Estamos já no horário do intervalo, sentados na grama no pátio, comendo. Em algum lugar distante, consigo escutar um som de violão e uma voz cantando, sugerindo que Lys e Cassy estão tocando. Alexy e eu estamos dividindo um sanduíche da cantina, enquanto Armin come distraidamente um bolinho enquanto joga em seu psp.
E perto de nós, está a rainha das vacas, vulgo Ambre, fofocando com Li e Charlotte, em um volume suficientemente alto para que eu pudesse ouvir cada vez que falavam mal de mim.
–Ouvi dizer que a novata veio da Índia. -comenta Li.
–Eu também ouvi isso. Estão todos comentando sobre ela. -Charlotte complementa. Ambre ri de modo irônico e joga uma mecha loiro para trás.
–Aiai... Mais uma novata nesse lugar? Socorro, eu mereço... Se ela for igual aquela Kuy, estamos perdidas.
As três começam a rir, com suas risadinhas finas e irritantes. Eu resmungo, mordendo meu pedaço de sanduíche como se estivesse arrancando a cabeça de Ambre fora do corpo. Suspiro, e levanto do chão.
–Amy, calma. -Alexy pega meu braço e sorri para mim. -São só metidinhas tentando chamar sua atenção. Se eu não conhecesse ela, diria até que está querendo chamar sua atenção porque gosta de você.
–Que besteira. -mastigo o sanduíche de modo voraz. -Ela me quer morta. E eu não vou deixar ela ter esse prazer de me ver morta.
Estufo meu peito de coragem e chego perto de Ambre, me apoiando de modo não muito sutil no seu ombro.
–É uma pena mesmo... Mais uma novata chegando para tirar você do centro de atenções. Afinal, é só com isso que você se importa, não é?
–Como é? -Ambre tira meu braço de seu ombro e fica de frente a mim, me fuzilando com os olhos. Sorrio de modo irônico.
–Você escutou bem o que eu disse. Antes de mim, você sempre foi o centro de atenção aqui da escola. Mas depois que eu cheguei, eu roubei um pouco do seu brilho e agora você deve estar tremendo de medo que aconteça o mesmo com a chegada da Priya.
A cada palavra minha, a loira parecia inchar um pouco mais de raiva. Li e Charlotte tentam acalma-la, mas ela transpira ódio puro.
–A única que deveria estar preocupada em perder a atenção é você! Quando ela chegar, os garotos não vão nem querer saber da sua existência! Aí eu quero ver de quem esse brilho vai ser roubado! -Ambre enfim explode, cuspindo palavras como veneno. Eu paraliso, sem saber revidar.
Alexy surge atrás de mim, me segurando pelo ombro, e sussurra em meu ouvido pedindo para me sentar de novo, enquanto Li e Charlotte arrastam Ambre para longe de mim. Mas, mesmo de longe, consigo ouvi-la me xingando.
–Amy, deixa isso... Ela só está com inveja de como os meninos de tratam. -Meu amigo de cabelo azul carinhosamente diz, enquanto voltamos a sentar no chão. Ele me abraça pelo ombro e deito minha cabeça em seu ombro, a ponto de começar a chorar.
–Que ódio... Ela sabe do meu medo de perdê-los...
–Ela só quer te atingir. Esqueça isso. E depois, apareça sambando na cara com um salto quinze segurando uma bandeira escrita: "Eu que mando nesse lugar, vadia".
Nós dois começamos a rir, olhando um para o outro, e por um momento esqueço a existência desprezível de Ambre, e apenas me concentro em terminar o sanduíche. Até que...
–Armin! Cara! To te procurando a um tempão! -Ken aparece correndo em nossa direção, segurando um dos cadernos de Armin. O gêmeo de cabelo escuro levanta, indo em direção ao amigo.
–Ah, nossa, meu caderno! -ele pega o objeto. -Valeu cara, onde tava?
–Você esqueceu na sala. A Iris achou e eu me ofereci para te entregar.
–Muito obrigado mano. -Armin e Ken trocam um sorriso, e ele volta a se sentar do meu lado.
Alexy está completamente paralisado, olhando para Ken, em pé na nossa frente. Suspiro, sabendo o que eu deveria fazer.
Cutuco o garoto de cabelo azul com o ombro, dando-o um olhar sugestivo. Alexy me olha, meio incerto. Sorrio, dando-o apoio, e ele faz que sim com a cabeça, levantando e ficando de frente com Ken, mais vermelho que um tomate.
–Hã, então, Ken... Você... É... Bem... Eu... -ele gagueja, nervoso, enquanto o outro apenas o olha de modo curioso, e sorri.
–Tem algumas tarefas de matemática, que eu não entendi muito bem. E me disseram que você é bom. Será que poderia me explicar depois? -Ken diz, deixando meu colega de cabelo azul um pouco mais calmo, mesmo que ele esteja a ponto de desmaiar de nervosismo.

[Alexy: Isso não é verdade. Eu não estava tão nervoso!
Amy: Ah, mas você tava sim! Lembro de quase começar a rir junto de Armin.
Alexy: Eu tava lá quase morrendo e vocês dois rindo de mim... Eu odeio vocês.
Amy: Odeia nada. Você nos ama. Mas vamos continuar aqui]

–Tá, eu posso ajudar... Bem, você tem algo pra fazer sábado à tarde? -ele está tão vermelho quanto os cabelos de Cassy.
–Não, to livre.
–Então... Eu te encontro na cafeteria... E te ajudo com a tarefa?
–Para mim parece ótimo.
–Okay então... Eu... Você... Tá.
–Você é um cara legal, Alexy. Até mais! -Ken ri, e acena em despedida para mim e Armin.
O gêmeo de cabelos coloridos, ainda em pé e paralisado, se vira para nós dois, que estamos fazendo uma dancinha de comemoração.
–Alexy chamou Ken pra sair! Alexy chamou o Ken pra sair! Alexy chamou o Ken pra sair!
–Socorro eu vou ter um derrame.
Ele se joga em cima de mim, literalmente. Eu começo a rir alto, pedindo para ele sair de cima, e os dois gêmeos começam a me fazer cosquinhas, rindo junto.
Então, de repente, o sinal corta nosso clima de felicidade, e nos despedimos, cada um indo para uma aula diferente. Mas tudo bem, nós vamos nos ver depois da aula de qualquer jeito.

Depois do fim das aulas, Alexy e Armin vão embora rapidamente, por pedido da mãe, mas combino de me encontrar com Alexy a noite para """"""estudarmos"""""" lá em casa, e acabo voltando sozinha.
–Amy, espera! -uma voz me chama, e logo a reconheço como Rosalya. Paro e me viro, dando de cara com a garota de cabelos prateados.
–Oh, oi Rosa! Vai passar na loja para ver o Leigh? -pergunto, enquanto ela se junta a minha caminhada.
–Sim, sim! Depois, vou até a cafeteira com ele e Lysandre, quer vir?
–Bom, não tenho mais nada a fazer até de noite...
–Eba! Estava com saudades, Amy! -ela diz, bem humorada, me abraçando.
–Eu também estava, Rosa! -digo, rindo, e seguimos em direção da loja do irmão de Lys, e namorado de Rosalya.
–E a novata? Está sabendo? A escola toda está comentando... -ela diz, de repente. Um frio na espinha toma conta de mim, me fazendo estremecer.
–Estou sabendo, sim. -digo, secamente. Com o seu poder feminino, Rosa logo percebe meu incomodo.
–Sei que deve estar com medo dela roubar os meninos de você. -ela diz, como se lesse meus pensamentos. -Mas isso não vai acontecer. Pelo menos, tenho certeza de três que nunca vão te deixar.
–Três?
–É! O Alexy, o Armin e o Lys! -ao perceber minha surpresa com o último nome, ela continua -Deus e o mundo sabem que ele tem uma quedinha por você, acredite! Ele nunca ia te deixar por uma novata!
–Ah, por favor... Não gosto de nenhum dos assuntos que essa conversa envolve...
–Desculpa, desculpa... -ela faz silêncio por um momento, então de repente começa a falar de novo, contando de sua viajem de férias. Deixo-a falar, empolgada, enquanto estou perdida em meus próprio devaneios, pensando em como seria minha vida depois que essa tal de Priya chegar.
Vai virar uma bagunça, concluo. E começo a prestar mais atenção na conversa com minha amiga.

Já é noite, e estamos eu e Alexy deitados no chão da sala do apartamento, lendo algumas páginas do livro de história. Eu não estou exatamente concentrada, então uma hora ou outra, Alexy começa a fazer cócegas em mim para fazer com que eu me concentre de novo.
–Vamos! Você consegue terminar essa conta! -ele me anima, deitado de barriga para cima que nem um cachorrinho.
–Tá! Tá! Vou terminar. -rabisco mais algumas contas no caderno, e chego ao resultado, e começo a vibrar. -YAY! Sucesso!
–YAY!
Começamos a rir, felizes (só com ele para eu rir no meio de uma tarefa de matemática). Minha irmã aparece, carregando dois pratos com fatias de pizza, e deixa para nós. Então decidimos fazer uma pausa, e comer um pouco.
–Alexy, -chamo-o, e ele me olha, ainda mordendo um pedaço de pizza de modo cômico -a tarde, depois da aula, eu sai com a Rosa, o Leigh e o Lys, e o assunto foi só sobre a novata... Eles estão bem ansiosos com a chegada de uma nova aluna. -olho para ele, quanto ele termina de mastigar. -Como você acha que ela deve ser? Será que ela é legal?
–Eu espero que sim, adoro conhecer gente nova. -ele diz, com a boca cheia e mastigando, fazendo-me rir. -Aposto que vamos ficar amigos dela antes que Ambre venha encher nosso saco!
–Tomara mesmo. Não aguento aquela... -mordo o pedaço de pizza, fazendo uma cara ameaçadora, mas que não pode ser levada a sério. -Aquela patricinha de uma figa.
–E pensar que ela quase foi sua cunhada, na época que você tava saindo com o Nath! Já imaginou ter ela como cunhada o resto da sua vida?! Se eu estivesse no seu lugar... Credo!
Nós dois começamos a rir, imaginando uma cena onde Nath e Alexy namoram e Ambre está lá atrás, gritando histericamente pela atenção do irmão. Aiai, esse menino...
Já cansados, resolvemos ir dormir após terminar a comida. Ele foi dormir comigo no meu quarto, no colchão reserva que eu guardo justamente para quando ele vem dormir aqui (que é literalmente quase sempre). E não levou mais de dois minutos para que a gente desmaiasse nas camas.