Como eu era Antes de Você Final Alternativo escrita por Bella Dona


Capítulo 1
Final Alternativo




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— Clarck, pode pedir para meus pais entrarem?

Eu o olhava, meus olhos embaçados e doloridos para os seus límpidos e resolutos, uma súplica muda para que reconsiderasse.

— Clarck? – Sua mão boa apertou de leve a minha talvez para me tirar do torpor. O que eu faria sem Will? Não deveria ser permitido gostar tanto de alguém assim! Não era justo!

Escondi meu rosto novamente em seu peito, uma tentativa infantil de me esconder de seu pedido. Isso jamais foi um pedido, afinal. Era uma sentença, onde Will era réu, júri e juiz e não havia a miníma chance de apelação.

— Clarck?

— Não! – O sussurro agonizante escapou pelos meus lábios por vontade própria. Não olhava em seus olhos porque parte de mim sabia que havia prometido não fazer isso. Mas quanto mais a consciência de que não o teria em meus braços se tornava concreta, mais minha promessa desmoronava. Eu era novamente a garotinha de 7 anos que não compreendia porque minha avó se foi sem se despedir. Mas dessa vez eu podia fazer algo. Dessa vez a morte não veio ligeira e definitiva. Dessa vez eu podia implorar. Se não podia argumentar, eu podia implorar.

— Clarck? – Will soava cansado e um pouco decepcionado?

— Me desculpe – minha voz saiu embargada e frágil como cada parte do meu corpo. – mas não posso fazer isso – Ele me olhava triste e claramente desapontado.

— Eu não deveria ter vindo... – levantei da cama sem conseguir olhá-lo nos olhos. Eu era fraca, mas eu o amava.

— Clarck? – Will ainda segurava firme minha mão apesar de sua voz ser incerta.

— Eu sei que deveria me comportar – Tento me recompor num ar forçado de zombaria de costas pra ele, porque assim é mais fácil – mas é bastante difícil pra mim – tomo fôlego pois um turbilhão de sentimentos querem inrromper de uma só vez do meu peito, mas preciso ser criteriosa – não, não compreender seus argumentos, não aceitar seu ponto de vista, mas – olho para o teto do quarto imaculado, não quero que nossa despedida seja uma briga, mas ele precisa compreender a extensão do que está fazendo, do que me pediu vindo aqui – mas é muito difícil pra mim perder alguém e sequer poder lutar Will! É bem difícil pra mim, agora que você me mostrou quem eu posso ser, simplesmente me calar e ver o amor da minha vida partir em silêncio resoluto – Ele larga minha mão bruscamente e sei que não deveria ter feito isso, definitivamente não deveria ter dito nada, mas essa não é mais quem eu sou, então viro e lhe mostro a mulher que ele fez aparecer por trás da menina de meias de abelha – Não consigo aceitar que você desperdice nosso amor por medo – Ele me olha assustado – Sim Will, você tem medo do futuro. Mas quer saber? Se você ainda não entendeu, eu estou em frangalhos só por pensar como o meu poderia ser sem você. – Sorrio um sorriso triste enquanto os olhos do homem que amo me seguem até a porta.

                                   ***

 

Epílogo

Clarck,

 

Gostaria que você soubesse o quanto lamento nosso último encontro. De todas as coisas que eu acredito que você aprendeu sobre mim, talvez a mais ridícula tenha sido minha dificuldade de pedir desculpas. Por isso a carta, porque como também deve ter ficado provado, apesar de muitos exultarem minha coragem – por sobreviver a cada dia depois do acidente, tolos que não enxergavam um palmo a sua frente – , você sabia que eu era um covarde. Um covarde preso não a um corpo paralisado, mas a toda uma percepção de vida paralítica. Um covarde que mesmo no último momento não conseguiu se livrar da ilusória ideia de que a escolha era minha, apesar de que de certa forma era...

Peço que me perdoee abelhinha, mesmo sabendo que não tenho o direito por todo o sofrimento que infrigi. Ainda assim, como o pedido de um moribundo, peço que me perdoee e aceite essa passagem. Não como um suborno – você nunca seria tão facilmente subornada, eu sei – mas como uma prova do quanto a amo e lamento não ter sido mais corajoso.

 

                                 ***

Última chamada portão 10, embarque imediato!

Ao passar pelos portões de embarque atrapalhada com o passaporte estou terrificada. Paraliso na ponte em frente a porta do avião. Lembro a última vez que viajei assim, sozinha. A aeromoça me pergunta num tom simpático se há algum problema. Como poderia haver algum problema em viajar para Paris de primeira classe, exceto pelo fato de viajar sozinha. O último pedido do homem da sua vida?

Tomo controle da situação, como tenho feito na última semana e entro na aeronave. Um comissário me auxilia até meu assento e pela segunda vez no dia eu congelo. Nathan está vindo em minha direção e pára ao me notar no meio do caminho encarando-o. Me sorri amarelo e passa a mão pela cabeça desconcertado. E então a carta de Will me vem a memória, todas as entrelinhas de suas últimas palavras. Me aproximo do meu assento e pela primeira vez em dias meus olhos se enchem de água por motivo que não tristeza. Ele me encara receoso ainda que tenha ali um esforço para soar descontraído.

— A mademoiselle aceitaria tomar um café comigo?

Ainda não posso acreditar, uma semana e ninguém disse uma palavra. Depois da minha saída brusca do Dignitas aceitei como fato consumado que havia perdido Will para sempre e agora estava sem palavras. O olhei por longos segundos tentando me assegurar de que ele estava realmente ali e não era algum truque da minha mente transtornada.

— Clarck? – Ele estava desconcertado, Nathan e o comissário olhavam a cena expectantes.

— Me disseram que o Café Marais é excelente.

Ele sorriu como um garotinho tímido enquanto eu pegava sua mão e a apertava para nunca mais soltar.


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