Shattered escrita por Nash


Capítulo 14
Fall for you




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Patricia Mary Charlotte Watson era, definitivamente, a coisa mais fofa do mundo para qualquer um que a conhecesse e nem mesmo o impassível Mycroft Holmes poderia escapar dessa generalização, mas ainda assim, ele tinha plena certeza que acabaria por matar – ou melhor, trucidar – John e Sherlock quando os visse novamente.

Ambos tinham saído às pressas de Baker Street após um chamado repentino de Gregory Lestrade, mas com a devida e apropriada relutância do Watson em levar a filha para a uma cena de crime, Sherlock deu a ideia – péssima, por sinal – de que ele olhasse a menina por dez minutos; já que Mrs. Hudson logo chegaria e seria praticamente improvável que até mesmo Mycroft a matasse dentro desse período de tempo.

O médico foi relutante também contra essa ideia, mas acabou por ceder impulsivamente já que Sherlock descia a escada aos pulos. John gritou algumas informações às pressas quando ia atrás do moreno e Mycroft respondeu com um balançar de cabeça demonstrando que tinha escutado.  Watson ainda o telefonou enquanto entrava apressado na cabine do táxi e enquanto ele dizia que não se preocupasse, já que olhar Pattie se consistia basicamente em vê-la brincar e assegurar que não colocaria nada de perigoso na boca. Mycroft ouviu uma reclamação do irmão ao fundo e revirou os olhos; com certeza, o que ele tinha ido falar ao irmão mais novo tinha o deixado irrequieto. A menina o encarou com os olhos azuis enormes quando ele guardou o telefone e disse:

Micofot!

— Mycroft. – Ele a corrigiu falando devagar, mas ela não disse mais nada, então ele continuou – O que houve, Patricia?

Pat quer dino. – Ela estendeu os braços para um tiranossauro rex de pelúcia que estava no alto de uma estante. Mycroft entregou o brinquedo a ela e a observou ir até um monte de brinquedos que estava no outro lado da sala. Ela ficou quieta, apenas preocupada em fazer o T-Rex comer – ou beijar, ele não sabia ao certo – uma boneca loira de vestido rosa.

Os dez minutos se passaram e Mycroft olhava o relógio nervoso quando o celular tocou. Era um de seus subordinados o atualizando de uma operação sigilosa, mas foi momentaneamente interrompido por um puxão em seu sobretudo e quando se virou viu que era Patricia outra vez fazendo bico. – O que você quer querida? – Ele perguntou gentilmente.

Pat quer mamá.

— Mamadeira? –Ao receber um balançar de cabeça como confirmação, ele olhou em volta por um momento, mas se deu conta de que com certeza não sabia fazer uma mamadeira, então apenas disse – Espere alguns minutos, sim? Logo a senhoria chega e faz para você.

Mamá! – Foi a única coisa que Pattie respondeu fazendo birra, mas quando ela viu que Mycroft não se mexia, decidiu ir sozinha até a cozinha e antes que ele percebesse a menina já estava subindo o balcão pelas gavetas indo atrás dos itens necessários para fazer a aclamada mamadeira. Mycroft não conseguiu evitar de dar um sorriso atravessado e se perguntar, por um momento, se a menina não era filha de Sherlock ao invés de John, porque tinha a lívida memória do irmão fazendo a mesmíssima coisa quando era criança. Mycroft então a pegou no braço de uma maneira desajeitada e ela respondeu com um princípio de choro, mas nesse momento quando estava prestes a se desesperar – afinal, de tudo que ele sabia cuidar de crianças, definitivamente, não era uma delas – ele ouviu passos subindo a escada e quando já se sentia aliviado de que a senhoria havia chegado para cuidar da menina, acabou por ser surpreendido com um Gregory Lestrade afoito abrindo a porta.

Guegori! – Pattie disse com um gritinho assim que o viu.

Lestrade riu em resposta e então falou:

— Até mesmo Pattie com menos de dois anos sabe meu nome e Sherlock não. – Ele então estendeu os braços, a pegou nos braços e deu um beijo. – Onde estão os dois? John e Sherlock? – Greg tinha um semblante confuso quando fez a pergunta ao Holmes mais velho. Com certeza, de todas as pessoas possíveis, não iria esperar que os dois deixassem Mycroft cuidando da filha.

— Eu acreditava que estavam indo te encontrar.

— O que?

— Foi o que Sherlock falou. Perto do Ministério.

— Ele entendeu errado, droga – Lestrade revirou os olhos. – Eu avisei que ainda não estava na cena, que tive um contratempo e que passaria aqui para busca-los.

Mamá! – Pattie pediu outra vez, só que agora seus enormes olhos azuis pidões estavam direcionados para Lestrade.

— Você poderia fazer para ela? Mrs Hudson ainda não chegou em casa e eu...

— Claro – Lestrade respondeu prontamente. – Venho adquirindo alguma prática nos últimos meses. – O detetive sorriu e então entregou Pattie para Mycroft outra vez enquanto ia fazer a mamadeira.

Quando terminou de fazer a mamadeira, ele a entregou para Patricia que apesar de já segurar sozinha, se debruçou sobre os braços de Mycroft procurando uma posição confortável.

— Você deveria sentar em algum lugar. – O grisalho disse como quem não queria nada. – Afinal, Pattie ainda é uma princesa linda, mas já tá enorme não é, querida? – Então se aproximou e fez cócegas de leve na menina que respondeu com um sorriso enquanto ainda se debruçava sobre o ombro esquerdo do Holmes mais velho. Os dois ficaram calados por algum tempo, logo mais o silêncio sendo apenas interrompido pelo barulho do celular do detetive inspetor tocando.

— Onde eu estou? Estou a caminho ainda, seu idiota! Avisei que iria passar em Baker Street ainda! Não, vou direto para aí agora, já que os dois não me esperaram. – Lestrade deu as costas enquanto falava e ia saindo do apartamento, mas antes de desaparecer de vista se virou para o Holmes mais velho e deu um menear de cabeça. Mycroft respondeu do mesmo modo. E quando Patricia começou a pesar nos seus braços enquanto ia ficando sonolenta, ele parou para observa-la. Enquanto acordada ela era uma graça, mas dormindo que era de fato a coisa mais fofa possível. Ele tentou se segurar, mas não resistiu e cheirou o alto da sua cabeça, se permitiu um sorriso, mas logo ele pôde ouvir Mrs Hudson subindo as escadas. A senhoria o cumprimentou com um sorriso e então perguntou:

— Onde estão os rapazes?

— Saíram. Pediram que você cuidasse de Pattie.

— Claro. – E quando ela pegou a menina nos braços e subiu as escadas para colocá-la no berço, Mycroft Holmes tinha plena certeza que nem mesmo ele tinha conseguido escapar dos encantos da pequena Watson. Não conseguiu evitar de pensar sobre tudo ao que o irmão tinha se rendido, após anos a fio tentando evitar se apegar... e, por fim, admitiu como ele era sortudo. Apesar de tudo o que tinha aparecido para atrapalhar a felicidade deles, Sherlock tinha lutado e resistido o tempo todo. Ele invejava a força e a sorte do irmão por ter achado alguém como John Watson na sua vida. Talvez, no final, Mycroft Holmes só quisesse o mesmo.

~

 Após um longo dia de trabalho na clínica que veio logo em seguida de um caso que exigiu consideráveis esforços de Sherlock, a única coisa que John queria fazer quando chegasse em casa era dormir até o dia seguinte. Mas ele não contava que Patricia aparecesse rindo e correndo quando voltasse para 221B. O médico viu que a filha passava na sua frente vestindo um roupão lilás e num segundo John a pegou no colo, Pattie soltou um gritinho em resposta, mas sorriu animada quando viu quem a segurava.

Dadi! — Ela riu.

— Oi, meu amor. Por que está correndo?

— Porque — Era Sherlock que respondia ao aparecer logo em seguida vindo do banheiro — essa moça se sujou e agora não quer tomar banho.

John riu. — Que porquinha, Pattie. — Ela riu de volta e fez barulhos imitando o bicho que o pai tinha falado. Sherlock a pegou no colo e ela fez birra.

Papá, nom!

— O que não?

Não, banho!

— Siiiim! — Sherlock afirmou enquanto fazia cócegas nela. Pattie riu alto e John se jogou na poltrona quando ouviu o barulho de água vindo do banheiro. Ele se sentia cansado, mas os risos de Pattie sempre eram como um combustível para ele. O amor pela filha era a coisa mais importante que tinha no mundo e só podia agradecer por ainda poder passar um tempo com ela depois que chegava em casa.

— Precisa de ajuda? — Ele perguntou alto para Sherlock enquanto tirava os sapatos. Só os barulhos da filha vieram como resposta, até que escutou uma pancada surda; assustado ele correu até o banheiro, mas o que viu foi apenas Sherlock caído na banheira quase que completamente molhado junto a uma Pattie que assim que viu a oportunidade se jogou por cima dele molhando o moreno mais ainda.

— Bem que eu imaginei. – John disse zombeteiro.

— O quê que você imaginava? – Sherlock o encarou com aquele olhar desafiador.

— Que precisaria de ajuda.

— Eu sou perfeitamente capaz de banhá-la, John. Não seja tolo.

— Não essa Pattie — John tinha um sorriso debochado no rosto. — Ela se tornou uma força da natureza nos últimos meses.

Sherlock ergueu uma das sobrancelhas. Após todo o tempo que tinha ficado distante deles, Pattie tinha, naturalmente, crescido e com isso adquirido muito mais energia. A qual ela procurava constantemente novas maneiras de gastar. Como ela mostrou ao pegar o patinho de borracha que tinha na banheira, encheu-o de água e fez questão de espirrar tudo encima de Holmes.

— O que aconteceu com sua filha, John Watson? – Ele perguntou para o médico que os olhava da porta. Sherlock sempre havia feito tudo o possível para ajudar John na criação da filha e, certamente, já havia dado dúzias de banho nela. Mas desde que havia retornado aquele era o primeiro.

— Ãh-ãh – John negou enquanto sacudia a cabeça. – Nem vem querer jogar para cima de mim, eu cuidei dela sozinho durante seis meses e, depois, com a ajuda da Mrs Hudson quando voltei para cá. Ela é sua filha também agora, Sherlock.

Papá! — Pattie chamou-o quando ouviu falar o nome do moreno. A filha sempre fora louca por ele, e as vezes até tinha certeza que ela gostava mais de Sherlock do que dele. Quando ele tinha passado todo aquele tempo fora, ela tinha sentido sua falta todos os dias.

Sherlock sorriu encabulado. Depois de tudo que tinha passado, tudo que tinha se sujeitado, ainda mal podia acreditar que tinha John em sua vida. E Patricia. Saber que era parte importante da vida dos dois era o melhor sentimento que poderia possuir, ele tinha certeza. Então, se virou para a pequena que agora insistia em querer ensaboá-lo no lugar de si mesma e então resolveu tirar os sapatos e começou a desabotoar a camisa.

— Quer tomar banho juntos, Pattie? — O moreno perguntou. Como resposta ela esguichou água na cara dele outra vez.

— Ah! Sua... — Ele se interrompeu para fazer cócegas nela outra vez.

— Eu preciso tirar foto disso. — John disse mais para si mesmo do que para os outros dois que estavam entretidos na banheira. Quando voltou com o celular na mão, completou — Lestrade não me perdoaria se não visse isso.

Percebendo o que o médico pretendia fazer, Sherlock segurou Pattie à sua frente, mas mesmo que John tentasse chamar a atenção dela chamando-a pelo nome, a filha insistia em encarar Sherlock com um sorriso no rosto e, enquanto Sherlock também a encarava decidido a convence-la para que olhasse para a câmera, ele riu e John decidiu que era o momento perfeito. Os dois estavam sorrindo e juntos. Era o que importava.

— Prontinho. — Ele avisou.

— Certeza? — Sherlock ergueu uma das sobrancelhas em dúvida.

— Uhum. — John respondeu enquanto dava as costas. — Enquanto vocês terminam aí vou atrás de algo para a gente jantar. — Ele se distanciou ainda encarando a tela do aparelho e as duas pessoas que mais amava no mundo: Sherlock Holmes e Patricia Watson.

Ainda havia momentos que ele não acreditava que tinha Sherlock na sua vida, havia sido tanto tempo para que ele compreendesse o que sentia. Talvez aquilo pudesse ter ocorrido a muito tempo atrás antes dele pular do Bart, mas de alguma forma ele sabia que havia sido necessário ter Mary em sua vida para que ela pudesse lhe dar a filha. E ele sempre seria eternamente grato por isso. Apertou em uma sequência de comandos e pôs a foto como plano de fundo do celular. Ao olhar uma última vez para aquela tela, ele teve uma certeza. Pediria Sherlock em casamento naquela noite.

~

Quando John pôs a filha para dormir e voltou para a sala afim de se sentar na poltrona, Sherlock estava no notebook entretido com alguma de suas pesquisas.

— Sherlock? – Ele o chamou.

— O que há? – O moreno se virou por um instante e percebeu a cara de nervosismo do médico. – Algum problema na clínica? Ou, ou Pattie? O que houve?

— Pattie está bem. Eu poderia dizer até melhor do que nunca. – Sherlock expirou aliviado sem nem perceber que estava prendendo a respiração. – Mas eu preciso conversar com você.

O detetive foi até sua poltrona. – O que há? Algum e-mail de um novo caso lhe chamou a atenção?

— Não. Eu preciso falar com você acerca de um assunto mais pessoal? – Sherlock apenas o encarou calado. – Eu preciso te fazer uma pergunta.

— Sobre...?

— Sobre o fato de que eu não saberia seguir em frente se você não voltasse após todo aquele tempo que você ficou longe de nós, Sherlock. Eu falo “nós”, porque Patricia sentiu sua falta todos os dias. Ela não poderia ser capaz de sentir falta da mãe já que nunca teve sua presença, mas eu não saberia como contar a ela que você nunca voltaria se tivesse acontece algo a você.

— John, porque esse assunto outra vez? Você não tinha...

— Pelo amor de Deus, Sherlock. Fique calado, sim? O que eu quero dizer é que durante esse tempo que você ficou fora, eu percebi mais ainda o quanto você era importante. Se isso era possível... Em Manchester ou aqui, não havia uma noite que eu não fosse me deitar querendo que você estivesse ao meu lado. E é isso que eu quero, Sherlock. Mais do que qualquer coisa. Ter você ao meu lado. – Nesse momento, John saiu da sua poltrona lentamente para se ajoelhar na frente de Sherlock. Tirou do bolso um anel como o que o moreno tinha o dado o que já parecia muito tempo atrás, só que esse tinha uma inscrição. Nela dizia: Forever Together*. Ele pôs o anel no dedo de Sherlock enquanto dizia – William Sherlock Scott Holmes, você aceita ficar comigo?

— John Hamish Watson, eu aceito – Sherlock respondeu com um sorriso encabulado. Encarou a aliança no dedo calado por alguns instantes e ao ler a inscrição puxou o médico para um beijo. Quando John se distanciou, o moreno ficou calado outra vez e mordeu o lábio nervoso.

— Sherlock? – O loiro perguntou quando viu a preocupação do outro estampada no rosto. – O que houve? Não achava que o momento certo? Eu queria ter feito algo mais memorável, mas depois de ver você hoje com Pattie eu percebi que isso não era importante...

— Não – O detetive deu um daqueles sorrisos tristes que apareciam em momentos difíceis, John engoliu em seco e ficou calado esperando que Sherlock continuasse – Para mim... não poderia ter sido melhor. Eu tenho certeza que você lembra de uma época que eu mal pude crer que você me considerava seu melhor amigo. Isso que aconteceu agora apenas me leva a um novo patamar de felicidade. Com você e Patricia na minha vida eu mal posso acreditar que existiu uma época da minha vida que eu acreditava piamente que iria morrer sozinho.

— Então...

— Eu preciso te contar algo, John. E espero que não fique com raiva de mim.

Então, Sherlock lhe contou tudo.

Ele não havia entrado no assunto anteriormente, apesar da curiosidade do médico sobre o que ele tinha vivido ao entrar naquela missão que pretendia acabar com o império do crime que havia sido uma vez de Moriarty e agora era comandado por Morgan. Mas agora era a hora. Ele contou como dialogou várias vezes com agentes da inteligência britânica armando os melhores planos, contou como passou tardes e noites a fio olhando para mapas pensando em maneiras e como esquecia de comer ou dormir até que aparecesse alguém a mando do irmão lhe obrigando. John ouviu tudo calado apesar de todas perguntas que tinha vontade de fazer.

O detetive também contou como sentia a saudade dele e da filha todos os dias, mas mais do que Mycroft poderia lhe ensinar algum dia, só fazia com que ele tivesse mais energia para continuar a missão. Da primeira vez, Moriarty já estava morto e ele passou dois anos fora exterminando tudo o que restava dos seus contatos. Com Morgan, ela ainda estava viva, o que dificultava tudo ainda mais. A loira era impossível de ser achada e se ela não quisesse aparecer por conta própria, o Holmes contou como tinha certeza de que nunca conseguiria pôr as mãos nela.

Então, eles começaram pelas beiradas, por baixo, com tudo que podiam encontrar e estivesse relacionado ao império criminoso que Morgan reconstruíra das cinzas do que restara do anterior. O moreno contou como queria poder visitar o médico e Patricia todos os meses, todas as semanas, todos os dias. Mas sabia que se movimentasse sua posição mais que o devido, ela apenas ficaria mais difícil de ser encontrada. Sherlock contou como era um dia comum e eles estavam tentando entrar em contato com traficantes na Escócia sob disfarce e então todos se viraram e atiraram nele e no grupo de agentes que estava com ele. Nesse momento, John fez uma cara de assombro, mas Sherlock o tranquilizou ao falar. – Eles mataram todos os outros, mas apenas me acertaram com cargas elétricas.

— Mas, se ela te pegou...

— É o que eu vou explicar agora. – John olhava-o atento e tenso para o que ele falaria a seguir. Sherlock viu que ele apertou o punho nervoso, como sempre fazia. – Eu acordei em um casarão, em uma sala escura e fui levado até ela em uma sala, que era quase como a nossa. Ela me ofereceu uma das poltronas e como antes, havia um segurança em cada canto da sala. Então, um baralho foi levado até ela e jogamos por mim. Ela me disse que se eu perdesse seria propriedade dela. – Sherlock engoliu em seco antes de continuar – Eu venci. Mas ela mentiu.

— Como assim?

— Ela me dopou. Eu fiquei paralisado... e tive um apagão. Eu não posso falar o que aconteceu com detalhes, John. Mas quando acordei jogado em uma praça... eu sabia, eu tinha certeza, que ela tinha me tocado.

— Sherlock...

— Eu fui para um chuveiro e me esfreguei durantes horas. E foi quando eu fui até vocês.

— Sherlock... – John repetiu com a voz angustiada.

— Eu quase desisti de ir atrás dela, mas quando vi você e Pattie sabia que não podia desistir. Mesmo que fosse minha condenação. E então decidi que se ela sentia alguma atração iria usar essa arma contra ela.

— Oh, céus... – O médico o encarou nos olhos e viu aquela dor que aparecia nos momentos difíceis. Por algum motivo, o moreno tinha tomado para si o papel de homem-máquina sem emoções e insistia em exibi-lo para todos. Mas John agora sabia que era tudo uma farsa. Ele sabia como Sherlock era capaz de sofrer, de se importar, de se magoar e, principalmente, de amar. – Por que você não me disse na época, Sherlock? Eu teria... – O que ele iria dizer? Que teria sido mais gentil? Bem, ele não sabia como poderia ter reagido, afinal estava completamente chateado com o moreno na época. Mas, não, ele sabia que nunca teria sido grosseiro com Sherlock. – Eu teria sido menos rude.

— E quando você quis ficar comigo lá. Eu cedi. Sabia que não era merecedor de você, John.... Porém, eu teria seu toque como lembrança e não o dela. E era o que eu queria. O que eu queria mais que tudo. – Sherlock segurou a respiração antes de continuar – Espero que não odeie por isso. Se for o caso, eu irei entender, mas...

— Oh, Sherlock... – Foi a única coisa que John conseguiu dizer antes de o peso na garganta lhe travar por completo. – Eu te amo, seu idiota. Como eu disse no início, a única coisa que eu quero é que você esteja sempre comigo e Patricia. Eu nunca ficaria com raiva de você por isso.

— John...

— Eu te perdoei depois que você me fez crer que eu tinha perdido você por dois anos. Toda a dor que eu senti porque eu achava que você tinha ido para sempre.... Eu ignorei porque o que importava era que você estava de volta. E mesmo com Mary na ocasião... O que importava era que você tinha voltado. E é a mesma coisa agora. Foi ela que te machucou, Sherlock. Você não fez nada de errado. Nada, ok? – O médico então pegou as mãos do moreno nas suas e as beijou.

— Ok.

John o beijou na boca. Dentro de si ele mal conseguia suportar a dor de saber que mais alguém tinha estado com Sherlock, ainda mais daquela maneira violenta e dolorosa. – Mas o que aconteceu com ela? Afinal, você voltou dizendo que tudo tinha acabado.

— Juntamente com o MI-6 eu me infiltrei na rede dela e.... bem, a parte que interessa é que no final ela morreu soterrada pelos escombros de um fábrica abandona. Ela foi para sempre.

— Nem posso explicar como estou aliviado em ouvir isso. – Sherlock respondeu com um sorriso amarelo ao comentário.

Naquela noite, John teve Sherlock em seus braços mais uma vez. O moreno tremia sob seu toque e o cheiro dele invadia Watson como um afrodisíaco poderoso. Os dois tinham passado por tanta coisa – juntos ou separados – mas o que importava era que nada mais poderia separá-los. O médico prometeu a si mesmo que nunca mais deixaria alguém fazer mal ao outro e faria tudo que fosse possível para assegurar isso. Depois, quanto estavam já cansados e encaravam um ao outro quase já adormecendo John murmurou alguma coisa que o outro não ouviu.

— O que você disse, John?

— Me apaixonar por você...

— O que tem?

— Foi a melhor coisa que fiz na vida.

— Hm – Sherlock sorriu – depois de Patricia, é claro.

— Depois de Patricia.... Se bem que não sei qual dos dois me dá mais trabalho.

— Seu moron.

— Olha quem fala.

— John?

— Sim?

— Obrigada.

— Por qual razão?

— Por me amar.

Para aquilo John não respondeu nada verbalmente. Afinal, ele não conseguiria palavras adequadas que correspondessem ao que sentia. Sherlock era um homem maravilhoso: leal, inteligente e protetor. Era ele que tinha sorte de tê-lo em sua vida, apesar da mania que o moreno tinha em se menosprezar. Então, ele puxou o para perto, depositou um beijo em sua testa e o abraçou até que ele caísse no sono. Depois de tudo que tinha passado na vida, John Watson se considerava sortudo. Porque, no fim, era ele que conhecia o verdadeiro – e amável – Sherlock Holmes.


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