Lágrimas Perdidas escrita por Candy


Capítulo 7
Capitulo 7: Quando a noite se vê mais obscura, é porque já vai sair o sol




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Na manhã seguinte deixamos o hotel bem cedo para voltarmos ao México em tempo para o Teleton logo mais à noite. Tive sorte de estar com muito sono pelas poucas horas que dormi, porque senão, não teria conseguido dormir todo o voo sabendo que Poncho estava ao meu lado. Voamos em avião comercial, então não havia alternativa para nenhum dos dois a não ser aceitar.

Ontem quando cheguei do restaurante com Mai e os garotos, achei melhor arrumar as malas e deixar tudo pronto antes de dormir. Do contrário, eu teria que acordar mais cedo, e provavelmente eu me atrasaria. Mas fazer isto me fez dormir muito tarde. Só percebi que valeu realmente a pena quando Poncho se sentou ao meu lado no avião. Coloquei meus óculos escuros, o fone do meu IPod no ouvido e dormi rapidinho. Despertei horas depois, quando estávamos quase chegando.

Abri os olhos lentamente, ainda sonolenta, e pude ver através das lentes dos óculos que Poncho me olhava. Fiquei quietinha o olhando também, com a vantagem dele não saber. Senti um aperto no peito de repente, e eu sabia o nome; saudade. Muita saudade do Poncho. Saudade dos braços dele me aconchegando e dos carinhos dele durante os voos, me fazendo dormir. Como acontecia até meses atrás.

Mexi-me um pouco e ele desviou o olhar no mesmo instante, talvez com medo que eu o pegasse me olhando. Mas isso já aconteceu!

Olhei para baixo e notei que havia uma manta me cobrindo, me livrando do frio que eu sentiria se ela não estivesse ali. Coloquei os óculos no alto da cabeça e me ajeitei no assento coçando os olhos.

"Quem me cobriu?" - sussurrei.

"Maite" - ele disse seco, sem ao menos olhar para mim.

Momentos mais tarde, quando aterrissamos, Mai estava mais na frente com Guido e eu a alcancei.

"Mai, espera" - me aproximei - "Obrigada por me cobrir, senão eu ia sentir frio"

"Te cobrir quando?" - perguntou confusa.

"Durante o voo" - franzi o cenho - "Poncho disse que foi você" - olhei para ele que estava andando mais à frente ajeitando a mochila em suas costas.

"Ah, claro" - disse olhando para Poncho - "Fui eu, sim" - falou sorrindo. A olhei desconfiada.

"Não foi você, verdade?"

"Dul.. Dul.. Dul.." - falou pausadamente.

"Só estou tentando fazer o que você disse, você sabe.. aquilo de ficar mais atenta às coisas ao meu redor, e tal"

"Bem.. eu teria cobrido você, se estivesse sentada ao seu lado" - ela disse e piscou. Escondi o sorriso com os dedos.

Despedimos-nos ao chegar à frente do aeroporto e eu avistar minha mãe na frente do carro acenando para mim. Aproximei-me rapidinho dela e lhe dei um abraço gostoso, não foi do jeito que nós duas queríamos devido ao lugar, mas ainda assim já me senti bem melhor. Oso me ajudou com as malas, colocando-as no porta-malas, e ao me despedir dele, entrei no carro.

"Aqui" - man me entregou um copo branco - "Beba antes que esfrie. Comprei antes de você chegar" - solvi um pouco, já sabendo do que se tratava.

"Gracias, man" - bebi mais um pouco do café.

Eu tinha tanta coisa para falar com ela, mas ainda não era o momento. E naquele momento eu estava confusa ainda mais e um pouco balançada com o que aconteceu durante o voo. Poncho me cobriu, cuidou de mim e ainda por cima, me admirava enquanto eu dormia como fazia até meses atrás. Então, talvez no fundo ele não esteja tão chateado comigo, só não quer dar o braço a torcer. Aquele maldito orgulho! Mas eu também não posso julgá-lo quanto a isso, afinal em matéria de orgulho acredito que empatamos.

Depois daquele dia no meu quarto, eu também nunca mais o procurei para tentar ficarmos bem. Eu queria não estar pensando nisso, não me preocupar com isso agora que tenho coisas mais urgentes para pensar. Como o Luke, por exemplo, com essa ausência física e sinais de fumaça por celular, me deixando tão apreensiva. Mas por que Poncho não saia da minha cabeça? Eu tinha que admitir que saber que eu ainda tenho alguma importância para ele me fez bem. Mais do que esperava.

Não percebi o tempo passar. Quando me dei conta, man já estava entrando com o carro na garagem de casa.

"Nossa, já chegamos?" - perguntei olhando para ela - "Man, estou super atrasada. Tenho que tomar banho e voltar correndo para o D.F. Você falou com a Blan que vou dormir na casa dela hoje?"

"Já avisei. Sobe para fazer suas coisas, que eu tiro suas malas do carro"

"Segura?" - perguntei, mordendo o lábio inferior.

"Depois de um beijo, talvez sim" - sorriu, e dei um beijo gostoso na bochecha dela antes de sair do carro.

Subi as escadas correndo, peguei uma toalha e fui direto para o banheiro tomar banho. Não demorei muito, ainda que eu tenha lavado os cabelos na tentativa de esfriar um pouco a cabeça. Fui para o meu quarto e após vestir uma cuequinha feminina preta com detalhes rosa e um sutiã preto, enrolei a toalha na cabeça e comecei a pegar algumas peças de roupas que usaria até amanhã na casa da Blan e jogar dentro de uma bolsa de ombro grande que tenho. Eu estava tão distraída que nem percebi quando man se aproximou arrumando a alcinha do sutiã no meu ombro.

"Está tudo bem, filha?"

"Mm-hm" - afirmei enquanto tirava a toalha da cabeça e arrumava os cabelos com os dedos.

"Quando te liguei para dar os parabéns, te senti muito tristinha, diferente.." - me virei de frente para ela e a abracei forte e gostoso. Como eu queria ter feito lá no aeroporto quando a vi.

"Como pode você me conhecer tão bem, man?" - perguntei com a bochecha sobre o peito dela, enquanto ela afagava meus cabelos molhados.

"Porque eu amo você"

"Como nós sabemos que estamos tomando a decisão certa?" - perguntei ainda abraçada ao meu porto seguro.

"Não sabemos; se erramos na decisão é porque não era para ser de outra maneira e aprendemos com o erro, se acertamos então desfrutamos este êxito. Só devemos fazer o coração e a razão entrarem em um acordo"

"Eu queria ter a tarde toda para ficar aqui com você, conversando e ganhando seus carinhos.. Vou vir embora amanhã de manhã, sim?!"

"Não vai almoçar com a Blan?"

"Quero almoçar com você" - a abracei outra vez e mais forte.

"Então eu te busco de manhã, minha pequena" - assenti.

Vesti um jeans, uma blusa básica e um casaco, calcei meu tênis e desci correndo com a bolsa no ombro. Man perguntou se eu não ia comer nada antes. Eu disse que não tinha tempo, precisava correr e chegar o quanto antes ao Auditório Nacional. Como a banda estava em Miami, não tivemos tempo para ensaiar nossa apresentação do Teleton, então seriamos os últimos a ensaiar e passar o som antes do evento começar, dispondo de bem menos tempo que o normal e o necessário.

Man disse que tinha feito bolo de chocolate simples para mim, pensando que eu ia querer lanchar antes de sair de casa, então peguei alguns pedaços e enrolei no papel toalha. Fui comendo todo o caminho de casa até o D.F. Desta vez não fiquei em silêncio com os pensamentos longe, fomos conversando. Perguntei pelo e pela Clau, o porque da casa estar vazia quando chegamos, como todos estavam, se havia recados para mim, enfim.

Ela me levou direto ao Auditório, e antes de eu sair do carro, ela me entregou um pingente em ouro amarelo com a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe em alto relevo em madre pérola, e disse que é um presente pelo meu aniversário, e que era para eu carregá-la dentro da bolsa para onde eu for, que a Virgem ia me proteger.

Quando encontrei onde a banda estava, Pedro me informou que a Mai não ia vir à noite, devido uns contratempos. Fiquei triste com a notícia, porque justo a Mai que era a única que estava falando comigo, não estaria presente. Ficaria sozinha até acabarmos a apresentação e eu ir embora.

Após o pequeno ensaio, fomos lá para trás, nos camarins, para que as pessoas começassem a entrar e ocupar seus lugares na plateia. O bom é que como o Teleton recebe muitos artistas, não há camarim reservado; são vários artistas se vestindo, se arrumando, maquiando todos juntos. Então pude conversar com vários enquanto as horas iam passando.

Na hora de apresentarmos, estava tudo diferente. Quero dizer, Chris e Annie estavam em seus lugares habituais e carismáticos, mas Christopher estava ao meu lado, mas era como se nem estivesse tamanha era sua frieza comigo, e Poncho ficou lá na outra ponta o mais distante possível de mim. No início pensei que talvez fosse a ausência da Mai, se ela estivesse ali, talvez fosse diferente. Mas durante a música comprovei que não faria diferença. O clima estava pesado mesmo e para o meu lado. Eu cantava com eles, mas estava sozinha ali.

Quando comecei a cantar minha parte, vi pelo monitor que tem na nossa frente que Annie virou o rosto e olhou para o Chris, ele piscou para ela e os dois sorriram. Senti um nó se formando na garganta, pensei que não ia consegui segurar o choro que se aproximava. Então o público gritou, e não pude evitar sorrir por aquela força que eu estava precisando e recebi. Poncho começou a cantar, lá da outra ponta. Abaixei a cabeça com receio de olhá-lo, mas por um instante não resisti.

"Como duele verte suspirar por quién no te hace feliz. Se supieras que puedo morir por ti"

Na parte em que cantamos juntos, ele se virou para mim, colocou a mão na cintura e cantou com desdém. Fechei os olhos para disfarçar o choque e a frustração. E a partir dali decidi que ia me desligar de todos esses problemas e me refugiar na música, me entregando mais àquela apresentação. Mas a visão de Poncho com aquele ar de superioridade para mim não saia da minha cabeça toda vez que eu fechava os olhos.

Após a apresentação, troquei só a roupa, mas permaneci com a sandália. Já me preparava para ir embora quando ouvi alguém me chamar no corredor do Auditório. Ao olhar para trás, vi Christopher tentando me alcançar. Franzi o cenho e parei para espera-lo. Ele se aproximou piscando os olhos repetidas vezes, algo bem irritante, mas que era tique dele quando estava nervoso. Balançava os ombros, também, como se estivesse arrumando uma ombreira imaginária. Fiquei parada esperando ele falar.

"Quando gostamos de alguém, nos preocupamos muito com esta pessoa. E agimos quando percebemos que um perigo se aproxima. Mas também podemos errar, quando o que queremos é acertar, entende!?" - ele passava a mão nos cabelos, mantive minha expressão neutra - "Não é egoísmo, ainda que seja isto que aparenta ser. Bem, talvez seja, sim.. Mas não da forma como você imagina" - desta vez, franzi o cenho - "Só queríamos te proteger desta relação com o tal Luke. Quero dizer, não que ele seja má pessoa. Mas você está sempre viajando muito, e ele também; seus encontros são, sei lá.. Como posso dizer!? Informais demais, entende!? Falo isso por mim, que sou homem. É muito mal visto, para quem vê de fora. E meio que te perder por algo assim foi frustrante, por não conseguir fazer nada e te afastar ainda mais quando você tentava provar que éramos os únicos errados" - abaixei a cabeça, tentando rever os últimos quatro meses nas palavras dele - "Mas eu cansei de continuar assim, como se fôssemos crianças de primária" - o olhei e ele sorriu - "Eu sei que não somos os melhores amigos, e tal. Mas implicar com você faz muita falta" - ele deu um sorriso torto, enquanto coçava o queixo. Mordi meu lábio inferior, sorrindo enquanto coçava a nuca.

"Senti sua falta, também" - o abracei - "Me desculpa, eu sei que também fui egoísta com vocês" - disse desfazendo o abraço. Ele bagunçou meus cabelos, sorrindo.

"Antes que eu esqueça.. Annie pediu para te entregar isto" - Tirou um papel dobrado do bolso e me entregou.

Ao me despedir dele, mordi o lábio enquanto olhava para o papel. Tinha que ser um recadinho dela querendo fazer as pazes. Mas eu temia que não. Fiquei parada ali no corredor em um dilema entre abrir ou não. Vez ou outra passava alguém me cumprimentando e eu tirava os olhos do papel um breve instante. Mas foi outra coisa que tirou minha atenção por completo da carta. A voz do Chris.

"Eu quero falar com você" - assenti, ajeitando minha franja - "Talvez você tenha perdido todo o carinho e amizade que sentia por mim, por eu ter sido tão sacana com você quando você precisava de um amigo ao seu lado. Mas mesmo assim quero me desculpar com você. Não sei por que agi assim, de verdade. Talvez eu tenha sido a pessoa que você menos esperava algo assim, verdade?!" - dei de ombros, com uma expressão triste e cansada - "Te acho tão vulnerável, Dulce que isto me preocupa de verdade. Eu sei que é uma pessoa analítica, mas às vezes sua vulnerabilidade fala mais alto. Você faz as coisas sem parar primeiro para observar e refletir. Quero dizer, não é sempre e nem é para tudo o que faz, é como eu disse você é analítica. Mas para certas coisas.. É sério, isto me assusta, me preocupa. Já te falei isso. Ver como você está com aquele cara a cada viagem, aquilo estava me deixando impotente. Porque quanto mais eu tentava abrir seus olhos, mais você se afastava. E era eu quem você costumava ouvir, acreditar, enfim" - olhei para ele e fiz beicinho - "Mas gosto pra caramba de você, e quero continuar sendo seu amigo. Vou aprender a lidar com isso, o fato de você está com ele, porque prefiro estar perto de você para qualquer coisa"

"Chris" - o abracei, cruzando meus braços ao redor do seu pescoço. Ele esfregou a mão nas minhas costas - "É tão bom ter você de volta. Eu não gosto de estar brigada com você. Isto estava me deixando louca"

Meu coração começava a bater mais leve, e eu me perguntei se as coisas continuariam a melhorar. Peguei o papel da Annie e tomei coragem para abri-lo, quando me despedi do Chris.

"Bebe,

te extraño mucho!

quiero volver a ser tu amix

¿todavia lo quieres?

Annie."

Mordi o lábio inferior, sorrindo. Em seguida cobri o sorriso com os dedos, enquanto intercalava meus olhares para os lados e para o recadinho da Annie, outra vez. Peguei meu celular no bolso da calça e digitei uma mensagem de texto para ela.

"AMIGA, estou indo para a casa da minha irmã, Blan. Ainda lembra onde é? Te espero lá. Dulce"

Peguei um taxi lá na frente mesmo do Auditório e fui para a casa da Blan. Ela me atendeu e nos abraçamos para matar a saudade. Já fazia muito tempo que não nos víamos. Ela perguntou sobre minhas últimas viagens e eu contei superficialmente. Ela disse que assistiu a apresentação do RBD no Teleton e achou algo estranho, mas não sabia o que exatamente. Cocei a nuca e disse que era coisa da cabeça dela. Ao chegar ao quarto onde durmo sempre que estou lá, larguei minha bolsa no chão no canto e me sentei na cama para tirar as sandálias. Fiquei deitada de barriga para cima, com os joelhos dobrados e o antebraço direito cobrindo meus olhos, enquanto pensava nas últimas horas. Quando o Poncho quer, ele consegue ferir as pessoas apenas com um olhar ou sem precisar dizer as coisas ao pé da letra. É tão frio que nem parece com o verdadeiro Poncho que todos conhecem, ou acreditam conhecer.

E Luke? Onde será que está? Este é um pouco egocêntrico, toma decisões visando o seu bem estar. Afinal, ele não me consultou antes de resolver sumir por um tempo para pensar sobre nós dois. E agora eu fico aqui esperando sem saber o que pensar, o que esperar..

Resolvi ligar para ele e dar um jeito em tudo isso logo. Mas quando eu estava procurando o número dele na agenda do celular, ouvi batidas na porta.

"Sua irmã disse que você estaria aqui" - Annie entrou timidamente no quarto e fechou a porta.

Eu me sentei na cama e ela ficou parada diante da porta olhando para mim. Mordi meu lábio inferior, e ela enrolou as pontas de uma mecha dos seus cabelos que caia sobre seu colo. Aproximou-se lentamente da cama e eu dei umas batidinhas ao meu lado para ela se sentar. Ao fazê-lo, não resistimos e nos abraçamos bem forte.

"Bebê" - Ela disse com voz infantil - "Por que temos sempre que nos comportar como duas crianças quando discordamos de algo?"

"Talvez porque Peter Pan tenha enfim atendido seus desejos" - Disse me afastando, sorrindo.

"Me perdoa?" - Pediu, fazendo beicinho.

"Só se você me perdoar, também" - Imitei o beicinho dela. Nós duas rimos antes de voltarmos ao abraço.

Minutos mais tarde, eu me sentei recostada na cabeceira da cama, enquanto ela se deitou de lado toda encolhida ao meu lado. Enquanto eu mexia ora nos seus cabelos, ora nas minhas pulseiras, nós duas colocamos em dia tudo o que aconteceu com cada uma desde que brigamos.

Ouvimos batidas na porta, para logo em seguida a Blan colocar a cabeça para dentro.

"Vocês não enjoam um da cara do outro, não?" - Annie e eu nos olhamos.

"Quase sempre" - dissemos juntas e rimos.

"Eu ia te chamar para sair comigo e meus amigos"

"Ei, eu estou aqui" - Annie reclamou, fazendo beicinho.

"Está convidada também, oras" - disse rindo.

"Não, Blan.." - falei com uma careta - "Não quero sair, não. Mas obrigada por chamar"

"Ela prefere ficar comigo" - Annie mostrou língua para a Blan e me abraçou. Eu ri, fazendo carinho no braço dela.

"E ainda tem mais um aqui" - Nos olhamos novamente, mas desta vez com expressões confusas - "É o chato do meu cunhadinho" - ela abriu a porta e vi Poncho. Meu coração disparou.

"Uy, que fuerte" - Annie falou balançando os dedos.

"Obrigada pela parte que me toca. Também te amo, Blanca" - ela sorriu e piscou para ele.

"Blan, para com isso. Você sabe que já não tem nada a ver há tempos"

"Que? Não disse que vocês estão juntos" - fiz uma careta e revirei os olhos de maneira entediada.

"Nós podemos conversar?" - ele me olhou, perguntando.

"Er.." - Annie se sentou na cama e começou a calçar as sandálias - "Blanquita, não vou sair com você, mas se você estiver descendo agora, podemos descer juntas"

"Então vamos"

"Dul, beijo" - me dando um beijo no rosto - "Amei que acertamos tudo, e tal" - disse fazendo carinha fofa.

"Eu também" - ensaiei um sorriso.

"Nos vemos amanhã" - piscou para mim - "Juízo, hã?" - deu um tapa no bumbum de Poncho antes de sair do quarto e fechar a porta.

Sentei-me com uma perna dobrada e deitada sobre o colchão, enquanto a outra caia ao lado da cama apoiando o pé no chão. Afastei a franja da testa sem deixar de olhá-lo, mas fiquei desconcertada com a mirada tão profunda dele para mim, e então baixei minha mirada para minhas mãos. Fiquei arrastando a unha do dedo polegar na ponta da unha do dedo indicador, tentando arrancar uma pelinha. Por isso não vi quando ele se aproximou e se sentou ao meu lado. Ao levantar a mirada e vê-lo ali tão pertinho me olhando daquele jeito, pisquei várias vezes.

"Eu queria..-"

"Não.. Não fala nada" - disse fazendo uma careta.

"Há palavras a serem ditas"

"Há palavras que nunca deveriam ter sido ditas" - ele abaixou a mirada para o colchão, assentindo - "Não estou te julgando.. Não entenda assim"

"Pois devia" - me olhou novamente.

"Olvidalo"

"Eu sei que sou muito grosso, você também sabe disso. Já te falei tantas coisas que você não merecia ouvir na hora da raiva. Como esta última vez"

"De alguma forma, eu sei que também estava errada"

"Mas não justifica eu agir com você daquele jeito" - dei de ombros, fazendo uma careta - "E hoje no Teleton, também" - ficamos em silêncio. Ele esticou a mão e repousou-a sobre o colchão com a palma virada para cima. Eu olhei e ele chamou a minha com os dedos. Estiquei a minha até a dele, e ele segurou-a bem forte - "E eu te conheço há muitos anos. Sei que você é desligada para algumas coisas, dengosa, birrenta.." - escondi meu sorriso com os dedos da minha mão livre.

"Vamos esquecer isto, sim?" - ele fazia carinho no dorso da minha mão com seu dedo polegar - "Dame tu abrazo" - inclinei-me sobre ele.

Cruzei meus braços ao redor do seu pescoço e respirei fundo sentindo seu cheirinho. Senti um grande alivio por estar ali recebendo meu abraço preferido outra vez, o maior alivio dos últimos dias. Dei um beijo em seu pescoço e deslizei minha mão até sua nuca, onde fiz carinho com a ponta dos dedos. Ele me apertava forte na cintura com um braço, enquanto o outro fazia o carinho que eu tanto amava receber dele, nos meus cabelos.

Ajoelhada sobre o colchão, desfiz o abraço segurando seu rosto com as duas mãos fazendo carinho com o dedo polegar, e bem de pertinho o olhei sorrindo.

"Poncho, seus olhos estão claros" - sorri mais ainda quando ele tombou a cabeça sorrindo, mostrando os dentes da frente separados dele que eu acho tão lindo.

"Você conseguiria me perdoar pelo o que te fiz hoje?" - sentei sobre minhas pernas.

"Olvidalo" - apertei seu queixo.

"Não só por hoje no Teleton, mas por ter sido imaturo também com você nas últimas semanas" - estalei minha língua fazendo careta.

"Olvidalo" - disse novamente.

"Você não disse se me perdoa" - me lembrou, afastando minha franja.

"Não posso perdoar algo que já esqueci" - pisquei para ele, fazendo-o sorrir.

Meu celular tocou e me levantei para atender. Ao ver o visor, senti meu coração acelerar. Após dias, era Luke me ligando. Olhei do celular para Poncho, sentado ali na cama perto de mim. Por alguns segundos fiquei sem saber se atendia ou não. Ele não poderia ter escolhido pior momento para ligar. Poncho me olhou franzindo o cenho e perguntou se eu não ia atender. Resolvi atender e dizer que não poderia falar naquele momento. Eu só não esperava por aquela surpresa ao atendê-lo.

Ao desligar o celular, eu ainda fiquei algum tempo segurando-o, olhando para um ponto qualquer à minha frente tentando absorver tudo o que ele havia me dito. As palavras dele se repetiam na minha cabeça, ao mesmo tempo em que eu tentava pensar e tomar uma decisão. Estava ficando ainda mais difícil quando senti o quarto girar a minha volta.

Só caí em si quando ouvi a voz de Poncho me perguntando se eu estava bem.

Sentei-me na cama e comecei a calçar rápido minhas sandálias.

"O que aconteceu?" - ele quis saber.

"Eu preciso sair" - o olhei por um breve instante e continuei a calçar as sandálias.

"Pasa algo?"

"Está tudo bem. Não se preocupe, sim!?" - disse me levantando e pegando minha bolsa no chão no canto do quarto.

"Onde você vai?" - parei antes de abrir a porta do quarto.

"Ao aeroporto" - disse e me virei para ver sua expressão. Era uma careta surpresa - "Luke me ligou.. está me esperando lá" - sai do quarto, mas voltei um segundo depois - "Deixa a chave com o porteiro, e.." - desisti de falar o que tinha em mente e fui embora.


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Notas finais do capítulo

Oba! Finalmente todo mundo fez as pazes! :)
Espero que tenham gostado!!
Até o próximo!!



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