Amigo imaginário escrita por Meizo


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Uma tentativa minha de fazer algo próximo de terror... AUSHuhasUHAUSH



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/676341/chapter/1

 

 

Samantha bufafa pelo peso das sacolas cheias de mantimento que carregava. Além do peso maltratar seus não tão fortes braços, a neve pela calçada deixava a caminhada ainda mais exaustiva. E olha que ela só estava voltando de uma mercearia que ficava na esquina da mesma rua em que morava.

Soltou o ar pela boca quando avistou a casa que comprara há poucos meses com a ajuda do ex-marido. Ela tinha o visual meio retrô do jeito que gostava. Pisoteou a neve branquinha com cuidado – não queria acabar caindo quando já estava tão perto – e com esforço conseguiu destrancar a porta e entrar. Foi preciso ainda mais esforço para conseguir tirar as botas sujas na entrada sem soltar as sacolas no chão.

— Cassie, voltei! Já tomou banho? – gritou enquanto seguia para a cozinha, esperando que a menina respondesse.

Contudo ela não respondeu e o sensor de mãe para problemas começou a soar loucamente em sua cabeça. Silêncio nunca era bem-vindo quando se tinha uma criança traquina dentro de casa. Abandonou as compras sobre a mesa e subiu as escadas vez ou outra chamando pelo nome da filha. Já estava no topo da escadaria quando uma menininha de seis anos surgiu aos pés das escadas com os cabelos arrepiados e subiu aos tropeços.

— Cassie! O que você estava aprontando dessa vez? – a mulher pôs as mãos na cintura, adotando uma pose repreensiva.

— ‘Tô procurando o Odie, mamãe! O Gosmento não gosta dele, então vou proteger ele! – respondeu abraçando as pernas da mãe e encarando-a com os olhinhos melosos. – Você vai me ajudar a encontrar o Odie?

Samantha sorriu acariciando os fios revoltos da cabeça da criança. Odie era o filhote cachorro que havia adotado semana passada quando achara que a filha criara o tal amigo imaginário chamado “Gosmento” por estar se sentindo só. Entretanto a presença do cachorrinho, por mais que Cassandra se mostrasse feliz ao sair correndo com ele pela casa, não afastara a presença de Gosmento. Várias vezes, ao passar em frente ao quarto da filha antes de ir dormir, podia ouvi-la em uma conversação bastante animada com o ser invisível. E isso a preocupava um pouco. Principalmente depois que ela passara a maltratar os coleguinhas de classe e a fazer traquinagens do tipo que nunca fizera.

Claro que quem levava a culpa era o tal do Gosmento que, segundo Cassie, sussurrava que ela fizesse tais coisas.

— Certo, vou ajuda-la a procurar, mas depois você vai tomar banho, mocinha! – fez um rápido ataque de cócegas a garota e passou a procurar o cachorrinho preto por todos os cômodos.

Estava começando a cogitar a ideia dele ter fugido quando ao lançar um olhar rápido no quarto da filha, avistou uma cauda preta saindo por debaixo da cama de Cassie.

Sorriu agitando a cabeça.

— Então é aqui que está escondido, Odie? – falou enquanto se baixava para cutucar a cauda exposta.

Seus dedos estavam quase tocando o emaranhando de pelos negros quando um gritinho histérico ecoou pelo corredor.

— Mamãe! Eu o achei! E ele ‘tá machucado! – Cassie bradava aflita, chamando pela mãe. O desespero era notável pelo seu tom.

Samantha franziu o cenho, apressando-se em ir aonde achara ter vindo a voz e encontrou Cassie sentada dentro do armário com os bracinhos envolvendo o filhote que tinha uma pata torcida de um jeito estranho, com sangue encharcando os pelos da região. Samantha arregalou os olhos, ajudando a filha a se erguer com Odie, sem larga-lo.

— Envolva-o num tecido e prepare-se para sair! Te encontro na porta! – ditava as ordens enquanto ela mesma o celular e as chaves do carro.

Cassie desceu as escadas rápido com lágrimas umedecendo o rosto. Samantha estava prestes a fazer o mesmo caminho quando algo chamou sua atenção. Se Odie estava com Cassie, o que era aquela a coisa peluda em baixo da cama? Teria sua filha trazido outro cachorro para casa?

Mudando a direção, seguiu novamente para o quarto e se abaixou da porta mesmo para ver o que havia debaixo da cama, mas não antes de acender a luz para ter uma melhor visualização.

O coração acelerou no peito e um calafrio percorreu todo seu corpo ao encarar algo que nunca havia visto em sua vida. O corpo era peludo e estranho, no rosto havia uma boca aberta cheia de dentes, que mais pareciam caco de vidro translúcido, por onde escorria uma saliva escura em abundância. As mãos humanoides eram tão peludas quanto o resto do corpo e tinha horríveis garras firmadas no chão.

Mas certamente o pior eram os olhos vermelhos. Brilhavam de um modo sobrenaturalmente cruéis, fazendo Samantha ofegar assustada quando o ser devolveu o olhar, sorrindo ameaçadoramente para si.

E de algum modo ela soube que aquele era "Gosmento", o amigo que Cassie conversava todas as noites.

Samantha...

O som que alcançou seus ouvidos parecia mais com o farfalhar de muitas folhas secas, mas não foi isso que a amedrontou. Ele chamara por seu nome.

A criatura moveu uma mão para frente dando a entender que tencionava em ir até Samantha. Contudo, a luz pareceu queima-lo e ele soltou um chilrear irritado recuando a mão. Os olhos vermelhos a fitaram outra vez e agora parecia como se a acusasse de algo. Afinal, ela quem ligara a luz.

— MAMÃE! – o súbito chamado a despertou do transe de medo.

Samantha se ergueu num salto, correndo para as escadas e de lá para a porta onde Cassie a esperava impaciente. O coração rimbombava tão intenso que era quase doloroso. Calçou as botas de novo e arrastou a filha para o carro, sem em nenhum momento conseguir esquecer o que vira. Seus dedos frios demoraram um pouco para encaixar a chave e ligar a ignição de tanto que tremia.

— Mamãe, você esta bem? – os olhinhos chorosos pelo filhote agora a miravam com a mesma preocupação.

Samantha abriu a boca para responder, mas descobriu estar sem voz. Então apenas assentiu sacudindo a cabeça enquanto as guiava para longe dali.

— Mas você está chorando! – persistiu a menina também aos prantos.

Só então ela percebeu que de fato chorava. Olhando-se rapidamente pelo retrovisor viu copiosas lágrimas lhe banhando a face. Entretanto, isso não foi o que a fez arregalar os olhos em terror, o sangue parecendo gelar dentro de suas veias.

Acomodado no banco de trás estava Gosmento sorrindo para ela.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Fazia tempo que estava com vontade de escrever algo assim e ontem resolvi tentar fzr algo legalzin... Espero que tenham gostado ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amigo imaginário" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.