Shattered escrita por Nash


Capítulo 2
Take me home




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 Sherlock acordou repentinamente assim que ouviu um pequeno gemido. Ele tinha diretamente ido ao apartamento do amigo assim que o mesmo tinha saído do hospital junto com a pequena Pattie. Mrs. Hudson também havia ido, a senhoria havia se oferecido ao médico para poder instrui-lo e guia-lo no que ela pudesse na arte de cuidar de bebês, e ele havia ido porque sabia como o amigo precisaria de companhia ao longo do dia e quem sabe até de ajuda também, porque não?

John passara o dia inteiro cuidando da filha recém-nascida, tentando absorver tudo que ouvia de instrução, havia montado junto com Sherlock os móveis do quarto da filha da melhor maneira que conseguiram, mas a noite tinha chegado e Sherlock viu que os olhos do amigo já pesavam, mas ele insistia que queria passar a noite com a filha. Eu não quero sair de perto dela, ele insistia. Sherlock tinha lhe dito que devia descansar, que tivesse uma noite de sono na medida do possível, pois havia sido um dia desgastante e que ele ficaria de bom grado vigiando a pequena bebê no quarto e avisaria quando ela despertasse.

Ele havia se acomodado na poltrona de amamentação que Mary havia comprado para ela, ela era confortável, trabalhada em tons claros e toda acolchoada, mas mesmo assim o Holmes se sentiu ligeiramente culpado por ter caído no sono. A bebê olhou para ele de dentro do berço e soltou outro gemido, dessa vez ele se levantou da poltrona e se aproximou do berço com cautela. Não queria assusta-la para que não começasse a chorar e despertasse John. Havia passado o dia inteiro preocupado com ele, sabia que o amigo estava tentando disfarçar, mas ele conhecia o Watson a anos, e, bem o bastante para identificar quando ele estava passando por uma crise interna. Então decidiu que o mínimo que ele merecia era uma noite de sono depois de tudo que tinha ocorrido.

Sherlock pegou a bebê nos braços, seu corpo era mole e desajeitado, mas ele se lembrou de como a Senhora Hudson havia ensinado mais cedo o modo certo de segurar um bebê e decidiu que não poderia ser tão difícil. Alguém tão inteligente como ele poderia aprender como segurar um recém-nascido, se John conseguia, não seria nada demais para ele. Sherlock encarou o pequeno rosto e sorriu quando ela lhe encarou de volta. Patricia tinha os mesmos olhos azuis do amigo, sabia que era ridículo, mas quase podia sentir ela lhe dirigindo o mesmo tipo de olhar curioso que John lhe dava. Ele embalou ela por alguns segundos enquanto verificava a fralda e viu que ela estava limpa, deduziu então que a bebê estaria com fome e sussurrou baixinho para ela:

— Vamos até a cozinha, Pattie. Se seu pai conseguiu preparar uma mamadeira, acho que eu consigo três vezes mais rápido pelo menos.

Ele pôs a pequena no moisés que estava na cozinha e se dirigiu ao armário mais próximo procurando pelos ingredientes para fazer a mamadeira, mas logo se passaram alguns momentos – apenas o tempo de Sherlock conseguir lavar as mãos – e Pattie começou a resmungar novamente, ameaçando começar a chorar. Sherlock revirou os olhos e a pegou no colo mais uma vez.

— Sabe você deveria colaborar. Não é como se fosse ficar mais rápido se eu tiver que preparar tudo com uma só mão.

A garota resmungou algo, mas ficou mais tranquila assim que Sherlock a segurou com o braço direito. O moreno vasculhou uma das gavetas e lá encontrou uma mamadeira que viu John usando mais cedo, encheu-a com uma água mineral, pôs um pouco de formula, chacoalhou a mamadeira e a deu para Pattie, que assim que pôs o liquido na boca começou a babar tudo de volta enquanto fazia caretas.

— Oh, por Deus, Pattie. – Sherlock resmungou sozinho. Por um momento se sentiu imensamente tolo por estar querendo começar uma discussão com alguém que tinha apenas um dia de vida. Ele revirou os olhos, criticando a si mesmo. Então, pegou uma fralda de pano branca com detalhes de aviões que estava no moisés e a limpou. A bebê resmungou novamente, e ele usou os mesmos movimentos que vira John usando mais cedo para embala-la quando ela estava chorando. Começou a repassar pela mente tudo que a senhora Hudson tinha instruído ao longo do dia e, por fim, se recordou da parte que ela instruía que, provavelmente, Pattie gostaria de beber a formula morna. – Que falta de memória, Sherlock – ele resmungou para si próprio.

Então, pegou uma panela larga que encontrou quando estava vasculhando mais uma vez o armário e a encheu com quatro dedos de água, a pôs no fogo e em seguida foi até a mamadeira que havia largado em um canto do balcão e em seguida a colocou dentro da panela para que pudesse esquentar seu conteúdo. Enquanto esperava o resultado, Sherlock a segurou com os dois braços perto de si e sentiu a pequena aninhar-se para próximo de si. Nesse momento, ele sentiu algo crescendo dentro de si e não pode entender o que era. Um calor invadiu seu peito e ele deu um sorrido de canto de boca. Aquele pequeno pacote que se aninhava nele, não era seu sangue, mas ele queria protege-la de todo o mal que sabia que existia no mundo, sabia desde o primeiro instante o quanto ela era importante para John e a prioridade dele era que o amigo nunca mais tivesse que passar por algo doloroso. Por um momento de devaneio imaginou se tivesse uma filha biológica, mas mesmo que fosse o caso acreditava que teria o mesmo sentimento bom que sentia com Patricia embrulhada em seus braços. Pois a pequena era o resultado do amor de John – e não havia ninguém no mundo que ele se importasse mais que John – e de Mary – que havia sido uma amiga fiel.

Sherlock engoliu em seco, sentia um bolo pesar na garganta. Ele não havia chorado por Mary, não como Mrs Hudson havia feito – indo chorar escondida no banheiro quando John estava ocupado com Pattie –, nem muito menos como John que tinha se entregado aos prantos meia dúzia de vezes ao longo do dia, mas ele sentia o coração pesar. Nunca era fácil perder alguém próximo, ele acreditava, ainda mais quando ele conseguia compreender o quão Mary havia sido importante para o amigo, e doía-lhe profundamente ver John com os olhos cansados e tristes o dia todo. Sherlock não havia lhe dito nada, deduzia que ficar remoendo o assunto para o amigo, apenas faria ele ficar mais mal ainda, e ele queria ser a última pessoa responsável por isso. O que Sherlock, apenas, queria era ir correndo até Lestrade para que pudesse usar os meios que o detetive lhe proporcionava até que conseguisse solucionar o suposto acidente de Mary o mais rápido possível. Quando havia voltado do seu curto exílio, após o curtíssimo exílio devido à aparição de Moriarty por todo o Reino Unido, as pistas para o antigo inimigo haviam desaparecido outra vez, mas ele não conseguia não pensar que tudo aquilo que estava acontecendo com John – e com ele— era de alguma forma relacionado a Moriarty ou qual seja o novo inimigo que tinha resolvido usar a imagem do seu antigo nêmesis. Sherlock respirou fundo. 

Patricia queixou-se mais uma vez, reclamando o quanto estava com fome e o quanto o detetive devia parar de devaneios e deveria ir cuidar da sua comida. Sherlock saiu do transe que estava e, então, pegou a mamadeira que esquentava em banho-maria do fogo. Sabia que tinha que testar a temperatura da fórmula antes e em ato repentino decidiu pingar diretamente em sua boca. Quando o gosto da fórmula lhe invadiu o paladar ele fez uma careta e disse:

— Que gosto horrível. Vou ter de ensinar você a ter um paladar mais refinado assim que possível.

Dessa vez a bebê aceitou a mamadeira de bom grado, fechou os olhos enquanto sugava o conteúdo e fazia um barulhinho de que estava gostando. Sherlock sorriu orgulhoso de ter conseguido fazer aquilo sozinho, sabia que Mycroft zombaria dele por estar se preocupando com aquilo, mas estava satisfeito porque sabia que John apreciaria. A recém-nascida aparentava estar prestes a cair no sono novamente, e então ele decidiu que deveria se sentar no sofá enorme que havia na sala de estar apoiando a pequena em uma posição confortável. Se sentou em um dos cantos do sofá bege, fez com que Patricia ficasse em uma posição confortável e sem perceber caiu no sono de novo.

Ele estava em Baker Street, abria a porta do apartamento quando uma dupla de crianças pulou em seu colo. Uma menininha loira e um garoto de cabelos escuros, eles riam animadamente e ele não conseguiu controlar a vontade de sorrir também. John estava próximo da lareira com um suéter escuro lendo alguma coisa quando ele o viu e então disse:

— Por que isso tudo?

Estávamos apenas com saudade.

Então o mundo todo começou a sacudir e quando ele acordou estava ainda no apartamento de John deitado no sofá com Patricia e John o sacudiu para que acordasse.

— Sherlock...  – John falou baixinho apontando para a blusa do amigo,

O Holmes se remexeu assim que ouviu seu nome ser chamado. O corpo estava dolorido por causa do mal jeito que havia dormido, e então deu um suspiro de alivio quando viu que Pattie estava ainda aninhada nos seus braços em segurança, apenas a mamadeira que rolava vazia no chão. Checou a camisa e viu uma mancha branca, fez uma careta de reação, mas viu que não se incomodava de verdade. Sherlock viu John olhando para os dois com um sorriso amarelo e então ouviu o amigo dizer:

— Obrigado por ter cuidado dela por mim, Sherlock – John tomou a filha dos braços dele e deu uma pequena conferida nela. – Acho que alguém precisa de uma fralda nova.

— Não foi nada, John – ele respondeu atencioso, o pescoço doía por um torcicolo, mas ele não deu atenção – Conseguiu dormir bem?

— Não tão bem como você queria, mas eu passei a noite pensando e... – Por um momento, viu o amigo travar sem saber o que dizer. Aquilo era típico de John quando começava a falar sobre assuntos que não queria que ele se intrometesse depois, mas Sherlock sabia que ali tinha um significado diferente.

— E? – Ele perguntando chamando a atenção do amigo.

— Me leve para casa, Sherlock – John disse com seus olhos azuis, acinzentados mais que o costume naquele momento. – Digo, aqui foi minha casa, mas quando tinha a Mary, quando achava que tinha perdido você para sempre e, depois, quando nos casamos e essa pequena aqui veio como a melhor surpresa possível. Só que agora não é nada mais disso – John respirou fundo e ficou calado por uns instantes antes de continuar. – Sempre levarei para a vida todas as boas memórias com ela, mas ficando aqui elas doem demais. Mais do que eu consigo aguentar – John bufou e levantou os olhos para o teto. Sherlock sabia que ele estava tentando segurar mais lágrimas e esperou o amigo continuar – Se você aceitar, quero voltar para Baker Street, mas... Agora com Patricia.

Sherlock sorriu abertamente. Sempre apoiara John no casamento, sabendo que era o que deixaria o amigo feliz, mas não negava que sentia a falta dele todos os dias quando se percebia sozinho. Tê-lo de volta, mesmo com Pattie,principalmente com ela, seria ótimo. Ele não mentia para si mesmo achando que não acabaria por se estressar com o choro dela de madrugada, ou por todas as coisas novas que teriam que modificar no apartamento. Principalmente deixar de fazer minhas experiências abertamente, ele pensou. Mas, ele sentiu que aquilo não tinha peso algum, quando o outro lado da balança era saber que teria John por perto outra vez.

— Você se incomoda? – Ele viu o amigo perguntar com o olhar preocupado.

— Não seja tolo, John – ele respondeu. – Eu adoraria – Sherlock sabia que em algum lugar Mycroft riria dele por ter se apegado demais, e, estar se sujeitando aos estresses de um bebê que nem mesmo era seu. Mas, ele decidiu que não se importava. Nem um pouco. Não mesmo.


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Notas finais do capítulo

Críticas, elogios, sugestões são sempre bem vindos :3



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