Quando ele abriu a porta da boate movimentada,fez uma careta.Não pelo odor inconfundível de uísque caro,disso ele até gostava.Não foi pelas luzes pirotécnicas que machucavam sua visão ou pelo barulho alto da música.Nada disso era estranho para ele.O que o fez crispar os lábios e franzir o cenho foi a magia.

   O feitiço que rodeava o local e por pouco o impedia de usar seu glamour.Era forte até para ele. Qualquer demônio menor estaria gritando em plenos pulmões enquanto voltava a forma original.Mas ele não era um demônio comum.No presente momento o feitiço era incômodo e dava comichões em suas extremidades,mas por enquanto ele manteria sua boa aparência até encontrar Shopyen.E descobrir o que ela queria com ele.

    Assim sendo,se dirgiu ao balcão e fez um sinal para uma atraente mulata de olhos verdes se aproximar.

—Em que posso servi-lo?-A mulher sorriu e seu solhos brilharam,amarelados.Marca registrada de todos os demônios que serviam a Shopyen-Não é comum que nobres venham a estas paragens-Seu tom era sarcástico e malicioso,mas havia sorriso em sua voz,o que denunciava que ela não queria ofender ninguém.

     O homem ofereceu um sorrisinho mínimo,debruçando-se no balcão polido,após sentar-se em um banco.

—Você não me é estranha-Ele fungou-Já dormi com você?-Indagou,genuinamente curioso.

—Tenho certeza que não dormiria com você,no entanto,ficaria acordada-Ela riu um pouco e meneou a cabeça-Mas não,nunca tive essa honra.Talvez conheça alguma irmã minha,tenho várias.Ou meu pai.É o mais provável,Belial,conhece?

   As sobrancelhas do Ligth se suspenderam.Como não reconhecera os traços sedutores?Eram tão comuns em filhos de Belial.Era adoravelmente comuns no próprio Belial.

—E eu que sou um nobre?-Brincou,mas então se sentou,em uma posição mais rígida-Deixemos de conversa.O que quero é saber onde Shopyen está,ela me solicitou.

    A mulher bateu o dedo nos lábios deliciosamente vermelhos por um breve instante.Pensando.

—Ela está um tanto ocupada-Confessou-Mas acho que abrirá uma exceção para o senhor.

—Tenho certeza que sim-Confirmou,com certa veemência.Sophia não teria a cara de pau de ir convoca-lo e depois fazê-lo esperar.Teria?

—Ela está no andar de cima,primeiro quarto a sua esquerda-Sorriu-lhe mais uma vez-Espero encontra-lo novamente.

—Igualmente-Levantou-se do banco-Só que com menos roupas.

    Ao som da gargalhada da sucúbo,ele começou a subir o lance de degraus.

                                               *********

         Sophia estava com um homem.O que não era grane novidade.

   Era um homem bonito até.O único fato perturbador eram os olhos.Olhos roxos,com chamas bruxuleando e queimando tudo por dentro.Enfeitiçado.

     ‘’E é por isso’’ pensou Aecanis ‘’Que mortais devem ficar longe de demônios do prazer’’

   Fez um pigarreio forte,que chamou atenção da mulher.Ela se virou no sofá.Afinal,estavam no equivalente a uma sala de estar.Só tirar o fato de haver objetos bastante...suspeitos,espalhados pelo local.

—Estou interrompendo algo?-Indagou,no tom mais inocente possível.Os comichões estavam mais fortes,seu braço esquerdo começara a ficar dormente.

—Nunca!- A bela mulher sorriu e empurrou o homem.Qual caiu sentando no chão e lá ficou.Como o cão obediente que era.

   Ela levantou-se.E Aecanis quis sorrir para sua beleza.

    Ela era linda,atraente,e vulgar parecia elogio ao descrevê-la.Afinal,que outro adjetivo a descreveria?Ela era vulgar.No entanto,ser vulgar é algo muito fácil.Agora ser vulgar e permanecer linda e desejável?Só Shopyen.

   Ela tinha cabelos longos e vermelhos como sangue seco.Um vermelho tímido e escondido.Sua tez era lindamente morena,não parecia frágil demais,nunca pareceria.Tinha olhos de um tom admirável de dourado,suaves e líquidos.O corpo era todo curvas e arredondados.Os quadris pareciam implorar por um bom afago ou segurada firme.

   Em suma,era tão linda quanto qualquer incúbo.Só que era mais.

—Oras!Tenha a decência de sentar-se,homem!-Ela pôs as mãos nos quadris.O corpo se remexendo no tecido colado do vestido negro e curto.

    E foi isso que Aecanis fez.Com a graça e delicadeza que só um demônio tem,contornou os objetos espalhados e sentou-se no macio sofá de couro.

   A mulher fez uma careta.

—Sabe que detesto os glamoures.Mostre-me como você é,está na minha casa e esse feitiço deve estar o matando-Sorriu sádica ao vê-lo revirar os olhos.

   O moreno suspirou e deixou a magia escorrer.

  E no mínimo,ficou mais lindo do que já era.

      Cifres de bons 5 centímetros escaparam belo cabelo escuro.Era suavemente retorcidos,de pontas afiadas e negras como um pedaço de morte.Os dentes se tornaram ligeiramente mais pontudos,o que dava a impressão suavemente lupina ao demônio.A pele clareou,agora em um tom mais pálido,mas não suvae como neve.Pálido como gelo,pálido como expectaiva de morte.

   Porém,o melhor eram os olhos.Olhos de um vermelho vivo,como o sangue ,como o pecado,olhos de quem já viu muito e fez muito também.Olhos com fendas horizontais no lugar da pupila comum.Se os olhos são a janela da alma,Aecanis era um verdadeiro demônio em todos os sentidos.

   Mas Sophia não se incomodou,ela era uma sucúbo mantreira e alegre,era mais sábia do que parecia e também era uma das melhores amigas de Aecanis.Tanto na cama como fora dela.

   Assim sendo,ela não hesitou ao sentar-se no colo dele e abrir um sorriso brilhante, enquanto enlaçava um braço ao redor do seu pescoço.

—Tenho notícias fresquinhas para você-Sorriu-lhe-É sobre seu amiguinho,Alecan.O anjinho revoltado que todos nós amamos.

   O demônio franziu o cenho,preocupado.Não era  aprimeira vez que Alec o dera alguns problemas.

—Se o assunto é sobre ele,por favor,se abstenha de enrolações-Pediu,sério.Sem se importar com o fato de que os seios da mulher roçavam em seu peitoral.

—O anjinho está sendo punido,por ser o bastardinho ingrato que é-Sorriu-lhe-Isso que quero dizer.

—Não brinque com isso!-Exclamou,começando a se irritar.Sempre tiver aum gênio difícil e Alecan era território sensível.

—Não estou brincando!-Ela fez bico-Se estivesse não o daria essa informação!Sei que gosta do pirralho emplumado.Mas agora ele se meteu em uma confusão com os outros anjos!Estou lhe contando para que não se deixe levar e interfira.Quero o convencer a não ser idiota.

—Então estará frustrada em poucos minutos-Suspirou,frio e gélido.Tentando engolir a raiva ao ver que a pobre mulher tinha boas intenções,na maioria das vezes,sempre tinha- Onde ele está?

—Eu não sei-Cruzou os braços.Agora irritada.Detestava quando fazia um favor ao amigo e ele retribuía com patadas-Não posso saber de tudo!E mesmo se soubesse não contaria!Se for se meter estará ferrado!Vão arrancar esses seu chifrezinhos  que você tanto se orgulha com ferro em brasa!

—Bem,então temo que vou ter que acha-lo-Desconsiderou completamente a advertência da mulher.

   Já ofendida mais do que seu imenso orgulho podia aguentar,levantou-se de supetão.

—Então vai!Maldito dos infernos!Não creio que está indo salvar um anjo idiota!Mas vai!-Praguejou,obviamente magoada-Se prefere-o a mim!Depois não venha voltar ao meu colo,implorando para eu lamber suas feridas!

   O homem suspirou.

—Não queria a ofender Soph!-Crispou os lábios-Mas é que Alecan é importante.-Já haviam discutido sobre isso antes.Soph o achava velho demais para ser tão insensato.

—Mais importante do que a ajuda de sua velha,velha amiga,não é?-Indagou,amargurada-Todos precisamos de sangue novo as vezes,não me admira.Saia daqui.

—Soph...-Tentou inultimelnte.Mas ao ver o olhar duro de vidro que a mesma o dava engoliu as palavras.Sophia era orgulhosa e ele havia dado uns bons motivos.Deveria estar se sentindo um gato chutado.

   Nesses momentos,tudo que podia fazer era suspirar,deixa-la sozinha e ir embora com o rabo entre as pernas.

   Ela precisava ficar sozinha.

  E Aecanis tinha um anjo para cuidar.