O meu nome vibrou em meus ouvidos. A voz de Mello não parecia com raiva, era mais áspera e resignada. Eu perguntei-me se era um efeito da conversa que tinha acabado de ouvir ou da minha presença no quarto.

Minha respiração era tão superficial que eu mal a conseguia ouvir. Apenas ouvia o barulho do meu coração a bater contra o meu peito. Aquele som Thump-thump-thump-thump encheu os meus ouvidos e abafou todos os outros ruídos em redor.

Mello estava a olhar para mim através dos seus cabelos loiros. Eu queria que ele fizesse algo. Me batesse, gritasse comigo, qualquer coisa que me dissesse que aquele ainda era o mesmo Mello de sempre… mas…nada. Ele não se moveu.

- E-eu ouvi… tudo – Minha voz era um pouco mais forte que um sussurro, e embora ela tivesse o mesmo tom de sem-emoção que eu usava todos os dias, tinha um pouco de algo mais… medo, talvez? Ou seria a esperança? Não podia dizer, mas Mello percebeu o que era. Seus olhos se estreitaram por uma fracção de segundo antes de ele os fechar completamente.

- Eu sei.

- v-você…sabia que eu estava lá?

- sim.

- Então…Porquê? – Minha mente não parava para descansar, apenas rodava em círculos, girando e girando. O que tinha nele que me tornava incapaz de analisar uma resposta tão simples?

Já não sabia mais o que tinha perguntado. Ele não disse nada, e eu não fiquei surpreso. A pergunta também não fez sentido nenhum para mim.

Fechei os olhos e virei-me. Não parecia que Mello me iria bater, por isso foi provavelmente melhor sair agora antes que ele pense nisso. Houve um súbito ruído atrás de mim e parei a meio do caminho, imaginando o que ele faria. Iria voltar para o meu quarto com o nariz a sangrar e hematomas ou seriam os meus desejos realizados?

A massa que eu senti em meu ombro me fez saltar. Estava quente só podia ser a mão de Mello. Abri os olhos quando ele me virou para eu o encarar, ficando a olhar para o seu rosto com uma expressão deveras optimista. Mello inclinou-se sobre mim e pressionou os seus lábios contra os meus, ainda segurando em meus ombros. Suspirei um pouco, beijar Mello era tudo o que eu tinha imaginado e mais. Seus lábios estavam suaves e quentes, o seu hálito tinha um sabor a chocolate.

Minha mente não parava tentando perceber a sequencia de eventos que me tinham levado a estar num corredor vazio a beijar o rapaz por quem eu era apaixonado à anos. Mas o peso suave dos lábios de Mello sobre os meus e o facto de conseguir ouvir o seu batimento cardíaco através das camadas de couro e cabedal que separavam nossos corações. Me fez esquecer de meus pensamentos. Sentia-me leve, tonto mesmo.

Ele se afastou de repente, olhando para mim com os seus olhos que irradiavam calor. Eu podia sentir-me a corar e os meus ouvidos estavam um pouco quentes. Olhando para o rosto do loiro reparei numa expressão que nunca tinha visto…era…amor.

*Fim*