Shattered escrita por Nash


Capítulo 16
Reason clouds my eyes




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Quando abriu os olhos naquele dia, o primeiro pensamento que veio à mente de John Watson era sobre como ele não acreditava que teria para sempre – agora, oficialmente – Sherlock ao seu lado. Os meses haviam passado e o dia do casamento deles havia finalmente chegado e ele se sentia completo. Uma inquietação enchia seu peito, mas ele tinha certeza que se devia ao fato de que a partir de hoje eles estariam consolidados, era excitante. Ele e Sherlock se amavam a mais tempo do que sabiam, tinham enfrentado desafios terríveis, mas tudo tinha chegado ao fim. Ou ao começo? Afinal, eles tinham começado uma nova relação, com uma filha e um futuro promissor. Sim, era o começo.

O médico observou Sherlock por um instante, os cachos negros bagunçados, a boca desenhada, as maçãs do rosto... então, não resistiu se aproximou devagar e deu um beijo na sua testa. O moreno soltou um resmungo e ele se afastou para ver os olhos azuis límpidos dele se abrindo.

— Bom dia – Sherlock disse com um sorriso.

— Bom dia – John falou de volta. – Grande dia, uh?

Foi, então, a vez do moreno se aproximar dele, mas no lugar de beijar sua testa, beijou sua boca. O beijo foi sutil, mas demorado. Era como Sherlock, uma impressão na sua vida que aparecia de repente, mas deixava uma marca profunda. Eles se levantaram, foram tomar café da manhã e em seguida tomaram banho juntos. Foi tudo tranquilo, quieto e apaixonado. Mrs Hudson tinha ficado responsável por cuidar de Patricia, então não havia pressa deles para que a pequena ficasse pronta.

Em um casamento tradicional a noiva se arrumaria em um lugar diferente do noivo e se veriam outra vez apenas no momento que ela adentrasse a igreja. Mas eles dois puderam aproveitar todos os momentos do dia juntos e fazer com que mesmo as pequenas coisas pudessem ser guardadas de lembrança com carinho.

A cerimônia ocorreu em um pequeno salão decorado elegantemente. Inicialmente, Sherlock havia rejeitado a ideia de que a festa ocorresse, mas Mamãe havia sido bem veemente quando frisou que se um dos filhos dela iria se casar, com certeza haveria de ter festa para que ela guardasse as fotos. John sorriu, pois de algum modo ainda acreditava que um momento como aquele deveria ser celebrado pelas pessoas próximas e queridas dos dois. Ambos mereciam aquilo tanto quanto todos que viveram ao lado dos dois no decorrer dos anos mereciam comemorar até aonde tinham chegado.

Patricia entrou primeiro, a pequena exercia tanto o posto de daminha de honra quanto o de pajem. Molly que estava ao lado de Lestrade – ambos no posto de padrinhos – a pegou no braço por um instante com um sorriso e após um beijo (e um aperto) a pôs no chão outra vez.

No momento que os dois deviam entrar, Sherlock e John entraram juntos segurando a mão um do outro. Não havia motivo para que entrassem separados. Eles eram a principal companhia um do outro a tanto tempo, então era lógico que fossem naquele momento também. E, um tempo depois, chegou o momento que os dois deveriam trocar os votos. O primeiro a falar foi Sherlock e sua mão tremia quando buscou o pequeno cartão no bolso do paletó.

— John, foi um milagre encontrar a paz e a felicidade que você tem me dado. Eu olho para você e vejo meu melhor amigo. Sua energia e paixão me inspiram de formas que eu nunca imaginei que fossem possíveis. Sua beleza interior é tão forte que eu não tenho mais medo de ser eu mesmo. Eu não temo nada. Nunca pensei que iria encontrar alguém para amar que me amasse incondicionalmente. Nunca pensei que iria encontrar uma família para chamar de minha.

John sorriu feliz. Ele já tinha passado por aquele momento anteriormente, mas com o moreno à sua frente tudo parecia mais real, mais verdadeiro, mais especial. Então, ele buscou o seu pequeno cartão, respirou fundo e começou a dizer:

— Sherlock, me comprometo a ajudá-lo a amar a vida, a sempre abraçá-lo com ternura e ter a paciência que o amor exige. Prometo falar quando as palavras forem necessárias e compartilhar o silêncio quando não forem. Prometo discordar em concordar sobre o vestido que Pattie deve usar. E viver no calor de seu coração. Prometo chamar de lar o espaço entre os teus braços e te beijar todos os dias de manhã. Prometo te fazer feliz e te querer feliz mesmo longe de mim. Prometo a você o meu amor eterno!

Então, foi dito que podiam se beijar. E quando isso aconteceu, os dois escutaram a alegria dos amigos e familiares vibrando. Mrs Hudson veio com lágrimas nos olhos falar aos dois e Pattie em seus braços sorriu para os dois pais. John a pegou nos braços e ela deu um beijo molhado nele e em seguida se esticou na direção de Sherlock que ofereceu o rosto e também recebeu um beijo. Mesmo ela tão pequena entendia que aquele era um momento de comemoração.

A recepção foi pequena e logo a mãe de Sherlock não parava de dizer em como estava feliz com aquilo tudo e que o melhor de tudo era que já tinha ganhado uma neta. Ela fazia cócegas em Pattie que riu até cansar e não demorou até que ficasse sonolenta com a enxurrada de festas que recebeu dos presentes. Até mesmo Mycroft passou um tempo com ela. Um lugar foi preparado para que ela pudesse tirar um cochilo e Sherlock ficou tranquilo quando a mãe disse que ficaria de olho nela, então que os dois não se preocupassem. Ele e o médico podiam curtir a própria festa de casamento tranquilos.

Mycroft observava os pais dançando no salão entediado. Era verdade que Sherlock e John haviam o convidado para o casamento, mas ele só tinha vindo de fato porque sua mãe tinha frisado a importância de todos estarem juntos naquele dia. Mas ele sabia que ninguém fazia questão da sua presença. Revirou os olhos cansado do tédio e verificou as horas, mais um pouco e poderia ir para casa.

— O que está achando da festa? – A pergunta o tirou do devaneio e quando se virou para ver quem era, viu um Gregory Lestrade dando um meio sorriso.

— Meu irmão está feliz. É o que me basta.

— Você sempre cuidou de Sherlock, não? – O detetive buscou uma cadeira para sentar próximo ao Holmes mais velho.

— Eu fiz o que pude. Mas agora, apesar de tudo, ele tem John. Meu trabalho acabou.

— Vocês são irmãos, Mycroft. Isso não simplesmente acaba.

— Não, eu digo. Sherlock nunca conseguiu escapar da ideia do sentimento, ele não sabe como lidar com o estrago. Mas agora...

— Entendo, John vai cuidar dele. Eu sei. Qualquer um aqui sabe. Acho que todo mundo via o quanto estavam apaixonados antes deles mesmo.

O Holmes mais velho riu com o comentário. – É verdade.

— E você?

— Eu...? – Mycroft levantou uma das sobrancelhas sem entender.

— Você não... – Gregory ia perguntar algo mas foi interrompido pelo retorno do Sr e Sra Holmes. Ele os cumprimentou gentilmente e pediu licença.

— Quem era aquele, Mycroft?

— Gregory Lestrade, o contato de Sherlock na Scotland Yard, mãe.

— E o que ele queria?

— Pedir ajuda sobre um caso. Nada demais... – Mycroft então viu que o celular tocava e fez questão de sair antes de perto antes que a conversa ficasse estranha demais. Ele já era velho demais para aquele tipo de conversa com os pais.

John conversava distraído com Sherlock por um instante, estava orgulhoso e feliz que o dia tinha dado certo. Mal podia esperar pelo momento que teria Sherlock a noite só para ele. O moreno tinha seus olhos brilhantes e sorria animado. O médico sabia como tudo aquilo era apenas um sonho distante para ele e quem em algum lugar ele ainda não podia acreditar que tinha conquistado tudo aquilo, mas ele faria questão de que naquela noite (e em todas as outras) Sherlock soubesse que não tinha outro lugar que ele gostaria de estar que não o seu lado.

Então, de repente, uma mão feminina apareceu no ombro do moreno e quando ele se virou para ver quem vinha lhe cumprimentar, John pode ver uma bela mulher de cabelos escuros e olhos verdes que fez com que prendesse a sua respiração. Não, de um jeito bom. De um jeito péssimo.

Ele conhecia aquele rosto. Era o mesmo que tinha visto em Manchester. Que parecia ter acontecido em outra vida agora. Ela tinha dito... Olivia? Era algo assim ele tinha certeza. Mas aquilo estava muito errado e, então, ele soube. De uma maneira angustiante e horrível ele soube. Seu coração bateu no peito de uma maneira incontrolável e os poucos segundos que viu Sherlock conversando com ela, apenas escutou o bater do seu sangue nas veias ressoando nos ouvidos. Tudo ao seu redor se tornou mudo.

Mudo até que um barulho horrível irrompesse no meio daquela festa. Um grito de angústia na voz de uma mulher se fez ouvir e ele não precisava ouvir mais nada para saber o que viria a seguir para saber que Patricia estava em perigo outra vez. Sherlock se distraiu por um segundo com o olhar pesadamente preocupado, procurando a fonte do grito. Então, aquela mulher o acertou no rosto com um soco, ele não teve tempo para perceber o que estava acontecendo até ser acertado novamente. Só que dessa vez, o soco mirou a boca do estômago fazendo com que o moreno soltasse um grunhido. John viu que a boca dele estava ferida e ia reagir, mas antes que conseguisse dar dois passos, três ou quatro garçons puxaram armas e apontaram na sua direção. Os gritos assustados dos convidados vieram antes mesmo que ele pudesse erguer as mãos.

— O que... – John começou a falar, mas foi logo interrompido por um golpe doloroso nas costas que fez com que ele se curvasse. Engoliu o urro de dor e quando se recompôs, viu Sherlock pousando uma das mãos na boca machucada. Ele olhou para John por um instante e o médico prendeu a respiração, sabia que na mente de Sherlock tudo estava acontecendo a mil por hora e ele não podia prever o que ele faria.

Sherlock então tentou a mulher de cabelos pretos, mas após algumas tentativas falhas o golpe que ela recebeu no rosto não adiantou de nada, pois no mesmo instante ela já estava na posição de ataque. A morena finalizou o conflito dos dois com um chute para que Sherlock se curvasse e, em seguida, uma joelhada no rosto de Sherlock fez com que ele caísse desacordado. John tentou olhar ao seu redor e viu apenas as caras de todos em pânico e, então, se perguntou quando iria acordar, pois aquilo tudo era surreal demais para estar acontecendo de fato. A mulher estranha se virou para ele com um rosto estampando satisfação e disse com um sorriso e uma saudação militar feita de forma zombeteira:

— Prazer em revê-lo, doutor John Watson. – Dois dos garçons que portavam armas se aproximaram e carregaram Sherlock embora. Um deles a entregou uma pistola, a morena apertou alguma coisa nela e então a mirou para John. – Se você nos seguir, acabará morto. Ou um deles, tanto faz. Não me importa.

O médico então a viu ir embora com aquela pequena palavra ecoando forte na sua cabeça. Deles. Deles. Deles. Quem quer que aquela mulher fosse ou para quem ela trabalhasse... as duas pessoas que mais amava no mundo estavam fora do seu alcance. Sofrendo um risco horrível. A dor no peito dele foi tão horrível, que John só pode levar uma das mãos a boca para conter um grito horrível de desespero.

Aquele devia ser o dia mais feliz da vida dele. Um novo começo com a pessoa que amava. Ele, Sherlock e Pattie. Tudo parecia agora arruinado e destruído. Seu coração estava despedaço. Alguém o abraçou e o apoiou para que não caísse no chão. Lestrade então falou nervoso:

— Patricia sumiu.

— Eu... sei – dizer aquelas palavras era simplesmente doloroso demais.

— Eu sinto muito.

— Eu... sei – John repetiu de maneira vazia. Ele sabia como todos adoravam a filha. Mas no fim do dia, quem tinha perdido uma filha era ele. Pattie. E antes que pudesse entrar em um choro doído, Mycroft apareceu na sua frente.

— John – o Holmes mais velho começou a dizer, mas quando viu que o médico não iria responder pois ameaçava entrar em um estado de choque, deu um tapa no seu rosto. John o olhou desolado e então focou os olhos sinalizando que que iria prestar atenção no que ele ia dizer. – John, quem quer que aquela mulher seja, levou meu irmão e Patricia. Isso não vai ficar assim. Eu não vou dormir até que os dois estejam a salvo. Eu te garanto. Eu já entrei em contato com o serviço secreto e....

Mycroft não pôde completar o que iria falar em seguida, pois John o abraçou fazendo com que interrompesse a linha de pensamento. O loiro agradeceu da maneira que conseguia e respirou fundo. Sua mente tinha entrado em pânico, mas tudo ia se resolver. Ele acreditava. Não, ele tinha que ter certeza. Se perdesse qualquer um daqueles dois ficariam despedaço para sempre.

— Tudo vai ficar bem, eu prometo – o Holmes mais velho falou. – Pattie e meu irmão irão voltar para você. Nem que seja a última coisa que eu faça.

Algumas horas depois, um carro escuro parou em uma estrada e Sherlock desacordado foi empurrado de lá. Em alguns momentos, o carro havia desaparecido, mas o moreno continuava lá. Quando ele acordou, tentou se sentar, gemeu as dores que sentia pelos machucados e então notou um papel deixado no bolso do seu paletó.

“As coordenadas estão no verso.
           Venha sozinho ou você nunca mais verá seu pequeno raio de sol.
Houve um dia que eu tive paciência de te explicar como as coisas  funcionavam, mas você decidiu não me ouvir.
                 Então, eu vim cobrar meu preço: você ou a menina.
A decisão é sua.

M.”

Sherlock releu o papel cinco vezes até que começasse a entender que tudo não passava de uma péssima brincadeira de mal gosto. Ele rugiu alto. A raiva e a dor que o preenchiam eram tão imensas que ele pensou que explodiria ali mesmo antes de poder fazer qualquer coisa. O moreno se levantou e então percebeu que deveria encontrar algum meio de se comunicar com John. Ele deveria estar tão em crise por causa do estresse da situação que Sherlock sabia que deveria avisar que estava vivo. Por enquanto? O moreno engoliu em seco segurando outro grito.

Você ou a menina.

A sentença se repetia na sua mente com uma música péssima ao fundo. Sherlock suspirou fundo, sua mente já analisava o que poderia fazer para resolver aquele problema, mas na pior das hipóteses ele estava pronto. Ele tinha se prometido que se sacrificaria a qualquer momento pelo bem-estar de John ou de Pattie e o dia tinha aparentemente chegado.


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