Caçadora da Meia-Noite escrita por Ginger Bones


Capítulo 10
"Não se preocupe comigo"


Notas iniciais do capítulo

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Me jogo sobre a minha cama, passando a mão sobre o meu cabelo e o arrumando no lugar. Agora que a adrenalina começa a deixar o meu corpo, sinto uma dor forte onde a lâmina afiada havia perfurado minha pele. Sei que o corte é profundo e que o sangue ainda não parou de escorrer, pois a minha roupa encharcada de sangue continua escorrendo. Levanto a camisa rasgada para ver como está realmente a situação do ferimento. O ferimento está bastante feio, mas o sangue está prestes a estancar. O corte é reto e corta a pele com o exato formato da lâmina. um pouco de sangue ainda escorre, fazendo a mancha vermelha ao redor do corte se tornar maior ainda. a pele ao redor está vermelha e muito dolorida, e sei por experiência própria que assim que o corte começar a fechar, a pele ao redor irá formar um hematoma profundo e dolorido. Levanto-me e caminho até o banheiro, retirando completamente a camisa do corpo e ficando apenas com a parte de cima das minhas roupas intimas. Tiro o meu kit de primeiros socorros de dentro do armário abaixo da pia e desenrolo uma das gases limpas, usando-a para pressionar a área do ferimento o impedindo de continuar sangrando. Ao tocar sobre a área machucada, preciso ignorar uma pontada de dor quando sento na cama mais uma vez e largo a pequena maleta branca ao meu lado no colchão. Quando começo a limpar o sangue, ouço batidas na porta. Não é o melhor momento para me levantar e tento ignorar as batidas na minha porta na esperança de que quem quer que seja do outro lado saía, mas não tenho tanta sorte e a pessoa continua a bater na porta sem parar.
—Por favor, senhorita.-pede uma voz feminina entre as batidas na porta.-Eu sou enfermeira, seu amigo disse que você está machucada. Só quero ajudar, me deixe entrar.
Reviro os olhos irritada por Adam ainda achar que não posso resolver meus problemas sozinha, incluindo cuidar sozinha dos meus ferimentos. Sei que a mulher não tem culpa de toda essa preocupação excessiva do meu melhor amigo, mas não há como evitar me sentir irritada mesmo assim. Não gosto que outras pessoas me ajudem, já que isso faz com que eu me sinta mais vulnerável do que eu quero.
Ignorando a dor nauseante na minha cintura, me levanto e abro a porta do meu quarto. A senhora para o movimento de sua mão em direção à porta de forma abrupta, me olhando de cima a baixo antes de abaixar a mão e dar um passo para trás. Olho rapidamente para o meu corpo, o quando pareço ameaçadora mesmo machucada e cansada depois de uma batalha. Minhas roupas estão rasgadas e sujas, mas me orgulho do que os anos de treinamento que tive nesse lugar. O Instituto Millenium me tornou não só uma caçadora impiedosa, mas alguém que as pessoas temem se botar no caminho. E isso, para mim, é mais do que eu poderia esperar de mim mesma. Admito que não sou tão forte como a maioria, que pareço mais magra do que as outras garotas daqui, mas sou mais alta e exerço mais autoridade graças ao meu cargo precoce como capitã dos Caçadores, alguns bem mais velhos do que eu.
Faço um sinal com a cabeça para que ela entre, dando passagem para ela em seguida. Não falo nada, não é necessário. A senhora, que deve ter cerca de 40 anos, arregala os olhos ao olhar para a manja vermelha de sangue na minha cintura, me puxando pelos braços em seguida.
—Não, eu não vou entrar.-ela exclama me puxando pelo corredor e fechando a porta ela mesma. Ela me lembra uma avó preocupada, desesperada para ver a neta bem mais uma vez.-Isso aí está muito feio. Você vem para a Enfermaria comigo. O que aconteceu com você?
—Hmmm...-pondero a melhor maneira de descrever o que aconteceu.-Facada.
Não há maneira mais precisa de resumir toda a minha luta inconsequente com o feérico de cabelos roxos naquela sala escura.
Ao chegarmos na Enfermaria, a senhora me faz deitar sobre um dos catres e levanta as ataduras que eu havia improvisado para estancar o sangue.
—O que você fez antes que eu chegasse?-ela me pergunta começando a limpar o ferimento com álcool. Assim que a substância toca a minha pele, sufoco um grunhido de dor.-Parece melhor do que eu esperava.
—Eu só sei o que estou fazendo.-digo estendendo minha mão até a mesa ao lado do catre e entrego a sutura para ela. Não sou uma completa inútil e sei o que ela precisaria fazer.
—Você parece bastante confortável aí, quase como se fizesse isso todos os dias.
Ela parece impressionada com a forma que eu lido com um ferimento de batalha como esse.
—Vamos apenas dizer que não é a primeira vez que eu passo uma noite aqui.-dou de ombros.
Ela acena a cabeça em concordância, trabalhando aqui, sei que provavelmente não sou a única com esse tipo de histórico médico que ela atende. Ela termina de passar o álcool sobre o corte aberto e começa a suturar minha pele com a linha cirúrgica e enquanto ela faz seu trabalho tento pensar em qualquer coisa que não seja o fato de que há alguém costurando minha pele como se fosse uma espécie de tecido macabro. Quando ela acaba, envolve minha cintura com ataduras e me manda passar a noite lá. Tento de tudo para convencê-la a me deixar voltar para o meu quarto, mas recusa qualquer argumento que uso e me deixa na enfermaria se certificando de que estou realmente confortável antes de sumir por uma porta ao final da enorme sala. Reviro os olhos e preciso o travesseiro embaixo de mim em cima do meu rosto para gritar sem que alguém me ouça em um ato totalmente imaturo, mas não posso evitar fazê-lo. Afinal, sou a capitã mais nova que a Caçada já teve e não posso fazer nada que possa tirar minha credibilidade diante dos outros soldados, mas eu ainda só tenho 18 anos. Em breve farei 19 anos e minha promoção para Major se aproxima cada vez mais, não quero que nada fique no caminho do meu objetivo principal. Eu estou aqui para lutar, mas eu também estou aqui para ser a melhor. Não posso ser a melhor se não estiver comandando essa Organização.
Cerca de meia-hora depois, a mesma senhora abre a porta do quarto em que estou, um livro de capa dura embaixo do braço. Ela não parece contente de estar entrando aqui, como se estivesse quebrando algumas ordens, mas não pergunto nada.
— Seu amigo magrinho me pediu para trazer-lhe isso.-ela diz me entregando o livro. Olho a capa e vejo que era o mesmo livro que estava lendo atualmente, eu sempre o deixava na mesa ao lado da minha cama, para ser fácil de alcançar sem ter que me levantar do colchão à noite.- Ele diz que isso te faz bem, o que é parte do meu trabalho me certificar de que esteja, mas eu não deveria te trazer esse tipo de coisa, então...
—Tudo bem, se está pensando que eu vou reportar essa visita aos seus superiores, está enganada.-digo para tentar tranquiliza-la.- Não sou esse tipo de garota.
— Ah, graças a Deus!- ela exclama com uma mão aberta sobre o peito, respirando aliviada.- Se fizesse isso, estaria desempregada. Eu tenho dois filhos para cuidar, não posso perder esse trabalho.
— Não se preocupe comigo.- respondo-lhe.- Vou ficar bem. Não é um ferimento qualquer que vai me matar. E com certeza não vou te fazer perder seu emprego por quebrar umas regrinhas para me trazer meu livro.
Ela sorri, agradecida e satisfeita, talvez por ver como eu lido com a situação, mesmo que a ferida seja eu. Ela parece uma mãe preocupada.
— Vá dormir.- peço a ela.- Não há mais ninguém para tratar essa noite, no máximo alguns bêbados lá no jantar, nada com que deva se importar. Sei como funciona o esquema aqui da Enfermaria. Descanse.
— Obrigada, senhorita.- ela diz.- Você é mais gentil do que qualquer paciente que já atendi nas suas condições aqui nesse pequeno hospital. Eles não costumam deixar qualquer desvio passar em branco, como te trazer esse livro.
— Aí é que está a questão, Senhora...- olho em seu broche na gola do uniforme o seu nome.- Evelyne.
Ela levanta a cabeça para me olhar nos olhos quando digo seu nome.
—Você mesma disse, são eles.- continuo.- Os homens pensam que podem mandar em nós se tem uma boa posição aqui na Caçada. Precisa provar que não. Eles deveriam ter respeito por qualquer um, independentemente da sua profissão ou status social. Eu entendo isso.
Ela deixa uma lágrima escapar quando me abraça com certo cuidado, mas mesmo assim solto um gemido de dor, lembrando-a do meu machucado recente, e me solta pedindo desculpas.
—Não se desculpe.- insisto em deixar isso claro.- Pode ir. O pior já passou.
Ela assente, ainda deixando algumas lágrimas escaparem e vai até a porta, me desejando uma boa noite antes de ir, a porta fechada com cuidado às suas costas.
Não costumo frequentar muito a Enfermaria ou a cozinha quando os funcionários estão por perto, mas parece que eles são mais humilhados do que eu pensava, se apenas meu comportamento essa noite a deixou tão sentimental.
Provavelmente amanhã vou tentar dar um jeito de procurar o responsável pelos funcionários do Instituto, talvez eu possa inspirá-lo em algumas mudanças no modo de tratamento às únicas pessoas que mantêm a ordem em toda a construção, que fazem nossa comida e arrumam nossa bagunça, as classes mais baixas que trabalham para que nós, soldados e oficiais, tenhamos um bom lugar para viver. E definitivamente não é o que eu vejo aqui.
Abro o livro que a senhora de mais cedo me trouxe, e vejo um bilhete com a letra de Adam bastante reconhecível com o papel ainda preso à capa.
" Olá, pequeno demônio feminino abatido essa noite. Sei que não se acalma até ter lido um livro antes de se deitar, mas sei que não conseguiria chegar até seu dormitório antes de te levarem de volta à Enfermaria, então pedi que a gentil senhora que conversei levasse esse até você. Sim, entrei no seu quarto, mas não mexi em nada. Juro.
Pode até conferir amanhã.
De qualquer forma, não esqueça de dormir. Amanhã poderá sair, mas precisa estar descansada.
Então boa noite e boa leitura.
De seu G-R-A-N-D-E amigo de longa data,
A. Jonhson."
Sorrio com o bilhete engraçadinho de Adam, mais uma vez me fazendo sorrir em uma situação que ele sabe que detesto. A verdade é que ele me irrita na maior parte das vezes, mas é a melhor companhia que eu poderia ter.
Deixo seu bilhete sobre a mesa de metal ao lado da maca, encontro o marcador de paginas improvisado com uma fita de couro e volto a ler o livro no ponto em que tinha parado. Sim, acho que não teria problema ter algumas horas de descanso lendo antes de voltar para minha realidade agitada demais.
Mais tarde naquela noite, cedo à exaustão do meu dia cheio e caio no sono, com a barriga para cima e completamente espalhada pelo catre de enfermaria que fui obrigada a ficar durante essa noite. E mesmo deitada em um colchão tão fino, me surpreendo em conseguir ter uma boa noite de sono.


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