A Dança dos Condenados escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Yei!
Se você chegou até aqui, espero que sua curiosidade seja recompensada. Nada direi nas notas iniciais que possa dar-lhe alguma ideia de como prosseguirá a história, a não ser o óbvio: que não estamos tratando de um show de dança aqui. -q
+
A brincadeirinha com a sinopse foi feita baseada no nome da fic, que é puramente metafórico. Se lendo este aviso você ainda está disposto a ir adiante, apenas lhe desejarei uma boa leitura. ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/677175/chapter/1

O herdeiro e o demônio sem nome.

 

Devo afirmar, antes de tudo, que Akira já havia acostumado-se que as coisas fossem complicadas e se tornassem uma bola de neve caindo indefinidamente e arrastando-o consigo. Afinal, desde o momento que nasceu como o filho de um líder da Yakusa, todo o tipo de desgraça possível foi jogada em sua cabeça.

A pressão que recebia por estar em tal alto nível na máfia japonesa forçou-o a se tornar alguém temido, ainda que sua personalidade real seja pacífica. Akira era conhecido pelas pessoas de fora – e até mesmo pelas de dentro – como a Calamidade Carmesim, algo que define muito bem o estado em que seus inimigos eram encontrados.

Ahn, eu disse que ele era pacífico… de fato, ele é. Mas não bom, e nem de longe misericordioso. Afinal, isso não é uma historinha para que as crianças deitem a cabeça em seus travesseiros e durmam. Isso não é uma cantiga de ninar. Isso é…

Bom… vocês podem chegar a alguma conclusão depois do meu breve relato…

 

Ele começa numa noite cinzenta e fria, há centenas de anos atrás, quando a máfia japonesa não tinha chegado nem aos pés do que é hoje.

Existem relatos de um corpo em hibernação, que foi trazido à sede daquela família. Só dizia-se que era completamente gelado, mas a carne era macia e parecia viva, não apodrecendo mesmo com aquela temperatura quente, e nem aquecendo-se. Normalmente, isso seria o suficiente para sumirem com a criatura sem pensar duas vezes, mas uma característica única os impediu: a moça desacordada e que mais parecia um cadáver tinha chifres. Eles cresciam, um par de astes de cor neutra, da massa de cabelos acinzentados e ridiculamente lisos.

A curiosidade foi mais forte que o medo, e o demônio foi movido e resguardado. Foi-lhe erguido um templo para que não fosse incomodado, e acreditava-se que ela era a deusa da sorte da família Kurotsuno. Ainda assim, o ser sem nome e identidade nunca despertou. Ele manteve-se adormecido através dos anos, enquanto o mundo ao seu redor modernizava-se.

Carros, aviões, tecnologia… nada foi capaz de tirar-lhe do seu sono, a não ser um certo rapaz…

 

Se existe algo chamado destino, e se está tudo escrito em algum lugar como todos insistem tanto em afirmar, devo dizer que era a sina de Akira encontrar-se com o demônio. Mas poderia muito bem ser apenas uma coincidência terrível. O fato é que, um dia, o humano travou conhecimento de que realmente havia alguma coisa no Templo que sua família guardava. Claro, todos ouviam a história desde muito jovens, mas ninguém de fato acreditava. E o segredo era passado adiante apenas pela árvore de sucessão.

Nessa época em que me refiro, Akira já havia espalhado sua fama como Calamidade Carmesim e já deveria contar com seus vinte e cinco anos. Foi a primeira vez que adentrou o templo sozinho… sua mente estava confusa. Como acontecera muitas vezes antes, em sua juventude, mas ele achara ter deixado isso para trás.

Estava enganado.

Procurando por algum tipo de paz espiritual, ele cruzou as portas de madeira, delicadamente pintadas de preto e vermelho. Foi até o armário que ficava bem no fundo, por trás do altar. Ali, havia uma passagem secreta que descia solo adentro, uma escadaria circular em pedra. Quanto tempo estivera ali? Talvez desde sempre… antes mesmo da deusa chegar.

Akira seguiu…

Ele não sabia o que estava fazendo, nem onde estava indo. Não esperava encontrar nada. Apenas era puxado em direção ao centro da terra, como se fosse um metal indo em direção a um grande ímã.

Nas profundezas, havia uma sala completamente redonda. E bem no centro dela, sentada em um trono negro, perfeitamente conservada, intocada pelo tempo, estava o demônio. Nu, uma graciosa figura feminina, de proporções pequenas e jovens. Os cabelos cinzentos caiam-lhe pelos ombros, tampando boa parte dos seios. Os olhos, no rosto estranhamente angelical, estavam cerrados. Suas mão delicadas estavam unidas, sobre as coxas. E, é claro, havia os chifres…

Akira observou-os, admirado.

Não parecia receoso com sua descoberta, mas sim… maravilhado… ou seria chocado?

Mesmo ele não saberá dizer quais eram seus sentimentos naquele momento.

Ou como sabia que aquela coisa não era uma estátua, que estava viva, ainda que inconsciente. Teve essa certeza quando os dedos dele esticaram-se para tocar os ombros pálidos. A pele era macia ao toque, ainda que deixasse uma sensação térmica gelada.

Tão perfeitamente bonita, uma marionete sem vontade, uma boneca que não se move.

Creio que ele era muito honrado, pois outra pessoa teria se aproveitado da situação. Foi quando suas mãos tocaram os longos cabelos dela, percorrendo-os com uma delicadeza extrema (para um assassino), que suas pálpebras estremeceram pela primeira vez. E quando as mãos sujas de sangue inocente dele seguraram seu rosto, seus olhos finalmente abriram. Pela primeira vez, em tanto tempo… olhos de esclera negra e íris amarelada. Olhos de um demônio.

Ela jogou o corpo para frente, projetando-se em sua direção. Sem uma palavra sequer, sem apresentações ou algo parecido. Os dedos delicados engancharam-se na gravata social que ele usava, puxando-a de maneira que Akira ficasse ainda mais perto.

Os lábios do demônio e do mafioso se encontraram por um pálido momento.

E ela o atacou.

Sim, ela o atacou.

Daquela maneira silenciosa, quase pacífica, seu braço direito varou-lhe o flanco, fazendo-o tombar. Mas o demônio sem nome percebeu, tarde demais…

Que ele também o atacara, no fim das contas…

Fora um golpe tão rápido que o ser não notara. Seu precioso chifre direito desprendeu-se da cabeça e rolou no chão.

A dor explodiu em ambos ao mesmo tempo. Da boca dele subiu um grito abafado… da dela, um guincho alto. Como sinos partidos, batendo ao mesmo tempo. Dissonante e terrível.

O demônio sem nome encolheu-se no chão, aparentemente aquele era um ponto fraco. As mãos buscavam ferrenhamente o chifre que não estava mais lá, agarrando o ar. Akira mantinha-se caído no chão de pedra, o sangue banhando lentamente sua camisa impecavelmente branca.

— Ei… demônio…

Ele pensou que ela não lhe responderia, mas no fim seus lábios entreabriram-se para que ela fala-se. Uma voz dolorida, mas afiada como uma faca. — O que é, humano?

— Eu não quero morrer nem algo do tipo… antes de ter um objetivo e poder realizá-lo.

— Arrancou meu chifre… o que acha que ganhará dizendo essas coisas para mim?

— Vida… objetivo.

— Não lhe darei nada.

— Então me dê o seu… o seu próprio objetivo. O que você queria quando veio para o mundo dos homens, se é que queria algo… dê-me, e ajudarei à conclui-lo. E quando estiver satisfeita, eu morrerei e desaparecerei, e não se preocuparás mais comigo.

O demônio calou-se. Seus olhos, tão distintos, estreitaram-se, e ela pareceu pensar sobre o assunto. — É uma troca injusta. Porque eu lhe darei vida, e um objetivo. E você me ajudará, mas também te ajudarei, e dessa forma eu sairei em desvantagem. — Ela pôs-se de pé, os cabelos espalhando-se, deixando seu corpo todo a mostra. Ela não parecia ter senso de pudor. E no fim, ele mesmo não parecia olhar de maneira pecaminosa para ela. — Eu quero um nome.

— Um nome? — Akira já havia segurado com mais força o cabo da espada, ainda que devesse estancar o próprio sangue. Por um momento, achou que ela iria atacá-lo novamente. E, naquele estado, ele não poderia fazer muito pra impedir. No máximo, levá-la junto consigo. Mas nem ao menos sabia se o demônio podia morrer… — Para que quer um nome? Você deve ter um…

— Eu tenho, no outro mundo. Quero um nome para usar aqui. Dê-me um nome, e algo para substituir o chifre que tiras-te de mim. E o trato estará feito.

Aquilo soava-lhe conveniente, no fim.

O demônio ofereceu a Akira o sangue de um corte que acabara de talhar em seu braço.

Akira deu-lhe um pouco do seu próprio, do ferimento em seu corpo.

Isso selou o pacto. Assim como o nome que ele sussurrou em seu ouvido.

— Kuro…

 

O demônio… a deusa que protegia a família mafiosa, Kurotsuno.

Foi-lhe dado o nome mortal de Kuro.

Seu chifre direito é algo bizarro e difícil de definir, como se fosse um monte de sistemas negros unindo-se para formar um galho.

Seu contratante é o herdeiro da família, o próximo chefe da Yakusa, a Calamidade Carmesim, Akira Kurotsuno.

E a verdadeira história de reinos profanos e cidades pecaminosas inicia-se agora.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Algumas curiosidades:
+
A aparência de Kuro foi baseada na Kurotsuno, de Obsolete Dream (Deep-sea-prisoner, ou Mogeko).
O nome da família também é este porque no dia em que estava escrevendo fiquei sem ideia pra outro que fosse impactante, e acabei gostando muito dele para mudar no fim das contas. Então não, não é uma fanfic de Obsolete Dream.
+
Kuro significa "negro".
+
A aparência de Akira foi baseada no Shizuo (Durarara!) - embora ainda não tenha aparecido sua descrição completa.
+
Espero que tenham gostado. Kisses para vós ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Dança dos Condenados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.