O Passado escrita por Candy


Capítulo 1
O Passado


Notas iniciais do capítulo

Ei, gente! Tudo bem? Esta estória é inspirada no filme O Passado, com Gael García. A estória do filme é tão maravilhosa e sugestiva que pensei em Dulce e Poncho enquanto assisti, e ao terminar o filme eu corri pra escrever. Isto foi entre 2007 e 2008. Espero que gostem! Boa leitura!



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O passado

Um dia a gente aprende que o passado tem uma força muito grande sob nossas vidas. E que essa força vai muito além de lembranças, que há certos detalhes que não se pode simplesmente ignorar.

Naquela noite quando chegamos à casa dos meus pais, minhas mãos estavam geladas e suavam frio. Pela fresta da porta entre o hall e a sala, pude ver todos ali; meus pais, minhas irmãs, minha vó, tios e amigos da família. E já sabia o que faziam ali. Aquele era um dia de comemoração, ou pelo menos era para ser. Minha família sempre gostou de festejar datas especiais.

Voltei a cabeça e vi Poncho com as mãos apoiadas na parede, de cabeça baixa. Aproximei-me apoiando minhas mãos em seus ombros, passando força. Ele levantou a cabeça, me olhando, e ensaiou um sorriso. Eu sorri para ele, acariciando seu rosto, em seguida peguei em sua mão o puxando para a porta.

Ao entrar, minha mãe veio logo ao nosso encontro nos cumprimentando. Minutos depois, após cumprimentar todo mundo, minha mãe chamou a atenção de todos para discursar. Neste momento meu coração acelerou. Olhei para Poncho, com uma expressão incomodada. Ele se posicionou atrás de mim, afagou meus cabelos e voltou o olhar para minha mãe.

" -Meus amigos, estou muito feliz de tê-los todos aqui hoje. Quero brindar com vocês, que dão sentido à minha vida e trabalho. Para que sigamos juntos em busca da verdade, que está escondida dentro de nós. Essa verdade, que quando a encontramos e identificamos, devolve-nos uma harmonia e uma plenitude que faz com que as coisas simples da vida como respirar, valham a pena. Mas, além disso, quero que brindemos à Dulce e Poncho que nos devolveram a fé no amor". Dito isso, todos aplaudiram sorridentes, e um vídeo começou a ser exibido na tv.

Ao decorrer daquele tempo de namoro, somamos muitos dos vídeos caseiros da minha família, uma coisa que meu pai sempre gostou de fazer, e eu e minhas irmãs, desde pequenas sempre adoramos nos exibir diante de sua câmera. E desde que Poncho passou a fazer parte da família, ele sempre estava nos vídeos do meu pai.

Olhando para o vídeo que passava na tv, meu coração apertava me fazendo pensar se estávamos fazendo a coisa certa. Estávamos tão felizes naquelas imagens.. Era difícil aceitar o fim. No final, apareceu uma imagem de Poncho sozinho dentro de um táxi, se filmando, enquanto dizia:

"-Hoje fiz o que você me pediu. Fiquei um dia sem ver você. Nunca me senti tão só na vida. E não é porque não conheço ninguém na cidade ou porque parecia ser a única pessoa viva caminhando pela rua. Foi porque me dei conta que sem você eu não sou nada. Que a única coisa que me importa é amar você. Hoje e sempre. É só o que eu queria te dizer."

Quando todos já tinham ido embora, nos levantamos e nos aproximamos da minha mãe. "-Man, precisamos te contar algo.". Ela nos olhou sorrindo tão linda que quase me fez recuar e não dizer mais nada para não decepcioná-la. "Não precisam dizer nada. Eu já sei o que é", ela disse sorrindo, "Vão dizer que já querem se cas-", eu a interrompi, apavorada com tal hipótese. "Não, man", me adiantei logo em dizer, "É meio delicado dizer isso agora, mas achamos que você devia ser a primeira a saber. Não queríamos que soubesse por outra pessoa, muito menos pela imprensa. Poncho e eu estamos terminando"

Foi muito difícil ver sua expressão desde o momento em que contamos, até a hora que subi para o meu quarto para dormir. Mas eu estava tranquila e segura, desde que Poncho me abraçou antes de ir embora. Naquela mesma noite ao me deitar, peguei meu celular e liguei pra ele.

"-Estava pensando em não mudar de mala. Sei que já não precisarei carregar algumas mudas de roupa suas comigo nas turnês, mas pensei e acho que o lugarzinho que vai sobrar, será bom para levar mais coisas minhas que antes não cabiam".

Ouvi sua respiração lenta por alguns segundos antes dele responder:

"-Para mim é um alívio. Assim aquela mala não desaparece, continua existindo". Eu entendi o que ele quis dizer.

Após desligar, fiquei pensando por mais alguns minutos, e no dia seguinte, quando nos encontramos, disse:

"-Mudei de ideia, Poncho. Vou comprar uma mala nova. Não suportaria continuar convivendo com uma mala que foi tanto minha quanto sua. Eu também tenho o direito de começar vida nova, não?".

Ele concordou dizendo para que eu fizesse o que fosse melhor para mim. Mostrei a tela do meu notebook onde eu já olhava alguns modelos para comprar pela Internet. Dias depois estávamos de pé em um canto do camarim abraçados conversando. Eu lhe dizia sobre a mala que eu já havia comprado, dentre outras coisas bobas.

Alguns dias depois, estávamos no meu quarto na casa dos meus pais com algumas caixas em nossa frente sobre a cama. Era presentes que um deu ao outro ao logo de todo aquele tempo. "-Por que trouxe essas roupas, Poncho?", perguntei sorrindo, "-Acha mesmo que vou ficar usando camisetas masculinas por aí, hã!?", ele sorriu passando as mãos pelos cabelos. "Também não me agrada a idéia de decorar meu quarto com anjinhos e fadas", ele falou balançando uma pequena fadinha na frente do meu rosto. Ri só de imaginar. "-Então vamos fazer o seguinte: esse tipo de presentes não são do tipo que devam ser devolvidos, concorda!? Mas esta câmera fica com você. Compramos naquela loja em NY, lembra?", coloquei a câmera nas mãos dele. Ele tentou empurrar de volta pra mim, "-Não preciso dela. Eu já tenho outras em casa". Eu tornei a coloca-la nas mãos dele, "-Naquele dia você estava tão feliz, e quando compramos tirou fotos de tudo o que via na sua frente. Quero que fique com ela, nossa história está aí", ele assentiu vencido "Esta bem, eu levo".

Ao mesmo tempo, olhamos para a parede onde tinha uma moldura grande com uma pintura de nós dois. Na verdade, era quase isso. Fui eu quem a pintei. Era a figura de um casal, onde o homem dava um beijo apaixonado na face da mulher, e quando pintei, disse que estava simbolizando nós dois. "-Você fica com ele", Poncho disse ao trocarmos um olhar indagador a respeito da pintura. Eu assenti e ele se despediu, pegando suas coisas e saindo.

Antes que ele saísse pela porta do meu quarto, eu me lembrei de lago. "- Faltam as fotos! O que vamos fazer com as fotos?". Sem olhar para trás ele respondeu: "-Outro dia". Olhando-o descer as escadas eu disse: "-Mas não vamos deixar passar muito tempo", ele assentiu e se foi.

Nos dias que se seguiram, eu sempre tentava me acercar e falar das fotos. Nós precisávamos dividir as fotos também. Nosso passado estava nelas. Mas ele me evitava todo o tempo. Estava sempre ocupado para falar comigo ou atender meus telefonemas.

Então em certo dia estávamos em um hotel, e decidi escrever uma carta.

"-São três da manhã e estou com uma insônia terrível. Me faz muito bem te escrever, Poncho. Não sei porque, quando te escrevo parece que você está ao meu lado, me olhando. Diz que me odeia, que gostaria de me machucar, que se apaixonou por outra mulher. Mas não diga que está me esquecendo. Pode tentar, mas não vai conseguir. São dois anos. Perdão, Poncho, esse país me faz mal, eu acho, ou é esse hotel. Hoje tudo me faz mal."

Dias depois, nos encontramos em um café da cidade. Eu me sentia com a aparência péssima, e disse isso a ele. Mas ele disse que eu continuava como sempre, linda. "-Você cortou o cabelo muito curto. Sabe que eu não gosto", falei sem querer ao notar seu cabelo diferente, e só percebi meu comentário ao ver a expressão que ele fez.

Mas àquela altura, eu já nem me importei muito e segui:

"-Não me liga, não responde minhas mensagens, quase não conversa mais comigo. Por que tanto esforço para me evitar? Calma, Poncho. Está sempre na defensiva. Andei pensando muito em nós, sabe!? Em como tudo terminou. Você pensou em algo?".

Ele ficou um pouco desconfortável para responder, eu o conhecia bem para saber que ele não queria falar sobre nós dois.

"-Não, não. É tudo muito recente.".

Eu não acreditei em sua resposta. Não era possível que ele não tenha pensado em nada. Mas não insisti, e resolvi lhe recordar algo:

"Lembre-se que está em dívida comigo. Escolher as fotos com as quais quer ficar". Ele ficou tenso, e eu não entendi por que. Ele se inclinou um pouco na cadeira apoiando os braços na mesa. "-Não posso. Ouça Dulce, o passado é um bloco, não pode ser dividido, entende?".

Mas eu lhe respondi que não podia fazer aquilo sozinha, que tínhamos que fazer juntos, ainda que fosse a última coisa que faríamos juntos na vida (com exceção da banda).

Nada mudou. Ele continuava me evitando. No dia do aniversário do pai dele, fui vê-lo e lhe dá um presente. Sempre gostei de conversar com ele, e me senti a vontade para me abrir sobre o que estava acontecendo. Disse-lhe que não queria nada além de não ser esquecida por alguém que eu amei tanto e foi tão importante pra mim.

E ainda lhe deixei um envelope com uma foto para que ele entregasse à Poncho quando ele chegasse. A foto era uma de logo que nos conhecemos, antes mesmo de começarmos a namorar. Foi a primeira foto que ele me deu. No verso eu escrevi:

"Não quero falar com o culpável que confunde viver com fugir. Quero falar com o cara legal. Se ainda estiver vivo, que bata três vezes nesta foto que eu lhe abro a porta".

Alguns meses depois, fiquei sabendo que ele estava com alguém. Não sei se isso explica ele ter me evitado todo esse tempo.

Eu precisei viajar para fazer umas fotos por uns dois dias. Havia chegado pela manhã no hotel, e quando vi no noticiário que Poncho estava ali também para uma reunião ou conferência - não prestei muita atenção aos detalhes - sobre um filme ou série que ele iria fazer, me surpreendi com a força do destino.

Falaria com ele aquela noite. Aproveitaria que estávamos longe de tudo e de todos que geralmente nos rodeia para conversarmos. Quando terminamos o namoro, não era isso que tínhamos combinado. Combinamos que nada mudaria na nossa amizade, seguiríamos sendo amigos sempre. Mas não sei por qual razão, mas ele não estava cumprindo muito isso.

Naquela noite quando apareci na sala de convenções do hotel já havia terminado tudo, e ao me ver, sua expressão era a de como se tivesse visto um fantasma. Eu até sorri.

Só tinha ele ali. Ao se aproximar, ele perguntou o que eu estava fazendo ali, então expliquei. Até brinquei da coincidência, ou destino.

"-Não quero que você saia da minha vida, Poncho. Você sempre vai ser muito importante pra mim". Ao falar, mordi meus lábios enquanto ele seguiu me olhando por alguns segundo com um olhar indecifrável.

Eu já começava a me arrepender de ter dito aquilo, quando ele me abraçou forte, muito forte mesmo, e ficou afagando meus cabelos. O abracei muito forte também, tentando resgatar toda a segurança que aquele abraço sempre me deu. "-Não me importo em saber que você já tem outra pessoa, sabe?! Se ela estiver fazendo você feliz, isso já me deixa feliz também", senti seus braços me apertando ainda mais. "-Só não me esquece, Poncho. Temos um passado. E cada vez que olho para as nossas fotos, sinto que vou ficar louca.".

Ele se afastou e me olhou nos olhos por mais alguns segundos. Segurei seu rosto pelas bochechas e aproximei nossas faces, roçando nossos lábios. Ele respirou fundo antes de dizer:

"-Só queria que você entendesse que preciso ficar distante de você, pra poder viver".

Uni nossos lábios por alguns segundos sem movê-los, e finalizei com um selinho demorado.

"-Você precisa de lembranças, Poncho. E nossas lembranças estão nas fotos. Precisa vê-las quando sentir saudade. Mas eu preciso que nós dois tenhamos essas lembranças. Não somente eu".

Ouvimos um barulho e quando viramos o rosto, era a namorada dele parada diante da porta.

Por algumas semanas me senti culpada pelo fim do namoro dele, ainda que ele me dissesse para não me sentir assim, que era uma relação muito recente e ele não sentia nada forte por ela.

Sem saber como, começamos a nos encontrar com mais frequência e nos relacionarmos. Não queríamos reatar nosso namoro, mas não sabia explicar porque aquela necessidade de estar junto, de sentir seus lábios outra vez.

Tentei conhecer alguns homens, mas algo não me deixava seguir adiante por muito tempo. E ele também conheceu algumas mulheres.

Nós tentamos fingir que estava tudo bem, quando na verdade não estava nada bem. Nossa vida ficou estagnada em nos envolver quando nosso corpo sentia necessidade de qualquer contato que fosse até mesmo um simples gesto de carinho.

Certo dia nos mandaram de viagem, somente nós dois, para promover a banda. Ao chegar ao aeroporto e me ver com aquela mala enorme, ele me olhou com um sorriso curioso e comentou que havia muito tempo que não me via com uma mala tão grande, ou que eu levasse tanta roupa para viagem.

Não disse nada. Mas à noite, quando ele foi ao meu quarto, abri a mala e lhe mostrei o que tanto eu levava ali. Ele ficou surpreso ao ver nossas fotos.

"-Chegou a hora, Poncho. Escolha as fotos que você quer". Ele passou as mãos pelos cabelos, me olhando.

Eu peguei minhas coisas e fui para o banheiro tomar banho. Parei diante da porta e voltei a cabeça para trás e o vi abaixado diante da mala pegando as fotos. Sorri, entrei e fechei a porta. Ao sair do banheiro e o ver, ele parecia bem distraído selecionando suas fotos.

Estava sentado no chão ao lado da mala com uma caneta na mão. Sorria, ria, era lindo vê-lo daquele jeito. A cada foto que lhe interessava, ele marcava um 'A' dentro de um circulo no verso da foto.

"-Olha essa, Dul. Se lembra? Foi daquela vez que você fugiu", coloquei minha unha do dedão na boca enquanto olhava para a foto e lembrava.

Passamos horas ali, sentados no chão relembrando de muitos momentos com cada foto. Após selecionar todas, ele as juntou com um elástico e colocou sobre a cômoda.

Levantamos-nos e ele foi logo se aproximando, afastando meus cabelos do rosto com as mãos e me dando um beijo. Nos deitamos na cama e eu fiquei de costas para ele, sentindo seu carinho na minha barriga, com nossas pernas cruzadas.

"-À partir de hoje, um novo ciclo começa na nossa vida", ele sussurrou acariciando meus cabelos com os lábios. Eu acariciei sua mão que permanecia na minha barriga. Fechei meus olhos e suspirei. Naquele momento me senti segura, tranquila e aliviada.

Um tempo depois, ele me deu um beijo no alto da cabeça e se levantou. Foi até a cômoda, pegou suas fotos e me olhou sorrindo.

"-Vou para o meu quarto dormir". Eu assenti sorrindo e ele saiu.

Como eu disse, um dia a gente aprende que o passado tem uma força muito grande sob nossas vidas. E para não deixá-lo tomar conta de nós, não podemos ignorar certas coisas.


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Notas finais do capítulo

Muitos beijos e até a próxima!



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