Guertena escrita por KyonLau


Capítulo 2
O Mundo Fabricado


Notas iniciais do capítulo

Eaew, povos e povas :3 Demorei, mas cheguei. Peço mil perdões pelo atraso, mas a partir de agora ficará mais fácil para mim postar novos capítulos, então espero que ninguém se desanime muito ;w;
Enfim, sem mais delongas... Aí está!
Aproveitem a leitura ♥

>Soundtrack: "Corelli La Folia"
https://www.youtube.com/watch?v=rOGewOaxjsA



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Um trovão ribombou do lado de fora, enquanto a chuva fustigava as janelas violentamente. Iza não era de ter medo de tempestade, mas tinha que admitir que aquela em particular estava dando um verdadeiro show. Ela sacudiu a cabeça e tornou a sua atenção para Ib novamente. Confessava que estava difícil de se concentrar na conversa enquanto o pensamento de que não tinha um único guarda-chuva consigo, para quando saísse, invadia sua mente dispersa, mas decidiu fazer uma forcinha.

Ib, no entanto, parecia sequer ligar se elas continuavam a conversa ou não. Seus olhos nem mesmo piscavam enquanto se hipnotizava pelo retrato à sua frente.

— Então... — disse, sem saber exatamente se deveria prosseguir com aquilo — Se você organiza essas exposições, quer dizer que entende muito de Guertena, certo?

— Guertena Weiss?

— Ele mesmo.

— Não. Na verdade não.

Aquilo já estava começando a irritar Iza. Ela já não tinha muita paciência por natureza, e tê-la sendo testada constantemente por aquela mulher não a ajudava a se acalmar. Tentando manter o olhar zangado longe de sua expressão, a garota fez uma nova tentativa.

— Mas você não disse que organizava essa exposição? Que é justamente sobre Guertena..? — insistiu o mais calma e lentamente que conseguiu, como se estivesse falando com Pedro, seu priminho de três anos.

Ib deu de ombros, totalmente indiferente ao tom de voz da outra. Enquanto colocava uma mecha de seus cabelos castanhos para trás da orelha, ela se recostou um pouco mais no banco e finalmente desviou seu olhar entediado para o rosto da mais jovem.

— É verdade. Eu organizo as exposições sobre Guertena — disse — Eu estudei sobre esse homem e suas obras e me formei nessa área. Mas mesmo assim, não posso dizer que consigo entender um décimo do que esse homem era, ou pensava.

Iza suspirou. Começava a achar que ela era maluca. Não pretendia pedir por uma informação tão profunda assim. Apenas alguma dica de um quadro legal, com uma história interessante para contar. Não conseguia para de pensar que, se Leo estivesse ali com ela, talvez não precisasse passar por esse tipo de diálogo maçante.

— Esse fascínio me incomoda — comentou Ib mordendo o lábio inferior, parecendo irritada.

Iza estava prestes a inventar uma desculpa para poder se afastar o mais depressa possível dela quando a própria Ib levantou-se repentinamente, os olhos fixos em seu relógio de pulso folheado a ouro.

— Está na hora de fechar — disse.

— Já?! — assustou-se a mais jovem, levantando-se de um pulo e sentindo a base do estômago afundar.

Como pudera perder tanto tempo ali? Aliás, passara-se mesmo tanto tempo assim? A garota abaixou-se e, retirando o celular da mochila, confirmou que já era tarde.

— Essa não... O que faço agora? Eu ainda nem decidi sobre o que vou trabalhar! — sentia a crescente inquietação que invade as pessoas normalmente quando estas estão atrasadas para algo importante — Quase não tem nada sobre esse cara na internet também...

Ib apenas encarava a garota se desesperar, calada. Seus olhos de coloração diferente de qualquer outro par que Iza já tivesse visto, antes tão fixos n’O Retrato Esquecido agora a examinavam atentamente. Por fim, resolveu falar.

— Se quiser, posso ajudá-la...

Iza virou-se para Ib sentindo um misto de apreensão e esperança. Claro, ela própria dissera que era uma estudiosa dos trabalhos de Guertena, e não parecia estar mentindo, tampouco. Mas havia uma tremenda vontade por parte da garota em manter a maior distância possível entre ela e aquela presença incômoda. No entanto... Sua nota estava em jogo, e ela já estava indo muito mal em geografia  e ciências para se dar ao luxo de bombar em outra matéria...

— Pode mesmo? — perguntou desconfiada.

Ib fez que sim com a cabeça.

— Não hoje. Mas amanhã, se você quiser vir de novo, podemos conversar na minha sala.

— Mas amanhã a galeria está fechada...

— Mas eu continuo trabalhando aqui, então não importa.

Ponderando sobre o assunto, a garota era forçada a concluir que, querendo ou não, aquela era sua melhor chance.

— Tem problema se eu trouxer minha dupla? Ele não pode vir hoje, mas queria que ele viesse amanhã para me ajudar...

— Pode — respondeu a outra simplesmente — Vamos então. Se não, podemos acabar trancadas.

— Você está brincando, não é? —perguntou Iza hesitante, mas ela não recebeu resposta.

Em vez disso, Ib deu as costas e começou a caminhar e, temendo ser deixada para trás, Iza apanhou rapidamente a mochila ao chão e, jogando-a às costas de qualquer jeito, saiu correndo atrás dela.

Ambas percorreram os corredores brancos no mais profundo silêncio. Os sapatos de Ib ecoavam muito mais que os tênis de Iza, à medida que avançavam. A menina não queria mais quebrar o silêncio. Achava que já conversara o suficiente e queria se poupar o máximo possível de algo cansativo e infrutífero.

Vez ou outra Ib lhe lançava um olhar ansioso, como se quisesse dizer algo. Para tentar escapar àquilo, Iza abriu rapidamente o panfleto que apanhara mais cedo e enfiou o nariz nele, folheando enquanto fingia ler. Aparentemente, não adiantou.

— Ele... Não há quase nada sobre ele.

— O quê? — perguntou Iza sem entender nada num tom mal educado.

— Guertena — explicou Ib — Não há nada sobre ele. Apenas suas obras. O que sabemos sobre ele, foram suas criações que nos contaram. Elas são muitas, e foram feitas quase que compulsoriamente.

Iza tinha que reconhecer isso. Além de ser algo que sua própria professora de literatura havia dito, vendo a quantidade de quadros, esculturas e sabe-se lá mais o quê que havia dentro daquela galeria, e tendo em mente que aquele era apenas um dos andares que estavam abertos ao público, ela não podia deixar de pensar que aquele cara tinha muito, mas muito tempo livre, mesmo.

— Essas obras... Todas têm um significado, mas a maioria não tem sentido algum.

— Isso não é meio contraditório?

— Pior que é...

Prevendo que talvez seu trabalho abrisse mais parênteses do que fechasse se ela dependesse apenas de Ib, a menina fez uma anotação mental para ir até a biblioteca pública assim que desse. Não era possível que não houvesse sequer um livro sobre Guertena. E enquanto tomava essa pequena nota mental, distraída, Iza acabou se trombando nas costas de Ib, que parara de repente e sem aviso algum.

— Desculpe... — pediu esfregando o nariz onde batera e se afastando, tentando encontrar o motivo da outra ter parado.

Mas, aparentemente, não havia nenhum.

— Eu vou por aqui agora — disse a mais velha apontando uma entrada lateral com uma plaquinha onde se lia "Proibido para pessoal não autorizado".

Era o fim da linha.

— Ah, está bem — respondeu Iza, ligeiramente apreensiva.

Ela podia não gostar muito da companhia de Ib, mas ainda assim, era uma companhia. E havia algo de assustador em voltar a ficar sozinha que ela não conseguia explicar direito. Mas nem morta ela diria aquilo em voz alta, portanto engoliu em seco, despediu-se e continuou andando. Ela apertou o passo cada vez mais até chegar ao ponto de uma quase corrida. Queria chegar logo ao primeiro andar e encontrar aquele recepcionista desagradável de uma vez.

Pela enésima vez, Iza dobrou um corredor e dessa vez foi parar em uma parte da galeria que ainda não tinha visto.

O corredor se alongava quase que infinitamente ali, e havia uma única pintura dependurada na parede, cobrindo toda sua extensão.

Sem pensar direito, a garota diminuiu a velocidade enquanto ia passando pelo quadro, os olhos presos nele. O barulho que seus tênis faziam estava cada vez mais espaçado até que finalmente pararam de vez, bem no centro do corredor, e onde havia a pequena plaquinha com  o nome da obra de arte. Ela estava gasta e suas letras, pequenas, e Iza teve que se aproximar um pouco mais para poder entender o que estava escrito. Lia-se "Mundo Fabricado".

Ela olhou para cima da plaquinha. Encaixada na enorme e gasta moldura de madeira havia uma explosão de cores que mal e mal faziam algum sentido para uma garota de quinze anos. Haviam algumas formas ligeiramente familiares lá dentro.

Dentro...?

As pontas de seus dedos estavam frias quando Iza ergueu a mão direita quase que mecanicamente até a tela. No fundo de sua mente, algo piscou. Uma placa. Uma placa que brilhava zombeteira...

Ela sentiu a superfície áspera da tinta quando finalmente tocou o quadro e, no segundo seguinte, tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

A partir de agora as coisas devem ficar interessantes, afinal, quem não gosta d'O Mundo Fabricado, não é? Muahahaha ó3ó De qualquer forma, me digam o que acharam, e até o próximo capítulo



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