Take Care escrita por RobinCormoran


Capítulo 1
Heart Breaking


Notas iniciais do capítulo

Calma, o primeiro capítulo vou mostrar a personagem, e no próximo o Tony e assim vou alternando. Sugestões, mandem mensagens!
Recomendo Big Girls Cry da Sia!



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O dia não foi nada fácil. Mais um dia. Eu não sabia quanto tempo poderia suportar. Quebrada, derrotada, destruída. Minha mente repassava tudo o que eu fiz. Do que adiantava ter dinheiro? Tudo o que eu precisava ter, que podia ser comprado, eu tinha. Amigos? Vamos dizer que eu era o antissocial disfarçado de ser humano. Uma máscara plausível para fechar negócios e administrar empresas. Eu necessitava unicamente abrir os olhos, uma boa toalete, um traje social, scarpins, maquiagem e um sorriso agradável. Um noivado que agora me enojava com um prato de comida cheio de bolor. Minha família que ultimamente andava desarmonicamente. E eu sozinha, como uma criança indefesa.

Minha vida era um quebra-cabeça em que certas peças eu acho que ocultei em algum lugar no meu inconsciente.

E para fechar o 'excelente dia', um 'incidente' no meu escritório.

A tarde de sol em Nova York parecia querer castigar todos pelos pecados da vida alienada e consumista desenfreada. Os homens, sempre com pressa, tinha expressões dolorosas e as faces suadas. As mulheres, riam, abanavam-se, entravam e saiam de lojas e sorveterias. Andavam rapidamente pelas ruas com sombrinhas, leques, bonés e chapéus antiquados, que provavelmente minha avó materna Helena acharia de mal gosto e sugestionaria a todos consultarem cursos de moda em Paris. Ela era dona de um ateliê muito famoso na Europa e sempre recriminava o estilo americano de se vestir.

As três horas da tarde, para minha surpresa, muita gente estava fora dos arranha-céus. Eu mesma pouco me atreveria a sair para fora. O sol poderia me matar se eu ousasse recrimina-lo, pois ali fora, teria absoluta certeza que minhas coxas suariam e o calor me causaria um mal-estar. Andar de terninhos justos em dias quentes sempre me foi desfavorável.

Meu escritório me confinava em seu prazeroso conforto. O ar-condicionado estava muito agradável. O sofá de couro era convidativo para um descanso. Minutos antes de entrar nestes devaneios olhando as ruas, estava conversando com um sócio chinês. Quarenta minutos convencendo-o sobre a alta da inflação, resultados dos seus investimentos e compras de ações. Os frutos-do-mar que eu comi no almoço reviravam-se no meu estômago enquanto forçava meu cérebro a lembrar um mandarim que há muitos anos aprendi e pouco usei.

Por fim, ele pareceu ceder as minhas palavras e pude sentir ele mais suave e me agradeceu. Desliguei a chamada, para em seguida, puxar o telefone do gancho e pedir um chá a secretária. Minha enxaqueca dava seus primeiros sinais de alerta.

Como de costume, me levantei do ‘trono’, ou a velha cadeira de couro que meu pai ostentava há 50 anos e fui para imensa janela. Não sei, mas estava em um dejavú. Podia sentir o fervor do asfalto, uma brisa quase apagada do vento, os risos, conversas, as misturas de perfume da mesma forma como em 18 anos atrás, quando eu um pequeno saco de ossos e cabelos dourados como um campo de trigo e bochechas avermelhadas, correndo com alguns colegas após as aulas para uma sorveteria italiana existente entre as lojas, que agora deu lugar a um pub de riquinhos petulantes. Meu noivo fazia parte desse grupo insolente.

Meu noivo! Oito anos antes, eu olharia para minha mãe achando de extremo mau gosto as tentativas dela de me causar alguma simpatia pela ideia de casamento. Ela comprava revistas e catálogos de festas, vestidos e penteados, e com uma voz enjoada e doce, me perguntava se eu não havia gostado de um modelo, que tal cor combinaria mais, que preferiria a festa na praia, ou no campo ou qualquer coisa quixotesca e comum. Quando fiquei noiva por um motivo que eu nem sei, só faltou fazer o vestido e deixar pronto no meu antigo quarto, pois há algum tempo não moro mais com ela. Agora que o noivado se arrasta por longos cinco anos, toda a magia parece ter se esvaído e minha mãe apenas comenta nos jantares alguma novidade baseada em cerimônias de amigos do meu irmão ou do meu pai.

Meu noivo é Alexander MacGonagall, ele tem 32 anos, mas a futilidade e irritabilidade de um garoto de 17. Ele é administrador principal de uma editora de revistas do pai dele, a Fashion!. Mas ele pouco faz pela empresa, gasta quase todo o salário em roupas, passeios ou carros novos, pois o restante é descartado nos cassinos de Las Vegas, nos divertimentos dele aos finais de semana. Eu o chamo de Sander, por mera facilidade, pois me cansa falar, não por ser um apelido de namorada, afinal nosso namoro não tem nada de namoro. Intimidade é uma das peças que eu devo ter excluído do meu HD.

Alexander é alto, loiro, olhos amendoados e esverdeados. Fisicamente ele está em forma e faz parte de um clube de golfe. Adora ficar exibindo os troféus, desde quando ‘Ele tinha 10 anos e fez uma tacada arrasadora no antigo parque de 'DizzyVille’, lugar esse que eu nem sei onde é, pois antes dos 18 anos, ele morava em outra cidade, bem no interior com a mãe. Os pais tinham um relacionamento difícil e esquisito. Às vezes, eu imaginava que o meu seria igual. Em cinco anos, estaríamos morando em casas separadas, ligando apenas para informar sobre as contas e lista de supermercado e empurrando os filhos, se tivéssemos, de lá para cá, como um jogo de vôlei.

O chá chegou e eu senti o cheiro de gengibre e mentalmente o elegi como o melhor aroma existente no planeta. Um golpe para minha consciência voltar. A secretária colocou a bandeja suavemente ao meu lado. Agradeci, e ela como um esquilo assustado se retirou. A verdade é que eu era um monstro rígido e implacável. As pessoas não sentiam apenas medo quando estavam por perto.

A porcelana chinesa pesava nas minhas mãos, mas não tanto quanto minha mente. O vapor do chá dançava com o turbilhão de coisas que eu tinha em mente. Eu tinha um jantar na noite de amanhã que eu pouco sentia vontade de estar presente. De manhã o salão de beleza confirmou a vaga e antes do almoço, no dia seguinte eu iria a loja de vestidos experimentar algo. Meu pai, desde a semana passada me pressionava e rogava para eu ser educada com os convidados, que suponho eu, eram amigos dele e toda aquela chatice.

Ser sociável nunca foi meu prato predileto. Não por vontade própria. Sou muito grosseira e mal-educada normalmente, o que faz com que eu magoe muita gente. Mas é o meu gênio pesaroso, meu carma, coisas que por mais que eu frequente Le Centre Mademoiselles como minha avó adora provocar, é impregnado, com um perfume vagabundo que não sai das camisas.

Ouvi duas batidas curtas e singulares, que reconheci com de Joanna, a secretária.

— Pode entrar!

Ela mal abriu a porta e foi empurrada bruscamente pelo o meu lindo e perturbado noivo.

— Quero que você saia comigo hoje!

A secretária bateu a porta.

O tom autoritário dele era algo que eu estava tão acostumada quanto a minha dor crônica no joelho direito.Ergui a sobrancelha e percebi sua expressão visivelmente alterada. A pele estava corada e suada e os cabelos desgrenhados. Um cheiro de uísque invadiu minhas narinas.

Se eu tivesse ficado mais alguns minutos olhando a rua, poderia ter visto ele saindo do barzinho asqueroso. Passei as mãos no cabelos. Estávamos afundando e não tinha escapatória. Ergui a sobrancelha novamente e disse:
— Sabe que eu...

— Não quero saber de nada, ouviu?! Faz meses que você tem as mesmas desculpas! Quanto tempo faz que jantamos juntos? Nem lembro quando dormi com você!

Suspirei irritada e me levantei, puxando o terno mais junto de mim, como uma capa protetora.

— Amanhã temos um jantar ou a bebida já afetou seu cérebro por completo?

— Não quero saber de amanhã, quero hoje! Você vai sair da porra desse escritório e vai para sua casa colocar o vestido bem curto e um batom bem vermelho nessa sua cara e vai começar a agir com minha namorada! Ou melhor como a minha vad...

Paff!

Mal raciocinei e minha mão foi de encontro ao rosto endurecido de Sander. Eu não era essas coisas de forte, mas a ira foi tão grande. Todo o meu fluxo sanguíneo deve ter ido para os meus dedos, que deixaram uma marca avermelhada na bochecha dele. Seu rosto virou e mechas aloiradas se moveram. Abri minha boca em pavor e espanto, afinal nunca bati em ninguém. O ódio passou em seus olhos como um brilho de uma lâmina afiada. Ele mostrou os dentes e veio para cima de mim. Sai para trás e esbarrei em uma cadeira.
— Parece que você está querendo adiantar! Um pouco selvagem não?! Porque eu não arranco essa sua saia e vejo qual a cor da sua lingerie, hein, baby?!
Gritei e ele voou literalmente pra cima de mim. O tapete de lã me pareceu uma armadilha e a sala se tornou algo escuro e assustador. Atrás de mim uma estante de livros e na minha frente um Sandor irreconhecível e ensandecido. Peguei meu telefone, como num fio de esperança e ele tentou tomar de minhas mãos. Em outro reflexo, a raiva veio e eu bati o aparelho com toda força na sua cara e algo surtiu efeito porque ele gemeu e colocou as mãos na cara. Olhei-o assustada e de ímpeto corri pra porta, pegando a bolsa no cabide e batendo a porta. Ainda ouvi ele gritando. Por sorte algumas pessoas estavam saindo para o elevador. Gritei para esperarem e eu senti que todo o sangue esvaiu do meu corpo. As pernas estavam fracas e moles. Podia estar mil vezes mais pálida e com uma horrível expressão morta. Estava escorada bem a porta e eu ouvia distante o zumbido da música clássica. Meu coração estava fazendo um show em batidas descompassadas e o ar parecia pesado demais para os pulmões. A porta seguiu fechada, e quando abriu, todos saíram marchando, sincronizados e inexpressivos.

Sai do gigante prédio zonza, confusa e com lágrimas querendo vir aos meus olhos. Minhas bochechas ardiam de vergonha. Olhei uma última vez e um desespero surgiu. Alexander poderia vir atrás de mim e fazer quem sabe, até pior do que a escabrosa cena da sala. Comandei meu corpo trêmulo para seguir para o outro lado da rua, onde logo atrás da joalheria fina havia um estacionamento. A empresa tinha o próprio, mas já tive a surpresa de ser assaltada 7 vezes, estava sem paciência de me sentar na cadeira de plástico velha da delegacia e contar a mesma estória ao delegado, como um pai que conta a mesma fábula pra filha repetidas vezes.

Andei pela rua desejando arrancar os malditos saltos e me odiando profundamente por ter acordado mais uma vez.
Após passar o cartão na catraca, corri para a BMW preta. Uma chuva se anunciava grandiosamente com trovões ensurdecedores. Assim que entrei, após me certificar de ter travado o carro, joguei a bolsa e tirei os scarpins violentamente e os joguei no carona. Os sapatos quicaram fazendo um barulho oco e eu deixei as lágrimas caírem, como uma represa estourando e inundando tudo. A chuva também se permitiu o deleite e caiu duramente na Nova York poluída e imunda. Imunda. Eu era imunda! Imunda! Imunda!

Após cinco minutos dramáticos, sequei o rosto, e liguei o carro. Sai cantando pneus, minhas veias implorando por mais velocidade. Chegaria a parte fria da cidade, se o trânsito permitisse, em 20 minutos. Minha casa ficava afastada. Era toda de vidro e protegida por uma densa floresta. Morria de saudades de casa. Quando chegasse me afundaria na banheira de água quente e me aninharia as cobertas grossas.
E aqui estou eu. Nas cobertas, morrendo lentamente em um choro interminável. A enxaqueca aumentou e tomei dois comprimidos de dipirona. Nem jantei. Acordarei com olheiras e um péssimo mau-humor, me achando covarde e fraca por ter chorado. Mas pouco me importa amanhã. Me estico e desligo o abajur que tenho ao lado da cama.

Amanhã é outro dia.

E amanhã, a forte e destruidora Ohannah estará de volta.


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Notas finais do capítulo

E ai, comentem please?!



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