A Dama de Vermelho escrita por Camila Reis


Capítulo 1
Cap. único: Um assassinato. Um corpo. Um suspeito.


Notas iniciais do capítulo

RELOOOOOOOOOOOOU O/ Terminei a one e precisei mt postar :) ;
Curioso q, novamente, saiu uma songfic '-' Inspirada na música The Ballad Of Mona Lisa, de nada mais nada menos que...Panic! At the disco !!!!! Recomendo viu gente, ela é muito perfeita ♥ (Link: https://www.youtube.com/watch?v=gOgpdp3lP8M )
Ela ficou longa, e não me dou muito bem com suspense e-e' Mas fiz o que pude.
Desculpem se tem algum erro por aí, estou com um pouco de sono e, bem, alguns acabam passando.



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— TEM UM CADÁVER EM UM DOS QUARTOS! - Grita uma senhora, desesperada. Ela imediatamente para toda a festa, chamando a atenção de todos, que imediatamente correm para o dito quarto.

É espaçoso, e me admiro do assassino ter tanto cuidado, pois só tem sangue nos lençóis da cama de casal.

Uma mulher grita e desmaia ao ver o corpo do francês Louis V. , pintor francês que no momento descansa em paz. Os olhos azuis estão arregalados, e o terno manchado de sangue. Aparentemente, ele levou facadas aleatórias pelo corpo, e a que possivelmente o matou de fato foi uma na garganta.

— Uma pena, era um bom homem... - Comenta o Sr. Nascimento.

— Ela deu a volta pelos arbustos! - Grita a senhora que denunciou o assassinato - Ela possivelmente entrou aqui de novo! Ela...Pode estar entre nós! - Terminou, apavorada.

— Como sabe que é uma mulher? - Pergunta um dos senhores, o qual não reconheço.

— Ora, pelo vestido vermelho! Eu o vi! Pela luz da lua pude perceber, mas só vi uma pequena parte. Era um vermelho vivo... - De imediato, todos os olhares pousam nas poucas damas vestidas de vermelho.

— Quem irá cuidar disto agora? - Pergunta o Sr. Nascimento, desesperado - Minha festa fora arruinada!

— Não! - dessa vez quem fala sou eu, Antônio. Aproximo-me do Sr. Nascimento e educadamente começo: - Senhor, sou ótimo em investigações. Deixe que eu resolvo este caso.

— Ah, o novo garoto do interior? Por um acaso o convidei?

— Não. - Dou um sorriso maroto - Mas a madame Carla Fraga é minha prima.

— Ah, Carla... - Comenta ele, franzindo a testa - Certo, veremos se é mesmo um bom detetive. Tens até o fim desta festa para descobrir quem é o assassino. - Ele vira para os convidados - Amigos! Temos cá um bom detetive. - Mente - Não é muito conhecido, mas disse que cuidará do caso. Por favor, aproveitem a festa, e o Senhor...

— Antônio.

— E o senhor Antônio descobrirá rapidamente quem é o assassino. A segurança de todos estará em suas mãos! - Ele se aproxima e murmura em meu ouvido: - Se não descobrir quem fez isso, vai me pagar.

Sorrio:

— Não se preocupe, Senhor. Eu descobrirei quem fez tal crueldade com um homem tão vivo como Louis. - E assim, meu nome estará em todos os mais conhecidos jornais, penso, enquanto um sorriso ilumina meu rosto.

Os convidados me encaram, e muitos se afastam. Converso com a senhora que viu o crime. Nada de novidades. Quando vou examinar o corpo, porém, tenho certeza que quem fez isso não é assassino de fato, pois os cortes são irregulares e em diversas partes do corpo, como se "ela" tentasse desesperadamente matá-lo, mas não soubesse como.

— Será difícil que torne a atacar... - Murmuro para mim mesmo.

— Louis! - Grita uma voz feminina, me fazendo virar. É uma mulher bonita, com traços claramente europeus: nariz fino, corpo um pouco pálido e cabelos louros. Ela caminha até ficar do meu lado, colocando a mão na boca: - Não!

Percebo ser Isabel Costa, a então noiva de Louis. Algo me prende ainda mais: seu vestido vermelho.

— Não! Meu amado Louis! - Começa ela, limpando discretamente as lágrimas. Seu glorioso decote prende minha atenção, mas logo paro. Antônio, não se prenda nisso. Ela é comprometida.

Ou melhor, era.

— Era a noiva dele, não?

— Sim. - Diz ela, me encarando - É o detetive Antônio, sim?

— Claro. Vai ser importante falar com você. Tem ideia de quem pode ter feito uma crueldade dessas? Seu noivo tinha inimigos?

— Não, ele era perfeito. - Responde ela. É, ela não iria ajudar muito.

Entra uma segunda mulher, esta porém não tem a beleza claramente européia de Isabel. Sua pele é morena, e os olhos verdes.

— Meu Deus! Quem pode fazer uma crueldade destas?! - Comenta ela, apavorada.

Isabel volta-se para ela e parece enfurecida.

— Hipócrita! Eu sei que foi você!

— O que? - Pergunta ela, dando alguns passos para trás ao ver a fúria da loura.

— Você o matou! Tenho certeza!

— Claro que não! Eu jamais mataria Louis! E você sabe disso!

— Acalmem-se, garotas - As interrompo. - Por favor, Senhorita Costa, não se pode ficar brigando com ninguém assim. Ficar apontando para os outros aleatoriamente a faz ainda mais suspeita. - Digo friamente, fazendo Isabel arregalar os olhos. Ela dá um tapa em meu rosto e sai pisando firme.

— Desculpa fazer você passar por isso.. - Começa a outra senhorita depois que Isabel sai. - Isabel sempre foi assim.

— Tudo bem. Qual seu nome?

— Ana.

— Certo, Ana. Por que Isabel pensa que você matou Louis?

— Porque...Nós duas éramos apaixonadas por ele. Mas Louis escolheu Isabel. - Suspira a morena. - Éramos grandes amigas, mas Isabel me odeia desde que se apaixonou por Louis.

— Entendo. Então, senhorita Ana, eu vou para o salão principal. - Caminho até a porta.

— Espere! - Pede Ana, e então me viro - Louis tinha uma grande inimizade com o sobrinho de Alberto, Pedro Nascimento!

— Como sabe disso?

— Bem, Pedro é o criador de um jornal pequeno do Rio. Ele fez uma matéria criticando as obras de Louis, e desde então eles não se suportavam.

Uma inimizade, hm? Muito obrigado mocinha. - Caminho pelos corredores até chegar no salão principal.

Todos já conversam novamente, porém a tensão ainda está no ar. A cada instante, com quaisquer ruídos, alguém olha para os lados, os olhos buscando indícios de um novo assassinato. O próprio anfitrião está assim.

Vago entre os convidados, até encontrar quem eu desejo. Pedro Nascimento conversa com outros homens. Os cabelos são castanho-escuros e bem penteados. É mais alto do que eu, esguio, e com um olhar inquietante.

— Olha só, Antônio! - Diz ele gentilmente assim que me vê. - Estávamos falando de você. Um detetive menor que tenta provar seu talento - Alfineta ele, porém estou preparado. Já sei como funciona a mente de um jornalista, afinal, meu pai foi um.

— Claro...Estou tentando cuidar desse assassinato. - Comento, limpando a garganta. - É uma lástima a perda de um pintor tão talentoso.

— Sem dúvida. - Comenta um dos amigos de Pedro, um loiro também magrelo.

— Já eu não acho isso. - Diz Pedro, dando de ombros - Tem pintores melhores.

— Fiquei sabendo da sua crítica para com Louis. - Começo - Não entendo porque não gosta.

— Algo nos traços dele não me agrada - Argumenta ele.

— Será que é os traços? Pois eu acho que tem algo nisso... Estranho ele morrer no mesmo lugar em que você está. - Comento, aproveitando que um dos garçons passa com uma bandeja com bebidas e pego uma taça.

Pedro ri enquanto pega outra taça.

— O que está insinuando, caipira? Que eu matei Louis?!

— Quem está insinuando é você. - Sorrio, tomando um gole da taça que carrego.

— Isso é ridículo! Aquela senhora foi clara; o assassino é uma mulher.

— Mas ela pode ter sido mandada por alguém. - Sugiro, tomando outro gole - Quem sabe...Alguém que tem inimizades com Louis?

— Só o que me faltava mesmo. - Resmunga Pedro - Detetives...Sempre com ares de "sabe tudo".

— Jornalistas... - Devolvo com sarcasmo - Sempre acham que estão fora de suspeitas.

Uma mulher se aproxima de Pedro. Os cabelos estão presos em um penteado estranho, e o vestido vermelho realça sua pele bronzeada.

— E então, querido? E esse homem? - Pergunta ela, olhando para mim.

— Olha só! Uma dama de vermelho. Senhoras e senhores, achei o criminoso. - Sorrio. Alguns param suas conversas e nos observam.

— Isso é ridículo! Minha esposa não é a assassina!

— Será?

— Eu estava com ela durante o assassinato!

— Uau, então você participou também!? Parabéns, aquele corte na garganta foi perfeito!

Pedro avança e dá um soco em meu rosto. Não foi forte, mas eu fico atordoado por alguns instantes. Logo, revido. Ouço alguns murmúrios, e dois ou três homens apostam em quem vai vencer.

Ah, os burgueses, sempre tão humanos!

Acerto em cheio o olho direito de Pedro. Ele, porém, me derruba.

— Chega! - Grita o anfitrião, Sr. Alberto Nascimento. O amigo de Pedro o ajuda a se levantar.

Sinto uma mão amiga se estender em minha direção. É Carla, minha prima.

— Qual a parte de "não se meta em problemas" você nunca entende? - Pergunta ela, rindo.

— Perdoe-me, prima.

— Certo, vamos até a cozinha. Lá vai tomar um pouco de água e se acalmar.

Carla me guia pelos corredores. Vejo tapetes bonitos e uma decoração perfeita. Chego na cozinha e ela me obriga a sentar em uma cadeira simples de madeira.

— Por que fazer isso? - Pergunta ela.

— Ele é um suspeito.

— Não, por que decidiu bancar o super detetive?

— Alguém precisa fazer algo. - Resmungo.

— Antônio não é um herói - Diz Carla, rindo - Você quer fama.

— E quem não quer?

— Certo, Antônio. Deixarei você seguir a investigação, já que você é um teimoso. - Decide ela com irritação, pegando um copo d'água e me entregando. Bebo tudo em poucos goles e me levanto. Deixo Carla e sigo pela mansão. 

Não vejo mais Pedro, e nem quero. Quando passei perto de um dos banheiros, vejo Isabel com mais uma garota parecida com ela, mais baixinha.

— Você perdeu suas luvas?! - Isabel está ralhando com a segunda garota. - Como assim?

— Perdoe-me, irmã. - Começou a outra garota, tímida.

— Não é a primeira vez que faz isso... - Começa Isabel - Mas será a última. Se perder mais uma luva, eu paro de comprar as luvas brancas que você tanto ama!

— Não, por favor, eu...

— Sem mas, você sabe que está errada.

— Sim.

— Agora vamos para o salão principal novamente. - Isabel caminha apressada, e a garota a segue como se fosse sua sombra. Observo os dois vultos atentamente.

Uma mão pousa sobre meu ombro, o que me obriga a me virar. É o Sr. Gustavo Nascimento, irmãos mais novo anfitrião da casa.

— Olá, Antônio. Observando as Irmãs Costa?

— Senhor Nascimento. Bem, só estava vendo aquela cena curiosa. São irmãs?

— Sim, a mais nova é a Elisa.

— O que deseja senhor? - Pergunto, esquecendo elas.

— Que deixe de ser tão presunçoso. Eu vi a briga que teve agora há pouco.

— O Senhor Pedro se sentiu ofendido, apenas.

— Você realmente o ofendeu. - Defende ele, com raiva.

— Se o ofendi, é um claro sinal de que ele é o culpado. - Revido.

— Escute aqui, pilantrinha. - Começa ele, segurando-me pelo colarinho da camisa - Você é só um caipira aqui. E meu filho é um jornalista em ascensão. Consegue entender?

— Senhor, posições sociais de nada valem para um detetive. Qualquer um pode ser suspeito de ao menos ter ajudado no crime. Inclusive o senhor. - Falo, arqueando uma sobrancelha.

Ele parece prestes a me acertar com um soco, porém Alberto Nascimento chega. Com a presença do irmão, Gustavo me larga.

— Irmão, um grande fidalgo deseja vê-lo - Diz Alberto - Algo sobre seu livro.

— Claro, estou indo. Onde esse grande senhor está?

— No salão principal. É aquele crítico aclamado que veio à minha festa. - Gustavo sorri e se afasta. Alberto me encara.

— Muito obrigado, senhor.

— Não pense que esqueci o que fez. - Diz Alberto com raiva. - Eu vi a briga que teve com Pedro.

— Eu apenas estava tentando fazer meu trabalho.

— Mas faça isso sem causar tantas intrigas, ou eu ficarei mau falado - Rosna o anfitrião - A próxima confusão e o jogo pela janela!

— Patrão! - Chama uma negra, que corre em sua direção.

O Sr. Nascimento parece se recompor, a encarando.

— O que faz aqui?!

— Perdão, senhor. - Começa ela, totalmente atrapalhada. - É que uma das suas faca sumiu!

— O que?! E como só deram falta delas agora?

— Perdão senhor. E foi uma das mais afiada que tem na cozinha.

— Com licença, quando mais ou menos ela sumiu? - Pergunto, me intrometendo na conversa.

— Eu a usei durante a tarde, senhor. - Responde a negra, envergonhada - Ela deve ter sumido durante a festa mesmo.

— Então admite que a assassina pode ter usado aquela faca para matar Louis?

— Deus acuda! - Murmura ela, fazendo o sinal da cruz - E para que mais roubariam a faca? Agora que a usaram pra matá o tal francês, nunca mais uso ela!

— Quem você acha que poderia ter sido? - pergunto enquanto me aproximo dela.

— Não sei... - Ela dá de ombros - Mas a tal da italiana é a que mais vai pra cozinha!

— A italiana?

— A Senhorita Bortolinni - Bufa Alberto - Ana Bortolinni.

— Ana? - Então lembro da amiga de Isabel Costa. Ela é um suspeito em potencial. - Com licença - Peço educadamente para o anfitrião - Vou dar uma volta pelo salão. - Arrumo o paletó e sigo no meio de tantas pessoas.

Logo localizo Ana, que está em um canto conversando com um moreno alto e esguio, que se afasta quando me aproximo.

— Olá, querida Ana. - Sorrio, tentando parecer carismático. Um garçom passa com muitas taças de champanhe em uma bandeja, e aproveito para pegar duas. Alcanço uma para Ana - Aceita?

Ela estende a mão timidamente e pega uma. Tomo o primeiro gole.

— Quem seria o honrado homem que estava ao seu lado? Sem querer ser muito curioso.

— Meu pai. - Responde Ana com vergonha.

— Hm, parece jovial, sem dúvida. - Comento, tomando outro gole. Ana ainda não bebeu uma única gota. A bebida surte efeito: - Ficou sabendo do roubo?

— Roubo? - Ela me encara.

— Uma das melhores facas foi roubada. Possivelmente para cometer aquele assassinato.

Ana estremece. Estou prestes a dar o bote.

— Fiquei sabendo que você é a que mais frequenta a cozinha...

— Está me incriminando?! - Ela aumenta um pouco o tom de voz.

— Você quem diz, querida. Se isso a incomoda, pode querer dizer que...

Não consigo terminar a frase, pois Ana me atinge com um tapa no rosto e sai furiosa. Isso desperta alguns olhares, mas não ligo. Massageio o local do tapa e suspiro. É o segundo, só esta noite.

— Antônio, cuidado com o que diz para as pessoas. - É a minha prima.

— Sou um detetive - Suspiro - Detetives fazem isso.

— Está lendo demais. - Suspira Carla - Não temos detetives por aqui. Pelo menos não os que você gosta.

— Estou apenas seguindo a tradição da família.

— Não, está seguindo a tradição do seu bisavô, que era doido também. E você nem quer por gostar de mistérios, só quer fama.

Suspiro. Ela tem razão. Porém, deixo tudo isso de lado quando vejo algo esverdado em seus cabelos, que faz eu me aproximar.

— Espere... - Murmuro, mexendo nos seus cabelos. Sei que Carla arregala os olhos enquanto tiro uma folha de seus cachos. Aperto seu braço e a puxo para mim, sentindo seu perfume. Ele parece mais fraco, e tem pequenas marcas de terra em seu vestido vermelho.

Vestido vermelho.

— Você é a assassina?! - Indago, atraindo a atenção de muitos ali.

— Não! - Defende ela imediatamente, me encarando. - Como ousa duvidar de mim?!

— Explique isto então! - Mostro a folha, chocando a maioria dos presentes. Carla se afasta de mim, notando os diversos olhares de ódio.

— Foi você! - Grita Isabel.

— Não! Não foi eu! - Diz Carla, desesperada.

— Então qual a explicação para isto aqui? - Pergunto mais uma vez.

— Eu...Eu...

— Ela estava comigo. - Quem avança é Heitor Nascimento, filho único do anfitrião.

— E o que faziam? - Pergunto, cravando os olhos em Heitor.

— Nada de errado.

— Nada? Estavam no meio de arbustos e não faziam nada?!

— Estou apaixonado por ela! - Grita Heitor, o que choca a todos ali. - Nós estávamos juntos!

— Meu filho! - Alberto surge no meio da multidão.

— Eu posso explicar, pai. Não fizemos nada de errado. Eu só queria declarar meu amor para ela. E então... vimos a assassina.

— Vocês a viram? Quem ela é? - pergunta Isabel, se intrometendo.

— Não vimos o rosto... - Responde Carla. - Só que ela carregava uma faca.

— E ela não usava vermelho. - Completa Heitor. A notícia assusta a todos ali.

— Como assim?! - Pergunta a minha primeira testemunha - Eu vi o vestido dela! Era vermelho!

— Não, você viu parte dele - Corrige Carla - E esta parte estava suja de vermelho.

— Então "A dama de Vermelho" na verdade não usa vermelho?! - Pergunta Pedro, e só então percebo sua presença.

A dama de Vermelho?— Pergunto.

— Sim, que nome acha que darei à ela para o jornal de amanhã?! - Pedro revira os olhos.

— É só isso que você sabe? - Pergunta Isabel. - De que adianta? No que vai ajudar?

— A senhorita Costa não é mais suspeita. Nem minha prima Carla. - Dou de ombros. Isabel me fuzila com o olhar. - A senhorita Bortolinni também não.

— Isso tira a suspeita de poucas damas, e agora quase todas podem tê-lo matado. - Diz Pedro, tentando me derrubar.

— Nem todas, meu amigo. Você não entenderia, claro, afinal é um mero jornalista. - Pedro crava os olhos em mim, furioso.

— Como assim nem todas?!

— Não se pode suspeitar de uma senhorita que estava conosco no momento do crime, por exemplo. Tampouco alguém que não tem nenhuma ligação com o francês.

— Larga isso! - Uma mulher grita no outro canto do salão, atraindo a atenção de quase todos ali.

É a minha primeira testemunha, ela parece discutir com um garçom, e não percebeu que todos a notam agora.

— Mas senhora Carvalho, isto pertence à casa! - Diz o garçom, desesperado.

— Não! - Ela consegue pegar o que quer, e então nos encara. Sua face fica como o tomate.

O anfitrião caminha até ela, a observando, inquieto. Ele pega o que ela antes segurava, mostrando ao resto dos convidados:

— A faca que me foi roubada.

Caminho até eles, surpreso.

— Foi esta velha! - Grita Isabel. - Ela quem matou meu noivo!

— Mas é claro... Você não usa um vestido vermelho. - Começo - E foi você quem viu o assassinato. Disse que a assassina usava vermelho apenas para as suspeitas sobre você sumirem. Mas a pergunta é, por quê? Que relação tinha com Louis?

— Eu não o matei! - Defende-se, apavorada. - Nunca que faria algo assim!

— Então por que está com esta faca?

— É óbvio que foi ela quem matou! - Diz um dos convidados - Olhe só para a cara dela!

— Acalmem-se! - Peço, me aproximando do anfitrião e pegando a faca. - Com sua licença, senhor. - Examino a faca com cuidado. Ela está perfeitamente limpa.

— Por favor, Senhor Antônio...Não fui eu quem o matou. Juro.

— Então explique-se. - Falo friamente.

— Eu roubei a faca! Queria ela para mim! - Diz ela, erguendo os braços em sinal de rendição. Todos ao seu redor se chocam. - Achei ela bonita, só isso!

— Então você furtou esta faca? - Pergunto.

—Sim! Eu furtei! Por favor, não me prenda. - Implorou ela, temerosa.

— Não a prenderei. - Sorrio - Mas certamente seu nome sairá no jornalzinho de quinta categoria do nosso amigo Pedro Nascimento.

— Jornalzinho de quinta categoria?! - Rosna ele - Olha quem fala, detetive imbecil!

— Filho, olha como fala. - Repreende seu pai - Temos muitas damas por aqui.

— Desculpe pai. - Ele parece envergonhado.

Logo todos tomam seus rumos. Ouço cochichos sobre a falência da família Carvalho.

Até onde ela foi...Furtar um objeto precioso da família Nascimento! Isso que os Carvalho têm um longo histórico de amizade com os Nascimento— a fofoca é inevitável, e está por todos os lugares.

Estava vagando pelo salão, indeciso, quando Ana me para.

— Descobriu sobre a faca, não é? - A senhorita Bortolinni me pergunta, sem emoção. Posso notar o tom de sarcasmo discretamente em sua voz.

— Sim. Era só um furto normal, no fim das contas, Srta. Bortolinni. Perdoe-me por duvidar de você. - Seguro sua mão e a beijo suavemente. - Fui um tolo.

Ela se solta bruscamente e segue caminho. Então percebo que ainda está irritada. Suspiro.

Não sei mais o que fazer. Não tenho mais suspeitas. Mas então tenho uma ideia e volto para o quarto onde Louis morreu. Seu cadáver ainda está lá, porém as criadas o cobriram.

Caminho até ele e descubro seu rosto por alguns instantes. Os olhos antes arregalados agora foram fechados, e os lábios também. Antes, parecia estar gritando, mas agora está em um sono profundo.

Uma verdadeira tragédia.— Comenta um vulto atrás de mim. Viro-me para encarar uma garota jovem de olhos tristes.

— De onde você veio?

— Eu sou a irmã dele. - Diz ela com tristeza.

— Entendo...Perdão, não a vi antes.

— Sem problemas. - Ela se aproxima de Louis e suspira. - Estou sozinha no mundo agora.

— Como a senhorita voltará para a França agora? - Pergunto, com pena.

— Dou meu jeito - Ela dá de ombros.

— Qual seu nome, senhorita?

— Eleonóre. Irmã mais nova de Louis.

— Por que não pede ao senhor da casa dinheiro para uma viagem até a França?

— Vou fazer isso, obrigada. - Ela sussurrou para mim. Deixo ela com o cadáver do irmão e saio. - Espere! - Paro quando ela me chama.

— Sim, senhorita? - Viro para ela.

— Tome isto. - Ela se aproxima de mim e me entrega um par de luvas.

— De onde isto? - Pergunto as observando.

— Foi encontrado lá fora. Agora vá, por favor.

Viro e saio dali. Ainda não consigo associar as luvas com nada que já tenha visto. Até que me deparo com uma cena.

— Foi ela sim! FOI ANA BORTOLINNI QUEM MATOU MEU NOIVO! - Grita Isabel, que está cercada por garçons tentando inutilmente acalmá-la. Guardo as luvas no bolso do paletó e corro para proteger Ana.

— Espere! O que aconteceu? - Pergunto para Ana.

— A CARTA! - Isabel grita, histérica - LOUIS ESCREVEU UMA CARTA À ELA! DIZENDO QUE SE ENCONTRARIAM NO MESMO QUARTO EM QUE ELE MORREU, E MINUTOS ANTES DA SENHORA CARVALHO VÊ-LO MORTO!

— Isso é verdade? A carta é real? - Encaro Ana.

— S-Sim...Ele- ele... me ma-mandou uma carta sim. - Ela gagueja, tremendo pelo nervosismo. - Mas eu não fui! Juro!

— Como ousa se defender?! Sua assassina! Foi você quem matou meu amado Louis!

— Não fui eu! - Ela me agarra pelo paletó, desesperada - Por Deus Antônio, juro que não fui eu! - Seus olhos estão marejados.

Então olho para Isabel, e para sua irmã, que está próxima. Ela olha para tudo com pavor.

"Não é a primeira vez que faz isso...Mas será a última. Se perder mais uma luva, eu paro de comprar as luvas brancas que você tanto ama!"

Afasto Ana de mim.

— Já sei quem é o assassino - falo, olhando para ela. - E não é você.

— Quem é, então?! - Pergunta Isabel, já um pouco mais calma.

Retiro as luvas sujas do meu paletó, as mostrando para todos os presentes. Os convidados nos cercam em um círculo perfeito.

— As luvas estão sujas de sangue e terra agora, mas um dia já foram perfeitamente brancas...Do jeito que a senhorita Elisa, sua irmã, gosta. Por que será que estariam sujas desse jeito? Aliás, como ela os perdeu? Isso é uma prova muito forte.

— Elisa...Isso é verdade? - Começa Isabel, encarando a irmã.

— Claro que não! Eu...Eu jamais faria...

— NÃO MINTA PARA MIM! - Ela avança, mas os garçons a seguram a tempo. Um deles acidentalmente empurra Elisa, que deixa algo metálico cair.

Avanço e a afasto do objeto. É uma faca, com alguns vestígios de sangue. Estava com ela o tempo todo.

Pego a faca e mostro para ela, com um sorriso no mínimo sarcástico:

— Algo a dizer em sua defesa?

— Eu...Colocaram issso em mim!

— Mais uma desculpa esfarrapada? - pergunta Pedro, avançando contra ela também, porém eu o paro.

— Deixe comigo, jornalista de quinta categoria. - A encaro novamente, ignorando por completo seu olhar de ódio. - Por que fez isso com Louis?

— Eu não queria... Eu sempre fui apaixonada por Louis. E Louis sempre foi apaixonado pelo dinheiro. Queria se casar com Isabel porque era a favorita do papai e herdaria quase tudo. - ela encara Isabel, que está em choque - Desculpa.

— Continue - Ordeno friamente.

— Ele ia com frequência para nossa casa, e eu ia me apaixonando cada vez mais. Uma vez eu disse à empregada que iria na costureira, mas na verdade fui até o prédio onde ele morava. No caminho o encontrei conversando com a...Criada de Ana.

— Ele entregou uma carta para ela. Dizendo que queria me ver mais uma vez antes do casamento com Isabel, e queria que fosse hoje, onde nos encontraríamos e não traria tantas suspeitas. Ele sabia que eu o amava. - Ana engoliu em seco - Nunca imaginei que tinha descoberto.

— Eu interroguei a criada, e mandei ela ficar em silêncio absoluto. Na hora não pensei em outra coisa. Eu decidi colocar um dos meus melhores vestidos e vim vê-lo. Então...

— Então? - Pergunto, ainda a encarando.

— Então eu vim vê-lo no horário que ele marcou com Ana.

— E Ana não foi para lá? - Pergunto, olhando para a morena.

— A consciência pesou-me tanto...Não tive coragem. Eu ainda gosto de Isabel. - Seus olhos se enchem de lágrimas - Ela ainda é minha melhor amiga.

Vejo Isabel e Ana trocarem os olhares, e Isabel sorri pela primeira vez naquela noite.

— Espere... - Começa Pedro, se intrometendo mais uma vez - De onde tirou a faca?

— Eu não pretendia matar Louis. Pretendia matar Ana. E fugir com meu amado para longe.

— E na sua cabeça de criança imaginou que daria certo? - Pergunta Pedro, erguendo uma sobrancelha - Você mesma disse que Louis era apaixonado pelo dinheiro.

— Eu só descobri esta noite - Defende ela - Tentei convencê-lo a fugir, mas ele se recusou. Disse que queria apenas estabilidade e boa vida. Chegou até a dizer que me odiava!

— E então você deu um fim na vida dele. - Suspiro.

— Claro, se ele não ficou comigo, não ficará com mais ninguém. Nunca mais. Queimará eternamente nas chamas do inferno!

— Você que vai! - Grita Isabel - Meu Deus, minha própria irmã indo contra minha felicidade!

— Cale a boca! - Todos se assustam quando Elisa aumenta o tom de voz - Você sempre foi a preferida de todos! Até para Louis! Nunca parou para pensar na infelicidade de sua irmã!

— Só porque você foi excluída, não significa que deva acabar com a vida de alguém! - dessa vez quem fala é Ana.

— Acalmem-se, garotas. - Digo. - Já descobrimos quem é que matou Louis. O caso está encerrado. Chamemos a polícia, sim?

A polícia chega em poucos minutos e logo Elisa é escoltada até o carro. Isabel vai junto. Todos se sentem mais calmos, agora que a ameaça se foi.

— Muito bem, garoto. - Elogia Alberto Nascimento - Fez um excelente trabalho.

— Eu tive ajuda. A irmã de Louis quem me entregou as luvas.

Alberto me encara e começa a rir. Fico confuso:

— Algum problema senhor?

— Louis nunca teve uma irmã. E se teve, com certeza está por Paris!

Arregalo os olhos e corro até o quarto onde Louis está. Com exceção do cadáver, está vazio. Chamo pela garota misteriosa, porém o silêncio pesa sobre o quarto. Há um bilhete em cima do corpo de Louis. O pego com cuidado, notando a caligrafia tipicamente feminina.

Espero ver você novamente.

Eleonóre

Saio assustado do quarto, e guardo o bilhete no bolso do paletó.

— Olá. - É uma voz feminina, que me faz pular. - Ei, calma, não sou uma aparição.

— Senhorita Bartolinni - Suspiro aliviado ao vê-la. - Perdão, estava pensando alto.

— Sem problemas. - Ela sorri, e então percebo quão belo é o seu sorriso - muito obrigada.

— Pelo o que, Senhorita?

— Por me defender. Do jeito como me incriminou horas antes, pensei que me mandaria direto para a cadeia.

— Ainda pensa nisso, senhorita? - Sorrio - Perdão, mas você sabe que-

Um detetive sempre suspeita de tudo - Ela completa a frase. Estou assustado - Meu pai sempre foi fanático por essa coisa toda de detetives - Ela ri.

— Entendo. - O silêncio breve me deixa constrangido - Então, nos veremos novamente?

— Com certeza. - Ela murmura enquanto se aproxima de mim. Seu perfume adocicado está perigosamente perto. Ela beija minha bochecha e se afasta, sorrindo. Acena delicadamente e sai como se nada estivesse acontecido.

Bem, para ela, nada demais tinha acontecido. Porém não posso dizer o mesmo de mim.

Passo a mão com suavidade na bochecha que foi beijada e fico ali.

— Antônio? - Ana sussurra meu nome em minha cabeça - Antônio?! - Não, não é Ana. E não está em minha cabeça. É real.

— Meu Deus! - Dou um pulo. Carla me encara e ergue uma sobrancelha - Oi, prima.

— Oi... Pensando no que?

— Nada demais.

— Bom, o Sr. Nascimento, o anfitrião, está cansado. Depois de tudo aquilo, a festa acabou.

— Já deve estar tarde mesmo. - Dou de ombros - O que farão com Louis?

— O Sr. Nascimento cuidará disso, com toda a certeza.

— Bem, não temos mais nada a fazer aqui. - Estendo o braço para minha prima - Vamos, querida?

— Claro.

Seguimos juntos cordialmente até a porta de entrada, quando Pedro aparece.

— Foi um prazer tê-lo conhecido. Saiba que ficará famoso nos jornais de amanhã - Ele aperta minha mão cordialmente.

— Muito obrigado, jornalista. Até a próxima festa.

— Até a próxima festa. - Ele sorri.

Saímos da casa e inspiro a leve brisa do verão. Ainda me restam algumas horas de sono, presumo. Quando entramos no carro, não posso deixar de dar mais uma olhada para a casa Nascimento. Um sorriso escapa do meu rosto.

— Com certeza ficará muito conhecido - Sorri Carla.

— Sim. Muito. - Olho para ela - E você precisa contar-me mais sobre Heitor.

— Contarei. - Responde ela, suspirando e se encostando no banco do carro. O motorista o liga e saímos pelas ruas do Rio de Janeiro.

A casa se afasta cada vez mais. Em um dado momento, vejo Eleanóre parada em uma calçada, acenando para mim. Esfrego os olhos e torno a ver, notando com certa tristeza que ela sumiu.

Sim, nos veremos novamente.

Me encosto no banco e adormeço.


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Notas finais do capítulo

Oieeee! E então? Gostaram? Amaram? Odiaram? COMENTEM! Ficarei muito feliz C:
Beijos e até a próxima ♥



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