Era incrível a capacidade que Naruto tinha para ignorar as pessoas, mas exclusivamente ignorar o passado, o que era estranho porque todo corpo dele se remoía quando ele chegava perto de Hinata e até muito antes dela voltar, sua mente o castigava toda vez que algo lhe fazia lembrar-se dela, não só dela, mas de como ele fez aquilo.

                Ele evitava qualquer contado com as pessoas da escola fazia exatamente três semanas, o que era estranho para Naruto. Ele tentava prestar atenção nas aulas e nas conversas que seus amigos criavam a sua volta. Ele olhou para o chão perdido em pensamentos, a arquibancada do ginásio nunca pareceu tão grande e vazia como naquele momento.

— Hey Naruto.

                Ele virou o rosto para a voz.

— Hey Sasuke.

                O moreno havia acabado de entrar no ginásio de educação física, Naruto havia conhecido Sasuke oficialmente na terça- feira passada quando o loiro chegou atrasado à aula de química e foi obrigado a fazer dupla com ele. Em certa parte aquilo foi bom, porque teve um teste surpresa da qual ele não havia estudado e quando ele pegou a folha a única coisa que ele sabia responder era o seu nome.

— A nota do teste já saiu, está no mural já viu? – Ele se sentou ao seu lado.

— Não, você foi lá?

— Está todo mundo aproveitando o intervalo e indo lá. Tiramos oito.

— Você tirou oito. – Ele sorriu corrigindo o outro.

— Você assinou o teste?

— Assinei.

— Então você também tirou oito.

Ele riu e bateu nas costas do colega.

— E aí, por que você está aqui se isolando do mundo?

— Não sei exatamente.

— Não sabe ou não quer dividir?

— Acho que eu não quero dividir nem comigo mesmo.

— Já vi que o problema é com garota.

A porta do ginásio bateu e Shikamaru entrou.

— Sasuke seu safado você colou de mim só pode. – O amigo veio apontando o dedo para sua cara.

— Negativo. – Ele se levantou. – Eu fiz por meu mérito.

— Colou de outra pessoa?

— Aram.

— E você está mudando. Quem te viu é quem ainda te vê garoto.

— Esse é o Naruto. Naruto esse é o Shikamaru.

Eles se cumprimentaram e sentaram na arquibancada.

— Então... De quem você colou?

— Da rosada.

— Rosada? – Naruto pareceu pela primeira vez em semanas prestar atenção em algo.

— É. Ela tem cabelos rosa e olhos... Verdes.

— Você colou da Sakura? – Naruto falou sem acreditar.

— Quem é Sakura?

— A garota de olhos verdes. – Shikamaru explicou.

— Ahmm. – Sasuke pareceu pensar. – É ela que te perturba Naruto?

— Sakura? – Ele segurou o riso. – Ser a dona dos meus pensamentos?

Shikamaru olhou para o amigo e para o recém-colega... Ele deveria avisar para Sasuke que a rosada Sakura em questão era prima do loiro Naruto?

— A Sakura ela é... – Ele começou, mas Sasuke o interrompeu.

— Fala sério! Ela é gostosinha.

— Sasuke ela é...

— Vai dizer que ela não é gata Shika?

— Não é isso, é que ela...

— O Naruto vai concordar comigo. Não é Naruto?

E ninguém poderia culpar Shikamaru por não tentar avisar. O semblante de Naruto já havia há muitos poucos minutos abandonado a face risonha e ganhado um ar de seriedade, coisa na qual ele era muito bom em fazer quando queria. Naruto apertou as mãos em punhos pensando qual seria a melhor escolha a se tomar, dar um soco bem na cara de Sasuke ou fazer pouco caso daquilo, mas a última vez que ele fez pouco caso de algo aquele algo não terminou bem e isso poderia se falar também da última vez que socou alguém.

— Por que ela é gostosinha?

— Ela tem uma bunda que...

— Você falaria isso se fosse sua prima?

— Não, claro que não.

— Então respeite a minha.

Ele se levantou com a cabeça fervendo e as pontas dos dedos brancas de fazerem pressão contra a palma da mão. A porta do ginásio de abriu, Sakura apareceu animada.

— Naru. Quero falar com você.

— Certo. Vamos conversar lá fora. Aqui o ar está podre. – Ele agarrou o braço dela e a puxou porta a fora.

— O que deu nele? – Sasuke perguntou confuso.

— Ela é prima dele. – Shikamaru se sentiu aliviado por finalmente conseguir contar.

— E por qual motivo do inferno você não me contou isso antes?

— Eu tentei mais você não me ouviu. Só queria saber de como ela era gostosa.

Ele parou um pouco para pensar, certo, ele tinha feito aquilo. Ele deveria se sentir culpado por ignorar alguém?

~*~

                Sakura deveria estar começando a ficar resfriada espirrando daquele jeito, só pode, Ino achava isso pelo menos. Depois de ver que havia – juntamente com Sakura – tirado nove no teste de química ela se dirigiu para a biblioteca da escola. Não havia muito que se fazer na escola na hora do intervalo, pelo menos para a loira que foi largada de mão pelas amigas naquele dia.

                 Ela não poderia falar assim das amigas, mas falava.

                Seus olhos vasculharam uma das grandes prateleiras de livros. Ela estava na sessão certa? Aquela não parecia à sessão de animais.

— Urso... Urso... – Passou lendo os livros. – “Como lidar com os valentões”? – Ela leu a capa de um livro meio indignada.

— Esse livro é muito bom. Não fica assim não, todos nós uma vez na vida sofremos bullying.

— Mais ehm? – Ela olhou para o garoto não entendendo. – De onde você surgiu?

— Eu estava bem aqui quando você entrou e começou a falar sozinha sobre ursos.

Ela não se recordava disso.

— Sério?

— Sério.

— Você é como o fantasma da opera ou coisa do tipo?

— Não, sou bem humano e ainda estou bem vivo. – Ela pareceu ainda mais confusa. – É que às vezes as pessoas não me enxergam.

— Espera... Você está me dizendo o que eu acho que entendi? Esta me dizendo em palavras subliminares que um garoto forte, ruivo, bonito... Sofria bullying?

— Não. Estou dizendo que esse livro é ótimo e estou dizendo que é bom que você tenha me notado.

— Você é... ?

— Gaara.

— Você não é da minha sala?

— Sou e te vejo todo dia antes de você entrar na sala. Você sempre vai ao corredor sete beber água.

— Estou começando a me sentir dentro do livro, onde você é o Fantasma da Opera e eu sou a Christine Daae.

— Está insinuando que estou te seguindo?

— Você já chegou nessa parte do livro para entender?

— Não, eu vi o filme. Não sou apaixonado por você. É só que no primeiro dia eu te vi lá e eu só conheço aquele bebedouro.

— Aluno novo? – Ele afirmou. – Certo. – Ela riu. – Então... Só não se apaixone por mim igual ao Fantasma. Aí poderemos ser amigos.

— Não vou me apaixonar.

— Vou confiar em você então.

~*~

                Sakura olhou para o primo.

— Você me pediu uma semana e eu te dei quase um mês.

Não. Aquele papo de novo não. Tentou enrola-la.

— Você estava toda animada para isso?

— Não.

— Então o que houve?

— Depois. Primeiro fala a verdade. Você ainda se culpa pelo o que aconteceu com a Hinata?

— Por que você quer saber?

— Porque ela é minha amiga.

— Para contar para ela. – Ele corrigiu.

— Há uma diferença de eu querer ajudar vocês e eu querer estragar tudo o que um dia aconteceu, se é que aconteceu.

— Hei. Estamos falando de mim.

— Exatamente. Por isso eu preciso saber.

— Acho que sim.

— Você sabe que pra mim “eu acho” não existe. Sim ou não?

— Sim.

                Sakura encolheu os ombros e suspirou deixando todo o ar pesado do ambiente saírem de seus pulmões. Era um assunto delicado.

— Não é sua culpa eu já te falei isso.

— Eu sei.

— Não, você não sabe. – Ela negou com a cabeça descontente.

— Me dá três meses.

— É muito tempo.

— O tempo suficiente para pensar e tomar coragem.

— E parar de viver no passado?

— Não... Isso requer mais tempo.

— Você não fez nada de mais Naruto.

— Eu sei. – Essa era a deixa para ela mudar de assunto.

— Eu estava animada com a minha nota. Tirei nove. Eu e a Hina.

— Então isso quer dizer que o Sasuke colou errado de você. – Ele riu.

— Sasuke?

— A minha dupla.

— Ahmm sim. Eu passei a cola errada para ele.

— Você sabia que ele estava colando?

— Claro. – Ela sorriu. – Eu sempre sei de tudo.

— Ele te acha gostosinha.

— Quem? O Sasuke? – Ele afirmou. – Isso é bom?

— O “gostosinha” ou ele falar isso?

— Os dois. – Ele deu de ombros.

— Nada que você deva se preocupar.

— Então por que me contou?

— Um dia você vai descobrir. – Ele falou começando a andar.

— Arg.

~*~

                Neji ficou contente em saber que tinha tirado uma boa nota, apensar de ter feito o teste com a prima – que é particularmente boa em química. Ele também olhou para a nota de Tenten o que resultou em nada já que suas notas eram iguais.

                Agora ele estava ouvindo o velho professor de química falar como as notas em um geral foram muito boas e como comemoração para isso ele passou cinco páginas do livro para fazer na aula. Neji não demorou muito para terminar, levou o visto do professor e depois começou a devagar sobre as coisas que passavam em sua vida. Ele havia saído de casa no final do oitavo ano, estudou fora junto com a prima durante longos dois anos para voltar para a pequena cidade onde nasceu e para completar fazendo jus aquele ditado:

“Nadar e nadar para morrer na praia.”

                Era assim que ele se sentiu quando voltou para aquela pequena cidade e voltou a ver aquelas mesmas pessoas todos os dias, não que ele não gostasse delas, ele gostava – de seu jeito –, mas a questão era que algumas pessoas como Naruto ele preferia que estivesse em algum lugar a quilômetros de distância e que esse lugar fosse normalmente um cemitério. Sua prima podia ter o perdoado, – ou pelo menos isso é o que ela disse quando ele perguntou – mas ele jamais perdoaria Naruto por ter abandonado sua prima.

                Sua prima era louca pelo loiro e quando apareceu a primeira oportunidade Naruto caiu fora, da pior forma.

                Ele deveria se preocupar com isso? Ou com a consequência disso?

                Ou seja... Ele deveria se preocupar com Naruto ter largado Hinata ou com Naruto ter sido o causador de sua expulsão de casa e de seu boletim vermelho como sangue?

                Tomara que Naruto se sentisse culpado, porque Neji não se sentia nenhum pouco com aquele soco que ele deu há muitos anos atrás na cara do loiro.