7 Vidas escrita por Gabe


Capítulo 2
Capítulo 2




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Quanto mais eu me aproximava daquele brilho macabro, mais eu sabia que seria idiotice. Mas eu não conseguia controlar minhas ações, era como se eu estivesse fora do controle do meu próprio corpo. Estivesse entorpecida. Não era apenas um brilho, e sim uma capa. Uma capa preta com letras em o que me parecia latim. Tão escura que fazia parecer que as letras estivessem flutuando em meio à escuridão. Eu estava tão perto que conseguia sentir o frio que exalava dela. Minhas mãos coçavam para toca-la, e eu só queria saber o que era aquilo e por qual razão estava ali. A curiosidade falou mais alto, estiquei meu braço para ir de encontro à capa sinistra.

A “criatura” (como agora a denominei) se moveu lentamente pelo local. Por mais que eu tentasse alcança-la, meu corpo não permitia que eu o fizesse, eu só conseguia andar lentamente, como se meus passos estivessem sendo monitorados para que eu não chegasse perto dele. Meu corpo todo travou no momento em que a criatura parou novamente, minha respiração falhou como se eu tivesse levado um soco no estômago.

Uma porta se abriu em meio à escuridão, fazendo que o local ficasse extremamente claro, e impossibilitando minha visão. A luz se foi com a mesma velocidade em que apareceu e eu fiquei sozinha novamente na escuridão. A curiosidade ainda mais forte que o medo. O desespero me atingiu como uma onda parecia que o local estava se preparando para me engolir. Respirar ficava mais difícil a cada momento, meu peito doía com o esforço de minha respiração, algo em minha mente me dizia que se eu fosse até aquela maldita porta tudo ficaria fodidamente bem. Então eu fui, fui até a maldita porta.

Ao me aproximar seu brilho voltou com a mesma intensidade que antes, mas agora eu estava preparada para aquilo. Após alguns segundos me acostumei com a luz extremamente forte, e pude ver com clareza do que se tratava. Não eram apenas luzes que vinham do outro lado da porta, e sim da porta em si. Tinha as mesmas letras em latim que a capa da criatura por toda extremidade, e isso me fez arrepiar por completo.

Estiquei o braço para tocar a maçaneta, mas não tive a chance de toca-la. A porta se abriu lentamente como se estivesse me desafiando a entrar. Eu entrei lentamente, o lugar exalava medo e desespero, ela se fechou no momento em que a atravessei.

O lugar era completamente diferente do local em que me encontrava anteriormente. Era totalmente branco, tão branco que meus olhos arderam por alguns segundos até que eu pudesse me acostumar. Quase não havia mobília, apenas uma pequena mesa de escritório acompanhada por uma cadeira preta, que fazia contraste com todo branco exagerado que havia no local. Ela estava virada, impossibilitando minha visão. Mas eu sabia que ele estava ali, sua capa prendeu minha atenção, fazendo com que tudo mais fosse insignificante.

—Você é realmente muito corajosa Amber. – disse a criatura.

Sua voz era profunda, calma, e assustadoramente encantadora. Era diferente de como eu achei que seria. Pensei que ele gritaria comigo, me jogaria algumas pragas e eu viveria no “castigo eterno”, mas cá estou, esperando que ele me diga o que estou fazendo neste lugar, e torcendo para que ele não me sirva uma xícara de chá, como de fato parecia que faria, com aquele sotaque britânico que não fazia muito o estilo “criatura da morte”.

—Alguns diriam que é burrice, ou fraqueza. Mas devo insistir em acha-la corajosa. – ele se virou em minha direção, e pela primeira vez pude vê-lo.

Ele ainda estava coberto pela maldita capa, mas agora eu podia vê-lo parcialmente, por causa da iluminação. Seu rosto era extremamente branco, contrastando com sua boca grande e vermelha. E de repente eu queria toca-lo, como eu nunca quis algo em minha vida. Dei um passo em sua direção, torcendo para que ele não se afastasse. Mas como era de se esperar, ele se afastou.

—Eu quase posso ouvir as engrenagens da sua cabeça girando. – disse ele retirando a capa lentamente. — E sei que você quer ver, mas receio que não gostará.

O olhei como se fosse minha última esperança, meu bote salva-vidas em meio a um naufrágio, mas toda a esperança se foi quando encontrei seus olhos. Era como se eles fossem sugar tudo de bom que ainda havia em mim, eram perturbadores e me fazia querer gritar.

Olhei fixamente em seus olhos e vi meu pai encontrando meu corpo ainda amarrado pela corda no ventilador. Ele gritou e pulou em direção ao meu corpo tentando me soltar de lá a qualquer custo. Quando ele finalmente teve sucesso, me colocou gentilmente no chão. Tão gentil como ele nunca havia sido comigo, e eu quase tive vontade de rir por vê-lo fazer isso. Ele se jogou em cima de mim e começou a chorar desesperado quando viu que não havia mais volta. Que ele havia perdido sua esposa e filha, e que a culpa disso era apenas sua. Ele limpou as lágrimas de seu rosto rapidamente. Levantou-se e me olhou por mais alguns segundos. “O que você achou que estava fazendo, Sua putinha egoísta de merda? Achou que se livraria de mim tão fácil assim?” Então ele se abaixou e me deu uma bofetada no lado esquerdo do meu rosto. Minhas mãos instantaneamente voaram para a mesma bochecha que eu havia sido acertada e ela ardia como o inferno.

Então ele se atirou em mim. Deitou em cima do meu corpo morto e eu pude sentir seu peso em mim, me sufocado da mesma maneira que fazia toda noite desde que minha mãe se foi. Sua boca voou para a minha, e eu senti uma onda nauseante em meu estômago. O cheiro de cigarro e bebida me inundou da mesma maneira que no dia em que eu tirei minha vida. Então eu escutei um grito. Um grito ensurdecedor e mais alto do que eu já ouvi.

Era eu que estava gritando. Eu estava no chão chorando como eu nunca havia chorado em toda a minha vida, e eu simplesmente não sabia como ou se havia um jeito de parar.

Então eu olhei para a criatura, que agora havia colocado a capa novamente, e ele estava sorrindo. A porra de um sorriso brincava em seus lábios. Eu sabia que ele transformaria tudo em dor e sofrimento. Eu estava sim sendo punida, só não havia percebido que já tinha começado.

—Prazer Amber, sou Agramon.


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