"Lua cheia"

Capítulo 1

Eu acordei animada para ir à escola. Sério, eu realmente estava animada. Era o primeiro dia de aula do segundo ano, haveriam testes para o Lacrosse (e eu queria entrar para o time), e...bom, era o segundo ano! E, bom...eu estava numa escola nova.

Tomei um longo banho frio e me vesti. As roupas não eram especiais, eram só as mesmas roupas de sempre: qualquer coisa confortável.Não que eu fosse brega, eu sabia me vestir sim e também sabia como ficar de pé em um salto alto, mas eu realmente não ligava muito pra isso ultimamente. Então quando eu abri o meu closet ignorei os saltos e escolhi um all-star de cano médio, peguei uma calça jeans qualquer e uma camisa simples, grande, e bem...da sessão masculina, mas, dane-se. Penteei meus cabelos, que são na altura dos ombros e crespos (pra não dizer meio cacheado, meio ondulado, meio bugado) e o deixei solto, usei um chapéu coco para disfarçar o corte mal-feito (eu mesma corto o meu cabelo, imaginem). Passei um pouco de rímel e um batom rum. Não havia nada de muito especial em mim. Peguei a bolsa super desarrumada, joguei o celular dentro, chicletes, meus fones de ouvido e alguns livros.

Peguei meu skate e desci as escadas. O Sr. Kinney estava lendo qualquer revista (provavelmente uma proibida para menores) enquanto resmungava dos problemas de resfriamento da casa.
—Fique a vontade para morrer de calor, Kinney, o ar condicionado do meu quarto funciona perfeitamente. - Falei e caí fora.
As ruas de Beacon eram legais para andar de Skate, mas o que poucas pessoas sabem, é que eu não sou muito boa nisso.
Cheguei a escola tropeçando e rindo comigo mesma.
A escola estava abarrotada de adolescentes cheios de hormônios  (e alguns até meio bêbados ). E isso era apenas na parte externa, passei por uns dois caras que estavam fazendo sei lá o que na entrada da escola. Um meio carrancudo e o outro babando por uma garota com uma mini-saia que eu jamais usaria (pelo menos não sem uma meia - calça por baixo). Ela era ruiva e o ignorou cruelmente. Eu ainda estava com os fones de ouvido escutando Red Hot Chilli Peppers - Snow no último volume e meio perdida tentando achar o meu armário. Encontrei e o abri com a chave que o diretor havia me dado. Joguei os livros lá e também o skate. Corri para a primeira aula que seria de Inglês. Uma odiável aula de gramática,  mas eu tentei me manter animada. Sentei na última carteira da fileira que ficava ao lado da janela.
Não consegui prestar muita atenção na aula. Meu pensamento estava longe quando o professor me chamou.
—...Senhorita, pode responder a minha pergunta?- Eu estava tão distraída que não havia percebido que todos na sala de aula estavam olhando pra mim. Eu estava MORTA de vergonha. Um detalhe sobre mim: Eu não sou muito social.
—Quê? - Todo mundo da sala riu, outros comentaram e o professor repetiu a pergunta:
—Qual o principal motivo do divórcio em território nacional ter aumentado tanto depois do século dezenove?- Eu nem tinha notado que a aula de Inglês havia acabado. No quadro estava escrito em letras garrafais "HISTÓRIA". Ele me encarou e eu instantaneamente respondi:
—Bom, o casamento.- Todo mundo riu e o professor me olhou curioso (e furioso), ele estava pronto para me dar um sermão quando eu continuei sem lhe dar chance.
—Tirando o fato que em mil oitocentos e lá vai o trem, o divórcio era algo extremamente raro e ilegal, as coisas eram diferentes, eram prioritárias às famílias mais poderosas e casos extraordinários aceitos pela igreja. Coisa que mudou com a virada do século,  principalmente nos anos 20, quando o mundo ficou mais libertino.- Falei em voz alta e clara olhando para a janela. Quando terminei virei-me para olhar o professor, que perguntou meu nome.
—Meu nome é Loren, senhor.- Respondi com a voz um pouco mais baixa.
—Loren? Só Loren? Ah, por favor, nos fale seu sobrenome. Eu adoraria saber quem foi que resumiu nossa aula em poucas frases.- "Não..." Eu me lamentei internamente, mas respondi com a voz firme.
—Koreshkov . Loren Koreshkov .- Quando eu falei, os sinos tocaram informando que a aula havia terminado e que o intervalo tinha começado. Mas ninguém se mexeu. Ninguém saiu.

Nenhum pio na sala de aula. Apenas os olhares pra mim. E quem antes estava rindo das minhas respostas ao professor, agora me observava com um olhar sério. O professor pareceu ter se arrependido amargamente de ter me perguntado o meu sobrenome. Ele também não se mexeu.
Não me fiz de rogada. Abri um chiclete, me pus a mastigar silenciosamente, peguei na minha bolsa os fones de ouvido enquanto todos me acompanhavam com o olhar, alguns confusos, outros assustados e outros com pena. Sai da sala mascando o chiclete e ouvindo "Arabella". Depois disso eu consegui escutar um burburinho e as pessoas saindo da sala. Eu podia sentir alguns alunos me seguindo até o meu armário. Onde eu larguei os livros e peguei uma maçã verde.
Me dirigi ao gramado e me deitei ao sol. Agora eu estava com os meus óculos de sol redondos e negros apenas comendo e ouvindo música.
Senti alguém interrompendo o meu sol. Me levantei e baixei os óculos escuros para ver quem era.
—Loren Koreshkov , sou Lydia Martin.-Falou a ruiva acompanhada do Ken e de uma garota tão enjoada quanto eu. Lydia esticou a mão para me cumprimentar e eu ignorei. -Esse é o meu namorado, Jackson Whittemore.- Ela disse e ele me deu um sorriso.
—Não me diga...-
—...e esta também é nova na escola, a Allison Argent.- Ela concluiu.
—E aí?- Falei para a tal Allison. Ela parecia menos superficial que os outros dois.
—Bom, nós queríamos te convidar para assistir aos teste para o time de Lacrosse com a gente.- "E torcer para o seu namoradinho? Sonha!" Pensei. -Depois nós iríamos ao Coffe Clutch, claro.-
—É...Lydia, uma pena. Eu infelizmente vou estar ocupada, tenho um compromisso. Quem sabe outro dia?- "Quem sabe nunca?" Completei.
—Ah, claro. Tudo bem então. Até mais.- Ela se virou e foi embora com o namorado e a suposta amiga.

Muita gente estava no gramado na quadra de lacrosse. O treinador nos passou instruções e nos mandou fazer uma fila. Dava pra ouvir Lydia gritando pelo namoradinho que estava logo atrás de mim. Claro, nem ele nem o treinador sabiam que eu era uma garota. Eu não havia tirado o capacete o tempo inteiro. Provavelmente alguém estranhou um "garoto" tão magro e baixo fazer teste pra Lacrosse, que é um esporte violento.
Quando chegou a minha vez eu respirei profundamente. O garoto que estava havia pego todas as bolas. Porque não pegaria a minha?
Lancei-a e não entendi porque minha foi única a entrar.
Voltei para o fim da fila e tirei o capacete para poder tirar uma mecha de cabelo que havia grudado no meu cabelo. O Jackson quase lançou a bola, mas foi interrompido pelo treinador e por todos os outros garotos que olhavam perplexos pra mim enquanto conversavam entre si. "É uma garota?", "Isso é permitido?", "Ela foi a única que conseguiu contra o MCall". "O MCall pegou todas? Desde quando ele é tão bom? Se ele é bom, porque perdeu de uma garota? ".
—Parem!- Ele gritou e Jackson se virou para ver o que estava acontecendo.
O treinador veio em minha direção.
—Quem é você?- Ele perguntou.
—Eu? Eu sou Loren.- Respondi.
—Loren, querida, o que diabos você está fazendo?-
—Teste para o time de Lacrosse, algum problema?-
—Você é uma garota, se você não percebeu, nosso time só tem homens.-
—Bem, eu perguntei ao diretor sobre o regulamento. Ele disse que não havia restrições quanto à isso.-
—É, mas, mas...Olhe, meu bem, Lacrosse é um esporte muito violento e precisa de dedicação e força. E bem, você é uma garota. Não acho que aguente isso, levando em conta, é claro, os seus 48kg..-
—52. Olha, eu acho que eu posso sim fazer isso. Sério,  se o senhor me der uma chance!- Falei. Todos ouviam com atenção. Algumas pessoas que estavam na arquibancada haviam descido para ver o que uma garota fazia no banco, inclusive Lydia.
—Olha, eu poderia...- Enquanto ele falava pus meus olhos de gato do Sherek até ele ficar desconfortável e não conseguir me rejeitar.-...poderia...Você vai fazer um teste diferente. Um circuito. Semana que vem. Se passar, eu posso pensar no seu caso.-
—Mas o primeiro jogo é sábado!- Eu disse exasperada.
—E você fica no banco.-
Confirmei com a cabeça e fui para o banco ver o resto dos testes. O pessoal ficou me rondando, é claro. No final, Jackson fez merda, o tal de Scott pegou a bola, os dois estão no time, e o novato do time, Scott é o mais novo queridinho do treinador. Eu estava tirando a proteção e as chuteiras quando vi o treinador vir em minha direção.
—Senhor?- perguntei.
—Olha garota, gostaria de dizer que você mandou bem e gostaria de pedir que entendesse o meu lado. Eu realmente espero que você consiga passar no circuito. Mas veja, você é uma garota e lacrosse é muito violento, por isso o circuito. Garotas são delicadas e eu tenho que saber até onde vai a sua capacidade. Nesse esporte é preciso aguentar muita coisa.-
—Sim, senhor.- Respondi
—Boa sorte, garota.- Ele falou e saiu.

...
Era noite e não havia quase ninguém na escola. Eu estava na quadra, correndo. Precisava ser mais rápida. Eu suava muito e minha cabeça latejava pedindo pra eu parar. Mas eu não podia. Eu sabia que o circuito seria mil vezes pior que aquilo. Eu estava dando mais uma volta quando vi uma coisa no escuro. Na floresta havia duas coisas brilhantes, como olhos no escuro, tipo o filme da Branca de neve, os olhos amarelos. E eles correram me acompanhando, até que aquilo saiu das sombras e eu pude ver.
Era um cara.
Ou quase isso. E nem adiantou correr porque quando eu corri em direção à escola, ele pulou em cima de mim antes de eu poder sair do campo.
Ok, eu ia morrer. Ele era estranho. E peludo. Meu Deus, ele sabe o que é presto-barba?
Cara, realmente não dava para acreditar em como aquilo era Estranho. Ele era meio deformado, ou sei lá, parecia um lobo. Meu, Deus, ele é um lobo! Ele era a droga do lobo mau e estava com as duas pesadas mãos (Garras, ou sei lá)  em cima de mim, me prendendo no chão. Eu realmente achei que fosse morrer exatamente naquele momento. Ele tava rosnando!
Eu achei que fosse fechar os olhos e ver como toda a minha vida passaria diante de mim.
Mas não. Eu só fiquei olhando pra ele.
Para o animal. 
E ele...Bom, ele não fez nada. Por que alguém o chamou. E o chamou de Scott.

Ué, o bicho tem nome? WTF???

Chegou um garoto correndo e o "Scott" ficou mais calmo.

O garoto fez sinal para que eu não me movesse então eu fiquei na grama rezando pra não morrer.

Tirando o fato de que eu já estava meio morta porque havia corrido uns 12km... 

Eu encarei o céu e notei a lua desaparecer atrás das nuvens. Ok eu estava meio tonta. Se eu não tivesse, eu poderia ter tido a certeza de que o "Scott" estava voltando ao normal.

Cara, eu acho que ele é um lobisomem.