Felix culpa escrita por Allicia


Capítulo 1
introductio


Notas iniciais do capítulo

A história é uma long-fic que eu planejo já faz algum tempo. Ela é uma ficção sobre anjos e tem como inspiração a bíblia mas não é necessariamente religiosa. A história terá várias frases e ditados em latim, que é a lingua que eu estou tentando aprender, mas não será difícil de compreender. Espero que gostem!



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Alessa permitiu-se um momento de descanso, sentando-se na quadra na arquibancada, as mãos inquietas pousadas nos joelhos. A chuva torrencial batia nas janelas, o barulho da bola de basquete quicando se mascarando com as goteiras. Ela sentiu um trovão em seus ossos antes mesmo de ouvir o barrulho. Sua roupa encharcada evidênciava que ela havia vindo de fora, do pequeno apocalipse de água que podia ser visto, ouvido e acima de tudo, para Alessa, sentido.

Seus olhos pairavam sob o placar antigo e defeituoso, parado permanente num jogo já acabado. Quase como Alessa, preso em um transe do qual não conseguia escapar.

Além da chuva e do jogo e das risadas, o único som vinha do pé de Alessa que batia num ritmo inexistente sobre o chão semi-polido de madeira.

O barulho da porta pesada sendo movida tirou Alessa de seu transe, seus olhos agora as duas silhuetas que seguiam em linha reta em sua direção. Seu cérebro emitiu um alerta de perigo que em outras circunstâncias teriam avisado os outros membros de Alessa a se moverem, entrarem em posição defensiva ou de ataque; mas não nesse caso, o corpo de Alessa estava totalmente paralisado, mas apesar disso sua consciência gritava, implorando para que saísse de seu estupor e fugisse.

As silhuetas começaram a ganhar forma, mas mesmo antes disso Alessa já os havia reconhecido -ela os reconheceria em qualquer lugar - um homem e uma mulher, ambos de pele escura, a dela mais do que a dele, vestidos de preto da cabeça aos pés.

Abella e Nomah. Caminhando em sua direção, a aura tão negra quanto a da própria morte.

Alessa permitiu-se dar suspiro, as mãos tremendo. E levantou-se, meus membros doloridos ao sairem de sua paralisia forçada.

—Olá Alessa. - disse Abella quando chegou ao seu lado, tomando o lugar a sua direita enquanto Nomah sentava-se a sua esquerda. Suas palavras, mesmo breves, tinham cheiro de carvão e tinham gosto de terra enegrecida pelo fogo.

A simples presença dos dois ali, do seu lado, mudara toda a atmosfera do local, o jogo havia acabado e as garotas que jogavam saiam em completo silêncio pela porta lateral.

Alessa imaginou como seria viajar para fora de seu corpo e ver a cena que vivia na perspectiva de alguém desconhecido. Abella e Nomah parados eretos feito deuses com coroas de espinhos, governando mentalmente seu reino, vendo-o queimar. Como pareceria ela para um desconhecido? Sua pele bronzeada e os olhos fundos e assustados talvez lembrassem Ícaro, que tentou voar mais do que podia, mais do que suportaria.

Esse momento, pensou Alessa, é minha queda.

—O que te trás aqui, Abella? - o nome queimou sua garganta e desceu para a ponta dos seus dedos da mesma forma que o fogo destrói um templo.

—O Hélder quer vê-la.

Alessa abaixou a cabeça. Isso era definitivamente estranho. O Hélder raramente saia de seu templo, a menos que convocado. E quem quer que o tenha convencido a descer é alguém que Alessa não quer por perto.

—Eu estou meio ocupada agora, talvez outro dia. - respondeu pronta para levantar-se.

—A lex, como você ja deve saber, deve ser cumprida, Alessa. - disse Nomah pela primeira vez, suas palavras exalavam poder, como um general comandando um ataque.

—Eu...eu não posso, não agora. Preciso de um tempo.

Nomah encarou Abella, os olhos se comunicando numa conversa sem sons.

Antes que pudessem entrar em um consenso Abella disse:

— Beneficium juris nemini est denegandi, o benefício do diteito não deve ser negado a ninguém.

Abella escondeu um pequeno sorriso. Era era minúsculo que se Alessa não a estivesse observando tão atentamente, o teria perdido.

— Beneficium legis frustra implorat qui committit in legem, aquele que age contra a lei não deve esperar dela nenhum benefício. -respondeu firmemente Nomah, as palavras como um ferro quente descendo a garganta de Alessa.

— Nomah, por favor. -seu nome teve em gosto estranho saindo de seus labios, azedo como veneno mas ao mesmo tempo doce quanto uma lembrança. Alessa sentiu-se suja implorando. Como se fosse uma desconhecida dentro de sí, usurpando suas palavras.

Nomah a encarou por uma pequena eternidade. Até que finalmente desviou o olhar. Levantou-se e se virou de costa para as irmãs.

—Você tem até o solstício.


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Notas finais do capítulo

Eu venho tentado escrever essa história desde de 2013, sem sucesso, eu decidi que, com o começo do ano, eu deveria reescrever essa história que eu amo mais que a própria vida. Ela ainda não está como eu gostaria mas por enquanto isso basta. Espero que tenham gostado.



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