A coisa mais assustadora na vida, é quando você, uma criança sorridente e inocente se quebra por dentro e toda cor e brilho em ti, some.

Me lembro o quão carinhoso e alegre era, fazia caretas, cantava cantigas, dançava quadrilha, me divertia. Pulava, dançava, gritava, chorava… eu era tão inteiro.

Então, de repente um pedaço da minha alma se foi junto com minha avó materna, a melhor avó do mundo, ela gritava, era brava e mandona, mas o calor de alma que ela me passava era único… Para acrescentar no frio, meu pai passou a beber e minha mãe, com 19 ou 20 anos, imatura, descontava a dor e as brigas em mim, com as surras que eu levava de minha mãe, e ela de meu pai, foi mais um pedaço de mim.

Agora, timido, medroso e inseguro, não fazia amigos no ensino fundamental, todos riam e brincavam… Eu não, pegava meu lanche, comia, e ia para sala, não tive amigo de infância, mas tive ao menos colegas...Que se foram com outro pedaço do meu interior.

Na confuçao da adolescência, me descobrindo gay ao mesmo tempo que minha mae enfrentava a traição do meu pai, foi o maior sufoco, a dor se instalou em mim e tomou tanto espaço por guarda-la por dentro que esmagou outros pedaços de mim.

Decidimos que deveríamos seguir a Deus, não que eu com 10 anos tivesse a mente formada, mas a mudança drástica de costumes me chocou… Ainda mais graças ao filho do pastor, que meu melhor amigo de tornou… Mas o que eu sentia era amor e isso durou. Um, dois, tres anos… Ate hoje… Algo nunca cofessado, um sentimento não correspondido que escondido se alimentou dos pedaços da minha alma…. A esse ponto estava perdido.

Então no ensino médio conheci minha primeira melhor amiga, que me tirou do tal “armário” mas me levou para o inferno… O inferno na minha casa, as brigas, a rejeição, as críticas, os xingamentos… Tudo isso me esvaziou a alma, mas a pior dor não foi eu agora estar vazio... Foi ver a dor de minha mãe, e era eu que causava aquilo, enlouqueci, me rejeitei… Ser nojento, abominável. Isso me levou aos cortes, que me faziam ser chamado de otário, logo depois o isolamento.

Era apenas eu e minha melhor amiga, todos se afastaram, e logo depois a família também não me queria, fui mandado diversas vezes embora graças ao que eu sentia. E um dia, eu fui... Mas passei poucos dias na casa dessa amiga, meus pais abriram os olhos e viram que não era uma doença que eu tinha.

Eu voltei, mas minha alma não.

Eu já nada sentia, e isso piorou quando vi a partida, da que se dizia minha melhor amiga. Minha força, meu pilar, de longe eu via…. Por fim, sem ninguém eu voltei para o garoto medroso e timido.

Sem amigos, sindrome do pânico, depressão e o vazio em mim que insistia.

“A vida não tem sentido”

Vida dentro de mim ? Ja não existia. Foi então que tomei a decisão. Eu me mataria

Mas eu precisava escrever isso para a vida.

“Eu queria viver, insisti, mais amiga, até você não me queria”

Carta para vida
-Suicida