A morena pensativa estava sobre um tamborete arrumando as esculturas no mostruário. A música agradável, mas acima do volume normal abafava qualquer barulho dentro da lojinha, assim não ouviu a sineta da porta tocando quando Emma adentrou a loja e muito menos notou quando ela se aproximou falando em um tom grave as suas costas.

― Olá!

― Ohhh meu Deus!

Eva soltou uma exclamação assustada acabando por perder o equilíbrio, mas antes que se machucasse sentiu as mãos fortes, porém delicadas envolverem sua cintura, colando seus corpos. Inevitavelmente suas mãos se apoiaram nos braços de sua salvadora, sentindo sobre seu tato os músculos descobertos pela camiseta sem mangas. Eva engoliu em seco ao notar que era a mesma mulher da praia. Aquela que conseguiu provocá-la sensações tão contraditórias.

― Você está bem? –Emma perguntou rouca, pela proximidade-

― E-estou. Obrigada.

Droga, estava acontecendo de novo. Por que sentia o forte desejo de abraçar a loira, aninhar sua cabeça no pescoço dela e continuar para sempre nos braços daquela mulher? Deveria estar ficando maluca, era a única explicação. Tentando controlar este impulso se afastou aos poucos dela, arrumando os cabelos nervosamente.

― Que...que coincidência encontrar você aqui, não?

― Lembra-se de mim? – a loira sorriu de lado-

― Claro. Como está senhorita...?

― Emma Swan. –notou que ela a olhava fixamente- Desculpe não ter me apresentado a outra noite.

― Tudo bem, fiz o mesmo. Me chamo Eva. –sorriu pensativa- Sabe, acho que já ouvi seu nome em algum lugar.

A morena tocou a testa ao sentir uma pontada forte, Emma notando o gesto achou melhor mudar a conversa falando a primeira coisa que lhe veio à mente.

― Vocês têm objetos muito bonitos aqui.

― Obrigada. Procura algo especial?

Os lábios da loira se abriram em um sorriso com covinhas que era tão devastador que a deixou tonta. Teve que piscar várias vezes para se concentrar no que a mulher dizia.

― Procuro um presente para meu sobrinho.

― Qual a idade?

― Na verdade, ainda não nasceu.

― Entendo. Já tem conhecimento do sexo da criança? – Emma negou olhado sua esposa, encantada- Bem, tenho delicadas roupinhas bordadas à mão, formam conjuntos com sapatinhos e toucas. Pode levar em cores neutras.

Enquanto demonstrava as peças, sentia o olhar de Swan cravado em seu rosto. Foi um esforço enorme não erguer o olhar para aqueles olhos tão perscrutadores.

Não demorou muito e Emma se decidiu por um encantador conjuntinho branco de tricô lindamente bordado.

Ao entregar a ela o fino embrulho de presente, as mãos de ambas se tocaram fazendo a morena sentir um arrepio pelo corpo.

― Deseja algo mais, Srta Swan?

Emma quase fechou os olhos ao ouvir aquela frase inocente, mas vinda dos lábios de sua esposa era malditamente sexy.

― Apenas convidá-la para tomar um sorvete.

Eva baixou o olhar se recriminando ao mesmo tempo em que sentia que seu rosto estava em chamas. Pelo amor de Deus, aquela não era a primeira cliente que flertava com ela. Contudo, as batidas de seu coração a lembraram que era a única com o poder de deixá-la daquele jeito.

― Tem o hábito de convidar vendedoras para sair? –disse erguendo uma sobrancelha-

― Não, apenas uma bela morena que tem o hábito de falar com estranhos na praia à noite.

― Apenas pensei que precisasse de ajuda –falou em defensiva-

― Eu sei – disse suave- Não te censuro, aliás não sabe o bem que sua companhia me fez. Por favor, aceita meu convite.

― Eu...bem...- tirou uma mecha de cabelo do rosto - Preciso entregar algumas toalhas a uma cliente antes, se não se importar em esperar.

― Posso ir com você?

― Se quiser.

Tentou dar de ombros, mas o nervosismo a denunciou e soube disso quando viu a loira sorrir.

A casa da cliente ficava há poucas quadras da loja e mais próxima ainda da sorveteria, então em poucos minutos Eva já estava acomodada em uma mesa no terraço do estabelecimento observando Emma chegar com os sorvetes.

― Pronto, chocolate belga com cobertura de caramelo. –disse pondo a taça em frente a morena-

― Obrigada! Como adivinhou que adoro esse sabor?

― Sério? Ótimo, que sorte. –sorriu com os olhos brilhantes- E o que mais você adora?

Regina devolveu o sorriso enquanto mergulhava a colher no sorvete.

― Adoro tudo relacionado à arte, pintar, desenhar, esculpir...não é para menos que tenho uma loja de artesanatos.

― Aqueles quadros na loja são seus? –ela assentiu- São de muito talento. Fez algum curso?

― Não. –sentiu um nó na garganta- Acho que sou o que chamam de autodidata –tentou sorrir- Bem, mas e você? O que faz da vida? –dando outra colherada-

― Sou formada em arquitetura e conduzo uma empresa do ramo em Paris, onde moro.

― Interessante...você tem alguém? Não parece ser comprometida. –vendo-a parar de tomar o sorvete- Desculpe, fui muito indiscreta. -nervosa acabou lambuzando o rosto com o sorvete. -

― Está tudo bem, pode perguntar o que quiser. –Emma riu limpando o rosto da morena- Espere ainda tem um pouquinho de sorvete aqui.

Ela parou ao ver que a mão da loira se aproximava de sua face, limpando delicadamente sua bochecha. Seu polegar acariciando-a lentamente. Eva prendeu a respiração tendo a clara impressão de que o tempo tinha parado sob o toque mágico dos dedos de Swan. Foram apenas despertos pelo som de uma taça derrubada por uma criança.

― Nossa, olhe a hora! – pigarreou- Preciso voltar à loja, não posso deixar Tinker sozinha.

― Tudo bem – Swan fez o possível para sua voz não sair contrariada- Só um minuto, querida, vou pedir a conta.

Levaram duas vezes o tempo habitual que levaria para fazer o percurso até a loja. Conversavam animadamente, caminhando pelas sombras das calçadas arborizadas, apreciando o delicioso clima. Quando enfim chegaram à loja encontraram Tinker checando a registradora no balcão, assim que as viu a loirinha não evitou sorrir.

― Desculpe, Tinker, acabei demorando mais do que pensava.

― Não tem problema, amiga.

A loirinha olhou para o casal e sorriu fazendo Eva se lembrar de apresentá-las.

― Tinker, esse é minha amiga Emma Swan. Emm, Tinker Jones é minha amiga e sócia.

A palavra amiga deu um gosto amargo na boca de Emma, mas conseguiu se manter impassível. Ambas trocaram cumprimentos de praxe sem expor qualquer indício de já haverem se conhecido.

― Bem, preciso te deixar trabalhar, não? –a morena sorriu concordando- Pensei em amanhã darmos uma volta.

― Não sei –mordeu o lábio inferior- O movimento aqui da loja está um tanto intenso.

― Ora, Eva. – Tinker se meteu - Você trabalha demais, merece uma folga de vez em quando. Já contratei uma ajudante, a moça começará amanhã então pode dar seu passeio.

― Bom, se é assim, aceito seu convite. – estendeu a mão- Obrigada pelo sorvete, Srta. Swan.

― Por nada, querida. Foi um prazer. – pegou a mão que ela oferecia e beijou- Nos vemos amanhã. Até logo, Tinker.

― Tchau. –vendo-a sair-

Eva encostou-se ao balcão olhando para a amiga que voltava normalmente a mexer no caixa como fazia antes dela chegar. Esperou alguns segundos que a loira fizesse qualquer comentário sobre Emma como sempre fazia quando alguém se aproximava. Mas os segundos passavam e Tinker não disse uma palavra a mais.

― Não vai falar nada? -arqueou uma sobrancelha-

― Hum?

― Perguntei se não vai falar nada sobre Emma.

― E por que deveria?

― Quem sabe pelo fato de você sempre fazer? –respondeu irônica-

― Eu não. Da última vez quase apanhei.

― Ai, Tinker como você é dramática –revirou os olhos- Desculpa aquele dia, amiga.

― Talvez...- deu um sorriso- Ah esquece. Estou ansiosa demais para fazer minhas cenas, já estava quase implorando para que você falasse. Conta tudo!

Tinker sorria enquanto a amiga falava desde o encontro na praia até a hora que saíram da sorveteria. Ria ao vê-la empolgada e rezava para que Swan conseguisse ajudar a esposa a recuperar a memória. Ela sabia o quanto Eva havia sofrido e também imaginava o que Emma e seus filhos tinham passado, por isso eles mais do que ninguém merecia a felicidade.