O Jogador de Basquete e o Gótico escrita por Creeper


Capítulo 3
Vizinhos




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—Vai me evitar até quando?-Brady me perguntou assim que dei as costas para ele.

O olhei de soslaio,algo nele me intrigrava ,só não sabia o que era...Ainda.

Não sei se era o fato de estar sendo legal demais para um jogador de basquete,ou o fato de me seguir para todo lado.

Fazia uma semana desde que aceitei o cargo de ajudante,nesse tempo Brady vem tentando socializar comigo,sem sucesso.

—Sei que só está sendo legal porque está sendo obrigado.-parei de andar e o encarei com os braços cruzados. Na verdade,você só é obrigado a fazer uma coisa se tem uma arma apontada para sua cabeça, caso contrário você é completamente livre.

—Acredita mesmo nisso?-Brady perguntou arqueando uma sobrancelha.

—Sim.-respondi e voltei a andar pelo corredor vazio,eu devia estar na aula,porém me atrasei assim como Brady.

—Ei,Drew!-ele me chamou,porém não me dei o trabalho de olha-lo.-Eu estou falando com você! Seus pais não te deram educação?!

Parei de andar no mesmo instante em que ouvi a palavra que mais me assombrava,"pais". Lancei um olhar mortal para Brady que engoliu em seco ao perceber que disse algo que não devia.

Quando eu ia responder,uma inspetora que passava por ali mandou Brady para a sala de aula do segundo colegial e eu para a minha do primeiro colegial.

☆☆☆

Ao chegar em casa,Amanda estava sentada na calçada conversando com uma das vizinhas,provavelmente fofocando sobre algo da faculdade,já que as duas frequentavam a mesma.

—Drew.-Amanda sorriu ao me ver.-Como foi seu dia?

Dei de ombros assentindo com a cabeça como se significasse que foi bom,antes que eu pudesse abrir a porta de casa,Amanda voltou a falar:

—A senhora Margo pediu para você ir falar com ela.

Revirei os olhos e bufei. Em passos pesados fui até o quintal e sem permissão pulei a cerca que separava minha casa da dos vizinhos. Ao pisar no gramado verde fui recebido com um grito:

—Moleque mal educado! Não sabe o que é portão?

Era Margo que estava sentada em uma cadeira de balanço tricotando a meia mais feia que eu já havia visto na vida,ao seu lado estava seu marido Claudemir que comia desesperadamente um bolo.

—Precisa de alguma coisa?-forcei um sorriso,coisa que fez Margo me olhar com desprezo.

—Se soubesse que seria assim,teria pedido pra Amanda fazer isso...-a senhora idosa e obesa disse.

—Eu aqui pagando de bom vizinho e você fica reclamando?!-murmurei,sabia que aquela mulher surda não ouviria.

Margo era uma das velhas mais chatas desse bairro,Claudemir se comparando a ela era até considerado legal.

—Drew,você poderia ser um bom garoto e regar minhas plantas enquanto eu estiver de viagem?-Margo sorriu tentando parecer amigável,coisa que me deixou assustado.

—Tenho outra opção?-perguntei olhando para os lados,o jardim era muito grande,levaria uma eternidade para regar tudo. Aquelas plantas eram as coisas mais preciosas para ela,tenho certeza que se murchassem ela ficaria acabada.

—Enquanto estivermos fora,quando você vier cuidar das flores você pode ler os livros que quiser da minha biblioteca.-Claudemir disse.

—Eu...-pude sentir meus olhos brilharem ao ouvir essa proposta. Claudemir tinha uma pequena biblioteca em sua casa,sempre quis ler os seus livros,porém nunca tive a oportunidade. Balancei a cabeça negativamente,eu não seria subornado de novo.-Não estou interessado.-fiquei sério.

—E se nosso sobrinho te ajudar?-Margo sugeriu.

—Piorou.-murmurei. Eu é que não iria fazer contato com outro ser humano enquanto regava a miniatura de floresta amazônica.

—Senhora Margo,Seu Claudemir!-Amanda chamou,estava debruçada na cerca com um belo sorriso.

—Oi,querida?-Margo a encarou e retribuiu o sorriso. Tenho certeza que essa velha gosta de todo mundo,menos de mim.

Enquanto as duas conversavam,Claudemir pediu:

—Pode pegar meu cachorro? Ele está por aí,não posso correr atrás dele,estou com uma baita dor nas costas...

Estalei a língua e ele completou:

—Por favor.

Toda vez que estalava a língua significava que a pessoa deveria falar a palavra mágica,aprendi isso com Amanda que tem o mesmo costume.

Sem muita animação fui até os fundos,mas antes olhei o senhor por cima do ombro e perguntei arqueando uma sobrancelha:

—Foi você que comeu o pudim,certo?

Claudemir olhou rapidamente Margo que estava distraída e depois me encarou e assentiu.

Chegando na parte de trás da casa,fiquei parado perto da beira da piscina,por um momento parei para imaginar Margo com aqueles maiôs de gente velha nadando naquela água cristalina.

—Que show de horrores...-murmurei malvado.

Olhei meu reflexo na água,quando eu menos esperava algo passou por entre minhas pernas as fazendo ficarem bambas,por um segundo achei que cairia na piscina,porém endireitei minha postura rapidamente e virei o rosto encarando uma bola de pelos que era o cachorro de Claudemir,seu nome era Bacon e era tão gordo quanto os donos,estava cavando um buraco, deveria estar querendo enterrar o osso que estava em sua boca.

—Oi.-uma voz disse tão de repente que com o susto me fez perder o equilíbrio e cair na piscina.

Senti os meus olhos arderem ao entrar em contato com água gelada,o ar me faltava e meu nariz doía por ter "respirado" muito mais água do que deveria. O desespero percorreu meu corpo quando eu percebi que não conseguia boiar,pensei ser o meu fim,até sentir uma mão agarrar meu braço e me puxar. Quando eu já estava de volta na beira da piscina comecei a tossir e cuspir toda a água que quase havia engolido,respirei fundo como se todo o ar do mundo fosse acabar,a necessidade foi diminuindo conforme eu sentia-me melhor. Suspirei olhando para o céu completamente azul,pude perceber o quão desesperado estava ao olhar meu peito que subia e descia por conta da respiração ofegante. 

Agora estava completamente molhado,mas por algum motivo me sentia relaxado com minhas roupas úmidas. Balancei minha cabeça fazendo meu cabelo desgrudar de meu rosto,as gotas de água desapareceram no ar,até parecia comercial de shampoo. 

—Parece que você não sabe nadar.-ouvi aquela voz familiar novamente,olhei para o lado e fechei a cara ao ver que era Brady quem tinha me salvado de me afogar.

—O que você está fazendo aqui?-perguntei franzindo a testa pensando na possibilidade dele estar me seguindo.

—Digamos que meus tios moram aqui.-ele sorriu. Então Brady era sobrinho de Margo e Claudemir...-Ei...-ele coçou a nuca.-Eu fiz algo errado hoje de manhã?

—Não só de manhã. Você já fez muitas coisas erradas.-não o olhei.

—Tipo?

—Nasceu.-eu sentei-me espremendo a barra de minha camiseta para tirar o excesso de água.

—Drew,agora somos do mesmo time,estou tentando me dar bem com você! -Brady parecia um pouco bravo e impaciente.-Não pode se esforçar?-forçou um pequeno sorriso me estendendo a mão.

—Não. -respondi me levantando sem sua ajuda.

Brady suspirou.

—Qual o seu problema?-perguntei.

—Nenhum.-Brady deu de ombros.

Estreitei os olhos o que fez ele rir.

—Você não age como um jogador de basquete.-eu disse com normalidade.

—Acha que jogadores de basquete são pegadores e populares? Que são os canalhas da história?-Brady perguntou,na verdade era exatamente o que eu pensava e o que ele aparentava ser.-Clichês. Talvez eu esteja me tornando isso porque a humanidade quer que seja assim.

Por um momento fiquei surpreso,Brady era apenas manipulado pela humanidade que lhe entregava um papel que ele deveria cumprir.

—Então,amanhã é sábado...-Brady olhou para piscina.-Vou me reunir com uns amigos meus,quer vir?

Aquilo estava difícil de engolir. Mesmo Brady tendo explicado o motivo,eu ainda não o compreendia. Por que era tão legal?

—Não estou a fim.-eu disse andando em direção a onde se encontrava Margo. Ouvi alguém estalar a língua e instantaneamente olhei para o lado e vi Amanda sorrindo como se eu não tivesse jeito,ela apontou com a cabeça para Brady.

Hesitei um pouco e suspirei.

—Valeu.-eu disse por fim olhando o garoto que me fitava curioso.

—Pelo que?-Brady arqueou uma sobrancelha e sorriu.

—Por me salvar,seu idiota.-eu disse seco. Preciso aprender a nadar imediatamente.

☆☆☆

Na hora do jantar,como sempre Amanda tinha queimado a comida,então ou eu comia a lasanha cremada ou fazia um miojo.

Optei pelo miojo,já Amanda estava de dieta e preferiu ficar sem comer.

—Você precisa aprender a cozinhar melhor.-eu disse colocando o tempero no macarrão instantâneo.

—Achei que você já estivesse acostumado com o gosto.-Amanda riu enquanto rabiscava algo em seu caderno em cima da mesa da cozinha.

—Se acostumar com o gosto de comida queimada é a mesma coisa que se acostumar com a dor.-eu disse a encarando.-Não podemos deixar acontecer.

—Falou bonito.-Amanda bateu palmas sarcástica.

Revirei os olhos e coloquei meu prato com miojo em cima da mesa,me sentei e fitei o caderno com curiosidade. Em um movimento rápido peguei o caderno e encarei o desenho de uma garota (bem parecida com Amanda por sinal) e um garoto que pareciam estar apaixonados.

—Por que fez isso?-perguntei sério vendo Amanda ficar envergonhada.

—Nada não. É só um rabisco.-ela pegou o caderno de volta.-Desde quando é tão curioso?-ela estranhou minha ação. Normalmente eu não ligava para essas coisas alheias,mas naquele dia precisava me distrair.

—Aquele Brady...-Amanda mudou de assunto.-É seu amigo?

Ri debochando por alguns longos segundos,depois fiquei sério novamente e disse:

—Não.

—Deveria sair com ele.-Amanda sugeriu.

—Estava ouvindo nossa conversa?-finalmente coloquei um punhado de miojo na boca.

—Drew,eu ficaria feliz de vê -lo fazendo amizades.-Amanda fez biquinho.-Toda mãe gosta de ver os filhos se enturmando.-suspirou sonhadora.

Amanda sempre se considerou minha mãe,mas eu a sempre vi como uma irmã mais velha ou como uma cuidadora.

—Amanda,Brady é um idiota.-eu disse calmamente.

—Por que diz isso?

—Tenho meus motivos.-coloquei mais um pouco de miojo na boca.

—De agora em diante vocês vão se ver bastante...-Amanda riu.-Porque ele vai cuidar da casa dos tios durante essas férias.

Ao ouvir isso engasguei com o miojo que comia e fui em busca de água desesperadamente. 

—Já que você não aceitou a proposta,Margo pediu ao seu sobrinho para regar as plantas.-Amanda sorriu com minha reação.

Faltava alguns dias para as férias começarem,nesse tempo eu ainda precisava ir nos finais de semana no colégio para ver o treino de basquete e ajudar Benson,pensei que ficaria livre de Brady,mas eu estava errado.

—Pra sua informação vou ficar as férias inteiras trancado em meu quarto.-respirei fundo colocando meu prato na pia,estava sem apetite para continuar a comer.

Eu já havia colocado o pé no primeiro degrau da escada quando Amanda disse:

—Drew,que tal irmos na biblioteca do centro amanhã?

Arqueei uma sobrancelha e a olhei desconfiado,Amanda não era lá muito fã de livros como eu era.


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Notas finais do capítulo

E aí, curtiram? Comentem o que acharam, ficarei feliz ^^!
Até o próximo, bjjjjjjs!
—Creeper.



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