Anjo meu escrita por Polaris


Capítulo 1
Anjo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ^^



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Ele não sabia o que era amor. Sua existência era quase tão antiga quanto os céus. Seu corpo era substancial, embora quando quisesse, imitasse a aparência dos humanos. Naquele momento, parecia mais um homem do que criatura divina. Usava um terno que bem lhe servia, porém era extremamente difícil esconder suas enormes asas.

Eram formadas por grandes penas, que se estendiam por quase dois metros, quando abertas. Tão claras como o branco de lírios, encontravam-se, naquele momento, encolhidas junto ao corpo esbelto.

O anjo, como era chamado pela humana em suas preces, estava empertigado junto ao parapeito da janela, deixado descuidadamente aberta. Ele olhava para aquilo como se desdenhasse a falta de discernimento da mulher. Mas então a notara melhor.

O corpo pequeno estava encolhido entre os lençóis, adormecido como uma criança cansada.

O anjo levantou-se e, lentamente, aproximava-se da mulher. Primeiro, permaneceu apenas parado, fitando o corpo curvilíneo dentro da camisola rosada. A pele muito alva, os cabelos loiros. Num impulso que ele não sabia de onde vinha, ajoelhou-se na cama, aproximando-se dela como se sua presença ali não fosse algo destoante. Havia uma rosa em suas mãos, vermelha, como os lábios pintados dela. Sua respiração era regular, mas ele percebera marcas em seu rosto, como se fossem caminhos dos olhos até as bochechas.  Lágrimas? Pensou e ao investigar percebeu que estava certo.

Não era exatamente bom em adivinhar o que se passava entre humanos, mas sabia que algo afligia aquela à sua frente.

Ela gemeu, apenas por um instante, e franziu o rosto, como se em seus sonhos algo a incomodasse. O Anjo achou-se no direito de invadir o que sonhava.

Tocando a testa dela, quente, deixou-se mergulhar na vida daquela humana, que para ele era tudo.

“Por favor” a voz soara afetuosa por trás dos lábios dela, porém uma ponta de medo era sentida.

“Não me peça para ficar”.

A outra figura era alta. Não tinha as curvas e a beleza da humana, o anjo viu. Era um homem. Os cabelos negros, a face dura, como se ele não quisesse estar ali, com aquele ser maravilhoso a sua frente quase se desmanchando por ele.

“Você prometeu!” ela gritou, as lágrimas começando a surgir em seus olhos. “Você disse que ficaríamos juntos”

Havia uma rosa em suas mãos, o homem arrogante a frente da mulher provavelmente lhe dera, pensando que um mimo abrandaria a mágoa que oferecia a ela.

Um coração venenoso, o anjo concluiu ao lado daquela figura fria. Um coração que não deveria fazer o dela bater tão rápido.

Num impulso, ela o segurou e, ficando nas pontas dos pés, o beijou.

O anjo, perto de ambos, encarava a cena com um sentimento que o perturbava. Já vira demonstrações de afeto entre humanos, mas nunca tão perto assim. Durante sua existência, apenas tirava pedras dos caminhos de cada um dos seus protegidos, como fizera com ela. Só que, por um descuido de sua parte, não tirara aquele monstro dela a tempo. E agora ela se entregava nos braços dele, de seu amante, de seu amor. Aquele que a condenava ao sofrimento.

Ele a soltou e mesmos com os gritos agudos, a abandonou. O anjo não entendia como alguém abandonaria uma criatura como aquela. Os olhos dela seguiram-no até que desaparecesse, então quase caiu no chão frio.

O anjo, num impulso, segurou-a. As costas dela em seu peito parecia encaixar-se facilmente. Os braços dele ao redor dela pareciam pertencer-lhe. E ela o sentia. Respirava pesadamente, os seios subindo e descendo conforme o espanto crescia. Ela não se desvencilhou.

O anjo sabia que ela sentia-se bem. Era difícil abandonar tão afetuoso abraço.

Se ele a beijasse, seria como um beijo de vida. Carinhoso, energético.

Mas ele não o faria, afinal, ela era só uma humana. Ele já a protegia desde o nascimento, não era justo que lhe desse o fardo de amar um ser celestial. Não era certo, na verdade, os céus proibiam.

Entretanto, naquele sonho, ela o sentia. A partir do momento em que acordasse, a ilusão seria desfeita. Acordaria no caos que era perder uma paixão. Pois sim, o arrogante homem partira. Fora embora e fizera do coração carmim um aglomerado de cacos.

Cacos que o anjo teria que consertar, entretanto, pensou ele, como se conserta um coração ferido quando o meu próprio coração sangra?

Ela acalmou-se em seus braços. Sentia seu amor enviado por ondas. Sua proteção, sua devoção. Queria ainda chorar, mas com tanta afetuosidade, ela não deveria.

“Quem é você?”

Sua voz doce era apenas um sussurro, saídos dos lábios avermelhados. Ele sorrira, e durante séculos achou que nunca o faria. Pensou que até mesmo houvesse esquecido como era sorrir.

“Sou seu anjo” dissera. “Sou seu amor maior”.

Ela arfou, a respiração novamente acelerada. Virou-se lentamente, até encontrar os olhos da criatura divina, vendo ali mais do que beleza, mas sagrado ser.

“Sou seu protetor”.

As mãos finas foram lentamente até a face do Anjo. Ela estava impressionada diante de sua face maravilhosa.

Ele estava anestesiado diante de criatura tão fascinante que ela era. Os rostos estavam a centímetros, cada vez mais próximos.

“Sou seu servo” falou, o calor crescendo, a respiração calma dele, com a nervosa dela. “Sou seu anjo”.

A voz dele perdeu-se, os olhos dela abriram-se e, lentamente, o ar em seus pulmões estabilizava. Percebeu sangue em sua mão, até deparar-se com a rosa de seu amante, apertava com muita força entre seus dedos. Olhando ao seu redor, procurou o anjo.

Ao seu lado, ele deitou-se, sorrindo e admirando-a.

Ele não deveria tocá-la.

Ela não deveria vê-lo.

Nunca seria permitido.


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