See You Again escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 1
Adivinha quem é?




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Enquanto o sinal ainda estava vermelho, Emily tentou respirar fundo; quando não funcionou direito pelo nariz, engoliu o ar quente pela boca mesmo. Droga de carro alugado sem condicionador de ar. Ela devia ter simplesmente pegado um ônibus. Pelo menos os ônibus são climatizados. De qualquer jeito, agora, reclamar não adiantaria de nada.

   Bem, deixando de lado o calor, ela não tinha muito do que reclamar, para falar a verdade. Ela ainda conhecia aquelas ruas largas como conhecia as palmas de suas mãos, mesmo depois de quase seis anos não morando mais ali – e fazendo apenas visitas esporádicas à mãe nos natais e nos dias de ação de graças. As únicas coisas que pareciam estranhas a ela ali eram os novos semáforos e as faixas de segurança recém pintadas.

   Rosewood havia ficado mais populosa, mas as árvores centenárias e os quintais amigáveis da maioria das casas ainda eram os mesmos. E isso deixava Emily muito feliz – saber que o caos de cidades como San Diego, Califórnia (da onde ela vinha), não havia ainda alcançado cidadezinhas imaculadas como aquela na qual ela havia crescido.

   Rosewood tinha cheiro de nostalgia e, se Emily não estivesse ali agora para comparecer a onde ela precisava comparecer, ela com certeza pararia e se deitaria na grama de alguma das praças para ficar olhando aquele céu azulzinho de verão.

   Estacionou em frente à casa da mãe – minha casa, ela dizia-se internamente – e procurou pela figura ansiosa de Pam Fields a esperando na varanda, mas não a encontrou – é claro, pois ela havia avisado que chegaria na tarde daquela sexta-feira, mas não a que horas; porém aquilo não seria um problema a mais. Emily ainda guardava a antiga chave.

— Mamãe? – a garota chamou-a, uma vez que já tinha puxado a mala para perto do sofá.

   Uma casa silenciosa nunca havia sido surpresa para Emily, já que desde o início fora quase o tempo todo apenas ela e a mãe. O Exército sempre tomara tempo demais do pai, mas não que Wayne tivesse amado menos as duas únicas mulheres de sua vida por conta disso. Agora, porém, Emily sabia que o vazio daquela casa tinha outro significado, um mais triste ainda do que a ausência temporária de Wayne: a ausência permanente dele.

— Mamãe? – Emily ziguezagueou até a cozinha, que parecia ter sido organizada por alguém com transtorno obsessivo compulsivo. – Eu te faria uma surpresa adequada, mas você não está colaborando.

   Ela andou até a sala outra vez e finalmente distinguiu o som de alguém descendo as escadas.

— Eu achei ter ouvido vozes e sei que ainda não estou maluca – Pam abriu um grande sorriso, e Emily correu para aconchegar-se nos braços da mãe.

   Assim que a mulher a apertou com a mesma força, a onda de culpa fez o peito de Emily apertar novamente.

   Fazia um ano desde a morte de Wayne; um ano desde que Emily largara a faculdade – ela já era veterana, mas alegara não aguentar mais (começara a faltar aulas em excesso e assim perdera a bolsa de estudos). Ela sabia que, depois do enterro, devia ter voltado de vez para Rosewood, para ficar com a mãe, mas sabe-se lá por que ela decidira continuar enganando-se em San Diego, trabalhando ainda como barista para ver se conseguia juntar dinheiro suficiente e reengressar, então, no curso de Arquitetura, pagando-o integralmente com o próprio suor, desta vez. Mas ela nem mais sabia se aquilo era o que ela queria seguir tentando fazer. Aliás, não era, pelo amor de Deus. O sonho dela sempre havia sido nadar e, bem, isso estava perdido há tempos.

— Me desculpe – ela murmurou baixinho, esperançosa de que a mãe não fosse ouvi-la. Por tudo.

— Emily – Pam a afastou de si de repente, para olhá-la nos olhos –, faz meio ano que eu não toco em você e que te vejo só através da tela de um computador. E a primeira coisa que você quer dizer para mim é “me desculpe”?

   Se Pam fosse uma mãe normal, perguntaria “desculpar você pelo quê?”, mas aquela mulher não era normal. Emily suspeitava de que ela tivesse poderes mediúnicos. Ela conhecia Emily de dentro para fora e sabia por quais motivos eram aquelas desculpas – e entendia-os, com certeza. Emily pensava tê-la decepcionado tantas vezes, fosse pelo negócio da faculdade ou por ter se mantido distante. Mas aqueles olhinhos sábios esbanjavam tudo – preocupação, compaixão, docura –, menos decepção. E Emily quis se desculpar por estar se desculpando, porém mordeu a língua.

— Apenas diga que sentiu minha falta e que não vai bancar a filha desnaturada saindo daqui logo depois do fim de semana — a mulher acrescentou.

   Emily hesitou por um segundo, mesmo notando o bom humor na voz da mãe. Ela tinha planejado voltar para San Diego no fim do domingo, depois da missa e, como se não bastasse, tinha planejado encontrar-se com Hanna ainda naquela tarde. Ela era uma filha desnaturada, afinal, não era?

— Eu senti sua falta – ela sorriu, por um momento esquecendo-se de seus compromissos –, e prometo que só vou embora quando você quiser que eu vá.

   Pam voltou a abraçá-la.

— Então saiba que você jamais sairá daqui.

   Apenas quando emergiu de um banho de pelo menos quarenta e cinco minutos, foi que Emily percebeu o quanto estava cansada devido às cinco horas dentro daquele avião. Deitou-se em sua cama – Pam insistia em manter o quarto do jeito que a Emily de dezoito anos havia deixado – e sentiu seus músculos relaxando finalmente. O cheirinho floral do amaciante de roupas, impregnado naqueles lencóis, fazia com que todos os problemas de Emily sumissem.

   Um fator contribuínte para aquela sensação de bem-estar repentina foi o bip de seu celular, que avisava que ela havia recebido uma mensagem de Hanna.

   Ei! Espero que já tenha chegado. Jordan e eu já estamos em Philly, esperando por um táxi. Te encontramos no Brew em meia hora.

   O sorriso que cruzou o rosto de Emily, indo praticamente de orelha a orelha, foi instantâneo ao ler aquelas palavras. Durante seu tempo debaixo do chuveiro, tudo em que Emily conseguira pensar fora no quão surreal seria ouvir a voz de sua melhor amiga e abraçá-la depois de dois longos anos – desde que estivera em Nova York para visitá-la. Hanna estaria acompanhada, mas a magia daquele reencontro não diminuiria de nenhuma maneira, ela tinha certeza. Afinal, havia sido por ela— e apenas por ela – que Hanna decidira voltar a Rosewood.

   Mal posso esperar para ver vocês!, Emily digitou de volta em seguida, colocando um coraçãozinho ao lado da frase apenas para que Hanna tivesse noção do quanto o seu palpitava.

   Sentada em um dos dois sofás postos diante da mesa de centro, na cafeteria que satisfizera os desejos das versões adolescentes dela e de Hanna tantas vezes, Emily bebericava um Martini Rosé. Ela sabia que não era muito conveniente beber àquela hora da tarde, mas estava simplesmente quente demais para cafés e, que se danasse, ela sentia-se leve e feliz agora, mesmo com a loira estando pelo menos dez minutos atrasada.

   Emily largava delicadamente a tacinha de cristal o sobre porta-copos na mesa de centro quando sentiu duas mãos cobrirem seus olhos. Uma onda de adrenalina correu por seu corpo inteiro e ela tateou aqueles dedos – é claro que ela já sabia a quem tais pertenciam; sentiu, primeiro, a meia dúzia de anéis que aquelas mãos bem hidratadas carregavam e, em seguida, as unhas recém feitas. Ela aspirou o doce perfume feminino com gosto.

— Adivinha quem é?


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Notas finais do capítulo

Adoraria saber as opiniões de vocês :3



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