Pecadores ocultos (Reescrita) escrita por Lobo Alfa


Capítulo 23
Cap. 23 Amores à parte




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—Tem certeza David que você ama Helena? Perguntei.

—Tenho padre. Helena é a mulher da minha vida.

—Você parece que se envolveu demais com Ângela. Comentei.

—O senhor duvida de mim? Ele se sentiu ofendido.

—Não é isso David, só que, às vezes, o coração pode ser enganoso.

—O meu não, eu sei de quem eu amo. Ele me respondeu firmemente.

—E o que você e Ângela são? Perguntei tentando argumentar com isto.

—Nós fomos! –Ele destacou- Amantes, amigos, pobres coitados, não sei bem. A tristeza de um, era a tristeza do outro, as dores que um sentia, também eram as dores que o outro sentia. O que poderíamos fazer além de chorar se não a nos consolarmos?

—Não precisavam ter se entregado a carne.

—Não, nós não precisávamos, mas nós não pudemos resistir.

Ele então começou a me contar o restante da história espontaneamente.

Não entendo como isto começou, nem entendo como chegou aquele ponto, não sei por que todas as minhas tentativas de resistir contra aquilo que nos era proibido, sempre falhavam no final. Seria seu cheiro? Seria seu toque? Seria seu olhar? Não, o olhar certamente não, não era como o olhar de Helena, os olhos castanhos de Ângela sondavam minha alma, profundos demais, me causavam arrepios, entretanto eram capazes de me atrair para mais perto, sem nenhum controle de mim, ou de minhas ações, inúmeras foram as vezes que nos... (Ele procurou pela palavra certa) deixamos levar pelos instintos mais básicos do ser humano, o mais animalesco, o mais ardente e descontrolado sentimento que torna a razão inútil, que torna o corpo do outro uma ambição. A paixão.

Meu trabalho me distraía, cobria plantões para meus amigos, fazia de tudo para não ter que ir para casa, eu sabia o que me aguardava e até gostava, mas aproveitando-me da culpa que eu sentia naquele momento eu planejava maneiras para evitar que isto acontecesse. Em uma noite percebi que não tinha como evitar, a distância que eu havia mantido por alguns dias com Ângela já não era mais possível, ela estava na minha casa, cuidando de Laura que já estava aprendendo a falar, fui capaz de filmar algumas vezes ela me chamando de papai. Em minha opinião, na cabeça de Ângela tudo parecia bem, ela me telefonava como se nada tivesse acontecido, me tratava bem, cuidava de tudo que eu precisava, mas ela também parecia criar situações propícias para o que nós fazíamos.

Não me passarei de inocente padre, para ser sincero, não precisava mais de uma pequena insinuação, e quando digo pequena insinuação me refiro a um olhar maldoso, um simples toque, um lugar em que estivéssemos a sós, para nos entregarmos por inteiro aquele desejo incontrolável, todas as vezes eu me sentia culpado e dizia que seria a última. Nunca era.

Tendo conhecimento disto, naquele fim de plantão, deveria ser umas sete ou sete e meia da noite, decidi que não iria para casa tão cedo, mudei a direção do meu trajeto para um bar, foi o mesmo bar em que eu bebi na noite do acidente, o mesmo bar que me embriagava todas às vezes que o mundo parecia desabar nas minhas costas.

—A bebida mais forte que tiver, por favor. Fiz o pedido.

Bebia tudo em apenas um gole ou dois, fazia uma expressão e som grotesco, pedia novamente, não demorou muito para que apenas levantar a mão com o indicador fosse suficiente para encher o copo, precisava de um amigo, as coisas sem o Carlos só pioraram, Laura estava perguntando-me repetidas vezes: “Onde está a mamãe?” E tudo que eu respondia, era que estava dormindo, logo em seguida ela questionava: ”Não podemos acordá-la?” Eu a abraçava e dizia que não, ensinava que a mamãe era a mulher na foto, Laura aprendia que a mamãe era a própria foto. Pensava a cada gole sobre a falta que Helena me fazia e sobre a estranha sensação de ter ao ver Ângela tomando aos poucos o lugar da irmã. Não era a mesma coisa, mas era tudo o que eu tinha. Pensei e bebi, bebi mais um pouco e pensei um pouco menos, não adiantava planejar, vamos transar novamente mesmo. Esta era uma certeza, por mais que eu tentasse. Olhei para os lados, vi que haviam homens tão bem sucedidos como eu, alguns menos, havia pequenos grupos porém, a maioria bebia sozinho. Talvez pudesse encontrar um novo amigo? Ri de mim mesmo, depois lhe contaria toda a minha história? Eles também pareciam tão deprimidos e agonizantes quanto eu estava, olhares perdidos, expressões de raiva, tristeza e medo aconteciam inesperadamente, tinham seus próprios problemas. Saturado daquela deprimida sensação, fui para casa.

Tirei o relógio do pulso depois vi as horas, uma da manhã, a casa estava tranquila, olhei para a escadaria e me veio uma forte preguiça, lembrei-me então do sofá.

—No sofá não Loki! Falei o expulsando dele.

Ângela deve ter se esquecido de o pôr para fora, ou não, já que fazia muito frio. Joguei-me no sofá e o Loki se aproximou de mim mansamente, lambeu meus dedos e fez alguns grunhidos.

—Desculpe rapaz, no sofá não.

Ele pôs a cabeça próximo a mim e foi então que percebi que ele sabia da minha tristeza, não soube o que fazer. Tentei falar com o cachorro.

—Eu sinto falta de Helena.

Uma lágrima me escapou, a limpei do rosto com o dedo indicador, o cachorro começou então a lamber meu rosto, desci do sofá e abracei aquele animal que era o mais próximo que tinha de um amigo, comecei a chorar.

—Foi tudo culpa minha e veja agora o que está acontecendo? Talvez no fim eu mereça.

—Sinto-me envergonhado por falar isto. Comentou David.

—Por quê? Perguntei não o entendendo.

—Chorar abraçando um cachorro. A que ponto cheguei?

—Animais nos ajudam a passar por situações difíceis.

—Então Loki me ajudou bastante. Ele me disse.

Na manhã seguinte acordei sentindo algo me empurrar na parte de trás do ombro.

—David! -Chamava-me Ângela- Você dormiu no chão, e o cachorro no sofá. Disse surpreendida.

Tinha bebido muito, nem percebi.

—Deixe-me aqui. Falei mal-humorado.

Não apenas pela ressaca que sentia passar a noite refletindo sobre o rumo que minha vida havia tomado, havia me dado uma sensação de frustração.

—Levante-se, tome um banho e vá para o quarto. Insistiu ela.

—Deixei-me em paz! Exaltado, gritei me levantando.

—Não grite comigo! Ela rebateu.

—O que você quer? Hã?

Ela apenas me olhou assustada com aquilo.

—Não venha descontar em mim sua raiva. Disse Ângela apontando em meu rosto seu dedo indicador.

—Não me venha dar ordens. Esta é minha casa! Abri os braços com as palmas das mãos para cima.

—Não faz diferença, eu ainda mereço respeito.

—Por quê? Perguntei.

—Porque eu estou te ajudando, faço tudo por você, entendo pelo que está passando e estou sofrendo também.

—Eu não pedi sua ajuda está bem! Percebi logo depois de falar, que este era um argumento totalmente estúpido, mas não estava capaz de pensar rápido naquele momento.

—É para isto que serve a família.

—Somos uma família? -Perguntei irônico, ela não me entendeu- Eu sou o pai, Laura a filha, mas e você Ângela, o que é? A mãe?

—Ela me deu uma tapa bem forte. Disse David esfregando a mão no rosto.

—Merecido. Falei e ele me pareceu concordar.

—Helena é mãe, apenas por ter gerado, mas eu –Ela bateu a mão no peito- cuido de Laura como se fosse minha filha!

—Só que ela não é sua filha! Gritei me aproximando dela.

—Por isso que ela está em coma – Argumentou Ângela que me deixou sem resposta- Vocês brigaram naquela noite, assim como estamos brigando agora, a culpa foi sua, você a fez pegar o carro, você causou o acidente.

—Cale a boca! Gritei furioso com aquelas acusações.

No fundo sabia que era verdade.

—Diga-me David. O que vai dizer para sua filha quando ela crescer e Helena não acordar? Hã? Quando sua filha tiver maturidade suficiente e lhe perguntar como sua mãe foi ficar daquele jeito? Vai dizer o quê? Ela perguntou me olhando nos olhos.

Suas pupilas dilatadas e seu rosto um pouco avermelhado mostravam que ela também estava com raiva.

—Fora da minha casa! Apontei com o braço esticado para a porta e gritei tão alto que achei que os vizinhos tinham ouvido.

Ela nada respondeu, apenas saiu e bateu fortemente a porta ao fechá-la. Depois de alguns segundos, sozinho em casa, tive um ataque de fúria, sentia-me culpado, sentia-me frustrado, sentia-me o pior homem da terra, peguei um vaso e joguei contra a parede enquanto gritei. Com isto, Laura acordou chorando e assustada, fazê-la chorar me tornou mais culpado a peguei nos braços e me sentei no sofá, ela me abraçou forte, passando seus braços no meu pescoço. Coloquei minha mão na sua cabeça, ela me obrigou a me acalmar, logo depois percebi que Loki estava sentado a minha frente com uma bolinha na boca.

—Agora não rapaz.

Ele soltou a bola no sofá.

—Está bem. Concordei a jogando para longe.

Ele correu para buscá-la e voltou.

—Loki! Resmunguei.

Minha filha ainda chorando olhou para trás. Peguei a bolinha e a joguei novamente, Loki correu e escorregou uma vez, mas continuou e voltou com a bolinha na boca, Laura deu uma risada. Compreendendo a situação joguei novamente e Laura deu uma gargalhada. Fiquei assim até ela querer jogar a bola, percebendo que os dois sozinhos estavam se divertindo, decidi limpar a bagunça que eu fiz, depois tomei um banho. De noite passei em sua casa, conversamos e eu me desculpei com ela.

—Vocês transaram? Perguntei desconfiado disto.

—Com Laura dormindo no quarto, conversamos por um bom tempo no sofá, a abracei sem alguma pretensão, mas ao ver sua boca tão próxima a minha a beijei, ela tentou afastar meu rosto com as duas mãos, mas eu as tirei e as segurei com os dedos se cruzando, depois disto ela consentiu.

—Vocês não tomam jeito. Reclamei.

—Como lhe disse padre, não foi amor, não foi carnal, mas também eu não sei o que foi.


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