Maria se perguntava o que Donatela estava fazendo ali e o que queria com Paolo. A irmã mais velha de seu marido era uma mulher intrometida, sempre que podia infernizava a vida de seu irmão. Sempre se metendo aonde não devia.

Ela tem uma filha, Piera*, fruto de um relacionamento desastroso com um sujeito de reputação duvidosa. Donatela herdou da mãe a petulância e a ousadia. É dona de uma fábrica de cereais, apesar de tudo ela era bem sucedida nos negócios. Seu bem mais precioso era a filha adolescente, que ao contrário da mãe era uma menina meiga e muito linda. Piera chamava muito a atenção por onde passava, por isso Donatela vigiava a filha como um cão de guarda.

Quando morava na Itália, Maria tinha pouco contato com Donatela. Nas vezes em que se viam elas pouco conversavam, na verdade elas se evitavam. Maria sabia que a cunhada não gostava dela, a tratava bem na frente do irmão e das outras pessoas. Maria não sabia o porquê de tanta antipatia, mas para evitar conflitos e aborrecimentos evitava ao máximo contato com a cunhada.

Agora, depois de muitos anos ela volta. Dessa vez por algo que o irmão deve ter feito. Ela precisava descobrir o que. Será que era por causa disso que Paolo andava tão estressado e aborrecido? Ele já não era um homem calmo, agora com a presença da irmã ele ficara pior.

Maria se levantou e foi até o escritório. Bateu na porta e entrou.

— Ah, já está de volta – disse ele sem olhar pra ela.

— Sim e você ainda está trabalhando – disse ela. – O Nico já teve alta do hospital.

— Bom. Espero que não se meta em mais uma furada – disse ele sem tirar os olhos do computador.

— Não vai perguntar como está seu filho? – perguntou ela aborrecida.

— Se ele já teve alta é porque já está melhor, não? – ele disse sem se importar.

Maria bateu na mesa exasperada. Paolo deu um pulo.

— Já chega! – gritou ela. – Será possível que você não se importa nem um pouco com seu filho? E olhe pra mim quando estiver falando com você!

— O que deu em você? – ele a olhou um pouco surpreso, pois Maria era geralmente calma. – O Nico está bem, não está? Não precisa gritar desse jeito.

— Então ao menos finja que se preocupa com ele – ela disse séria. – Você trata o Nico como se ele fosse um estorvo.

— Está bem, desculpe – disse ele cansado. – Ultimamente eu ando com alguns problemas pra resolver.

— Que tipo de problema é esse que tira todo seu tempo? – perguntou ela. – Você anda muito estranho.

— Nada que eu não possa resolver. E não se preocupe eu já encerrei por hoje – disse ele desligando o computador. – Pronto. Que tal sairmos para jantar?

— Está bem, vou tomar um banho e me arrumar – ela diz se retirando. Maria sobe as escadas, mas seu pensamento estava na conversa que ouvira a pouco. “Não pense que vai me fazer esquecer o que eu ouvi Paolo, eu vou descobrir o que você aprontou”. E com esse pensamento rumou para o quarto para se aprontar.

Paolo por sua vez, estava pensando no que ia fazer para consertar a besteira que fez. Donatela não ia deixá-lo em paz enquanto não reparasse o mal que fez à sua filha, mas o que ele poderia fazer? A menina era irresistível, ele se deixou levar pela sua meiguice, ele não resistiu a tanta beleza e a seduziu, mesmo sabendo que ela era sua sobrinha. Depois do que fez caiu em si, mas já era tarde demais, o mal já estava feito. Por isso deixou a menina e saiu às pressas do quarto. Quando Donatela soube o que o irmão fez, imediatamente foi tomar satisfações, os dois brigaram feio. Ela ameaçou contar tudo à Maria, por isso Paolo andava estressado devido a insistência da irmã em fazê-lo reparar o erro que cometera.

Isso acontecera há um mês quando Piera estava sozinha em casa e Donatela havia saído para atender um chamado na fábrica. Ele inventou a desculpa de que precisava falar com a irmã, mas ele sabia que ela não estava em casa. Aproveitou-se disso para seduzir a sobrinha e foi o que fez. A menina acabou engravidando, por isso Donatela não saía do seu pé. Tinha que tomar alguma providência em relação a isso. Agora precisava ter cuidado com seu comportamento, pois sua mulher poderia desconfiar. Maria era muito perspicaz, ela não deixava passar nada, por isso tinha que ter cuidado.

Amava a esposa e os filhos. Apesar de que ultimamente não dava muita atenção ao filho mais novo. Nico por sua vez preferia a companhia da mãe a dele. Era um garoto obediente e muito teimoso, era parecido consigo quando mais jovem, mas herdou da mãe a esperteza. Nico tratava o pai assim como ele tratava o filho. Como dois estranhos. Maria sempre chamava a atenção de Paolo para esse fato, mas ele fingia não se importar.

Pensando nisso, ele precisava dá mais atenção ao filho, pois afinal, Nico era seu herdeiro, já estava no ensino médio. Dentro de dois anos terminaria seus estudos e depois faria faculdade. Precisava prepará-lo para a vida adulta, a ter interesse pelos negócios da família. Ele não sabia nada a respeito do filho, não sabia de seus interesses, de suas perspectivas para o futuro. Quem eram seus amigos, se tinha namorada, uma ficante. Nico já estava com 15 anos, ainda era muito novo, é verdade, mas já estava na idade de se interessar pelo sexo oposto. O único amigo do filho que conhecia era o filho do vizinho, Jason, que era sempre visto junto a Nico. Precisava conhecer melhor o próprio filho. Seus pensamentos foram interrompidos com a chegada de Maria. Ela estava linda e elegante como sempre.

— Estou pronta – diz ela. – Podemos ir.

— Você está muito linda! – ele diz sincero.

— Obrigada, querido – ela agradece com um sorriso.

Os dois saem de casa e se dirigem ao carro estacionado em frente da casa.