiz em algum momento da discussão, e eu disse:

— OK! Você venceu. Eu atravesso o saguão com você e entramos realmente na Domme essa noite! – eu disse, apoiando a cabeça com as mãos, ambas esperando para desenvolver a função de sustentar aquilo que eu mesma parecia incapaz. Provavelmente o uísque fizeram efeito rápido demais, embora eu já me arrepende-se da frase assim que ela saiu da minha boca.

Enfrentar meu maior fantasma que eu jurei ter enterrado há anos para sentir a adrenalina de pisar no lugar em que a conheci parecia injusto, mas assim eu deixaria Stella feliz e eu me livraria de uma vez por todas dos pensamentos que frequentemente parava na morena de olhos verdes por quem me apaixonei quando ainda era uma adolescente conhecendo a liberdade na enorme Manhattan.

—          Você jura? – Ela respondeu enquanto o seu olhar se iluminou automaticamente.

—          Sim… Eu acho. – eu confirmei, já arrependida de ter sido vencida pelo cansaço.

Aos 17 anos, eu podia fazer o que quisesse, eu tinha o mundo aos meus pés. E me aventurei por todos os caminhos que eu podia – e não podia. E construí minha vida com base no que aprendi. Eu enterrei meu passado para erguer-me, da minha forma errada, novamente. Porém o pedido dela me levava a encarar tudo outra vez.


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Notas finais do capítulo

Sou um prisioneiro da minha vida que é tão vazia e fria. Sou um prisioneiro das minhas decisões!
[parece que alguém tomou coragem para postar algo, não é mesmo?]



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