Raquelle escrita por Vatrushka


Capítulo 9
Família Jones




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Richard Jones apareceu na varanda, sorridente e com as mãos no cinto de couro. Ao ver os carros se aproximando, concluiu que teria que liberar mais quartos. O que não era problema, havia muitos na casa.

Vendo os netos cobertos de poeira, gargalhou. “Quiseram viajar do jeito clássico, é isso? Vento na cara, capô na garagem?”

Ryan descarregava as malas, revirando os olhos. “Nem me fala, vô. Nem me fala.”

Raquelle correu para abraçar seu avô mesmo assim. “Vô, você deveria visitar mais a gente em Malibu!”

“Deus me livre, menina!” Exclamou, rindo. “Já sei o suficiente daquela terra de lá assistindo o Reality Show de vocês.”

Os olhos de Raquelle brilharam. “Que fofo, vô, você assiste a gente! Você viu aquele Closet ultrajando a estampa da minha roupa?! Inaceitável!”

Raquelle carregava consigo a herança cultural do interior. Estampas de animais a lembravam do Texas, dos fazendeiros, de sua família. Fazia questão de usá-las.

Richard riu. “Sim, sim. Robôs de cidade grande, jamais entenderão.”

O Closet apareceu da janela da van de Barbie. “Eu posso ouvir, ok?”

Raquelle revirou os olhos, ignorando. Seu avô cumprimentou os outros, convidando-os para entrar.

“Bom que agora que temos gente o suficiente, vamos jantar ao redor da fogueira!” Chelsea comemorou aos pulos. Barbie sorriu em aprovação, prontificando-se a ajudar. Raquelle pegou suas malas, fazendo questão de subir para seu quarto primeiro e não ser obrigada a olhar para trás.

Estava subindo as escadas com as malas quando uma voz a surpreendeu:

“Quer ajuda?”

Arregalou os olhos de susto, mas seguiu em frente.

“Estou bem.” Limitou-se a dizer.

Tentou se esquivar de Ken, que acabou pegando uma de suas malas à força.

“Deixa de ser teimoso, Ken. Não quero sua ajuda, respeite isso.”

Ele subiu a escada na sua frente, ignorando-a.

“Deve ser tão cansativo ter que ser utilitário e gentil o tempo todo…” Ela provocou.

“Pelo contrário. É revigorante.” Recebeu de resposta.

Era um dos principais traços que sempre admirara - ou invejara? - em Ken.

Chegaram até o último andar, encostando as malas na parede do corredor.

“É uma casa bonita.” Concluiu Ken. Raquelle não teve ânimo para lucrar o assunto. Não queria fingir que estava tudo bem.

Ken suspirou. “Normalmente, com essa deixa, você teria começado a fofocar sobre toda a herança material da sua família.”

“Que coisa, não?” Raquelle puxou as malas, indiferente.

Ken se pôs em sua frente. “Você não está facilitando meu caminho, Ken.” A morena sabia não estar se referindo apenas ao espaço no corredor.

O loiro murchou os ombros, rendendo-se. “Eu pensei no que você disse, Raquelle. Nunca… Que eu ia imaginar ter te provocado tanta angústia. Eu não queria… Me desculpa.”

Ela sentiu os próprios olhos arderem, mas conteu-se.

Ken completou, baixinho: “Eu só queria ser bom o suficiente…”

Raquelle sorriu. “E você é, Ken… Droga, esse é o problema. Você se exige demais. Pode ter certeza que, se não fosse ‘bom o suficiente’, não seria namorado da Barbie, e não… Não teria tido a minha atenção por tanto tempo.”

Ela expirou, como quem se livra de um grande peso. “Eu te perdoo, Ken. Claro que te perdoo. É o que amigos fazem.”

‘Amigos. Quase esqueci o que éramos.’ Concluiu.

“E, claro. Tenho que pedir desculpas também. Por todas as muitas vezes que fui desonesta, desrespeitosa, intrusiva… Por aquela vez que fiz a Barbie pensar que você queria terminar com ela, aquela outra que te tranquei comigo no elevador, e também aquela outra…”

“São muitas coisas, Raquelle.” Ken riu. “E eu já perdoei todas. E, inclusive, aquilo que você falou, de eu sempre tentar deixar você perto de mim… Nunca foi na intenção de te deixar como ‘plano b’, Raquelle. Acho que eu estava tentando ter sua companhia como… Uma boa recordação dos velhos tempos. Em que éramos mais próximos. Confiávamos um no outro.”

Ela sorriu levemente. “Podemos voltar a ser assim.”

Ken sorriu. “Podemos voltar a ser assim.”

 

 

O céu estava escurecendo, e todos estavam sentados em troncos ao redor da fogueira. O clima entre as pessoas estava surpreendentemente leve e agradável, ainda mais com as histórias e as piadas de Richard. Raquelle viu que, embora estivesse rindo muito, Midge olhava para Ryan - sentado, obviamente, do lado de Barbie - como se esperasse alguma atitude.

Revirando os olhos, a morena levantou-se de onde estava e criou à força um espaço vazio entre Barbie e Ryan. O velho Richard sorriu em aprovação.

“Ei, Barbie. Como está Skipper? Não quis vir, mesmo com a comida?” Raquelle puxou assunto, apontando para a van.

Barbie suspirou. “Não quer sair do quarto. Deixei alguns cupcakes com ela. Tomara que melhore, gosto da família inteira unida.”

Raquelle sorriu. Ken sugeriu criar alguma invenção que animasse a irmã, mas Barbie achou melhor respeitar o tempo necessário.

O riso escandaloso de Midge interrompeu a conversa.

“É sério, senhor Jones? Você falou mesmo isso?!”

“Ah, mas é claro! Eu tenho cara de quem fica calado?”

“Mas… Ela deve ter ficado uma fera!”

“Sim, sim, com certeza. E virou minha esposa alguns anos depois.”

Os outros se juntaram à risada. Barbie gentilmente puxou o assunto: “Sua esposa está aqui?”

“Não, não, deve estar em Nova York por agora. E ela não é mais minha esposa, não são muitos que aguentam o verdadeiro temperamento de um Jones. Fica a dica, Ryan.”

Raquelle gargalhou alto, e Ryan fechou-se em uma expressão de dúvida. Todos haviam entendido - até mesmo o avô - menos ele próprio.

Midge aproveitou-se da deixa para chegar um pouquinho mais perto de Ryan. “Não concordo com seu avô. Eu gosto de personalidades fortes.”

Ryan abriu um sorriso, um pouco envergonhado. Ken e Raquelle comemoraram com um high-five.

Uma presença, até então silenciosa, sentou-se ao lado de Raquelle. “Então o gênio é questão familiar.”

A espinha de Raquelle arrepiou-se. Fingiu não ser afetada.

“É, de fato, uma genética dominante.” Sussurrou, sem olhar para Ben diretamente.

Estava se achando patética. Assim, sem nem ao menos ter coragem de olhar nos olhos para flertar. Ah, por favor, era alguma menina de 12 anos?

Sentiu a mão de Ben pousar sobre a sua. “Fico feliz que tenha se resolvido com Ken. Aprovação da família é importante, você sabe disso.”

Devia estar corada. Parecia não ter fôlego. Falando assim, Ben até parecia ter a intenção de futuramente desenvolver algo mais sério entre os dois.

“É muita ousadia sua, Ben, provocar uma dama Jones na frente do ancião.”

Ben olhou para o lado. O olhar de Richard em sua direção era recriminador. Raquelle riu. “Não se preocupe. Se ele não tivesse gostado de você, estaria levando um coice de cavalo agora.”

O olhar de Raquelle ficou mais sério. “Acho que, por estarmos, você sabe… Assim, não vou poder mais fazer terapia com você.”

“De fato, não.”

Os ombros dela murcharam. “Poxa. Vou perder um excelente profissional…”

Ele pegou seu queixo. “Não é como se ainda precisasse dos meus serviços.”

Raquelle inclinou o rosto para a sua mão. “Até fico feliz em ouvir isso, mas… Estava pensando em sugerir que o Ryan consultasse com você, ia ajudar muito ele…”

Os dois olharam na direção do Ryan. Ainda que estivesse conversando com Midge, seus olhos sempre se voltavam - uma hora ou outra - na direção da Barbie.

“Pena que isso não é mais possível…”

“Olha…” Ben tranquilizou. Suas mãos foram até os ombros de Raquelle. “Eu posso, não sei… De forma informal e amadora… Eventualmente, de vez em quando, encontrar Ryan acidentalmente em lugares aleatórios e promover diálogos esclarecedores… Sem com que ele perceba, é claro. Não acho que seu orgulho deixaria sujeitar-se a uma terapia. Não estaria infringindo a minha profissão, certo? Não estaria no trabalho...”

Raquelle riu, aconchegando-se a ele. “Ben, você é demais.”


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Notas finais do capítulo

(Tenho essa péssima mania de fazer desfechos subjetivos nos meus capítulos, então caso estejam em dúvida, explico: não, não é o final ainda kkkkkkkkk)



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