Lágrimas Perdidas escrita por Candy


Capítulo 5
Capítulo 5: Papai!


Notas iniciais do capítulo

Ei, gente! Tudo bem?

Só para dizer que amo a última cena deste capítulo, rs!
Boa leitura!



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Sam amanheceu de muito bom humor aquele dia. Não era difícil adivinhar, já que me chamara de Maria. Sempre foi assim; em seu estado normal era de Dul ou Dori que me chamava, se estava chateada ou até mesmo furiosa, era de Dulce ou ainda pior, de Dulce Maria, neste caso, sabia que a coisa estava ruim mesmo e meu coração já apertava. Já quando ela queria alguma coisa; pedir favores, desculpa por alguma coisa boba que fez sem querer, aí só me chamava por diminutivos do meu nome, aquela safada. Mas quando estava empolgada, feliz e/ou tinha alguma novidade para contar – ainda que isso seja motivo para deixá-la empolgada e feliz, enfim - aí era Maria. Como se assim já acendesse a chama da ansiedade em mim, para querer saber logo o que havia passado. Se não era essa a intenção... Ups!

Procurei o número dela na agenda do Tom rapidinho, enquanto mordia meu lábio inferior. Quando achei, dei OK e me deitei de lado. Enquanto não atendia, aproveitei para roer minha unha do mindinho.

“Maria” – já atendeu gritando, parecia que estava comemorando um jogo da seleção em um bar.

Díos Santo” – disse, rindo daquela louca.

Estas-son-las-mañanitas-que-cantaba-el-rey-david-hoy-por-ser-dia-de-tus-años-te-las--cantamos-asííí” – cantava rápido como se  esta fosse um reggaeton – “Despierta-DUL-despierta-mira-ya-amanecióóó.... lalalalala Êêê” – gritou ainda mais, comemorando, antes de terminar a música. Eu não conseguia parar de rir. Ela piorava a cada dia.

“Sua louca” – disse ainda rindo muito.

“Obrigada” – convencida. Esta é a Samantha – “Como amanheceu? Está melhor?”

“Sim, bem melhor”

“Uhu” – soltou um gritinho. Eu ri – “E onde está agora?”

“Na piscina... sozinha” - falei em tom entediado.

“Pobrezinha... que vida difícil, hã? Toma vergonha nesta cara porca. A sofredora aqui acabou de voltar da faculdade, não respeita, não?” – gargalhei novamente.

“Sua vida é tão difícil também, verdade? Toma vergonha você, chamaca” – brinquei – “No México são 9hrs da manhã”
”Ahhh” – disse sem graça.

“Me conta”

“Contar o quê?”

“O motivo dessa alegria toda” – disse, afastando um pouco a alcinha do meu biquíni para ver se o sol estava fazendo efeito.

“E quem te disse que estou muito feliz?”

Maria

“Ah, chata” – eu ri.

Quando se tem uma amiga louca, às vezes desejamos nos suicidar a ter que continuar ouvindo tanta maluquice. Ou então fazer um bem a si e a ela, internando-a em uma clínica de recuperação. Ou quem sabe sacudi-la na tentativa de colocar as coisas dentro da cabeça dela no lugar. A Sam piorava a cada dia, meu Deus!

Dessa vez ela inventou de se apaixonar pelo professor.

"Você não tem noção. Ele é lindo" - ela disse na maior empolgação.

"Mm.. E é solteiro?"

"Cara.. Você é tão sem graça.." - eu dei uma gargalhada - "Ah.. Ele é casado. Mas isso é só um detalhe. Estou nem aí para isso. E tem uma filhinha também. Mas eu adoro crianças" - por dentro eu até queria agradecê-la por me fazer rir tanto, mas se eu agradecesse, ela ia achar que estava certa querer roubar o marido de outra - "Mas então.. me conta todo o babado que está acontecendo com você" - mordi o lábio.

"Acho melhor te contar quando eu chegar ao México.."

"Por quê?"

"Porque quero você pertinho de mim, caso precise do uso de lenços de papel"

"É tão ruim assim, Dori?"

"É.. deixei os assuntos se acumularem, mas não imaginei que teriam dimensões tão ruins.. Agora a historia será longa"

"Xii.. Então é melhor contar quando chegar.. Afinal, é ligação internacional, nena.., a pobre aqui também paga!" - eu ri daquela boba - "É brincadeira, Dul. Não, é verdade.. mas se você quiser contar agora pode contar, depois mando a conta para sua casa" - tem como não ri? - "Brincadeira de novo. Qualquer coisa para te ajudar, amiga, vale a pena"

Depois de trocar mais algumas palavras com a Sam no celular, eu resolvi subir. Tomar um banho e ficar assistindo um pouco de TV, eu na companhia de comigo mesma, sabe!? Grande parceria para um dia de aniversário. No caminho da piscina para o meu quarto, fiquei pensando no que conversei com a Sam, isso do professor dela ter uma filha. E esse fato me lembrou de uma cena meses atrás.

Está envolvida com alguém ligado à hotelaria foi muito significativo tanto para mim quanto para Luke, pelo menos nos quase dois primeiros meses. Eu estava sempre em um lugar diferente, em um país diferente, a cada semana. E olha a coincidência: ele também. Desde que o pai dele preferiu tomar conta dos negócios na Europa e na África, ele ficara a cargo dos negócios na América. E bastava eu saber o destino da banda para a semana seguinte, que eu já fazia uma ligação para ele para que nos encontrássemos.

Três semanas depois que nos conhecemos, já tínhamos ficado juntos em quatro hotéis dele que a banda se hospedou. Na terceira semana, a banda estava em Porto Rico, e claro, ficamos hospedados em seu hotel na capital. Durante o trajeto do local onde a banda fez show até o hotel, eu não parava de desejar que chegasse logo para que eu tomasse um banho e o encontrasse.

"Vai ter festa hoje no quarto do Catire" - Poncho disse, bagunçando meus cabelos, quando estávamos indo para nossos quartos - "Vamos?"

"Não vai dá, vou me encontrar com o Luke daqui a pouco"

"Chama ele para ir também" - disse dando de ombros. Eu conhecia o Poncho muito bem para saber que a última pessoa que ele queria nessa festa era o Luke. Como ele disse quando ficou sabendo que eu estava com ele: Meu santo não bateu com o dele.

"É que vamos jantar lá no quarto dele" - falei um pouco desconfortável.

Não gostava de falar do Luke com o Poncho, nem que o Poncho soubesse coisas desta minha nova relação, enfim. Incomodava-me o Poncho saber do Luke assim como, também, me incomodava falar de Poncho para o Luke. E justamente por isso nunca lhe contei da minha história com Poncho. Esta parte de mim era um território proibido para meus novos relacionamentos.

"Deixa, Poncho.. Agora ela só se diverte com esse Luke" - Annie disse com cara de deboche. Fechei meus olhos e respirei fundo. Meu Deus! Ela já estava chateada comigo. E para reverter isso, só Jesus!

"Um jantar com o dono do hotel deve ser super divertido" - Ucker zombou.

"Ô.." - Christian ironizou. Olhei para Mai esperando algum deboche também, mas ela só fechou os olhos e balançou a cabeça para os lados, como se dissesse para eu deixar para lá.

Desse dia em diante essas cenas se repetiram várias vezes. Mas o que eu podia fazer?

Depois de tomar banho e me arrumar, subi para a cobertura dele. Esperei ele atender cheia de expectativa e saudade. Quando a porta se abriu olhei para baixo, surpresa e intrigada com o que via.

Uma menininha estava parada diante de mim com os braços abandonados ao lado do corpo e a cabeça inclinada para cima me olhando com uma expressão surpresa e intrigada. Ela me lembrava de alguém com aqueles cabelinhos negros e lisinhos e aqueles olhinhos iguais jabuticabas. Será que era uma fã? Mas o que fazia na suíte do Luke?

"Hola!" — disse sorrindo. Ela continuou na mesma posição - "Mm.. é, o Luke.. Mm.. está!?" - perguntei meio confusa, dando uma olhadela pelo interior do ambiente. Ela assentiu sem mudar a expressão que tinha no rosto. Mordi meu lábio inferior - "Chama ele para mim?" - pedi sorrindo. Ela assentiu.

"Papá?!" - olhou para trás e gritou.

Espere aí! Papai?

Deu-me vontade de xingar a mãe de alguém, mandar alguém para algum lugar, mas segurei tudo atrás dos dentes. Criança presente!

"Papai, tem uma pessoa querendo falar com você" - ela saiu andando enquanto gritava, e eu aproveitei para entrar e fechar a porta.

Agora eu já sabia quem ela me fazia lembrar; o Luke. Os olhos, o cabelo, tudo igual. O que eu ainda não estava entendendo era que parte eu havia perdido dessa história. Ele tinha uma filha.. E daquela idade, e não tinha me falado nada. Sentia meu rosto queimar e podia jurar que atingira a cor dos meus cabelos.

"Quem é, Mel?" - ele saiu do quarto sacudindo os cabelos molhados com as mãos.

Mordi meu lábio inferior e prendi a respiração ao vê-lo. Estava sem camisa, usando um jeans. Pingos de água escorriam por seu peito, traçando um caminho tentador. Quando ele me viu ficou estático.

"Ahn.. Dul..?!" - eu permaneci parada e séria o olhando - "Mel, vai lá para o quarto. Vou conversar com minha amiga e quando o jantar chegar te chamo, sim?" - ela assentiu e saiu deixando-nos à sós.

"Acho que você tem uma boa explicação para o que acabei de ver e ouvir.. Acredito.." – eu disse ainda séria.

"Sente aqui, Dul.." – pediu me indicando o sofá - "Tenho sim" - disse passando a mão no cabelo.

"Só falta você me dizer agora que é casado"

"Eu não sou casado" - ensaiando um sorriso.

"Separado, divorciado, viúvo..?!"

"Também não" - suspirei.

"Está me deixando confusa" - ele sorriu.

"Lembra que te disse uma vez que minha mãe faleceu dias depois de uma cirurgia?" - eu assenti - "Foi de cesariana" - eu o olhei chocada - "Ela já tinha uma idade avançada quando ficou grávida, e a gravidez foi de risco. Ela não resistiu e faleceu. Meu pai a amava muito e não se conformou em perdê-la. Por isso se tornou tão ausente em nossa vida. Nos primeiros meses ele não conseguia nem olhar ou chegar perto do bebê. Depois foi se aproximando aos poucos. Mas decidiu ir para a Europa cuidar dos negócios lá. Desde então, a única figura paterna que a Mel tem sou eu. Eu que sempre cuidei, dei carinho e amor. E sem mais nem menos ela começou a me chamar de pai. E por mais que disséssemos que eu era o irmão, ela preferia chamar de pai. Aí deixamos assim.."

"Mas e seu pai? Nunca vai vê-la? Ela não o chama de pai?"

"Chama. Nas poucas vezes que vai visitá-la no Brasil. Ela diz que tem dois pais" - disse sorrindo - "Mas o preferido sou eu" - dando um sorriso torto.

"Mm.. Luke.. desculpe ter feito um mal julgamento"

"Não, Dul.. Não se desculpe. Não tinha como você saber, né?!"

"Por que não me contou?"

"A Mel é minha vida, eu sou capaz de tudo por ela, para vê-la bem e feliz. Não queria deixar você fazer parte da vida dela sem antes ter certeza da nossa relação. Porque no fim, eu estaria afetando a Mel também" - eu assenti - "Não iria trazê-la se houvesse alternativa. Mas minha avó está na Espanha visitando uns familiares, e a pequena geniozinho difícil não queria ir. Eu me atrasei tentando dar banho nela, porque do contrário, você não a teria encontrado aqui"

"Entendo. Mas agora eu já sei de tudo. E prometo fazer o possível para não fazê-la sofrer"

Ele sorriu. Lindo do jeito que eu gostava. Atraiu-me para junto dele e me deu um beijo nos lábios. Em seguida me abraçou e descansei minha cabeça sobre o seu peito nú, respirando aliviada por aquela história está esclarecida. Quando abri meus olhos e olhei para frente, vi algo curioso e sorri me afastando de Luke e me sentando direito no sofá. Vi metade de uma cabeça nos espiando por trás da parede. Luke virou o pescoço para ver o que tinha atrás de si que havia prendido minha atenção e me feito sorrir.

"Vem.." - ele chamou.

"Ya puedo?" — ela perguntou desconfiada em um espanhol perfeito.

"Mm-Hm.. Vem" - ela correu e pulou sobre as pernas dele. Ele lhe abraçou sorrindo - "Dul, quero que conheça a Melinda" - ela o interrompeu.

"É Mel"

"Mm.. Sim, a Mel" - fazendo cócegas na barriga dela - "E essa é a amiga do papai, a Dulce"

"Eu conheço ela, papai" - ela cochichou.

"Ah, conhece?" - ela assentiu.

"É a Roberta" - olhou para mim sorrindo - "Verdade?" - eu sorri assentindo.

"Sim.. Mas pode me chamar de Dul"

"Está bem, Dul" - bateram na porta chamando nossa atenção.

"Deve ser o jantar" - Luke disse se levantando, colocando a menina sentada no sofá - "Estão com fome?"

Momentos mais tarde após jantarmos, ficamos os três na sala conversando, brincando, e no final resultou muito divertido e relaxante, ainda que eu tivesse imaginado uma noite muito diferente quando saí do meu quarto..

A Mel acabou dormindo com a cabeça nas minhas pernas e os pés sobre as pernas de Luke. Eu disse que precisava descer que já era tarde, então ele a levou para a cama e voltou para se despedir de mim.

Quando sai do elevador no meu andar, me surpreendi ao ver Poncho saindo no mesmo instante do elevador ao lado.

"Mm.. Como foi a festa lá?" - perguntei, coçando a nuca.

"Muito boa, mesmo sem você" - parei de andar ao ouvir uma resposta tão ríspida dele. Quando ele notou, parou e olhou para trás - "Vai ficar aí parada?"

"Você não precisa agir assim comigo, e sabe disso.."

"O que sei é que você esqueceu que tem amigos por causa de um cara que acabou de conhecer" - disse e voltou a andar.

"Não acho prudente discutirmos isso aqui. Vem.." - disse passando o cartão na porta do meu quarto. Ele parou novamente e olhou para trás - "Entra logo, Poncho" - disse abrindo a porta e dando passagem para ele.

Ele hesitou um pouco, mas eu sabia que ele ia acabar entrando, então eu entrei e deixei a porta aberta. Fui até uma cômoda que tinha ali e comecei a tirar minhas pulseiras, e em alguns segundos ouvi a porta se fechando. Continuei com o que estava fazendo, tirando meu anel e cordão em seguida, enquanto um silêncio se estendia naquele ambiente.

"O que está acontecendo com você!?" - ele perguntou instantes depois, me fazendo virar para olhá-lo - "Já reparou que está acontecendo o mesmo de quando você estava.. com.. o.."

"Poncho, chega. Não precisa continuar.. Não é igual.. não é." - tentei convencer tanto ele quanto a mim. Porque eu precisei me entregar ao Memo para tirar Poncho a força do meu coração - "É que, sei lá.. A gente se vê o dia todo, todos os dias. E o Luke são poucas vezes, quando estamos em um de seus hotéis ou quando temos a sorte.." - ele me interrompeu.

"Azar!" - olhei para ele séria antes de continuar.

".. A sorte de estarmos na mesma cidade"

"E se 'essa sorte' não acontece, tem o celular que você fica pendurada.."

"Você está com ciúmes, é isso?" – a pergunta foi retórica, porque eu sabia que se fosse verdade ele não admitira. Mas me surpreendi desejando que ele admitisse.

"Não tente colocar palavras na minha boca. Não sou só eu que estou chateado, somos todos da banda"

"Vocês estão sendo injustos comigo" - disse engolindo o choro que já sentia se aproximar - "Eu quase não posso vê-lo por causa dessa maldita agenda cheia de compromissos, preciso aproveitar quando o encontro"

"É ridículo eu ter um papo deste com você" - Ele disse balançando a cabeça para os lados - "Eu não estou nem aí para o que você tem com esse cara"

"Então.." - engoli em seco, não muito certa de continuar - "para o que você 'está aí'?" - ele virou a cabeça para me olhar com uma expressão interrogativa ao ouvir o que eu disse.

Ele se aproximou muito rápido, segurando meus braços e me empurrando contra a parede. Não tive nem tempo para impedir. Ele apoiou uma mão na parede, e eu dobrei meus braços na frente dos meus seios para impedir uma maior aproximação dele. Olhava-me respirando ofegante, enquanto eu o olhava piscando os olhos repetidas vezes.

"Por que você brinca assim comigo, hã?" - perguntou sério.

"Eu.. não.." - tentei responder, piscando os olhos. Meu coração batia tão forte no meu peito, que chegava a doer.

"Não.." - ele sussurrou - "Você sempre faz isso.. Sempre.." – disse acariciando minha face com a ponta do nariz.

Inconscientemente, fechei meus olhos sentindo aqueles carinhos que minha pele conhecia tão bem, aquele perfume que meu coração insistia em lembrar, e quando dei por mim já acariciava o seu braço mergulhando minhas mãos para dentro da manga da blusa dele. Ele aproveitou que tirei meus braços da frente e colou seu corpo ao meu, me apertando à parede. Passou os carinhos para o meu pescoço e nuca, derrubando qualquer barreira ao me fazer sentir sua respiração quente entrando em contato com minha pele.

"Mas agora vai ser diferente" - disse se afastando - "Você não vai mais brincar comigo. Se quiser ficar com esse cara, então fique. Só saiba que não terá meu apoio" - saiu e fechou a porta, me deixando ali excitada e confusa.

Por algum tempo permaneci ali encostada à parede com os lábios tremendo e me odiando por ele ainda ter este poder de me afetar e causar reações em meu corpo e coração insanamente impossíveis de controlar.


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