A Noiva escrita por Letícia Brito
Reza a lenda que uma jovem com os seus 17 anos apaixonou-se perdidamente por um rapazinho rebelde que contava tantos anos quanto ela.
Ela amava-o de uma forma quase absurda e perdoava todas as suas incoerências e inconstâncias, mesmo quando as suas noites eram regadas de lágrimas.
Ele roubou-lhe o coração e dezenas de sorrisos, ofereceu-lhe flores e dezenas de dores.
O corpo dela; elegante e atraente. Os seus olhos; de um verde intenso e devorador. A sua tez; branca como a neve. A sua alegria; incomparável. Desapareceram quando ele foi embora e deixou-lhe o coração e a vida num caco.
O amor afundou mas a esperança continuou a flutuar. Restavam as memórias felizes e uma fotografia que nem o tempo era capaz de destruir. O amor é assim: no inicio recebemos flores, no fim terminamos num caixão.
Ela morreu, não literalmente. O corpo continuava presente mas a alma perdeu-se algures num mundo que ela desconhecia. E ele descobriu que a amava. E o amor aconteceu. Houve até um pedido de casamento.
Num altar adornado com as rosas amarelas que ela tanto adorava e um crucifixo, um homem de semblante carregado aguardava pacientemente a chegava da noiva, enquanto o jovem rebelde que agora tinha mais uns 3 anos em cima desesperada pela chegada da amada. Ela chegou. E ele segredou-lhe um amo-te tão verdadeiro que ela morreu novamente.
Quando precisou dizer "sim, aceito" a jovem apaixonada morta, mais uma vez. Fugiu do altar e percorreu todas as ruas da cidade. A maquilhagem desbotava com a chuva que caía ferozmente naquela noite; eram as lágrimas dele.
Ela sujou o véu em poças de lama, e entrou em todos os bares da cidade, derramou lágrimas enquanto a maioria das mulheres da sua idade, derramavam vodka. Ela descalçou os saltos de 15cm e jogou-se no meio da pista. Ele descobriu que a amava. Ela descobriu que precisava de amar-se também. E dançou até os pés doerem e incharem. E deitou fora o anel com um diamante que reluzia a kms. O mesmo anel que ele colocara no seu dedo antes dela fugir.
Olhou o relógio: 01:30. Ressuscitou. Lembrou-se que o rebelde ainda a esperava no altar e abandonou a festa. Percorreu a calçada da vergonha com os saltos na mão direita e o ramo quase murcho na mão esquerda. Dizem que ela voltou para os braços dele e casou naquela noite. Dizem que a chuva parou - porque as lágrimas dele cessaram. Dizem que ela foi feliz. Mas precisou descobrir que antes de precisar dele, precisava de si mesma.
Todos os anos na mesma madrugada de 8 para 9 de Fevereiro há quem veja o vulto da noiva percorrer a cidade sob a chuva e abandonar a festa à mesma hora.
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