Expressão Psicopata escrita por AndyJu


Capítulo 13
Molo




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O espírito levanta sua mão lentamente, em direção ao rosto da garota. Com a outra mão, ele aponta para o urso Molo, trazendo-o para perto de si. Júlia também estava impossibilitada de se mover. O espírito iria fazer com Júlia o mesmo procedimento que fizeram com ele. Andy, desesperado, começa a gritar o mais alto possível, para que Jhonny ou alguém próximo do local viesse salvá-los, mas o alçapão estava fechado. Ninguém podia ouvir os gritos. O fantasma ri perversamente, se sentindo mais poderoso perto do único objeto que o ligava a este mundo. Andy e Júlia tentam, inutilmente, se mexer. Uma faca enorme surge na mão do espírito. O casal se assusta ainda mais. Júlia implora para o fantasma não fazer nada, Andy grita por socorro, cada vez mais alto, enquanto o fantasma aproxima lentamente a faca do braço direito da garota. Em um movimento rápido, Edgar corta o braço da garota, cortando ainda o osso com movimentos repetitivos. Ela urra de dor, Andy grita um tremendo “não”, os dois com os olhos cheios de lágrimas. Júlia chora de dor e Andy de desespero. O braço dela cai próximo aos pés de Andy, que tenta aflitivamente se soltar do poder do fantasma, não podendo suportar o que ele estava fazendo com a pessoa mais importante para ele. O fantasma puxa o braço do ursinho Molo, rasgando-o, então com uma agulha e linha que surgiram sabe-se lá de onde, o espírito começa a costurar o bracinho do urso no que restou do braço de Júlia.

Andy gritava desesperadamente, assim como Júlia, tanto que mal perceberam que o fantasma estava com os braços normais, diferente de como ele fora morto, mas ele podia criar ilusões. Quando Andy lembrou-se disso, ele não conseguia saber se o que estava vendo era de fato realidade ou uma ilusão. O fantasma não mataria jovens como Júlia, apenas adultos com filhos, seguindo o seu padrão. Tudo na cabeça do rapaz estava confuso, ele via Júlia sofrendo e não conseguia distinguir o que era real. Ele só sabia que deveria queimar os restos do antigo urso e ninguém mais sofreria. Mas ele não podia se mexer. O fantasma estava lá, imobilizando-o com seu poder, enquanto torturava Júlia. Ele penetrava a agulha da pele ensanguentada da garota e costurava o braço do ursinho nela, vagarosamente, enquanto a garota chorava e implorava para ele parar. O fantasma repete o procedimento no outro braço, Júlia já estava quase desmaiando de dor e pela perda de sangue. Andy chora e tenta se mover cada vez com mais força, mas não conseguia. A única coisa que conseguia mexer era o pescoço e a cabeça, mas isso não ajudava muito, apenas podia gritar. E gritava com todas suas forças. O chão já havia virado uma imensa poça de sangue, misturado com carne humana. O cheiro metálico infestava o local, que não tinha nenhuma janela, apenas frestas no alçapão. Quando o espírito já estava no último membro a ser substituído, a garota já não gritava mais. Ela estava desmaiada, mas o rapaz ainda gritava desesperadamente. O fantasma ri cada vez mais alto, costura a perna do ursinho na garota, chega bem perto de Andy e diz para ele, com sua voz horripilante:

—Agora vem a melhor parte! Eu vou tirar os olhos dela e costurar esses botões do seu ursinho!! Ela vai morrer logo que essa faca perfurar o cérebro dela!

Andy junta toda sua raiva e ódio acumulados de tanto sofrimento que o fantasma o fez passar, toda sua angústia e todas suas perdas, de todas as pessoas que o fantasma matou, ainda com o desespero de ver a pessoa amada sendo torturada bem diante dos seus olhos e não poder fazer nada, então força todos os músculos do seu corpo a se moverem, gritando, conseguindo quebrar a imobilização do espírito, e num movimento rápido pega a chave que estava no chão, sujando suas mãos com o sangue de Júlia ao fazer isso. Com sua mão trêmula, encaixa a chave na fechadura do baú e gira, abrindo-o. Imediatamente ele pega o isqueiro e o corpo do urso que estava no baú, colocando fogo no velho brinquedo, tudo isso em pouquíssimos segundos. O espírito, que estava com a sua faca já encostando no globo ocular de Júlia, larga o objeto e começa a se afastar. Uma chama surge nos trapos velhos do fantasma, começando a queimar seu corpo. O fantasma grita, desesperado, um “não” misto de dor e decepção. O fogo consome todo o espírito, então desaparece. O urso no baú ainda pegava fogo, junto com o próprio baú onde ele estava. Júlia, que estava imobilizada na parede, cai no chão. Andy corre, chorando, para ver se ela ainda estava viva.

—Júlia!! Júlia, acorda! E-ele se foi! Ele já foi embora!!

O corpo da garota estava estirado no chão, seus membros espalhados pelo local, o sangue estava por todo o solo, e ela desacordada. Andy checa os batimentos cardíacos e a respiração, mas não sentia nada. Angustiado, ele faz massagem cardíaca e respiração boca a boca na garota, mas não consegue reanimá-la. Ela havia perdido muito sangue. Estava pálida e com os olhos arroxeados, um pouco vermelhos. Tudo indicava que não havia nada que ele pudesse fazer. O garoto abraça o que havia restado de Júlia, lamuriando, derramando-se em lágrimas que se misturavam com o sangue no chão. Não podia aceitar tudo isso. Sofrera demais por toda sua vida, havia perdido o seu pai, depois sua mãe, tinha visto coisas horríveis acontecerem no orfanato e sofrido à toa por ser uma ilusão, e agora a única pessoa que ele amava que ainda estava viva, morreu. Todos morreram por causa de um sacrifício desumano. O fantasma tinha razão de estar revoltado, mas era psicopatia matar todos os descendentes de quem não fez nada para impedir sua morte. Andy não podia se conformar com essas coisas. Ele urra e chora, se pergunta por que tudo isso tem que acontecer. Não era culpa dele seu avô ter sido uma pessoa horrível. Não era culpa dele aquelas pessoas não terem feito nada contra o sacrifício. Por que Edgar precisava fazer isso? Não era suficiente ter matado apenas o sacerdote? Precisava humilhar e destruir com a vida de várias pessoas? Precisava ter torturado a mulher que ele amava? Andy pensa em todas essas coisas, inconformado e extremamente triste. O fogo se espalhava por todas as caixas e baús do local. Andy avista uma arma jogada no canto do abrigo. Ele vai até a arma, junta ela do chão e confere se está carregada. Sim, ela tinha balas. Andy também pega o que sobrou do seu urso, Molo, tentando entender por que o urso aparecia, se não era o fantasma que controlava ele. Mas não há mais por que pensar nisso. Não tinha motivos para se preocupar com isso. Tudo na sua vida deu errado. Todas as pessoas que ele amava e admirava estavam mortas. Andy diz, em meio a soluços:

—Não preciso mais viver... O que eu vou fazer da minha vida? Não tenho mais meus pais, não tenho mais a Júlia... Não tenho motivos pra continuar vivo! Eu não quero viver assim... Se eu pudesse voltar no tempo e matar esse fantasma desgraçado antes dele ter matado meus pais... Todo mundo poderia estar vivo agora! Mas que desgraça, por que toda essa imundície tem que acontecer?!

Andy se lamentava e soluçava. Estava decidido a tirar a própria vida. Ninguém descobriria mesmo, já que o incêndio dentro do abrigo estava se espalhando. Ele destrava a arma e aponta ela para sua cabeça. Com o outro braço, segurava Júlia. O que restou de Molo estava no chão, próximo à garota.

—Eu vou ir para onde vocês estão!! Júlia, eu vou ficar com você pra sempre!!

O garoto aperta o gatilho. O corpo de Andy cai estirado no chão, na enorme poça de sangue, por cima do urso Molo. O urso faz uma expressão triste. A alma do garoto estava consciente. Ele pensa:

—Se eu pudesse voltar... Eu poderia salvar todos... Eu poderia viver com a Júlia anos e anos...

Ele não conseguia ver nada, apenas uma escuridão. Preto total. De repente um vulto claro. A imagem de uma floresta começava a surgir em sua visão, junto com um brilhante urso que some em segundos. Ele estava escorado em uma árvore, e tudo parecia enorme. Andy olha para o chão, muito próximo aos seus olhos. Ele vê seus pés e se assusta. Não consegue entender. Seus pés são de pelúcia. Ele percebe que suas mãos também o são. Ele tenta falar algo, mas não consegue. Não sente sua língua, nem sua garganta. Mal consegue se mover. Sentia a chuva molhar seu corpo, que ficava pesado.

“Eu sou um urso? Um ursinho de pelúcia, é sério isso?? Aquele deus... Artaius, ele que fez isso comigo?”

Quando Andy percebe, um homem vem correndo na sua direção. Ele podia ouvir, mas uma pedra enorme estava atrapalhando sua visão. Ele ouvia uma voz familiar:

—Vá embora, garoto! Me deixe em paz!!

“Não pode ser! Esse... É o meu pai!”

O homem se esconde atrás da pedra, olha para os lados e então segura o ursinho.

—Mas que diabos... Um ursinho de pelúcia... Nesse mato...?

Andy fica extremamente feliz em poder ver seu pai de novo. Ele sorri. A sua boca de urso também sorri, e o pai de Andy se assusta. Atrás dele está o espírito de Edgar. Andy observa tudo o que passou com seu pai naqueles anos, sendo ele próprio aquele urso. Mesmo tentando se mover, a água da chuva pesava seu pequeno corpo. Ele não podia nem mesmo falar. A única coisa que poderia fazer era sorrir ou ficar triste. Ficou horrorizado vendo a cena de seu pai se enforcando, agonizando com o sufocamento. Ele poderia ter salvo seu pai se ao invés de sorrir simplesmente ficasse sério, o que não o assustaria.

Ao ficar completamente seco, Andy começa a se locomover. Era difícil, já que seu corpo era leve e diferente do que estava acostumado. Não tinha ossos, mas podia sentir seu corpo. Aos poucos foi percebendo sua nova habilidade: teletransporte. Conseguiu usar essa habilidade para ir ao pátio do delegado Jhonatan. Lá, Andy descobre sua outra habilidade: ilusão. Ele se sentia como o fantasma de Edgar, mas concretizado e sem ser psicopata. Estava decidido a se ajudar e ajudar sua família e amigos, iria fazer o possível para que ninguém morresse. No pátio do delegado, Andy transforma seu corpo. Fez-se um ursinho novo, até cheiroso, para ficar com ele mesmo do passado, se tornando o seu melhor amigo de infância: Molo.


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Notas finais do capítulo

Bom, esse é o final! Espero que vocês tenham gostado de Expressão Psicopata, talvez eu escreva mais histórias nessa temática... ou quem sabe uma continuação?



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