Existem infinitos motivos que me levaram a esta escolha e eu, de certo modo, já tinha me conformado. Para mim, isso não seria um ato tão complicado, afinal, me preparei por anos para este momento e cada minuto já havia sido cuidadosamente planejado. Com 13 anos eu já tinha a certeza de que não haveria ninguém para me impedir e com 23 eu ainda tinha essa certeza. Há dez anos eu considerava o suicídio um ato covarde e foi por esse motivo que cheguei até aqui. Eu não me sentia covarde, eu não queria ser covarde. Mas agora, no auge da minha juventude, percebi que covarde são todos aqueles que morrem sem tentar, sem viver. Sendo suicídio ou não. E foi nesse momento que eu decidi me dar um prazo.

Por dez anos eu tentei encontrar outra saída, algo que me levasse a cogitar uma segunda opção. Só que tem um momento que você percebe que não há uma segunda opção. E quando aquilo que você esperou a vida toda aparece e te mostra que há sim outra saída o tempo já se esgotou. Quanto mais eu corria dos meus pesadelos, mais adentrava o labirinto do medo. A cabeça dói e você perde a certeza de quanto tempo mais irá aguentar. Eu estava presa dentro do meu próprio mundo. O mundo que eu criei. Perdida nas consequências de meus atos. Eu não me arrependeria se ele não estivesse aparecido em minha vida. Nico Di Angelo, tudo que minha vista embaçada me permitiu ler no jaleco branco do doutor de cabelos negros a minha frente. Minha outra válvula de escape e o único homem que amei enlouquecidamente mesmo que por poucos segundos, o médico que tentou ser mais rápido que meu metabolismo e drenar todas as pílulas e álcool do meu corpo. Eu tinha planejado tudo, cada detalhe. E isso definitivamente não estava nos planos. Eu estava ciente de tudo, pronta para morrer por escolha própria, mas ele invadiu meu subconsciente e me fez mudar de ideia. Pena que era tarde de mais e eu morri sem querer como todas as pessoas.