Tudo de Mim escrita por Mi Freire


Capítulo 36
Aconteceu, mais uma vez.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/677337/chapter/36

A casa estava em total silencio aquela noite.

Meus pais tinham saído juntos para levar a Nicole em seu primeiro passeio pela nossa vizinhança.

Apesar de não ter nada para fazer, eu estava muito bem enquanto olhava para o teto do meu quarto e permitia que meus pensamentos voassem para longe.

De repente, ouço um bipe inesperado vindo do meu notebook. Corro até a minha escrivaninha e vejo que há uma solicitação de vídeo-chat do Lorenzo.

Clico em Aceitar o mais depressa possível.

— Oi. – Ele sorria abertamente. — Como vai a minha garota preferida no mundo todo?

Sorri de volta.

— Oi. Nossa... Que surpresa!

Desde aquele nosso pequeno desentendimento em nossa última conversa por vídeo-chat não nos falamos mais. Era um alivio e tanto que ele estivesse falando comigo agora. Por um momento, eu pensei que nunca mais seriamos os mesmos.

E eu não queria perder sua amizade por nada.

— Eu precisava falar com você. Estava com tanta saudade de ouvir sua voz e de olhar para você! E queria também me desculpar por ter sido um estupido.

— Lorenzo...

— Eu fiquei com ciúmes e com inveja. Afinal, ele podia te ter por perto sempre que quisesse e eu.... Não mais. Então, fiquei furioso e descontei em você. Me desculpe por isso, Luci. Não foi certo da minha parte. Eu só quero que você saiba agora que eu tive tempo o bastante para pensar no assunto, e que para mim, está tudo bem.

— Você tem... Certeza?

— Sim! Tenho. Mas preciso ouvir de você... Você me desculpa? Eu fui tão babaca! Nossa! Estou envergonhado.

— Lorenzo – Eu sorri. — É claro que eu te desculpo, eu não deveria nem ter tocado no assunto com você...

— Não! Não é isso o que eu quero. O que eu quero é que você saiba que mesmo que não tenhamos dado certo como um casal, nós sempre seremos amigos e você pode contar comigo para qualquer coisa. Eu sempre estarei aqui por você, Luci. Até mesmo para te ouvir falando sobre o cara que você ama e sempre amará.

— Não é bem assim...

— É sim. Por mais que seja difícil para você ter que admitir isso em voz alta, nós dois sabemos o quanto você o ama. E na boa, ele te ama também. Ele já me disse isso uma vez. E só para você saber, por mim tudo bem. Vocês devem ficar juntos de uma vez por todas. Não que você precise do meu consentimento, eu só quero que você saiba que está tudo bem. Juntos vamos superar isso e tudo dará certo.

Suas palavras tocaram profundamente meu coração.

Eu estava muito emocionada. Mas não queria mais chorar na frente dele.

— Dê uma chance a si mesma, Luci. Resolva essa situação entre vocês de uma vez por todas antes que vocês deixem todos malucos com esse chove e não molha.

Dei uma risadinha.

— Não é tão fácil assim.

— É claro que é! Vocês não se reaproximaram nos últimos dias? Bom, então é por aí que as coisas começam. Com calma e paciência. Mas você precisa deixar claro o que quer, para que não haja dúvidas e descubra o que ele quer também. Mesmo que isso já esteja muito claro para mim e para o resto do mundo. – Ele riu também.

— Tudo bem. Vou pensar melhor a respeito. Mas antes, gostaria de te perguntar uma coisa na qual eu tenho pensado nos últimos dias. Quero que me diga a verdade. O que vocês dois andaram conversando na noite de natal durante a festa na casa do Christian?

— Ah, aquilo. Não foi nada. Eu só estava contando a verdade a ele. Eu disse que iria partir e que precisava que ele ficasse de olho em você por mim. Eu disse a ele que no início você precisaria de um tempo, mas que com a ajuda dele você se recuperaria rapidamente. Era a chance dele de te reconquistar. Então eu o aconselhei a ir com calma e garanti que com o tempo tudo voltaria aos eixos entre vocês.

— Então, o que você está querendo me dizer é que o que está acontecendo agora entre nós foi tudo ideia sua? – Eu estava boquiaberta.

— Mais ou menos. Na verdade, eu só dei um empurrãozinho. O que nem era preciso, já que de qualquer forma ele saberia exatamente o que fazer quando eu partisse. Eu só queria deixar isso muito claro naquela noite antes de ir embora.

— Mas...

— Olha, esqueça isso, tá bom? Pelo menos está tanto tudo certo, não está?

— É, acho que sim.

— Isso é muito bom! Mas e aí, como andam as coisas por aí?

— Você nem faz ideia...

~*~

Minha irmãzinha estava agitada e ninguém sabia o que ela queria. Já tínhamos feito de tudo. Mas parece que dessa vez não era fome e nem sono. Talvez fosse uma dorzinha ou ela estava entediada. Assim como eu estava cansada de só observar.

Peguei-a nos braços e a levei até lá fora, onde me sentei nos degraus em frente a nossa porta de entrada. O céu estava bonito em tons de laranja e rosa. Como o fogo. E vê-lo assim me inspirou de alguma forma. Resolvi cantar uma canção para ela.

Imediatamente ela adormeceu com a bochecha colada no meu peito.

— Ei. – Ouvi um murmuro.

Ao levantar os olhos me deparei com o Alex parado diante de mim.

— Oi. – Sussurrei de volta, sorrindo. — Espere um pouco.

Levantei-me com todo cuidado do mundo e a levei de volta para dentro de casa. Subi com ela devagar até o quarto, onde a mamãe estava lendo um livro sobre bebês.

— Ela dormiu. – Coloquei-a com cuidado no berço para não acordar.

— Sério? Uau! Você está ficando muito boa nisso.

Dei um sorriso e saí de cena, voltando lá para baixo, onde o Alex ainda me esperava do lado de fora com uma sacola.

— Você não quer entrar?

— Não. Vamos ficar aqui mesmo.

— Tudo bem então.

— Está com fome? Eu comprei umas coisinhas...

Para mim um sanduiche com peito de peru e bastante maionese do jeitinho que eu gostava e para ele um sanduiche com alface, tomate e pepino.

— Você está bem?

— Sim. Estou ótima. E você?

— Sim, eu também estou bem.

Sorri para ele.

Não dissemos mais nada até terminamos de comer e limparmos as mãos nos guardanapos esquecidos dentro da sacola.

— Quer dar uma volta? – Sugeriu ele.

— Pode ser.

Caminhamos lado a lado, mas sem dizer muita coisa.

Por dentro, eu estava um misto de sentimentos. Por um lado, satisfeita por ele ter aparecido de surpresa. Quem sabe tinha algo muito importante a dizer. Quem sabe finalmente nos resolveríamos, ele se desculparia e pediria para voltar. Eu certamente aceitaria. Era tudo que eu mais queria! Mas por outro lado, eu sentia que ele estava esquisito e inquieto. Parecia tenso também. Será que tinha acontecido algo grave?

Não, não quero pensar em coisas ruins agora. Se fosse o caso, ele já teria dito de uma vez por todas. Eu só queria pensar no quanto eu estava ansiosa para ouvi-lo dizer que me queria de volta e me queria para sempre. Porquê dessa vez daríamos certos. Sem idas e voltas.

O Lorenzo tinha razão: já estava tudo muito claro para todo mundo. Nós nos amamos e vai ser sempre assim.  Nós bem que tentamos seguir em frente e viver cada um com a sua vida. Mas não deu muito certo, apesar de todas as tentativas e todos os esforços. Não conseguiríamos seguir em frente sem um ao outro.

Então é isso. É claro que é. Porque se não, Lorenzo e eu teríamos ficado juntos. Ele era perfeito e me amava mesmo eu não o amando da mesma forma. E olha só no que deu: em nada. Além de uma grande amizade entre nós. Mas não mais do que isso. Nem com ele. Nem com ninguém. Não adiantava mais eu insistir.

Era com o Alexandre que eu deveria ficar.

E ele deve sentir o mesmo ou não estaria aqui essa noite e em todos os outros dias anteriores.

— Você está muito calado. – Observei, enquanto caminhamos pelas ruas escuras do bairro sem um rumo especifico.

— Estou pensando na melhor forma de começar a dizer tudo que você precisa escutar.

— Ah...

Ele parou de repente e se virou para mim.

— Luci, eu cometi um grande erro. Um erro pelo qual me arrependerei por toda a vida.

Ah, meu Deus. Está acontecendo!

Mantenha a calma, Luciana. Respire fundo. Respire.

— Deixar você foi a coisa mais estupida que eu já fiz. Foi cruel da minha parte querer te afastar justamente quando eu mais precisava de você. Ainda mais sabendo que você fazia questão de estar ao meu lado, mesmo nos maus momentos.

Isso. Continue. Eu precisava ouvir essas coisas de você...

— Eu te magoei muito. Eu feri seu coração e isso dói em mim tanto quando doeu em você. – Ele buscou pelas minhas mãos e permiti que ele as segurasse.

Ele estava tremendo e seus olhos agora, de um verde intenso, estavam repletos de lágrimas reprimidas.

— Me perdoe por tudo que eu fiz você passar. Foi estupido, eu sei. Reconheço que fui um idiota. Ainda mais por não ter conseguido me manter longe por muito tempo mesmo depois de tudo que eu causei em você. – Lágrimas escorriam de seus olhos nesse momento com toda intensidade. — Eu só quero que você saiba que foi difícil para mim também. Muitas vezes eu só aguardava todos pegarem no sono após um logo dia exaustivo e eu saia lá para fora e chorava até não aguentar mais. E outras vezes eu queria te ligar e ouvir você dizer que me perdoava e que ainda me amava mesmo eu não merecendo.

— Alex... Pare...

Agora eu queria que ele parasse. Queria que calasse a boca porque aquilo estava doendo em mim também. Queria me jogar em seus braços e chorar em seu peito. Dizer que estava tudo bem. Não havia mais nada a ser dito. Pois todas essas coisas ficaram no passado e nós recomeçaríamos outra vez ou quantas vezes fossem necessárias.

— Algumas vezes eu só queria te ver para ter certeza de que você nunca deixaria de ser a garota incrível que você é por causa dos meus erros. Eu erro muito, Luci. E você sabe bem disso. Eu estou cometendo erros terríveis o tempo todo. E eu não sei como parar. Eu não sei mais o que fazer. Eu não quero mais te machucar!

— Você não vai! Esqueça isso!

Eu já estava soluçando também.

— E quando eu te vi com o Lorenzo fiquei revoltado e bastante apavorado também. Eu sabia que merecia e que precisava te deixar livre para que você fosse feliz mesmo que sem mim. Mas aquilo me machucou muito. Eu tive tanto medo de te perder de vez! Por isso não consegui te deixar em paz, por mais que eu quisesse. Era como se um fio invisível e inquebrável nos unisse.

Limpei suas lágrimas com cuidado, mas elas eram insistentes. Tentei também abraçá-lo para quem sabe assim fazê-lo se calar e parar com aquilo. Mas nem isso adiantou, pois ele me afastou e pousou as mãos no meu ombro para me fazer continuar o ouvindo.

Eu não estava tendo um bom pressentimento sobre aquilo.

— A verdade é que eu não me esforcei o bastante. Eu fiz tudo errado desde o início. E é por isso que eu nunca te mereci. E nem nunca vou merecer...

— Alex, você precisa parar. Pare! – Eu gritei, me afastando e tapando meus ouvidos e fechados os olhos com força. — Por favor, pare com isso.

— Escuta, Luciana! – Ele me alcançou e tentou tirar as mãos da minha orelha com força. Eu acabei cedendo e olhei para ele com raiva. — Eu preciso que você me escute.

— Mas eu não quero! Eu não quero! – Continuei gritando ferozmente. Ainda bem que não havia mais ninguém por ali além de nós dois fazendo um show.

— Não podemos ficar juntos, Luci. Já me convenci disso. Simplesmente não podemos. Eu não te mereço e estou cansado de te machucar e fazer sempre tudo errado, ferindo a nós ainda mais sem nenhuma necessidade.

— Isso não vai mais acontecer, Alex. Não vamos permitir. Vai ser diferente dessa vez. Eu prometo! Mas você precisar lutar por isso também.

— Não posso... Eu não posso...

Isso só pode ser uma grande gozação do destino. Isso está acontecendo de novo. E de novo. E parece que nunca ter fim. Quando é poderei ser feliz finalmente?

Sem forças de tanto chorar, eu me ajoelhei no chão e tapei o rosto com as mãos, certa de que quando abrisse os olhos novamente tudo desapareceria.

— Eu te amo e não posso mais fazer isso com você. – Alex estava ao meu lado no chão. Me abraçando apertado. — Por favor, entenda. Tente entender!

— Não! Você não me ama! – Eu o empurrei com força. — Se você me amasse, Alexandre, você lutaria por mim. Você lutaria comigo! Mas o que você está fazendo agora é pisando no meu coração de novo e o destruindo em mil pedacinhos.

Ele inclinou a cabeça para trás e suspirou profundamente.

— Eu sei... Eu sei...

— Você sabe quanto tempo levou para eu me recuperar? Você sabe quantas noites eu não dormi porque não conseguia parar de chorar e pensar em você? Você sabe quantas vezes eu me questionei por achar não merecer a felicidade? Não. Você não faz ideia. Porque você está fazendo isso de novo comigo. Você está me destruindo!

— Não diga isso.... Por favor... Não diga...

Solucei também.

— Eu fiquei tão feliz por você ter aparecido essa noite. Certa de que finalmente voltaríamos a ficar juntos. Eu estava disposta a te perdoar e deixar tudo para trás. Estava disposta a fingir que nada disso tenha acontecido... Mas agora vejo o quanto sou tola. E o quanto eu gosto de me enganar e me iludir. – Dei uma pequena pausa para recuperar o folego. Estava muito difícil falar e chorar ao mesmo tempo. — É, você tem razão. Você não me merece, Alexandre. E eu nunca te perdoarei por isso.

Me levantei e enxuguei as lágrimas com força.

— Não procure mais por mim. Eu não quero te ver nunca mais!

Me virei disposta a ir embora e passar essa página na minha vida.

— Luci. Por favor! – Ele segurou meu braço, mas eu não me virei para encara-lo. Não iria olhar nunca mais nos olhos dele. — Vamos fazer isso funcionar um dia. Mas não podemos agora... Você tem todo um futuro pela frente, seus amigos, a faculdade. Eu não posso tirar isso de você. Não depois de todo o mal que lhe causei.

Respirei fundo e olhei para ele uma última vez.

— Estou cansada de você decidir o que é melhor para mim ou para nós dois. Você não sabe de nada, Alexandre. É um tolo e sempre será. Agora, vê se me deixa em paz. Mas tenha a certeza de que não quero te ver nunca mais. Muito menos me relacionar com você de alguma forma. Nem amanhã, nem nunca.

Passei um tempão sentada nos degraus na frente de casa, com a cabeça enterrada nos braços, chorando como se não houvesse amanhã.

Nem sei porque estou tão surpresa. Eu já deveria ter caído na real. A minha história com o Alex já acabou faz muito tempo. Eu só preciso parar de dizer tantas coisas e nunca cumpri-las.

É hora de tomar uma atitude drástica.

Todo o amor que um dia eu senti pelo Alex havia sido consumido pelo o ódio que eu sentia dele agora.

Quando enfim consegui conter as lágrimas, peguei meu celular no bolso do jeans e resolvi fazer uma ligação que estava evitando há dias.

— Luci?

— Fabi, quando é que vamos ver os apartamentos?

— Eu vou no sábado. Porque?

— Eu vou com você.

— Sério? Nossa, nem sei o que dizer!

— Só me diga o horário e estarei aí para irmos juntas.

— Sairemos as nove.

— O.K. Espere por mim, então.

— Claro! Mas... Luci, você está bem?

— Sim. Estou.

— Tem certeza?

— Claro. Nos vemos no sábado, certo?

— Beleza.

Desliguei antes que ela insistisse em querer conversar sobre coisas que eu estava disposta a nunca mais tocar no assunto a partir de agora.

Levantei-me para entrar em casa e ter uma conversa muito importante com os meus pais sobre o rumo do meu futuro.

A Luciana cheia de ilusões e chorona eu deixaria para trás de uma vez por todas. E para completar, chega de homens por um bom tempo.

Quem foi que eu disse que eu preciso deles para ser feliz?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

TENHAM CALMA, POR FAVOR. Ainda não acabou! E não esqueçam: sempre haverá uma luz no fim do túnel. Comentem! Postarei o ultimo capítulo em breve.