Expressão Psicopata escrita por AndyJu


Capítulo 8
Maioridade




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—Você está entendendo algo??

Andy e Júlia estão sentados embaixo de uma árvore no pátio do orfanato. Não conseguem entender como o orfanato ainda estava inteiro, nem como aquelas pessoas estavam vivas. Teria sido tudo uma ilusão do espírito de Edgar? Era o que Andy pensava enquanto conversava com Júlia. Ela o responde:

—Não. Não consigo acreditar que o orfanato não pegou fogo. Sabe aquele menino no balanço? Eu vi ele  sendo esmagado por um pedaço de concreto. Nós vimos tudo aquilo acontecer!

—Acho que tudo isso foi uma ilusão do fantasma. Ele parece que está brincando com a gente.

A diretora do orfanato chama os dois para a sua sala. Ela diz:

—Bom, eu não sei o que deu em vocês para terem cometido tamanho erro, mas não vou culpá-los tanto. Deveriam ter voltado ontem mesmo. Fiquei sabendo que aquele homem com quem vocês saíram foi preso! Vocês não têm noção do perigo? Espero que não se envolvam mais em problemas, senão vou ter que dar um castigo em vocês. Estamos combinados?

—Sim... –As crianças respondem simultaneamente, de cabeça baixa. Depois da breve conversa com a diretora, Júlia e Andy vão para o pátio. Júlia comenta:

—Olha, eu sei que disse que iria até o final dessa história, mas eu não sei mais...

—Se você não quiser me acompanhar, eu entendo. São coisas sobrenaturais, sim, e são perigosas. A gente ainda é criança, temos muitas coisas para viver, só que em minha vida já aconteceram muitas coisas, e o que eu quero fazer agora é justiça pelos meus pais e impedir esse fantasma de matar mais pessoas.

—Como você vai saber quem é o próximo alvo dele?

—Até agora ele matou meu pai, a família do delegado que investigava o suicídio do meu pai, minha mãe e teria matado as pessoas desse orfanato. Parece que ele quer matar pessoas próximas a mim, então poderia ser o detetive que me trouxe aqui, o Jhonny ou...

O garoto faz uma pausa, olhando para o chão.

—Ou você...

Andy começa a se sentir triste. O fato do fantasma agir como uma maldição sobre ele o incomodava muito, mas ele não se sentiu tão culpado quando citou Jhonny. Talvez ele estivesse começando a criar sentimentos por Júlia. Andy olha para a garota, ao seu lado, e diz com a voz firme:

—Eu não vou deixar esse monstro atacar você, eu vou te proteger.

Júlia fica alguns segundos sem reação, e logo após começa a rir baixinho.

—Você começa a tremer e mal consegue se mexer quando ele aparece!

O garoto fica corado de vergonha e sem ter o que dizer. Realmente não sabia o que faria se o fantasma aparecesse novamente. Mesmo sabendo da sua situação, Andy respondeu:

—N-não importa, eu vou tentar!

Júlia apenas sorriu. As crianças ficaram conversando e brincando pela manhã, tentando esquecer das coisas surreais que tinham acontecido. Ao meio dia, o sinal toca, e todos vão almoçar. Tudo está normal, nenhum ataque, nenhuma morte, nada. As coisas continuam assim por dois meses.

Passaram-se exatos 5 anos desde a morte do pai de Andy. Neste dia, Andy vai ao cemitério deixar flores no túmulo do seu pai, e também no da sua mãe. Ele convida Júlia para ir junto, e ela aceita. Depois de dois meses sem saírem do orfanato, os dois chegam ao cemitério. Andy deixa as flores junto à lápide. Júlia, que também havia trazido flores, faz o mesmo. Andy diz:

—Júlia, eu sei que você não quer mais me acompanhar nessa investigação, então...

Júlia o interrompe:

—Eu não disse que não queria mais. O que eu disse foi que eu não sabia se queria. Toda essa história é confusa demais... Saber que a qualquer momento posso ser atacada por esse menino não me deixa dormir direito, por isso eu sempre peço calmante para o enfermeiro. Eu queria poder dormir tranquila, mas para isso precisamos saber tudo a respeito desses casos e como “matar” o fantasma.

Júlia olha fundo nos olhos de Andy, continuando sua fala:

—Você decide agora. Se quiser, eu vou com você até o fim, de verdade. Se não, eu nunca mais toco no assunto.

Andy não sabia o que dizer. Ele sentia que Júlia queria justiça pela morte dos pais, mas ele também queria protegê-la. Seria difícil não falar sobre esse assunto, principalmente se o fantasma de Edgar aparecesse.

—Então vamos até o fim. Eu não desisti do caso e nem vou desistir, só quando esse espírito maldito for embora e ninguém mais morrer.

Júlia esboça um leve sorriso. Uma brisa começa a surgir, fazendo os cabelos da garota levantarem um pouco. Andy observa o rosto da menina, admirando seus brilhantes olhos azuis. Ele também sorri.

De volta ao orfanato, Andy vai ao seu quarto. Ele coloca os documentos que Jhonny tinha cedido a ele em cima da mesa, relendo-os várias vezes, tentando encontrar alguma coisa que ele não tinha percebido.

—Droga, está tudo perdido... Não tenho nenhuma pista que me leve ao assassino, e Jhonny foi preso... A testemunha de 1950 está no hospício, mas não tenho ninguém que possa me levar até lá... Tenho que me contentar com o que sei até agora, e pensar mais sobre esses documentos.

Depois de ler mais uma vez os documentos, o garoto começou a pensar nas coisas que haviam acontecido com ele. Talvez pudesse descobrir algo que não havia percebido.

—Hum... Pensando bem, quando eu tinha seis anos eu peguei o bilhete no chão e não morri, nem me machuquei... A minha reação ao vê-lo pela primeira vez foi segui-lo. Acho que ele queria que eu ficasse com medo, mas eu não fiquei. Eu peguei o urso e o bilhete, e fiquei feliz com o urso. Será que ele achou que meu carinho pelo urso de pelúcia era por ele? Talvez ele tenha sido uma criança que não recebeu carinho dos pais e nem de amigos... Ah, e ainda tenho que descobrir o que essa chave abre. Até agora não achei nenhuma sala ou móvel trancado aqui no orfanato. Espero que a Júlia me ajude.

Várias semanas se passaram, horas de investigações pelo orfanato, e nada de anormal. Andy começou a se focar mais nos estudos no que na sua investigação, já que não tinha mais como descobrir coisas novas. Passava todos os dias conversando com Júlia, sobre os casos e também assuntos variados, e descobriu que a garota também lia bastante. Assim, tinham muitos assuntos para conversar, o que fez eles se aproximarem bastante, se tornando melhores amigos. Agora Andy já tinha total confiança nela e vice-versa. Ainda não haviam encontrado o que a chave abria. Andy continua suas investigações, pesquisa sobre espíritos na internet, conversa com funcionários e com outras crianças do orfanato, conversa até mesmo com adultos que vinham ao orfanato para adotar. Durante todo esse tempo, nada havia acontecido. Anos se passaram, Andy levava uma vida normal no orfanato. Aos 14 anos ele e Júlia começaram a namorar. Um relacionamento bobo, uma paixão alegre, sem muitos problemas. Apesar de tantos anos se passarem, eles ainda não haviam desistido dos casos da Expressão.

Hoje é o aniversário de 18 anos de Andy. Finalmente poderia sair do orfanato, iria morar com Jhonny, que já tinha saído da prisão há dois anos. Júlia ainda tinha 17 anos, teria que esperar até o próximo mês. Acontecia uma grande festa no orfanato, em comemoração à maioridade de Andy. Todos se despedem do garoto, agora um homem. Ele enche Júlia de beijos, dizendo:

—Nossa, nem acredito que já posso sair daqui! Vou poder trabalhar, visitar a biblioteca, falar com aquele velho pervertido, morar com o Jhonny por enquanto e finalmente poder investigar os casos com mais liberdade!

—Sim, agora que você vai sair não vou poder te ver todos os dias, vou sentir muita saudade... Mas você tem que vir me visitar toda semana, certo? E ligar todos os dias!

—Não precisa nem pedir, eu vou vir com certeza!

O rapaz entra no táxi, se despedindo da Júlia, das outras crianças e dos funcionários, pensando: “Não achei que iria sentir tanta falta do orfanato, esses anos foram muito bons para mim e consegui aprender muitas coisas... Vou passar na casa do Jhonny e dar um oi”.

Ele sai do táxi na frente da casa de Jhonny, mas percebe uma placa onde está escrito “Vende-se”.

—Ué, como assim? Ele não foi solto? Será que se mudou?

Uma senhora se aproxima, perguntando:

—Desculpe, você é Anderson Mendes?

—Sim, sou eu mesmo, por quê?

—Jhonny deixou uma carta para você, dizendo para eu prestar bastante atenção no dia de hoje, que você poderia passar a qualquer momento. Eu moro bem aqui na frente, percebi o movimento e pensei que pudesse ser você mesmo.

—Ah, sim. Muito obrigado!

A senhora volta para sua casa, Andy começa a abrir a carta, ansioso para ter notícias do seu amigo.

“Se você estiver lendo isso, não se preocupe, não vai ler nada de ruim. Decidi escrever esta carta para você saber que estou bem. Me mudei para um apartamento na cidade grande, aqui consigo ir em eventos de tecnologia que são minha paixão, estou muito feliz, até consegui trabalho em uma empresa grande! Nada mais de sobrenatural aconteceu comigo, ainda bem. Bom, é isso, espero que você e a Júlia estejam bem, algum dia venha aqui me visitar, ou quem sabe eu vou ai. Abraços do seu amigo Jhonny.”

—Ufa, ainda bem que  ele está bem... Mas agora onde eu vou morar?? Com meus tios não vai dar, um deles é bêbado e a outra é drogada, não tem como eu morar lá. Vou ter que ver minha antiga casa, talvez eu consiga fazer um barraco... Ou ir para um abrigo. Quando eu conseguir trabalho eu vou poder viajar para a cidade grande e morar com o Jhonny.

Enquanto pensava em voz alta, um carro preto se aproxima lentamente, com a janela se abrindo. Era o Sr. Melo, o homem mais rico da cidade. Era um idoso, mas tinha a saúde em bom estado. O carro era simples, um modelo popular. Sr. Melo não gostava de demonstrar sua riqueza. O senhor coloca o rosto na janela e conversa com Andy:

—Opa, vejo que você chegou bem até a antiga casa do seu amigo. Gostaria de falar com você, está ocupado?

—Claro que não, o que deseja?

—Entre aqui no carro, garoto. Vamos para um bar!

Andy entra no carro, estranhando aquele senhor rico querer conversar com um órfão sem-teto como ele. No carro, eles conversam sobre as mortes dos pais do garoto. Sr. Melo diz que tem uma surpresa para o garoto. Eles chegam em um bar em seguida. Andy pede um suco de laranja, e o Sr. Melo pede um café.

—Bom garoto, você sabe que sou o homem que mais investe nessa cidade, tenho 93 anos e ainda me sinto jovem, haha! Mas agora vamos conversar sério. Você se lembra daquele detetive que te levou ao orfanato quando você tinha 11 anos?

—Sim, eu lembro, por quê?

—Ele investigou o incêndio que infelizmente levou sua mãe, mas não conseguiu encontrar a fonte do fogo. O mais provável é que alguém tenha cometido um crime, já que sua mãe estava em vários lugares... Desculpe-me por lhe trazer más lembranças. Eu senti que alguém precisava te contar isto, e ninguém melhor do que eu.

—Por que você?

—Eu era o pai do detetive. Sim, eu era. Ele faleceu.

—Ah... Eu sinto muito... Por acaso foi um assassinato? –Andy pergunta na esperança de que possa ter alguma pista sobre o fantasma.

—Não, ele se suicidou com um tiro na cabeça. Encontraram um papel, como se fosse um bilhete de despedida. “A expressão da vida é uma porcaria”, estava escrito. Era como se ele tivesse desistido da sua profissão, a maneira como ele expressava a própria vida, desvendando mistérios, e não tivesse mais motivos para viver. Mas bem, voltando ao assunto da surpresa. Meu filho investigava o seu caso. Eu fiquei muito triste com a morte dele. Eu não era muito ligado a ele, e achei que dar uma lida nos casos que ele investigava me faria sentir mais próximo dele. Então eu li o seu caso. Eu sei como é triste perder os pais, eu passei por isso, mas eu tive meus tios. Seus tios infelizmente não são os mais indicados para viver com. Eu esperei até o dia de hoje, seu aniversário, aliás te desejo felicidades, e então circulei pela cidade nos pontos onde você poderia estar quando saísse do orfanato. Pelo visto você está sem casa agora, estou certo?

—Sim, mas eu posso ir para um abrigo, não tem problemas. Quando eu conseguir meu próprio dinheiro vou me mudar para a casa do meu amigo.

—Não precisa mais. Eu mandei reformarem sua antiga casa, pois você merece viver em um lugar decente. Eu tenho dinheiro sobrando, não me contenho em fazer boas ações, então você pode ir para sua antiga casa agora! Ela está bem diferente do que era quando você morava lá, comprei eletrônicos de última geração para você viver bem, coloquei câmeras de segurança, e tem uma sala especial com várias estantes para você ler bastante. Aliás, tem alguns livros raros, você vai gostar!

Andy ficou sem palavras. Sabia que o Sr. Melo era um homem de grande coração, que investia na saúde da cidade, comprava remédios para pessoas carentes e fazia várias caridades, mas não esperava que ele lhe desse uma casa, e uma casa mobiliada. O rapaz sorriu, ainda não acreditando no que havia escutado.

—E-eu não sei como agradecer...! Muito obrigado, muito obrigado mesmo, Sr. Melo! Você é uma pessoa muito boa, devia poder viver por mais 93 anos!

O velho senhor ri, bebendo seu café. Ele pergunta para o rapaz:

—Vamos lá agora ver como ficou sua casa?

Andy bebe todo o resto do suco em um só gole, animado.

—Vamos!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Em breve mais capítulos! Obrigada a todos que comentaram e pediram continuação, estou escrevendo todos os dias!



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