End Of The Day escrita por Leonie


Capítulo 2
Dia Um


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora :/ Estou sem muito tempo para escrever, e pretendo fazer capítulos longos pois a ideia é "a cada ep, um dia"
Então está aqui :D

Terminou um tanto de repente pois não soube como continuar hehe



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/677225/chapter/2

POV Narradora

A pequena compositora acordou de seu sono quase profundo ao ouvir os acordes de guitarra de Fall Out Boy. A morena abriu os olhos lentamente, acostumando-se com a claridade vinda da janela.

Ally desligou o primeiro alarme com um pequeno movimento na tela. Sentou-se na cama e olhou em volta. Austin já havia levantado, e deixara seu material pronto em cima da mesa juntamente com seu diário. Quanta consideração, pensou Ally.

A garota levantou-se da cama, espreguiçou-se e andou até o banheiro, afim de fazer suas higienes com o que havia na bolsa.

Enquanto sua namorada se arrumava, Austin passava um tempo no sótão tentando encontrar uma letra para a canção que estavam compondo. O loiro nunca foi bom com palavras, mas quando se tratava de Ally, ele fazia o seu melhor.

Em meio de seus pensamentos e reflexões, o garoto parou um pouco para pensar sobre quem escrever. Dez é seu melhor amigo, mas tudo o que sabia sobre ele resultavam em coisas bobas ou nada construtivas. Trish nunca foi muito chegada à ele comparada a Dez, mas mesmo assim era sua grande amiga. Ally nem se comparava, a menina tinha uma maneira incrível de desvendar todos os seus segredos sem mexer um mísero músculo.

A dificuldade seria encontrar alguma rima, ou algo parecido que se identifique com a relação dos dois.

Na realidade, haviam muitas coisas que Austin não sabia sobre Ally. Ambos se conheceram na sétima série, Trish já a conhecia antes, mas quando perguntavam se era de outra escola, ela respondia que não. Algumas suposições são que as garotas são de famílias amigas. Todos sabem que seria impossível elas terem se conhecido por serem vizinhas, até porque, Trish mora na parte nobre da cidade, e Ally, ao lado do centro. Porém, as duas nunca tocaram no assunto…

Austin levantou-se do banco, e desceu as escadas. Entrou em seu quarto e encontrou Ally arrumando seus cachos em uma pequena fita azul. O garoto se encostou no batente da porta enquanto observava a atual namorada. A morena pôs os óculos de grau e olhou para o garoto, não-surpresa com a presença dele no local.

— Bom dia, namorada. - provocou Austin.

— Bom dia. - disse ela ajeitando os óculos no rosto.

— Está com fome? Posso pegar uma fruta… Ah, minha mãe fez panquecas! - lembrou ele animado.

A garota riu, sabendo da paixão do loiro por panquecas.

— Não obrigada. Estou bem.

— Ok. Eu vou lá embaixo, como as panquecas e nós já saímos pode ser?

— Claro.

O garoto se virou, mas a morena lembrou-se de um ponto-chave no acordo.

— Austin! - chamou a menina.

— Oi. - disse ele.

— No colégio… Não sai espalhando a novidade.

— Eu não vou. Prometo.

— Obrigada. - murmurou ela.

 

...oOo...

 

Após o café da manhã, o mais novo casal se preparou para ir ao colégio. Enquanto o garoto escolhia o que usar por cima da camiseta branca, a morena fazia contas em um canto de seu diário.

— Ally. - chamou o loiro - Que jaqueta eu ponho? - perguntou ele olhando seu guarda-roupa.

— Deixa eu ver. - disse ela andando até o garoto.

A garota olhou as peças nos cabides e tirou de lá uma camisa roxa e uma jaqueta preta.

— Vista a camisa por cima da camiseta e a jaqueta por cima de tudo.

E assim o garoto fez. O resultado foi melhor do que o esperado pelo rapaz. Austin agradeceu a sugestão e andou até sua mesa. Guardou suas coisas na mochila e pegou o celular.

— São 7h23min. O primeiro ônibus vai passar aqui daqui a pouco. Vamos ou você quer esperar o próximo?

— Ônibus? - perguntou ela sem entender - Não estou reclamando, é só que… O colégio é daqui umas cinco quadras. Se formos no ônibus, vamos demorar muito mais do que se irmos à pé.

— Tudo bem. Vamos a pé então. Vou pegar meu skate, pode me esperar lá embaixo se preferir.

— Ok.

A garota pegou sua mochila e desceu as escadas. A cada degrau que descia, mais nervosa ela se sentia. Nem passou por sua mente a hipótese de ter que encarar Mimi com o fato de agora ser sua nora.

A morena chegou a sala de estar e logo se deparou com Mimi sentada em sua velha poltrona de couro. A mulher olhou para a atual nora e com um imenso sorriso, disse:

— Bom dia, querida! Dormiu bem?

— Sim, Mimi. Obrigada por me deixa dormir aqui hoje. - disse a garota sem graça.

— Não precisa agradecer. Você sabe que já é da família, certo?

Ally sorriu como resposta.

Em sua mente, a única coisa que se passava era que Austin descesse logo para poderem ir para o colégio. Assim não teria que puxar a assunto com a mãe do garoto, sem parecer uma mal-educada.

Em poucos segundos, o loiro desceu as escadas, obviamente imaginando a situação de Ally. O garoto, já com o skate na mão, pôs o braço em volta da morena e disse para a mãe:

— Estamos indo.

— Ok, boa aula!

— Obrigada. - disseram os adolescentes em uníssono.

...oOo...

Eles já estavam na metade do caminho, mas para Ally, parecia que estavam se afastando cada vez mais. Austin estava em seu skate enquanto Ally tentava acompanhar sua velocidade. Suas pernas doíam. O trajeto para o colégio nunca fora tão longo.

Percebendo o cansaço da garota, Austin parou o skate e disse:

— Vem cá. - disse ele descendo do skate - Vai no skate que eu te acompanho.

— Nem pensar! - disse a garota em protesto.

— Por quê? - disse ele achando graça do desespero da garota.

— Já sou desajeitada com duas pernas, imagine com quatro rodas!

— Vamos, é fácil. Eu te ajudo.

Percebendo que estava encurralada, Ally suspirou. A garota tirou os óculos e pôs no bolso da frente da mochila.

Ally subiu no “meio de transporte” com ajuda de Austin. Suas pernas tremiam com medo de cair. Austin segurou as mãos de Ally enquanto a empurrava levemente na direção da rua.

Os olhos da morena não conseguiam desviar do loiro. Era como a junção de dois imãs. As mãos de Austin estavam quentes comparadas as dela.

Ally estava nervosa, com medo de cair e pagar um mico ridículo na frente de Austin.

Assim que notou a tensão da garota, Austin pôs as mãos na cintura de Ally e a empurrou um pouco mais rápido. A este ponto, Ally já tremia e soltava mini gritinhos, fazendo o loiro rir.

A morena desceu do skate cruzou os braços e disse:

— Não dá! Eu não consigo.

— Claro que consegue. - encorajou Austin - É só questão de prática.

— Prática que eu não tenho. - retrucou ela.

Austin riu.

— Vamos fazer assim: - disse ele - Chega de skate! - declarou ele prendendo skate na mochila - Não vou ficar me divertindo enquanto você fica cansada.

Ally sorriu timidamente, arrumando os óculos nos olhos para disfarçar.

Minutos passados, uma rua de distancia do colégio, as mãos de Austin e Ally se encostaram.

Novamente aquela sensação de eletricidade tomou conta de seus corpos. Ally engoliu a seco e Austin sorriu. O loiro decidiu então, segurar a mão de sua namorada com seus dedos entrelaçados. A sensação era reconfortante.

Assim que “finalmente” chegaram em frente ao colégio, todos pararam de respirar. Não literalmente. Todos que estavam no estacionamento pararam o que estavam fazendo. Absolutamente todas as pessoas presentes encaram Austin e Ally com surpresa. Os dois nunca haviam chegado juntos, muito menos de mãos dadas…

O mais novo casal ficou parado, Ally então, paralisou por completa. Austin a encorajou a seguí-lo, e assim fez.

Enquanto os dois andavam entre os grupinhos apenas ouvindo os cochichos, Ally se depara com uma presença não muito agradável: Kira.

Kira não é o tipo de pessoa que seria qualificada como vilã em um filme sobre Ally. A garota nunca fez nada de ruim para a compositora. Na verdade, Kira é a garota mais extrovertida que Ally conhecera. O fato desagradável da presença de Kira, era que a garota é ex-namorada de Austin. Kira não sentira raiva ao ver os dois juntos, apenas… tristeza, talvez um pouco de ciúmes… Por não ter mais Austin consigo.

Ally desviou o olhar de Kira e seguiu com Austin.

Assim que entraram nos corredores, avistaram Trish e Dez em frente ao seus armários. A última coisa que Ally gostaria de fazer neste momento, era encarar seus amigos e dizê-los “Hey, novidade. Estou namorando meu melhor amigo!”.

Enquanto andavam até Dez e Trish, Ally sentiu uma corrente gélida subir por sua “espinha”. A morena olhou para o lado e se viu ao lado da sala de física. Em um único segundo, ela soltou da mão de Austin e correu porta a dentro.

Sem entender nada, Austin seguiu a namorada.

— O que aconteceu? - perguntou ele.

— Eu não consigo fazer isso! - disse a morena pondo as mãos atrás da cabeça.

— O que?

— Não dá! Eu não consigo encarar eles com isso acontecendo entre nós! Merda.

— Não é tão difícil. Eles são nossos amigos! Certamente Dez já contou para Trish…

— Você contou pro Dez?! - disse Ally surpresa.

— Sim, por quê?

— Agora os dois já sabem! Ótimo!

— Como assim?

— Eu contei para Trish ontem.

— É… Eu já imaginava. - disse ele sem jeito.

Ally suspirou. Era notável que ela não estava a vontade.

— O que aconteceu? - disse Austin para a garota.

— Kira estava na entrada… Ela me encarou de uma maneira…

— Ei. Kira e eu terminamos há meses atrás. Não precisa se sentir ameaçada…

— Não estou me sentindo ameaçada! Estou me sentindo horrível! Todos sabem que ela ainda gosta de você!

— Mas eu não gosto mais dela! Não daquele jeito… E o que te importa?! Kira não é sua amiga.

— Mas é uma das poucas pessoas que não fez nada contra mim! - soltou ela.

Austin se calou. No momento em que interpretou as palavras de Ally, ele percebeu o quanto idiota estava sendo…

— M-Me desculpa… Eu não queria ser tão estúpido.

— Eu só… Preciso respirar um pouco. Já estou sufocada o suficiente em ser eu mesma, agora ser sua namorada… Parece que estou perdendo o oxigênio…

Ally olhou nos olhos do loiro por alguns segundos e saiu da sala. Ela seguiu pelo corredor na direção de Dez e Trish, mas passou direto por eles.

Austin saiu da sala e andou até os amigos.

— O que aconteceu? - perguntou Trish.

— Iríamos dar os parabéns pela “investida” de vocês, mas ela nem nos olhou… - completou Dez.

— Ela está se sentindo mal pela… Kira.

Os dois entenderam no mesmo instante, mas ele não… Austin não entendia porque ela se sentiu mal por Kira. Austin não entendia o que ela quis dizer com “Ela é uma das poucas pessoas que não fez nada contra mim”. Não entendia o que estava acontecendo com ela. Não entendia como ela podia ser tão fechada…

POV Ally

Assim que me distanciei de todos, fui a procura de Kira. Tive certeza que ela estaria no ginásio com as outras lideres de torcida. E estava.

Kira havia vestido o uniforme e estava, aparentemente, recebendo apoio das amigas. Andei até elas e disse:

— Kira. - falei cuidadosamente - Podemos conversar?

— Sai daqui, sua vadia! - gritou Tilly para mim - Você já fez estragos suficientes por hoje!

— Só quero conversar.

— Mas não vai! - disse Brooke, outra ex-namorada do Austin - Escuta só, Dawson! Se eu fosse você já tinha pego essa banha de baleia que você chama de corpo e dado o fora daqui!

— Brooke! - repreendeu Kira indignada - Chega!

— O que?! Essa puta rouba o seu namorado e você ainda defende ela?!

— Sim! E vou continuar defendendo se você não fechar essa coisa podre que você chama de boca!

Brooke se calou e cruzou os braços. Olhou para mim e disse:

— É melhor que valha a pena.

Então ela e Tilly seguiram em direção as outras líderes de torcida.

— Desculpe por ela. - disse Kira - Ela é uma verdadeira amiga só é um pouco esquentada.

— Um pouco? - murmurei.

— O que você ia dizer? - perguntou ela.

Suspirei na esperança de ganhar força para falar com ela. Sentei ao seu lado e disse:

— Eu sinto muito. Por mim e pelo Austin. Eu sei que você ainda gosta dele…

— Não importa. Nós terminamos há meses. Você está com ele agora, vocês se gostam… Sempre gostaram…

— Na verdade… Não.

— O que?

— Isso foi muito de repente. Trish e Dez ficavam dizendo que temos muita química e que somos um casal perfeito. Não acreditávamos nisso, ainda não acreditamos. Mas… Ele me pediu em namoro. A ideia foi dele. Eu não… - suspirei - Eu não teria aceitado se não estivesse em dúvida também.

— Então você não gosta dele?

— Não no momento.

Ela abaixou a cabeça. Segurei uma de suas mãos e disse:

— Só quero que saiba que não quero que você esteja triste, sabendo que a culpa é minha. Você é bonita, gentil, inteligente… Confiante! Você causa inveja na grande maioria das garotas desse colégio!

— Obrigada, Ally. - disse ela sorrindo um pouco.

Apenas sorri e saí da quadra. O sinal havia tocado há alguns minutos, mas eu não tinha aula naquele período. A primeira coisa que penso em fazer neste tempo, é me esconder na sala abandonada da biblioteca e compor mais das minhas músicas que ninguém vai ouvir…

Vou até o meu armário e pego meu diário. Assim que fecho a porta, sou abordada pelas criaturas mais horrendas do planeta Terra. A quantidade de maquiagem que tem no rosto de Tilly e Brooke é absurda! As duas me cercam e dizem:

— Não importa se a ingênua da Kira te perdoou. - disse Brooke - Você continua sendo esse pedacinho de bosta que sempre foi.

— Você devia sentir vergonha de entrar aqui. Na verdade nem sei como você conseguiu passar pela porta de entrada se não permitem animais aqui. - disse Tilly.

— Cuidado ao passar perto de nós. A qualquer momento podemos ligar pro zoológico de onde você saiu, e mandar te colocarem de volta com as baleias. Se é que vão aceitar alguém maior do que elas lá. - completou Brooke.

A cada insulto que saía da boca delas eu sentia o gosto amargo subir pela minha garganta.

— Tome cuidado, Dawson. Somos piores do que parecemos. – disse Tilly se aproximando para me intimidar.

— Principalmente quando mexe com alguém que nos importa. – completou Brooke – O jogo pode virar a qualquer momento.

As duas retomaram a pose e, como se estivessem em uma premiação de Miss, saíram pelo corredor de volta para a quadra.

Assim que as mesmas foram embora, o gosto amargo voltou à tona na minha garganta. E em um único instante, senti todo o meu almoço do dia anterior voltar para onde entraram.

Corri pelos corredores à procura do banheiro. Cheguei a pôr as mãos na boca antes de qualquer acidente. Só havia um banheiro aberto no primeiro andar: o dos professores, que por obra do destino estava do outro lado do prédio.

Durante meu percurso à toda velocidade, passei por Austin em seu armário. O mesmo, preocupado, começou a me seguir.

Assim que cheguei no banheiro dos professores, entrei porta à dentro e me infiltrei na primeira cabine. A sensação era péssima, mas por algum motivo meu subconsciente dizia que era o melhor para mim. Austin segurou meus cabelos e minha mochila.

Quando o gosto amargo se esvaiu de minha boca, respirei fundo e hesitei ao dar continuidade a tal sofrimento. Cheguei a por o dedo na boca mas não segui com a ação.

Dei descarga e sentei no chão. Austin se ajoelhou do meu lado, acariciou meu rosto e disse:

— Você ta bem? Digo... Melhor?

— Não sei...

— Isso acontece com frequência?

— Por que quer saber? – falei nervosa com interrogatório.

— Sou seu melhor amigo, e namorado agora. Me preocupo com você!

— Mesmo assim! O que te interessa saber tanto da minha vida?! – falei mais alto.

— Por que está sendo grossa comigo? Só quero o seu bem!

— A questão é que eu estou bem! – menti – Não precisa ficar me rondando como se eu fosse de vidro! NÃO SOU COMO AS PESSOAS QUE VOCÊ ENGANA PARA CONSEGUIR O QUE QUER! QUANTAS VEZES VOU TER QUE REPETIR QUE EU ESTOU BEM?!

— OUÇA O QUE VOCÊ ESTÁ DIZENDO! – gritou ele com indicio de que iria chorar – Eu só quero te ver bem! Estou preocupado com você! Você faz parte da minha vida! É a única pessoa que realmente me entende e eu quero te entender!

Desisti de tentar distanciá-lo. Encostei minha cabeça na parede e respirei fundo. Levantei e andei até a pia, onde lavei meu rosto.

Austin e eu andamos até o pátio sem dizer uma única palavra. Ele me olhava vez ou outra e eu desviava o olhar. Sentamos em baixo da uma árvore e ali ficamos.

Após minutos de silêncio eu disse:

— Elas me ameaçaram. – murmurei.

— O que? – disse Austin ao ouvir.

— Tilly e Brooke. Vieram até mim e me ameaçaram.

— Por que não me disse antes?! – disse ele se levantando – Eu vou lá falar com elas!

— Não! – falei me levantando – Não é tão simples. Falar com elas só vai piorar!

— O que elas disseram?!

— Quase nada. A maioria do tempo só me xingaram... Mas... Até que elas estão certas...

— Como assim? – disse ele sem entender.

Respirei fundo, olhei em volta e sentei no chão novamente.

— Eu vou te contar uma coisa, que ninguém mais sabe.

Ele olhou para mim. Sua expressão era de preocupação. Austin se sentou ao meu lado e disse com calma:

— Pode falar.

— As ameaças da Tilly e da Brooke não são de hoje… Já faz anos que elas me… Que elas me perseguem

— Por que não me disse isso antes? Eu poderia ter te ajudado...

— Você não percebe? Tudo o que falam de mim é verdade! Eu sou um pedacinho de bosta. Sou a baleia, a estranha, vadia, manipuladora, ridícula, horrorosa e com certeza a garota mais fraca da escola. Eu não sou ninguém! E mesmo se fosse, ninguém notaria… Eu sou um erro no meio de um monte de acertos.

— Ally, você não é um erro! Você... Você é... Você é incrível...

— Não, não sou. - falei rindo.

— Sim, você é.

— Austin…

Ele se aproximou de mim.

— Ally, você é linda.

O fato de Austin ser lindo, com aquele sorriso encantador que está a cinco centímetros do meu rosto não ajudou muito.

Enquanto eu ria sarcasticamente sem acreditar que ele estava falando sério, Austin se inclinou na minha direção e selou nossos lábios. No primeiro momento eu tentei resistir, mas logo desisti. O beijo foi calmo e… verdadeiro, por assim dizer.

Mesmo nunca tendo beijado Austin, e nem mesmo qualquer outra pessoa, somente pela maneira que ele descansou a mão em minhas costas pude perceber que ele não estava forçando parecer real. Ele não estava fingindo que queria, muito menos que fora por impulso. Foi real.

É como se toda aquela história de “teste” fosse uma mentira… Como se… Se ele gostasse de mim. Cala a boca, Ally. pensei Ele é o Austin Moon, pode ter qualquer garota que quiser, acha mesmo que ele escolheria você? Não. Não acho.

Assim que nos distanciamos, evitei olhar em seus olhos. Virei o rosto em direção a árvore e disse:

— Não precisa fazer isso se não quiser…

— O que?

— Não precisa namorar comigo se não quiser, alias, eu sei que não quer.

— Do que você está falando?

— Ah, fala sério, Austin! Acha mesmo que a vida é igual a um filme ou uma fanfic qualquer? Isso é a vida real! Sejamos racionais, em que mundo o garoto mais desejado pelas garotas iria se apaixonar pela melhor amiga?

— No meu mundo…

— O seu mundo parece ser um universo alternativo…

— Pra mim, é o mundo real. Uma história real...A minha história.

Não soube o que dizer. Me virei de costas, levei as mãos até a cabeça e comecei a pensar. Tentei pensar em alguma resposta, explicação… Mas só pensava no beijo. O gosto do chiclete de laranja com morango de Austin continuava em minha boca. Por um momento de fraqueza (entre vários outros), levei os dedos até meus lábios. Assim fiquei por alguns segundos.

Austin calmamente me abraçou por trás, encostou a cabeça na minha e disse em voz baixa:

— Você pode não perceber mas… Você é a garota mais incrível que eu já conheci.

— Diz isso como amigo ou namorado?

— Estou dizendo o que o verdadeiro Austin acha.

— E quem é o verdadeiro Austin?

— É aquele que aparece quando estou no palco, aquele que posso ser com você, aquele que te beijou… Aquele que quer saber quem você realmente é…

Olhei para o chão por um segundo e logo o olhei. Nossos rostos estavam a cinco centímetros de distância, tudo o que eu queria no momento era acabar com aquela distancia, transformá-la em zero…

— Tem certeza que quer conhecê-la? Não vai se afastar?

— Por que eu faria isso?

— Passo tanto tempo com a verdadeira eu que nem sei como posso ser sua amiga…

Ele sorriu satisfeito, como se estivesse prestes a dizer algo certo, e definitivamente estava.

— Você tem mais fases que a lua…

As frases de Austin nem sempre tem um sentido concreto aparente, mas se você parar, pensar, ler as entrelinhas, você pode perceber que ele além de um ótimo cantor, é um poeta de mão cheia.

O loiro, ainda me abraçando, ficou na minha frente novamente. Acho que estou me acostumando com essa ideia de namoro temporário. Nos olhamos por alguns segundos, ele se aproximou lentamente de meu rosto e beijou minha bochecha.

É estranho a calma que sinto quando Austin está comigo, sempre foi assim, é como se nada de ruim fosse acontecer. Éramos ele e eu contra o mundo…

Meus pensamentos foram interrompidos pelo soar do sinal, minha primeira aula do dia.

— Tenho que ir. - falei mesmo não querendo.

— Okay… - disse ele se afastando lentamente - Te vejo no almoço?

— Ou no corredor. - disse rindo sem graça.

— Certo… Bom, boa aula.

Eu sorri e andei até a entrada do colégio. Parei no meio do caminho. Andei até Austin novamente e lhe dei um beijo na bochecha, e sai correndo novamente. Olhei para Austin de longe, ele estava sorrindo, coçou a cabeça de virou de costas, acho que ele estava feliz… De verdade.

É incrível e ridículo quando começamos a gostar de alguém, e achamos que tudo o que ele faz é uma dica ou uma pista… Espera. Eu disse “gostar de alguém”? Será que… Não! Nunca! Estou “namorando” com o Austin há apenas um dia, é impossível eu já estar gostando dele. Estou confundindo afeto por paixão, só pode.

(...)

Eu estava na aula de educação física quando aconteceu.

Sr.Crawford divide a turma em dois, mas a maior parte do tempo, ele presta atenção nos jogos masculinos. O que geralmente se torna útil, afinal os garotos sempre são agressivos nos jogos (principalmente quando o adversário é seu “inimigo” ou está dando em cima de sua namorada.).

Mas nesta aula, uma atenção dele seria útil….

Fui selecionada para jogar (volei) no time adversário ao Trifeta do Bullying (Kira,Tilly e Brooke). Ou seja… Ou vou levar uma bolada muito forte ou irei passar muito mal, porque cá entre nós, não estou 100% no momento.

O jogo estava no seu ápice e algo revirou em meu estômago. Sentia os olhares de Trish e Austin em cima de mim queimando por sua tamanha preocupação. Brooke e eu estávamos cara a cara na rede, ela me fuzilou com o olhar.

Hailey Simons sacou a bola, um tiro perfeito. Uma força me puxava para baixo, eu iria cair. Trish passou para Jamie. Tudo ficou preto por um segundo. Ponto para o time Azul! Meus olhos ficaram pesados. Lizzie sacou a bola. Minha audição ficou abafada. Tilly passa para Brooke. Permaneço de pé. Brooke salta o mais alto que pode e obviamente mira em mim. NOCAUTE! Caio no chão inconsciente.

Eu já imagino as razões para ter passado mal, mas o tempo que tive para pensar não foi usado. Afinal, nada eu estava vendo, a não ser uma infinita escuridão.

Aos poucos meus sentidos foram voltando… Primeiro o olfato, pude sentir nitidamente o cheiro nauseante do local. Em seguida, recuperei o tato, meu corpo estava em cima de uma superfície macia e minha mão estava sendo apertada, sentia leves picadas em uma parte do braço. Minha audição voltou abafada, em poucos segundos imaginei ter 2 ou mais pessoas na sala. E por último, minha visão.

Ao abrir meus olhos, não soube exatamente onde estava, mas logo percebi. A enfermaria do colégio não grande. Cinco macas eram separadas por cortinas azuis, a mesa da enfermeira fica logo em frente e há um sofá antigo de cor marrom no canto da parece.

Sem precisar me mover muito, pude ver Austin segurando minha mão direita. Harriet, a enfermeira, analisava meus batimentos cardíacos. Trish e Dez estavam ao lado de Austin, tentando explicar o que possivelmente estava acontecendo.

Levei minha mão esquerda até a testa e esfreguei lentamente. Austin, Trish e Dez se aproximaram da maca rapidamente. Austin soltou minha mão e afagou lentamente meus cabelos, Trish segurou a mão que Austin havia soltado, e Dez ficou ao fundo sorrindo para mim.

— Está se sentindo bem, querida? - perguntou Harriet se aproximando.

— Sim. Só um pouco zonza. - respondi enquanto me sentava.

— Ótimo. - disse ela com um sorriso carinhoso - Você já está liberada para voltar à aula, mas antes preciso falar com você sobre algumas coisas. - disse ela.

Austin, Trish e Dez assentiram e saíram da enfermaria, me deixando sozinha com a enfermeira. Harriet se sentou ao meu lado e pôs a mão sobre o meu joelho.

— Ally, querida. - disse ela após alguns segundos - Está tudo bem com você?

— Sim, tudo certo. Por que a pergunta? - questiono confusa.

Ela respira fundo e segura minha mão trazendo para perto de si, em seguida acaricia a mesma. Sem tirar os olhos de meu braço, Harriet puxa a manga de meu casaco para cima, deixando meu ante-braço à mostra. Algumas cicatrizes estão expostas.

— Por causa disto. - ela responde - Querida, se estiver acontecendo qualquer coisa com você…

— Harriet, eu estou bem. - afirmo mesmo sem saber se estou mentindo ou não.

— Certo, acredito em você. - diz ela enquanto afaga meus cabelos - Mas antes, - ela se levanta e pega um pequeno pacote de gaze e um rolo de esparadrapo - vamos deixar isto um pouco menos a mostra.

Harriet segura minhas mãos e faz três voltas ao redor de cada pulso. Em seguida, puxo a manga de meu casaco para baixo e sorrio para ela. Alguns segundos se passam até eu me levantar e seguir até a porta.

Assim que saí da enfermaria, peguei meu celular para olhar as horas: 11h18. Apenas dois minutos até minha aula de Sociologia, a única aula do dia em que a Trifeta do Bullying não faz comigo. Ando lentamente até a sala de aula e espero o sinal soar.

Ely sempre foi seu professor predileto, afinal, era o único que aparentemente se preocupava com os sentimentos dos alunos. Cabelo castanho bem cortado, pele parda, olhos esverdeados e uma tranquilidade muito suspeitada entre os alunos (Tranquilidade natural ou drogas?). Mesmo que sua disciplina não seja sua favorita, definitivamente a aula era.

Assim que os alunos saem da sala, entro e me sento na mesa de sempre, no centro da primeira fila e observo o professor arrumar suas coisas em cima da mesa. Ele põe sua pasta minuciosamente sobre a mesa, entrelaça os dedos e fala com um ânimo discreto.

— Bom dia, pessoal. Bem, hoje nós vamos deixar Platão de lado. Gostaria de iniciar uma “Pauta” com vocês. - Pedro se dirige ao quadro negro e escreve com seu giz branco: - E o tema é: “Adolescência - conflito de interesses”.

Os alunos que antes estavam conversando em tom baixo, viram-se para frente, como se tivessem a atenção apreendida. O professor sorri satisfeito, por assim dizer.

— Bem, como já é fato… Adolescência é uma etapa intermediária do desenvolvimento humano, entre a infância e a fase adulta. Este período é marcado por diversas transformações corporais, hormonais e até mesmo comportamentais. É o momento em que estão começando a formar suas opiniões e suas personalidades.

Ele faz uma pausa e se senta em cima da mesa de informalmente e continua.

— Hoje, a voz principal desta classe, não será a minha, será a de vocês. Vou impor algumas situações que vocês provavelmente vivem ou pensam, e vocês irão dar sua opinião sobre tal.

Os sussurros percorrem a classe como uma fofoca em um escritório de jornalismo

— Primeira situação: - começou ele.

A Aula seguiu normalmente, alguns pequenos debates entre alunos aconteceram, outros foram calmos. Nenhum assunto em que eu poderia facilmente argumentar surgiu. Até agora.

— Último tema: Segredos e emoções. - ninguém argumentou - Todos sabem que, cada um de vocês têm seus segredos, inseguranças, dores e sentimentos. Mas como vocês lidam com isto?

— Contamos para alguém próximo. - disse Felicity fazendo com que todos olhassem para ela - Quando eu estou triste, ou com algum problema, falo com meus amigos. Sei que eles vão me ouvir, e me ajudar.

— Fale por si só. - murmuro, trazendo a atenção para mim.

— O que quer dizer Ally? - pergunta professor Ely.

Este é um truque dos bons professores. Eles nunca deixam você parar no meio de um pensamento. Se você abre a boca, eles querem saber exatamente o que você tinha a intenção de dizer. O princípio é que algumas verdades mais profundas a nosso respeito são coisas que a gente para de dizer na metade, mas acho que eles fazem isso para a gente se sentir importante. Afinal, uma coisa é certa: não tem ninguém que diga para mim: “ Pois não, Ally. O que você iria dizer mesmo?”.

— Nada, estava só pensando alto. - minto.

Felicity estava obviamente falando sobre algum tipo de problema um tanto superficial, problemas sérios não são resolvidos facilmente em uma conversa qualquer. É muito mais difícil falar quando você tem vontade de se matar, por exemplo. Isso supera qualquer outra coisa. E além do mais, mesmo se você falasse, as pessoas não dariam a mínima. Elas só querem que você fale, para depois elas simplesmente tocarem no seu ombro e dizerem “Está tudo bem. Vai ficar tudo bem”, quando na verdade elas não sabem sobre o que estão falando. Simplesmente para você sorrir e elas poderem voltar para lidar com suas vidas inúteis.

Existem as pessoas que guardam a dor para si mesmos, com medo de deixar as pessoas que ama preocupadas, ou se sentindo mal por não poderem ajudar. Tem palavras que parecem cacos de vidro, mas a gente prefere engolir e se cortar por dentro do que colocar para fora e ferir alguém

Pergunto-me se os professores nunca perceberam que alguns dos alunos sentados em sua classe têm suas mentes repletas de pensamentos mórbidos e estão em colapso sob a pressão que exercem sobre eles. Me pergunto se eles realmente se importam com os alunos. Me pergunto se eles ficam preocupados quando um aluno não aparece em sua aula por um longo período de tempo.

A verdade é que: Quase ninguém realmente se importa até algo terrível acontecer.

Exitem aquelas pessoas que te fazem se sentir insana, como se você pertencesse à um hospício. Quase como se você pudesse viver a sua vida sem eles se importarem. E você se pergunta se eles sabem quantas vezes você tentou se machucar para que eles parassem de te fazer se sentir de tal jeito.

Mas existem pessoas que fazem tudo parecer certo. Como a Trish, que não sabe das merdas que acontecem comigo,mas isso não importa por que ela está sempre lá por mim mesmo eu nunca tendo contado que preciso dela. Têm aquelas pessoas que fazem você se sentir especial, aquelas que te ensinam coisas novas… Austin é o único que me faz sorrir quando tudo o que quero é me afogar em meio às lágrimas, uma das únicas razões de eu querer ir para a escola.

A aula passou mais depressa do que eu imaginava. Assim que o sinal tocou, esperei a sala esvaziar para sair. Enquanto passava pela porta, observei o movimento no corredor tentando encontrar alguém conhecido… Foi quando Austin surgiu na minha frente.

— Vamos?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "End Of The Day" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.