Cuidadosamente, ele retirou seu braço da cintura de sua esposa. Já eram 7 horas, com certeza Jellal já o estava esperando no parque de skates. Precisavam urgentemente conversar. Não esperou nem um minuto a mais. Vestiu sua blusa branca e por cima seu casaco preto, junto com uma calça azul. Deu um beijo na testa de sua mulher que apenas virou-se para o outro lado sorrindo. Juvia não era de se acordar cedo, então achava que daria tempo ele voltar.

Gray saiu tão apressado, que quase esquecia a chave da casa. Um grande erro. Pois a mulher de cabelos azuis iria desconfiar se ouvisse a campainha e o visse ali. Presente ou comida não seria, pois o guarda-roupa e os armários da cozinha estavam cheios daquilo. E também família não poderia ser. Seus pais moravam no mesmo bairro de Natsu, o que significava que era longe.

 Com passos largos, ele chegou vendo o parque ainda vazio. Os jovens skatistas só vinham a partir das 9 horas. Só uma figura de cabelos azuis sentado em um dos bancos que estava ali. Andou até lá e viu o olhar desesperado de Jellal. Sentiu tanta pena do amigo. Um abraço muito forte fez com que uma lágrima descesse pelo rosto de Jellal. Sentaram-se silenciosamente enquanto ele chorava antes de contar qual era o seu plano para acabar com aquele inferno.

— Obrigado por você vir até aqui... Há essa hora! Poderia ter ficado com sua esposa... – Alguns soluços ainda saiam de sua boca, mas depois de se acalmar pararam. – Sabe que eu ‘tô me odiando por ter apostado na Erza. Eu nunca pensei que aquele cara me odiava tanto a ponto de machucar um animal.

— Por que você apostou na sua namorada? – Gray perguntou com a voz rouca e coçando os olhos, mas aquilo não significava que a conversa não o interessava.

— Cara, eu estava louco pelo dinheiro! Nem me importei se estava apostando nela. Mas aí, só depois percebi o erro que fiz quando o pai dela apareceu para mim.

♥

Jellal colocava seu cavalo cansado de mais um dia de treinamento no estábulo, sendo que Tatto não estava o respeitando mais por aqueles dias. Amarrou o animal e pegou sua mochila com seus pertences. Quando ia saindo do local, um homem de cabelos castanhos apareceu na sua frente. Logo reconhecera quem era; pai de sua namorada.

— Err... Ah... Olá... – O rapaz ficou estático na hora, não sabia o que dizer já que Erza sempre falava que odiava aquele homem.

— Então você é o tal garoto que está namorando com minha filha... – Ele deu um passo e Jellal recuou dois. – Por que tinha que ser logo... – Olhou-o dos pés a cabeça. – Você?

— O senhor já me conhece?

— Ora garoto não se faça de otário! – Ele aumentou o tom de voz. – Onde está aquele desgraçado do seu pai? – Jellal arregalou os olhos.

Será que aquele homem que estava na sua frente poderia ser o que estava ameaçando seu pai de morte? Não poderia ser!

— Eu... Meu pai mora longe daqui. – O garoto falou cuidadosamente as palavras.

— E sua mãe? – Aproximou-se mais. – Ainda mora aqui?

— Deixe ela fora disso! O que meu pai fez a você, hein?

O mais velho virou-se para sair daquele lugar que dizia, mentalmente, ser fedorento. Mas antes não se esqueceu de relembrar Jellal de duas coisas:

— Ainda vou reencontrar seu pai e fique longe da minha filha!

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Gray não tinha palavras para mais nada. Seu amigo já havia lhe contado sobre o pai que estava em Hargeon e sendo ameaçado de morte. O moreno não tinha noção de como era isso. Seu pai sempre esteve do seu lado e sua mãe morrera bem cedo, quando ele era um recém-nascido. Passou as mãos na cabeça tentando se concentrar no problema do companheiro.

— Nossa... Nem sei o que te falar, mas... O que você vai fazer? Já tem alguma coisa em mente? – Jellal respirou fundo para dizer aquilo.

— Gray... Eu tenho dois problemas para serem resolvidos, mas tenho que tratar primeiro desse. Eu vou passar uns dias em Hargeon.

— O que? Você ficou louco? Sabe as consequências disso? Pensou que seu pai nem se importa mais com você? – E finalmente o moreno tocou na ferida do garoto de cabelos azuis, ele não gostava que ninguém falasse assim do pai. – Desculpe. – Virou o rosto envergonhado.

— É a realidade não é? – Jellal tentava limpar algumas lágrimas que teimavam em sair. – Mas eu não posso fazer mais nada. Ele é meu pai. Eu ainda me lembro dos dias que ele vinha me visitar, trazia presentes para mim e, o mais importante, ele me amava naquela época. Está na hora de eu retribuir tudo isso.

— E é isso? Vai deixar tudo aqui? Seus amigos, seu cavalo, seus sonhos e sua paixão? – Tudo aquilo estava doendo muito nos dois, mas era o único jeito.

— Antes de tudo eu vou me despedir de todos. – Tentou sorrir, mas não conseguiu e derramou mais lágrimas. – Eu vou voltar ‘tá? – Colocou os braços sobre os ombros de Gray, tentando o abraçar. – Não se preocupa, nunca vou deixar tudo isso morrer. Eu prometo! – E finalmente o moreno conseguiu o olhar novamente e o abraçar.

Deu a hora de eles irem e foi uma despedida triste. Aqueles dois se conheciam desde pequenos, eram melhor amigos e contavam tudo sobre a vida deles.

Gray chegou a casa e colocou as chaves em cima do balcão da cozinha. Abriu a porta do quarto e notou que Juvia ainda estava dormindo. Caminhou até a sala e sentou-se na sua poltrona que do lado havia fotos de seus amigos. Em um dos porta-retratos, tinha uma foto engraçada: uma amiga do ensino médio desenhou Natsu, Jellal e ele na forma fofinha, poderia dizer. Naquele tempo era tão fácil.

Tirou a foto do objeto e observou bem para o garoto de cabelos azuis. Sentia que aquilo estava sendo muito perigoso para seu amigo. Sentia que ele estava sendo um grande idiota. Sentiu que ele poderia nunca mais voltar daquela viagem.