Prelúdio das Sombras - O Inferno de Richard escrita por Damn Girl


Capítulo 5
Capítulo 04


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Vim aqui trazer mais um capítulo para vcs, espero que estejam gostando. Não esqueçam do comentário, estou muito curiosa para saber a opinião de vocês, se há algo que deve ser mudado.



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"A escuridão se encanta pela luz justamente por não poder possuí-la." (Angel Sanctuary)  

        Fitei meu corpo no espelho pela primeira vez desde que chegara, fazendo uma careta. Eu sempre fora meio pálido mas agora beirava o albinismo, tamanha falta de cor em minha pele. Meus olhos estavam tão escarlates quanto as pedras de rubi da minha coroa de ouro, tão penetrantes e perversos que dei um passo para trás relutante. Inclinei as cabeça para trás a fim de admirar mais atentamente as quatro presas grandes e insistentes que ocasionalmente surgiam em minha boca, duas maiores em cima e duas de menor tamanho na parte de baixo. Percorri o dedo por toda dimensão de uma delas sentindo o quanto eram afiadas, e vagarosamente uma linha foi se formando em meu polegar, seguido por um traço fino de sangue escuro, que logo cicatrizou. Lambi o sangue do meu meu dedo, suspirando. Observei com mais atenção as presas desejando que elas desaparecessem como sempre fizeram antes, contudo por algum motivo desconhecido elas permaneciam ali mesmo após eu me alimentar. Assim como os belíssimas íris escarlate, eu não fazia ideia de como proceder para que ambos desaparecessem e meus olhos verdes retornassem. 

        Procurei por algum sinal da minha vítima da noite anterior, lembrando abruptamente da serviçal tímida, mas tudo que achei foi seu sangue seco por todo meu corpo, pela cama e em algumas partes do chão. Não havia um corpo propriamente dito e eu não me lembrava de nada. Ela poderia ter fugido, a guarda real poderia estar vindo atrás de mim agora mesmo estragando meu disfarce de bom príncipe. Sentei na beira da cama ensanguentada e fechei meus olhos praguejando por ter esses lapsos de memória e tentando relembrar qualquer coisa. Passei um bom tempo assim, uma parte dos primeiros raios de sol atingiu minha mão direita vindo da janela. Gritei pelo susto e me esgueirei pela parede com o propósito de fechar as cortinas.

       Borrões de imagens surgiram em minha mente, basicamente lembranças distorcidas de mim carregando um corpo nos ombros e o jogando em algum lugar. Sorri pro espelho mais aliviado e o reflexo me devolveu o sorriso, meus olhos lentamente transcorreram de um tom de vermelho escuro para um mais claro. Bufei, não era exatamente isso que eu queria.

— Que seja. 

       Levantei e numa velocidade sobre-humana abri a porta do quarto e me certificando de que nenhum guarda ou serviçal estava perto, percorri três imensos corredores até a dispensa mais próxima. Peguei sabão, um pano e um balde. Me apoderei de uns lençóis e fronhas também. Retornando na mesma velocidade ao meu aposento, tranquei a porta e agachei, rapidamente limpando todo o sangue do chão. Troquei os lençóis e as fronhas da melhor forma que pude, nunca havia feito isso antes. Joguei a água suja do balde fora para botar os tecidos usados nele assim como minhas roupas ensanguentadas, depois ateei fogo em tudo e fiquei controlando as chamas totalmente nu até que as últimas evidencias de minha carnificina se tornassem nada mais que cinzas. Aspirei o cheiro do quarto e satisfeito com meu serviço, resolvi tomar um banho.

       Estava deitado na banheira perdido em pensamentos quando ouvi uma batida baixa na porta. Levantei assustado e me sequei, vestindo meus trajes rapidamente. O cheiro característico da minha mãe adentrou o quarto. Girava a chave quando parei abruptamente, me lembrando das presas e dos dentes. Passei a mão pelo rosto nervoso.

— Um momento.

        Corri desajeitado pro espelho e prendendo a respiração encarei meu reflexo. Relaxei meus ombros tensos ao me deparar com meus olhos verdes e a ausência das presas. Então corri os olhos pelo quarto verificando algum traço de sangue que eu poderia ter deixado escapar e finalmente abri a porta. Peguei a mão da minha mãe e beijei suas costas sorrindo.

— Levantaste da cama tão cedo minha rainha.

— Estava ansiosa para vê-lo outra vez meu amor. - Ela me analisou sorrindo - Está tão lindo! - Minha mãe abraçou e desta vez pude corresponder normalmente. Não estava com sede por causa do meu lanche  da madrugada. - Estou tão aliviada que sobreviveu. Imagino que encarar o campo de batalha pela primeira vez não foi nada fácil.

— Não, realmente, vi muitos soldados falecerem diante dos meus olhos. Achei que eu mesmo estivesse morto. - Meneei a cabeça em negação. - Mas estou feliz por estar aqui.

       Constatei surpreso que eu estava falando a verdade. Apesar do custo alto e negar veementemente ao meu criador que estava satisfeito com o que ele fez, no meu íntimo eu me sentia feliz por ter uma segunda chance. Por ele ter me dado uma segunda chance. Apesar de toda culpas e todas as mortes, apesar de não ser uma vida plena, de não sentir meu coração bater, de não ter a necessidade de respirar ou mesmo de poder sair ao sol,r eu poderia ver o rosto de minha mãe sorrindo pra mim outra vez. Agradeci a ele em pensamento e a apetei mais em meus braços.

          Ficamos assim por um longo período até que ela se desvencilhou e pegou meu braço, me encaminhando para fora do quarto.

— Acordei cedo por que pensei em irmos até meu canteiro de rosas, só você e eu... O que acha?

— Tudo que quiser Majestade. - Beijei sua mão outra vez.

       Segurando a porta para que ela passasse tomamos o longo corredor dos aposentos e descemos as escadas, nos dirigindo a uma porta dourada onde um guarda, nos oferecendo uma saudação, prontamente a abriu para nós. Fitei o longo corredor e os raios de sol adentrando os lindos vitrais ao alto da parede esquerda e tomando conta de quase todo o corredor. Troquei de lado com a minha mãe discretamente e continuei o caminho, tentando desviar da luz agora mortal para mim. Ela pareceu alheia ao meu gesto, contudo senti um cheiro de sangue misturado com confusão de um grupo de guardas que conversavam ali e me virei para fitar seus cenhos pensativos. Eles haviam notado e estavam me observando mais atentamente agora. Sabia que eles estavam com olhos pousados em mim, no entanto conforme eu avançava não consegui evitar de desviar dos feixes de luz. Cheguei pro canto da parede num pavor beirando a insanidade e terminei o trajeto, meus insistindo gritando sobre o perigo que eu corria.

— Bom dia Majestade, Alteza. - O guarda meneou a cabeça para nós tentando disfarçar seu medo de mim e abriu a porta. -  Será que ele... não, não pode ser. - Sussurrou, porém ouvi como se tivesse falando em bom tom. - Se desviando dessa forma num corredor sem obstáculos... Parece ter medo do sol.

        Atrás de mim o grupo de guardas também cochichavam coisas semelhantes, seus semblantes preocupados e alertas. Fingi que não os ouvia e segui até passagem que levava ao roseiral. O lugar era pequeno comparado ao resto do quintal do castelo entretanto repleto de Rosas de todas as cores, cuidadas pessoalmente pela Rainha. Por sorte o espaço tinha uma cobertura com as próprias flores que formava uma sobra enorme reconfortante que me protegia, suspirei aliviado e me sentei com as duas mãos espalmadas num banco delicado e esculpido de madeira, enquanto minha mãe se abaixou e começou a cuidar das rosas. Aspirei o delicioso cheiro das flores e da terra tentando não pensar que se o ambiente não tivesse uma cobertura eu estaria literalmente frito.  Observei ela remover algumas ervas daninhas das rosas e as poucas nuvens se moverem no céu. Em outros tempos, num dia tão radiante como esse eu estaria cavalgando pelos campos próximo ao vilarejo, sentindo o vento bater em meu rosto.

— Como sobreviveu meu amor? - A voz dela cortou meus pensamentos. Fitou-me com os brilhando. - Por que só voltou depois de duas semanas? Confesso que estou tão curiosa... Os guardas te procuraram tanto. Seu pai também te procurou por mais de uma semana.

— Eu estava lutando com nossos soldados quando por um descuido amador, bati a cabeça em alguma coisa e caí inconsciente. - Menti tranquilamente. Era mais fácil inventar coisas agora que era vampiro. - Acordei algum tempo depois debaixo de alguns corpos de ambas as tropas, mas a guerra já havia acabado, então encontrei com um homem que me ajudou com meus ferimentos.

       Me mordendo e causando uma dor inimaginável, até que eu morresse.

       A imagem das afiadas e experientes presas do Criador me veio nítida na mente, balancei a cabeça um pouco assustado, tentando afastar a lembrança que assolava minha razão. Contudo assim que tornei a olhar para o jardim a frente de mim, avistei estupefato meu Criador parado há alguns metros atrás da minha mãe, completamente exposto ao sol. Fitei-o boquiaberto pela façanha, mas minha admiração morreu quando constatei que ele não tirava os olhos escarlates da minha mãe. O medo dele fazer algo a ela se apoderou de mim de uma forma surreal, senti meu corpo se retesar e uma vontade imensa de puxar ela dali e protege-la em meus braços, mas o meu pavor do sol me impedia ao menos de tentar. Fiquei estático fitando o Criador com os punhos cerrado, numa suplica silenciosa e desesperada. Ele acenou para mim sorrindo com as presas expostas e num piscar de meus olhos, ele havia sumido.

        Estava quase convencido de que havia sido uma invenção da minha cabeça quando a gargalhada dele ecoou em meus pensamentos. Contraí minha boca numa linha fina, praguejando mentalmente.

        A  rainha tem um cheiro maravilhoso, além de um belo gosto para flores. Agora sei por que você quase mordeu a própria mãe. Ainda bem que você está bem alimentado, já eu por outro lado... não possuo empregadas para comer. Em todos os sentidos, devo acrescentar...

         Congelei no lugar trincando os dentes tamanha raiva, ele continuava observando cada passo meu e tinha a vantagem de sair ao sol, coisa que até hoje eu pensava que nenhum vampiro poderia fazer. Minha mãe largou os galhos e me encarou esperando que eu continuasse nossa conversa. Pigarreei dando tempo de me lembrar sobre o que estávamos falando.

— Ele me salvou mas eu estava meio desorientado, fiquei com ele numa cabana simples no meio da floresta até que eu recobrasse as memórias e pudesse retornar.

— Que magnífico, preciso agradecer a este homem! Traga ele aqui no castelo, quero conhecê-lo - Fiz uma careta ao pensar no Criador andando livremente no castelo em meio aos humanos. Ela me encarou e franziu o cenho. - Tem algo que está me escondendo. O que é?

— Não escondo nada. Por que suspeitastes disso?

— Por que eu te conheço Richard, você nasceu de mim.

       Conforme o tempo foi passando os raios de sol se aproximaram de minha mão no banco, discretamente me movi para o lado onde ainda continha a sombra. Depositei um dedo cautelosamente na claridade ao meu lado testando minha vulnerabilidade e o puxei rapidamente, sentindo-o latejar numa dor além do comum. Esfreguei a vermelhidão nele, havia queimado consideravelmente em questão de segundos. Não tinha como o Criador ter estado realmente ali, um dedo já era tão doloroso, fiquei supondo a dor de expor o corpo todo. Talvez ele nem sempre ele aparecesse para mim realmente, talvez ele projetasse uma espécie de visão em minha mente. Esse pensamento me deixou consideravelmente mais aliviado.

— Não estou escondendo nada mãe.

— Tudo bem, não quer me contar não me conte. - Me encarou de forma penetrante. Ela se levantou e caminhou em minha direção - Mas quero que saiba que você pode me contar qualquer coisa. - Ela segurou meu rosto me encarando ainda mais de perto. - Sinto que você está meio triste, não gosto de te ver assim... As vezes vemos coisas e fazemos coisas que não queremos, principalmente em campo de batalha. Pessoas morrem, você não deve se culpar se por acaso, matou alguém lá. A vida é muito curta para viver com esse tipo de arrependimento.

        Assenti, eu havia matado alguns na guerra enquanto ainda era humano, entretanto não sentia culpa sobre o que tinha acontecido em campo de batalha, talvez por ainda ser humano, ou por ter sido de forma limpa. Nem tampouco me sentia arrependido, tudo que aconteceu era um mal necessário. Porém a culpa das pessoas que eu havia matado como vampiro sem dar quaisquer oportunidades de se defenderem, essa me esmagava de forma abrasadora a cada nova vítima. Mas esse remorso eu não poderia compartilhar com ela, nem com ninguém, jamais.

       Uma criada chegou perto de nós e prestou uma reverência.

— Majestade, Alteza. Perdoe a interrupção mais o desjejum está servido.

       Chegamos ao salão reservado de desjejum e fitei desanimado as mesas tão fartas quanto a noite anterior. Percorri meu olhar pelos alimentos, ponderando o que poderia comer desta vez. Pro meu desfortúnio não havia nenhuma carne mal passada ali; somente frutas, pães, sucos e derivados do leite. Respirei fundo cabisbaixo e quando achei que não poderia piorar a mãe de Anastacia veio ao meu encontro, envolvendo seus braços em volta de mim. Retribui seu abraço desejando secretamente retornar para o quarto e voltar a fingir que estava dormindo. Assim que ela me soltou corri para uma cadeira de frente para o meu pai e me sentei, pegando um morango e botando completamente na boca, com medo de gritar ali na mesa que eu era o assassino. Me arrependi imediatamente assim que senti o gosto da fruta na boca se espalhar.

— Bom dia Richard! - Rei Julius me cumprimentou. - Está com muita fome, não é?

— Sim. - Respondi de boca cheia, tentando de todo jeito comer a fruta, antes uma de minhas preferidas. - Desculpa.

        Meu pai gargalhou, logo todos da mesa o seguiram. Engoli um pedaço do morango aparentemente suculento e ele desceu rasgando minha garganta como uma pedra. Peguei um copo de suco de manga e virei tudo de uma vez forçando o resto a descer melhor. Os dois estavam horríveis, abri um sorriso que de maneira nenhuma chegava aos meus olhos. 

— Não esquente muito com a etiqueta meu filho, aposto que está há umas semanas sem comer um desjejum apropriadamente. - Ele me encarou mais atentamente e os pares de olhos de todos da mesa voltaram a atenção para mim. - Alias, gostaria de saber... Por que demorou a voltar para casa? Ficamos preocupados.

       Encarei a luz que entrava nas janelas a uma distancia segura de mim e tratei de contar exatamente a mesma mentira que contara mais cedo para minha mãe, me atentando a todos os detalhes para que nada saísse diferente. Mas ainda estava com os pensamentos vagando, pensando em como o criador havia feito aquilo, aquele truque incrível de sair ao sol. Eu queria perguntar a ele, ia facilitar muito minha vida junto aos humanos. Ninguém iria suspeitar se eu pudesse passar ao sol, mesmo que fosse uma ilusão, seria perfeito. 

        Os nobres e reis a mesa pareceram satisfeitos com a minha versão dos fatos, ora se mostrando espantados, ora com pena.

— Guerras sempre são complicadas. - Rei Julius me lançou um olhar compreensivo. - Há muita morte, não dá pra controlar esse tipo de coisa. Você se saiu bem para sua idade rapaz, retornou com vida. Temi por sua segurança.

        Assenti e baixei a cabeça.

— Bem tudo isso já passou! - Meu pai pegou minha mão. -  Programamos uma festa aberta ao publico hoje a tarde em comemoração a sua chegada! Por que não convida o homem que te ajudou?

— Ele mora há mais de um dia daqui. - Respondi de forma fria, de repente assimilando o que ele tinha dito. Estremeci diante da ideia. - A festa será a tarde?

— Sim, algum problema? - Indagou meu pai com olhos curiosos.

— Não, nenhum. - Respondi mais rápido do que pretendia. - Só prefiro que seja a noite. Mas tudo bem, não acho que tenha necessidade, mas sou grato pela comemoração.

— Claro que há necessidade, quero que todos saibam que meu filho retornou! - Sorriu animado. - Se você prefere a noite, será a noite. A festa é sua oras!

— Não, não quero causar nenhum incomodo. É besteira - Disfarcei meu alivio. 

— Incomodo nenhum. - Chamou um dos guardas mensageiros que se aproximou da mesa, baixando para ouvir as ordens. - Avise aos súditos na cidade que a festa foi transferida para o período da noite. Certifique-se de que todos, independente da posição social fiquem cientes da mudança.

— Sim Majestade, imediatamente.

— Mais uma coisa. - O guarda retornou num sobressalto. - Mande providenciar proteção aos convidados para que cheguem aqui a noite em segurança. Ilumine toda a estrada do vilarejo até o castelo, quero a guarda reforçada essa noite. Vocês são convidados também, entretanto devem se manter uniformizados e alertas. Não podemos permitir que os sanguessugas impeçam nossos súditos de prestigiarem nossa comemoração. Entendeu minhas ordens?

— Sim, Senhor.

        O resto da manhã foi agitado no castelo. Subordinados correndo por todos os lados, atenciosos aos preparativos. Após muita insistência de minha parte me dediquei a ajudar umas mulheres carregando algumas caixas da dispensa para o salão de festas, apesar de acharem um absurdo pois a festa era dedicada a mim, mas não tiveram como me negar, afinal eu era o príncipe. Estava feliz por poder me ocupar com outra coisa que não fosse minha escravidão ao sangue, quase me senti um humano novamente. No entanto notei conforme trabalhava que as caixas que antes dariam trabalho para carregar, pesavam agora tanto quanto plumas para mim. Tive de me conter para não pegar várias de uma vez levantando mais suspeitas. Pedir para o meu pai mudar o horário da festa já era estranho o suficiente, se eles ligassem o meu medo de sair ao sol aos vampiros eu nem imagino o que aconteceria.

          As notícias do lado de fora não estavam nada agradáveis, os vampiros estavam se multiplicando e fazendo mais e mais vitimas, não só em WindHeart ou nos reinos vizinhos, minha nova especie já haviam dominado a noite em mais de dezessete províncias. Já não se podia sair a noite com segurança, as ruas estavam tomadas de vampiros recém criados e descontrolados e os reis estavam ficando cada vez mais preocupados e revoltados com a situação. Diversos deles já haviam se aliado ao Rei Craine, que saia toda noite com suas tropas exterminando qualquer sinal de atividade vampírica. A cada hora, Julius insistia para que meu pai se aliasse ao nosso inimigo e ouvia uma fervorosa negação por parte dele. Mas eu sentia que cada vez que Julius tocava no assunto de se aliar ao Rei Craine meu pai ficava mais e mais tentado. Eles dois foram criados juntos em reinos praticamente vizinhos, possuíam muita influencia um sobre o outro. Contudo se meu pai se aliar a ele minha 'morte" terá sido em vão e eu não iria permitir que isso acontecesse.

— Obrigada Alteza.

         Agradeceu uma das subordinadas que ao pegar um adorno na caixa que eu lhe entregara, esbarrou propositalmente sua mão na minha. Fixei minha atenção em ouvir seu coração acelerado enquanto ela enrubescia e me fitava de um jeito malicioso. Era alta e loira, com lindos olhos azuis e um corpo esbelto, de acordo com os traços em seu rosto não possuía mais de vinte anos. Seu sangue cheirava muito bem, principalmente depois das nuances de malicia, revelava que ela estava claramente interessada em mim. Muito interessada em mim. Segurei a escada para que ela subisse em segurança e pendurasse o enfeite próximo ao teto, enquanto não contive uma olhada em suas pernas. Ela desceu e me lançou outro sorriso, se afastando. Peguei outro adorno da caixa e eu mesmo subi a escada, tentando pendurar próximo ao dela. 

       Estanquei no lugar ao sentir um par de olhos encarando minhas costas. Virei meu rosto no intuito de encarar o dono e dei de cara com um dos oficiais de meu pai. Ele me observava de forma descontente e raivosa, seu sangue estava cheirando a algo meio podre e fétido, algo novo que deduzi ser ciumes. Me concentrei em devolver um olhar indiferente a ele, todavia escutei uma voz revoltada na minha cabeça.

        Eu vi o corpo dele estirado na grama! Todo aquele sangue saindo de seu âmbito. Mas ele é tão privilegiado, tão privilegiado, que até a morte o adora. Agora o bom príncipe recebe uma festa e ainda ousa se oferecer a minha Betania... E eu não posso fazer nada a não ser prestar pertinência e puxar seu saco real... Eu queria que estivesse morto, queria seu cadáver podre debaixo do chão.. Queria eu mesmo te-lo matado.

        Fitei sua boca imóvel desconcertado, assimilando de onde vinha a voz. Fiquei tão perplexo por poder ouvir seus pensamentos e toda raiva canalizada à mim que me desequilibrei da escada, caindo uns quatros metros até que colidi ruidosamente no chão. Imediatamente uma multidão veio ao meu socorro, literalmente, inclusive o dono dos pensamentos maldosos. Gesticulei para que todos se afastassem e levantei ajeitando minhas vestes, pensativo. Mirei todos aos meu redor com o semblante calmo, não queria que se sentissem culpados por me deixar ajudá-los. 

— Estou bem, devo me arrumar. Se me derem licença.

        A moça de olhos azuis que havia passado a tarde comigo tocou meu braço aflita, me afastei gentilmente dela.

— Estou bem, Betania.

— Vossa alteza sabe meu nome? - Sussurrou maravilhada.

        Se antes ela se sentia atraída, agora ela estava apaixonada. Teria de manter um lembrete mental de exercer certa distancia dela a partir de agora. Ignorei sua pergunta propositalmente e corri de volta ao meu aposento, trancando a porta atrás de mim e escorregando lentamente até o chão, ofegando. Escutar pensamentos era algo perturbador, principalmente quando os pensamentos eram direcionados a si. Por sorte, só havia escutado os dele até então.


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? O Criado é meio incherido não? XD beijos até o próximo



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