Show me a garden that's bursting into life escrita por Milady


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Apenas uma ideia do que poderia acontecer após o retorno de Daryl à Alexandria.



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"All that I am

All that I ever was

Is here in your perfect eyes

they're all I can see"*

Seus ouvidos ainda estavam zumbindo por causa da explosão. Daryl não sabia se ainda acreditava em Deus, mas tinha certeza absoluta que terem encontrado aquele caminhão e o lança granadas não podia ter sido apenas sorte. Destino talvez.

“Socorro”

Uma única palavra saída do walkie talkie e sentiu um cubo de gelo descer estômago abaixo. Ele estava preocupado como há muito tempo não estava. A horda? A buzina?

Uma vida inteira aconteceu em um dia. O encontro com as pessoas que lhe roubaram a moto e a crossbow... Achar o caminhão, reencontrar Abraham e Sasha... Serem ameaçados por aquele grupo... Elimina-los. Negan... Haviam dito que o nome do líder era Negan. Tinha que se lembrar disso.

Sem falar na inesperada ajuda daquele cara... Jesus... Que havia aparecido do nada para salvar suas bundas contra aqueles idiotas...

Jesus. Que nome mais apropriado, não é?

Por mais que tivesse perguntas a fazer para ele, não havia tempo. O cara foi na cola deles para Alexandria.

Ele ia voltar assim que ouviu a buzina. Tinha que ter voltado. Agora parecia que ele estava em meio a um campo de guerra. Corpos estraçalhados pelo chão, Alexandrinos e walkers. Não queria reconhecer nenhum deles. Sua visão só focava nos caminhantes putrefatos que cruzavam seu caminho.

Depois de explodirem o caminhão, destruindo a maior parte dos walkers e  chamando a atenção de outra boa parte deles, Daryl voou para dentro dos muros que ainda permaneciam de pé. Tinha ouvido tiros e gritos. Continuou escapando dos dentes podres. Cravando sua faca nos crânios cinza. O fedor tomando conta de suas narinas. Estava cansado. Seus músculos ardendo de dor. Perdeu Jesus, Abraham e Sasha de vista. Alguns de seus amigos cruzaram seu campo de visão. Ouviu tiros e grunhidos por um tempo que parecia não ter fim.

Então uma cena surreal cruzou seu campo de visão: Rick desesperado carregando Carl nos braços. O garoto sangrava. Denise corria junto, carregando Judith. Ele quis ir, mas ainda tinha muitos walkers para darem conta.

*~*~*~*

Uma voz distante chamava seu nome, mas ela não conseguia ver quem era... Sabia que era uma voz familiar... Rosita... Isso! Rosita! Mas por que não conseguia vê-la? Tentava abrir os olhos, mas estavam pesados...

Um gemido escapou de seus lábios e sentiu todo o seu corpo doer. Como na época em que Ed chegava em casa, bêbado, e arranjava qualquer desculpa para lhe espancar. Mas Ed estava morto, ela não apanhava mais... Era uma mulher forte agora...  Nunca, nenhum homem levantaria a mão para ela novamente...

Morgan!

Ele bateu nela! Mas, ela atacou também... Ele estava mantendo um Lobo escondido e o maldito ia matar a todos... Ele mesmo tinha dito isso. Tinha que impedir... Tinha...

Então seus olhos saltaram abertos. Rosita estava apoiando sua cabeça.

— Calma...

— O que... o que aconteceu...

— Você apagou...

Mas Tara impediu.

— O cara sujo levou a Denise pra fora.

Carol tentou levantar, precisavam fazer alguma coisa. Morgan ainda estava desacordado. Seu corpo protestou em dor quando se levantou, Rosita a apoiando. Sentia-se tonta, enjoada...

— Temos que prender Morgan – Carol deu a ordem – Agora, Eugene!

Foi quando ele acordou de seu transe e se moveu para Morgan. Todos se uniram e amarraram ele. Tara queria sair, Carol não deixou. Seria mais arriscado ainda...

Então vieram tiros. E gritos de uma mulher... crianças... Jessie... Sam...

Mais tiros... E o grito que se seguiu, ela conhecia muito bem. Era de desespero... Rick.

Antes que pudesse correr porta afora, seus ouvidos quase arrebentaram junto com a grande explosão.

*~*~*~*

Haviam lutado. Muito. Por um momento, pensou que não conseguiria mais manter-se em pé. Mas superou-se. Foi como se a explosão tivesse acordado todos os que estavam em condições de lutar. E com muito esforço, conseguiram dar conta de mais uma horda. Estava cansada, mas estava ainda mais preocupada.

Quando Carol entrou na sala, Rick estava sentado, com os cotovelos apoiados nas pernas e a cabeça apoiada nas mãos. Ele respirava pesado e a terrível sensação de déja vu se apoderou dela. Na sala ao lado, Denise e Rosita tentavam salvar Carl.

— Rick... Querido... Você precisa descansar – Carol tentou chamar a atenção de Rick, que apenas encarava o vazio com desespero no olhar – Rick?

Ela tentou tomar sua mão, mas ele não deixou, fixando seu olhar nela pela primeira vez.

— Carol?

— Vem comigo. Você precisa...

— Não! – e explodiu em soluços, puxando-a pela cintura, apoiando a cabeça em sua barriga. Carol deslizou as mãos sobre os cabelos sujos dele.

Ela sabia o que ele estava sentindo. Havia sentido na própria pele aquela dor dilacerante. Aquele desejo insano de estar no lugar do próprio filho. Aquela sensação de fracasso... Saber que seu filho estava do outro lado da parede, sofrendo... E ela chorou.

O barulho da maçaneta a fez olhar para a porta. Rick estava muito imerso na sua dor para perceber alguma coisa. Então ela viu Daryl, que parou no meio do caminho para entrar. Ele olhou para a cena e seu olhar cruzou com o dela. Também havia lágrimas e medo nele.

Sem uma única palavra, Daryl saiu. E Carol permaneceu tentando confortar Rick com sua presença, até que os soluços passaram. Ela se afastou um pouco e ajoelhou-se diante de seu amigo.

— Rick...

— Onde está Judith? – ele fungou.

— Com Maggie... Rick...

— Eu não vou sair daqui até o Carl acordar. – disse parecendo lúcido pela primeira vez desde que o havia encontrado.

— O Carl é um lutador, você sabe – ele afirmou com a cabeça – E nós estamos aqui viu? Eu trouxe água e alguns biscoitos... Por favor, Rick... Tente comer algo... Por favor, descanse...

— Obrigado... Carol... Obrigado...

Queria ser tão esperançosa quanto ele. Mas sabia que Carl estava por um fio. A realidade a estava chamando para aceitar a ida do garoto... Embora, secretamente, acreditasse na possibilidade de um milagre. Ela se inclinou e beijou sua testa. Saiu, deixando um Rick com lágrimas silenciosas escorrendo pela face.

*~*~*~*

Estava exausto como nunca estivera na vida. Como jamais pensou que pudesse estar. Mas não conseguia simplesmente virar as costas e buscar descanso.  Ele, Glenn e Maggie tinham passado um bom tempo com o tal Jesus. Ouviram sobre a outra comunidade... Alto do Morro... Sobre Negan... Mas o que eles podiam fazer por agora? Tinham que colocar os muros de pé novamente.

Jesus parecia um cara legal. Mas não sabiam se podiam confiar por isso ele estava sendo vigiado por Glenn e Heath.

Tentou chegar perto dos muros, que estavam sendo recolocados de pé, mas os alexandrinos não deixaram. Tobin disse que havia o risco de ele sofrer um acidente, pela falta de descanso. Primeiramente reclamou, mas agora, estava estranhamente grato por isso. Era como se todas as suas forças tivessem sido tragadas. Por isso estava ali, sentado no chão da varanda. Havia marcas de sangue no chão e corpos de walkers espalhados na grama.

Ficou um tempo assim, sozinho, sem conseguir pensar em nada. A mente nublada, quando Aaron apareceu subindo as escadas. Ele caminhou calmamente e sentou-se ao seu lado.

— Seu braço, está ferido.

— Não foi nada.

— Vocês tiveram problemas com pessoas não foi?

— Não é o momento de falar nisso agora. Precisamos nos fortalecer antes...

— Se ficar aqui, não vai se fortalecer. – Aaron suspirou – Descanse Daryl. Você já fez muito por agora... Precisa reconhecer seus limites.

Daryl quis ficar chateado com aquele sermão, mas nem para isso tinha forças.

— Eu não posso simplesmente deixar todo mundo e ir tirar um cochilo.

— Eu não estou dizendo isso... Você pode descansar e depois revezar com alguém. Cuide do seu braço... Estamos bem por agora. Aproveite o conforto de estar em um lugar seguro, pelo menos por essa noite.

Daryl riu.

— Não existe lugar seguro.

— Por hoje, existe. Aproveite esse momento. Aproveite esse lugar.

Aaron disse isso e o deixou sozinho pensando sobre aquilo. Não havia lugar seguro... Havia pessoas que deixavam os lugares seguros... No fim, as pessoas eram os portos seguros hoje em dia.

Levantou-se e caminhou para a enfermaria. Sabia que Carl ainda estava lutando, pois se algo tivesse acontecido certamente a notícia tinha se espalhado. Cruzou pelo caminho, com seus amigos, removendo corpos, amparando uns aos outros. Viu Erick e Tobin nos muros. Tara estava de vigia.

Entrou com cuidado na enfermaria, sabia que Rick estaria lá, mas não estava preparado para vê-la naquela cena. Rick abafando os soluços na barriga de Carol, que o abraçava, também chorando. Quando ela cruzou seu olhar com o dele, viu a dor ali. Os soluços de Rick atravessavam sua pele, e Daryl sentiu uma dor física no peito.

Saiu sem dizer uma palavra. Estava cansado disso. Cansado da dor. Cansado de quase conseguir um lugar seguro para viver, de quase morrer, quase proteger as pessoas...

Ele não era assim antes. Era uma máquina de luta, não se cansava fácil e mesmo que estivesse ainda conseguia forças para lutar. Estava amolecendo e isso era aterrador naquele mundo, ao mesmo tempo em que era necessário continuar sendo humano. Estava confuso. Com saudades. Com medo.

Caminhou o mais rápido que pode, para a pseudo-segurança da casa que era sua também em Alexandria.

*~*~*~*~*

Carol abriu a porta do seu quarto e entrou. Precisava de um banho para tentar relaxar um pouco. Esse pensamento e a ideia de normalidade que trazia lhe deu uma sensação esquisita no estômago, que tentou ignorar, mas estava tão cansada... Foi até sua gaveta e pegou uma calça folgada de algodão e uma regata. Precisava tirar aquela sensação de sujeira do corpo.

Então a porta do banheiro se abriu e Daryl saiu de lá, vestindo somente uma calça de moletom, secando (ou melhor, bagunçando) seus cabelos em uma toalha. Eles pararam no mesmo lugar, quando seus olhares se cruzaram.

— Oh! Desculpe, eu não sabia que você estava aqui... Eu volto depois – Ela falou e preparou-se para sair.

— Nah. Está ok.

— Eu só queria lhe dar um pouco de privacidade.

Ele levantou a sobrancelhas.

— Não é como se você nunca tivesse me visto sem camisa antes... E isso aqui – e apontou para a cama improvisada perto da janela. – Foi ideia sua.

— Não tinha motivos para você ficar dormindo na sala.

— Não tinha motivos para eu ter um quarto só pra mim, se ia ficar a maior parte do tempo do lado de fora.

Eles estavam dividindo o mesmo quarto, depois que Daryl anunciou não querer um para si. O que pareceu um absurdo para todos, até que Carol ofereceu o seu para que ele deixasse suas coisas quando estivesse fora, então pareceu bem óbvio que uma cama fosse colocada para ele ali também.

Ele pegou uma camisa que estava jogada sobre a cama e a vestiu, não sem antes esboçar uma careta de dor.

— O que foi? – ela se aproximou e viu a ferida no braço dele – Daryl, o que foi isso?

— Bala. Foi de raspão...

Carol olhou séria para ele.

— Fomos emboscados... Abraham já está falando com o pessoal sobre isso...

— E aquele... Jesus?

— Ele salvou nossas vidas... – respondeu num suspiro cansado - Pelo amor de Deus, me deixe descansar um pouco.

— Desculpe... Só fiquei preocupada... Olhe, eu preciso tomar um banho. Traga a caixa de primeiros socorros para cá, sim? Precisamos limpar isso direito. Não podemos correr o risco de uma infecção.

Ela demorou no banho mais tempo do que o normal. Estava cansada, precisava daquele momento só para ela, para tentar relaxar os músculos tensos. Quando ela terminou seu banho, saiu para o quarto e viu Daryl comendo biscoitos, deitado em seu colchão.

— Deixe eu ver.

Ela limpou o ferimento, medicou. Não seria mais necessário suturar, pois já havia passado tempo demais. Seria mais uma cicatriz... Enrolou uma atadura, para proteger. Mas sabia que nada aconteceria. Aquele homem parecia de aço.

— Você também tem um machucado. – ele disse tocando o hematoma na têmpora dela.

— Não foi nada... Eu caí... Tropecei...

— Dói?

— Um pouco. Quase nada. Agora, fora da minha cama.

— Seu colchão é melhor que o meu.

Ela o encarou, séria.

— Se você quiser ficar na minha cama, melhor trabalhar para merecer.

— Pare. – disse ele se levantando e indo para a própria cama.

Carol riu em um suspiro cansado. Não sabia de onde tinha tirado forças para brincar daquele jeito.

— Pode ficar – disse desdenhando.

— Não. – ele respondeu com a boca cheia.

Ela revirou os olhos e foi até onde ele estava sentando-se de frente para ele.

— Quero biscoitos.

Ele estendeu o prato para ela que pegou um e se recostou na cabeceira da cama. Eles podiam conversar sobre tudo o que aconteceu, mas parecia desnecessário. Daryl sabia que ela tinha salvado a vida de todo mundo ali, e estava orgulhoso dela, mas também sabia que não era o momento para tratar sobre lutas e mortes.

Quando percebeu que havia somente mais um biscoito no prato, Daryl o pegou, deu uma mordida e ofereceu o restante a ela, que se aproximou e o pegou. Para ela, aquele gesto, tão comum entre eles (dividir comida) tinha o valor cavalheiresco muito maior do que se ele tivesse lhe estendido o biscoito inteiro.

Ela comeu devagar, encarando o chão.

— Você tá machucada...

Ela levantou a cabeça quando ouviu a voz rouca dele. Encolheu o ombro e tentou parecer casual.

— Acontece quando você está lutando pela própria vida...

— Vem cá. – Ele chamou e ela se arrastou para perto dele.

Daryl pegou o rosto dela entre as mãos e o abaixou, com uma suavidade que só Carol e Judith conheciam. Ele afastou uma mecha de cabelo da testa dela e passou um dedo ao redor do hematoma que se formou após a queda.

— Isso foi feio...

— Está tudo bem...

— É perigoso bater a cabeça assim...

— É sério... Eu tô bem...

Ela levantou o olhar para encontrar o dele. A proximidade permitia ver o cansaço na expressão dele.

— Eu tive medo. – ela o ouviu dizer – Quis voltar assim que ouvi a buzina...

— Eu tive medo de você não conseguir voltar...

— Medo de chegar tarde demais...

Eles se olharam. Ela sentiu as lágrimas chegando, mas engoliu o caroço que estava se formando em sua garganta.

— Daryl...

— Hum

— Eu vou te abraçar agora... – ela disse

 

*Chasing Cars - Snow Patrol


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Ainda resta mais um capítulo.
Comentem... Me deixem saber o que acharam =D



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