Como leitora assídua daqueles romances água com açúcar, eu conhecia todos os tipos de homens ''fictícios''. Os canalhas, os eternamente apaixonados, e os tipo ' Romeu', que não suportavam estar sem suas amadas, os do tipo ' sou podre de rico vou te comer'. mas depois de muitos romances ridiculamente apaixonados, onde o dito cujo 'Príncipe', declarava poemas a sacada da amada, e sendo completamente ' consumido pelo fogo do amor', onde ele nunca havia nem mesmo pegado na mão da princesa, zero para ele na aula da sedução, eu decidi que preferia nos romances aquele carinha malvado, que não faz nada de bom a não ser que seja em beneficio próprio, mas que só uma olhadinha dele de canto de olho ou um meio sorriso, já molha muitas calcinhas. E ouso dizer que ele entra em muitas também.

   E isso tudo  enquanto o digníssimo Príncipe polia sua Harpa. Eu certamente preferia os conturbados, safados, e frios, mas que na cama... te dava múltiplos orgasmos. Sem aquela encheção de linguiça toda, já sabia o que queria. Aquele que você converte a deixar a vida promíscua e sem amor para virar um bom marido. Quem é doida de deixar essa chance passar?!

   Infelizmente eu só atraia os do tipo canalha, aqueles por quais as mocinhas choravam noites a fio, por eles terem lhe colocado um belo par de chifres com suas melhores amigas. Este é o resumo da minha vida. Só que eu não chorei. Eu não conseguia entender porque eu uma mulher de 21 anos, certamente gostosa, segura de mim mesma, inteligente e nada modesta (apesar do cabelo estranho rosa), Aspirante a escritora e estudante de Psicologia, só arranjava desastres como namorados. Graças ao bom Deus que não sofro por ninguém e nem nunca vou sofrer. Logico que acredito no Amor, afinal eu amo de paixão esses livros de Romance, mas acho que nunca vou encontrar alguém que me faça sentir 'aquilo'. E eu também não era a do tipo sortuda, porque todos os cara que ficava aprontava uma com a minha cara, era um carma maldito.

   Para provar meu ponto, que só acontece  merda, meu ultimo namorado, que só achava que eu tinha um bom par de peitos, me chifrava e eu nem sabia, pra variar, era com a minha suposta melhor amiga. Pode isso produção?! Obviamente quando eu soube, foi uma baixaria que só mulher traída sabe fazer,  foi tapa, chute nos ovos e puxão de cabelo.  Entre outras coisas mais. Eu sai sem nenhum arranhão e com a alma lavada, mas não posso dizer o mesmo dos dois.
O pior nem foi isso tudo, apaguei completamente tais seres desprezíveis do pensamento mas aparentemente ele especificamente não se esqueceu de mim. Depois da surra que dei nele o maluco simplesmente colocou na cabeca que eu era o amor da vida dele! E agora o idiota filho da puta não sai do meu pé , liga dia e noite , vai na minha faculdade, passa a noite chorando na minha porta e ainda fica melhor,  posta indiretas no facebook. E o caos.
Anotem ai, pior que o tipo canalha, é o tipo canalha perseguidor.

Eu tinha acabado de entrar de ferias e estava em busca da minha paz interior, minha amiga que morava comigo havia ido viajar com os pais para a praia. E eu tinha ficado aqui, só eu e minha biblioteca particular lotada de romances água com açúcar. Tinha planejado reler alguns livros e sair para comprar mais alguns  para a coleção. Eu não tinha apenas romances, mas uma vasta coleção de todos os gêneros. Desde criança colecionava, eu era daquelas crianças que invés de ganhar roupas e brinquedos ganhava livros.
Mas minha abençoada paz esta ameaçada pelo meu ex - o canalha perseguidor - que me ligava direto. Era assim, eu me sentava para relaxar e o telefone tocava, ficava naquele levanta e senta o dia inteiro! Já estava ficando louca com aquilo, ainda bem que troquei meu chip de celular e bloqueei ele no whatssapp.
Resolvi atender a bomba sentei na minha chaise longue, do lado do telefone, como uma dama dos filmes, tinha que deixar claro que ainda tinha mais alguns golpes como aquele que quebrou o nariz dele. Mentalizei meu mantra. Desculpa mocinhas dos livros, não consigo ser lady.
— O que é que você quer seu idiota?
— ... Sakura?! Oh meu amor você me atendeu! Tenho que dizer tantas coisas, você me perdoou não e? Estou indo ai na sua casa agora deixar as alianças que comprei para nosso noivado...
O que... O QUÊ? O cara pirou de vez!!!! Péssima ideia atender essa merda. Estava batendo a cabeça na minha mesinha por causa dessa burrice. Me segura que eu vou quebrar a cara dele. Me esqueci completamente e deixei ele falando sozinho, ops.
— Vá se foder! - gritei para o telefone e o desliguei. Viu? o que eu falei, é o carma.
Hunm...  Ele falou ... Que vinha aqui... AI MEU DEUS. Não quero ser presa, com certeza eu mato o cara.

— Alô vó!? Estou indo para ai.

***

Não deu tempo eu nem terminar a frase, que já corri jogando minhas roupas na bolsa. Nem vi direito o que coloquei. Minha avó morava em uma cidade bem maior que a minha então era um pouquinho longe para chegar, eu tinha que ir de ônibus por que eu não sabia dirigir nem jogando GTA. Até que essa viagem cairia bem, lá  cidade tinha muitas opções para sair, além de ótimas livrarias, e o grande bonus da cidade grande : Ninguem conhece ninguem, então é impossível dar de cara com seu ex só por que um conhecido disse onde você estava. Tenho que sair de casa antes que o maluco piradão chegue, nem que eu passe o dia na rodoviária e de pijama!

Para a minha felicidade não o encontrei antes de sair de casa. Logo peguei o ônibus e parti pra casa dá vó. Vou lhes adiantar um pouco sobre a minha avó. Ela é completamente maluca, Sério! Depois que ficou viúva ninguem segura essa mulher, vive arrumando uns paqueras tipo, da minha Idade. Ela pega mais cara que eu...Uma vez a gente viajou para praia, ela saiu para um luau e simplesmente sumiu por dois dias! Logico que eu chamei até a guarda costeira, mas depois de muita busca lá vinha ela com um bofe, simplesmente ela foi passear de barco e esqueceu de me avisar, foi um Deus nos acuda. Mas sei que no fundo, ela apenas tenta suprir a falta que Vovô faz. Ela sempre me diz que ele foi o homem da vida dela, e que ele era um perfeito cavalheiro. Eu Sei. Fico feliz que ela tenha encontrado seu Principe mesmo que um dia ele se foi, só que a vida continua e os que ficam tem que tentar ser feliz. As vezes penso que talvez não seja merecedora de sentir algo assim, enquanto viajo reflito sobre isso, que eu saiba não pisei, cuspi na cruz... Então porque não consigo sentir amor ? tenho amor pela família, pelos amigos , mas nunca senti algo forte por nenhum dos meus ex, no máximo uma atração física. Pensando nisso caio no sono.

***

Cheguei da viagem super mega cansada, joguei as bolsas num canto, comi o bolo da vovó, e desmaiei na cama. Minha vó estava pronta para sair com as amigas ( mentira era um boy), dizendo que não sabia que horas voltava, pelo jeito ela só volta semana que vem...

Como esperado acordei no outro dia e ela não tinha chegado ainda, resolvi dar uma voltinha pela cidade, quem sabe entrar em algum sebo e ver uns livros legais. Peguei a correspondência embaixo da porta e vi que tinha um convite entre eles, deixei tudo na mesa, quando ela chegasse abriria. Para minha sorte, eu não teria que andar mais de ônibus, a vó tinha comprado uma bicicleta floridinha a coisa mais mocinha de eu já tinha visto, mas comigo em cima não ficava lá essas coisas todas. Eu teria tentado me arrumar melhor se não tivesse esquecido de trazer uma roupa decente, maldito canalha. Fui com meus óculos de leitura, tentei esconder meu cabelo melhor que pude, meu moletom de Star Wars e calça jeans, nerd total. Se eu encontrasse uma carinha bonitinho por ai nem conseguiria dar meu olhar 43 pra ele.

Parti em  direção a Livraria do Shopping primeiro. Quando eu digo que tenho um carma é porque eu realmente tenho. Assim que cheguei , para minha não-sorte eu quase morri atropelada por um maluco na porta do estacionamento. O cara simplesmente não me viu, Passou quase por cima de mim. Loooooooooogico só porque ele andava num carrão importado tinha direito a não ver as pessoas. Infelizmente tentando desviar do idiota (esse se encaixa no tipo '' caras ricos e idiotas  '' dos livros), cai de cara no chão e perdi meu óculos, não que eu precisasse deles ou fosse cega, mas eram de estimação! Como Hoje eu não estava tentando ser uma dama, Como eu tinha mania de fazer, comecei a xingar loucamente o bendito que tinha a audácia de descer do carro e gritar:

— Não me viu não ô maluca? - Não olhei nem na cara daquele bastardo! estava mais preocupada em encontrar meus óculos de estimação que haviam caído em algum lugar do chão. Continuei procurando e comecei a gritar (eu não era muito calma).

— Olha aqui seu bastardo quer me matar? Quem já se viu!!!!? Só porque eu ando de bicicleta ? Vai se foder!! - Eu estava passada com aquilo!

— Eu o quê? - Uma voz rouca me respondeu, e ouvi passos na minha direção - Você que se jogou na frente! ... ah já vì... é cega... Está procurando isso aqui?

—...

— Agora decidiu ser muda também? 

Percebam que meu cérebro deu uma pane a exatamente 10 segundos. Foi os dez segundos mais estranhos da minha vida. Não quero admitir mas meio que quando olhei no rosto dele (e o resto também) meu cérebro deu  problema operacional. O que fazer? Simplesmente o cara era lindo. Lindo que eu perdi a fala, meu coração falhou uma batida e eu fiquei da cor do cabelo da minha avó, vermelho pimenta. Nesses dez segundos  eu o contemplei. Vi seu sutil arquear de sobrancelha, seu cabelo rebelde, e seus olhos tão negros que eu me perdi neles.

Só que esses dez segundos passaram , e agora eu estava puta. E vermelha de Ódio.  E ele estava segurando meu óculos de estimação com a perna amassada. E me atropelou. EU. VOU. SURTAR.

Me levantei pronta para matar. Meu óculos de estimação. Eu poderia até chorar. Fui em direção a ele soltando fogo pelas ventas. Arranquei o que restava do meu lindo óculos da mão dele, nossos dedos se tocaram levemente, e ele recuou a mão num susto. Eu não podia deixar ele me ludibriar. Só porque ele era bonitinho... bem, lindo. Ele não iria me fazer de besta. Não mesmo.

— Olha aqui seu cretinho presta atenção por  onde anda! Fica ai desfilando e não presta atenção nas pessoas a sua volta! - fiquei ali na frente dele com a mão na cintura e batendo o pé. - Sai da minha frente senão eu quebro a sua cara! E vai PRO INFERNO.!!

Eu realmente queria bater nele mas o cara era grande demais até pra mim. Eu sairia dalí de cabeça erguida como uma dama. Ou não. Quem ele pensa que é pra me chamar de cega? Deixei ele plantado ali com uma expressão indecifrável no rosto. Bem que se foda.. Ouvi seus passos atras de mim. Será que o cara era maluco? Sorte a dele por não processa-lo por danos morais, mas do jeito que ele parecia ser rico, provavelmente quem ia se ferrar seria eu.

— Ei! Espera um segundo.! - Jesus, Maria, José, tenho medo dele ser psicopata, porque quem sai por ai atropelando os outros?! Com Aquela voz rouca dele me arrepiei até a alma. Apressei o passo, depois de guardar minha bicicleta. - Senti sua mão no meu ombro, não queria ter gritado, mas eu gritei. Ele levantou as mãos, como que dizendo que não iria me machucar.

— Calma! Eu... Só queria saber se você não se machucou. Bateu cabeça?- de leve tocou a minha testa com os dedos. Na hora simplesmente fiquei... tonta.

Olhei em seus olhos... e vi uma preocupação genuína. Fez com que eu me acalmasse mais.Mas eu queria ir embora daquele lugar tipo , agora. Meu coração estava descompassado e eu estava a dois segundos de ter um treco, o susto foi maior do que eu imaginei. Acho que devido aos acontecimentos dos últimos tempos.

— Olha, nada demais, só o susto. Só ... não atropele mais ninguem ,ok? - Disse quase num sussuro. Virei minhas costas e sai. Apenas senti seus olhos em minhas costas.